História A guerra dos fast foods - O filho perdido de Baco

O universo era feito de conspirações, sensações esquisitas e pessoas atrasadas. Minseok encarava a tela de seu celular pela milésima vez em um espaço de meia hora enquanto mordia uma batata frita que deixava seus dedos engordurados. Ele provavelmente deveria ter chamado Chanyeol para fazer companhia no Burger King, mas o namorado atingiu o recorde no quesito ciúmes quando ele contou que iria conhecer o melhor amigo pessoalmente.

— Você vai me chifrar com ