Você quer viver elegantemente? Viver numa grande mansão? Festejar na França? Venha para cima, dispare o alarme. Não pare agora, seja a campeã, trabalhe vadia. Vá chamar a polícia. Vá chamar o governador. Eu trago o problema e não tenho a intenção de te encrencar. Eu sou a vadia má, a vadia que você adora.
Eu consegui um apartamento perto do centro da cidade, já estava anoitecendo e amanhã eu iria em busca de informações. Só estava aguardando a moça da recepção que fora buscar a chave de meu quarto, quando de repente vi uma mão encostar ao balcão. Imediatamente olhei para o lado.
-Selina, o que faz aqui?
Era o Capitão Gordon, fazia tempo que eu não o via.
-Oi, Jim! -o cumprimentei.
-Andando sozinha novamente?
-Sempre estive. -assenti.
-Espero que tenha parado de roubar. -ele olhou-me como se esperasse uma resposta boa, mas era evidente que eu não a daria.
-Não espere nunca mais me ver na cadeia. -sorri.
-Você é uma jovem bonita e inteligente. Não deveria trabalhar com isso.
Ah, novamente aquela ladainha toda, sinceramente já cansei desses argumentos.
-Olha, com todo o respeito Gordon, isso é problema meu.. -afirmei. -E o que você faz aqui?
-Sei. Eu moro aqui.
-É sério? Então seremos praticamente "vizinhos"? -falei sorrindo ironicamente.
-Como assim? Você vai morar aqui também? -ele pareceu-me surpreso.
-É claro que vou!
-Ah, e com que dinheiro, Selina? -ele perguntou-me como se estivesse ao mesmo tempo me dando uma bronca.
-Eu dou o meu jeito. -assenti.
-Aqui está! -ouvi uma voz vinda do lado oposto.
Quando virei me deparei com as chaves em uma das mãos da recepcionista.
-Muito obrigada! -sorri enquanto a pegava.
De repente, quando olhei para Gordon novamente, vi ele retirar uma pequena foto do bolso, movendo-a entre os dedos. Ele a fitou por alguns segundos e achei aquilo curioso.
-O que é? -perguntei.
-O nome dela é Barbara Kean. -mostrou-me a pequena gravura. -Ela fugiu de Indian Hill há algum tempo. Já a viu em algum lugar antes?
Fixei meu olhar na miniatura, ela era uma mulher bonita. Fiquei alguns minutos tentando identificar o seu rosto. Até que me veio uma curta lembrança de quando eu trabalhava naquela casa noturna, havia uma garçonete loira servindo algumas taças enquanto eu estava sentada no colo de algum homem sujo, que por sinal se parecia muito com a moça da foto.
-Não, eu nunca a vi. -assenti.
Até mesmo porque eu não tinha certeza.
-Bom, se a ver, por favor, me comunique. Talvez possa lhe retribuir o favor. -ele colocou a foto no bolso do casaco novamente e partiu para a saída do hotel.
Quando de forma inesperada voltei meus olhos para o chão, enxerguei um papel médio e retangular caído sobre ele. Peguei-o entre as mãos e virando-o percebi que tratava-se de um convite. Acho que isso deve ter caído do bolso do Gordon. Levantei o olhar e o localizei a alguns passos de mim, prestes a passar pela porta giratória.
-Ei! Jim! -chamei.
Ele virou-se atento para mim.
-Esqueceu isto! -balancei o convite.
-Oh. -ele veio em minha direção. -Obrigado!
Automaticamente ele esticou uma das mãos tentando alcançá-lo, mas a desviei de seu alcance. A verdade é que havia tido uma ideia.
-Ainda não! -sorri. -Você tem alguém para ir com você nessa festa?
Ele balançou a cabeça como se soubesse o que eu iria propor, ainda assim, respondeu:
-Não, Selina. Não tenho.
-Então me leve com você. -continuei sorrindo.
-Por que eu a levaria?
-Porque eu quero entrar naquele baile, mais que tudo.
-Você nem sabia sobre isso. -ele apontou para o convite.
-Mas agora que sei, eu vou.
-Não, eu não vou levar você.
-Então você não vai. -retorqui de maneira sutil.
-Está louca? -ele pareceu desconfortável
Soltei uma pequena risada.
-Eu sei que isso é importante pra você. Sei que quer descobrir algo que envolva essa festa, ou melhor, um dos convidados. Então, nós vamos à trabalho, você faz o seu. -apontei encostando meu dedo sobre a sua gravata. -E eu faço o meu.
Se tem uma coisa que eu aprendi foi que homens como Jim Gordon não aparecem nesse tipo de eventos sem um real motivo, por mais estúpido que ele possa ser.
-Roubar não é trabalhar, Selina! -assegurou rudemente.
-Uh, tudo bem. Você pode ir para casa e decidir se aceita minha proposta ou não, vá e tome um cafézinho. -pisquei. -Só não perca a hora! -apontei para meu pulso como se estivesse indicando um relógio. -Mas não se esqueça, eu estou com o convite. -virei-me com certo desdém e caminhei para a porta do elevador.
-Espere! -ouvi sua voz me parar.
Eu tinha quase certeza que ele mudaria de ideia.
-Você vai entrar comigo. -voltei-me para ele achando o assunto mais interessante. -Mas depois, você se afasta de mim, entendeu?
-É claro! -disse lhe entregando o convite.
-Mas, eu preciso de algo para vestir. -disse.
-Está de brincadeira? Está me pedindo um vestido agora? -ele perguntou como se desacreditasse.
-Eu quero que você me indique uma loja. -assenti sorrindo.
-Ah é? Para você roubar um vestido?
-Não vou roubar, Jim. É a primeira vez que digo a verdade.
-Sei. E essa é a décima verdade que acabou se transformando em mentira, ou irá se transformar. -ele semicerrou os olhos.
-Talvez... -disse com um jeito doce, mas é obvio que eu estava mentindo.
-Tá, tem uma loja aqui na esquina. -ele pareceu vencido por minhas palavras. -É barata, não precisa pegar um vestido tão caro, é somente para hoje a noite. E eu estarei te esperando na frente do hotel.
Sorri feliz. Hoje eu iria para o mundo deles novamente, dos superiores. Mas diferente de todas as outras vezes, eu não tentaria ser como eles, seria eu mesma. A ladra, a gata, a meretriz, ou simplesmente Selina, como for que cada um deles me conhecia.
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Peguei o elevador e ainda dentro dele dei uma última olhada no espelho, eu estava bem. Havia comprado um vestido preto com alguns detalhes em dourado, seu cumprimento ia até o joelho e ele ficava perfeito em mim. Estava animada, assustadoramente as horas se passaram tão rápido, espero que James seja pontual. Ao sair enxerguei a recepção que incrivelmente hoje estava cheia, como se estivessem mais hospedes que da última vez que passei por aqui. Eles me olharam quando saí, mas ainda assim continuei com a cabeça erguida, caminhando até a saída enquanto ouvia o som de meu salto contra o piso. Ouvi um idiota assoviar para mim, mas não dei importância aquilo, ao passar pela porta giratória vi que Jim estava parado na calçada esperando em frente ao seu carro.
-Espero que não tenha demorado. -disse me aproximando dele.
-Na verdade só cinco minutos. Já vi mulheres demorarem mais. -assentiu.
-Ah, então eu acho que isso é um ponto positivo para mim. -disse abrindo a porta da frente e me sentando ao banco.
Ele deu uma volta no carro e foi para o lado do banco do motorista.
Durante o trajeto eu me preocupei em apenas observar a paisagem através da janela, algo que não ficou tão nítido por conta do vidro escuro. Jim não era de falar muito e eu preferia assim.
-Enquanto esteve fora, Bruce falou muito sobre você.
Olhei para ele surpresa. Não sei se estava mais surpresa pelo fato dele ter puxado um assunto, ou por ter mencionado o nome de Bruce nessa conversa toda.
-Quando eu estou aqui as pessoas me odeiam, mas quando vou embora elas sentem minha falta, vai entender. -disse.
-Selina, ele gosta de você. -contou.
-É, eu sei. -direcionei o olhar para minhas pernas, abaixando minha cabeça. -Ele me contou.
-Por que não dá uma chance a ele? -perguntou enquanto virávamos uma esquina.
-Porque não. Ele só tem que entender que nunca pode haver nada entre nós dois. -assegurei enquanto balançava a cabeça para mim mesma.
-Você não gosta dele?
-É porque gosto dele que tenho me afastado.
-Seja lá o que for que tenha acontecido, Selina. Essa já não é mais você.
-Tem razão. -disse com certa amargura. -Para o carro!
Ele me olhou com uma expressão intrigada, mas fez o que eu pedi.
-Como assim?
-Obrigada pela carona! -disse enquanto saía, em seguida fechei a porta.
-Você não vai entrar na festa? -perguntou enquanto dirigia o carro vagarosamente.
-Não! Você tem o convite, então vá e se divirta. -falei.
Ele me olhou enquanto fazia um curto "não" com a cabeça. E em seguida virou a próxima esquina com o carro.
A verdade é que eu queria ir muito naquele evento. Para mim festas me divertiam e eu sempre tinha algo para roubar, o que mais me excitava nessa história toda, mas, meu orgulho estúpido e o medo de não suportar críticas de quem me conhecesse foram mais altos. Então eu fiquei ali parada por alguns segundos, refletindo sobre o que eu havia dito.
-Ora, ora, mas se não é a famosa Selina Kyle! -ouvi uma voz feminina atrás de mim.
Virei-me olhando em direção ao fundo escuro, quando de repente vindo na direção da luz enxerguei um scarpin vermelho, depois um vestido na mesma cor e por fim a pele rosada e os olhos azuis daquela mulher, depois o seu cabelo loiro elegantemente jogado para o lado direito.
-Você? -questionei.
Era a mesma moça da qual me recordara mais cedo, aquela que uma vez vi servindo bebidas na mesa daquela boate, e olhando mais de perto era idêntica a mulher da foto que o Capitao me mostrara.
-Vejo que se lembra de mim. Surpresa? -perguntou enquanto ria.
Desta vez estava mais próxima a mim, agora definitivamente podia identificá-la. Era a mesma mulher, da boate, da foto, era ela, a moça que Gordon procurava.
-Na verdade não. -assegurei. -Barbara Kean... -arrisquei em dizer seu nome.
Agora quem me pareceu surpresa fora ela, como se não esperasse que eu soubesse seu nome. Mas logo em seguida riu, parece que ela estava acostumada a disfarçar situações com isso.
-Vejo que aprendeu meu nome, docinho! -ela levantou meu queixo com seu dedo e passou ao meu lado, indo adiante de mim.
Revirei aos olhos tentando evitá-la, nunca havia conversado com ela antes, mas vendo-a agora, me lembra uma verdadeira megera.
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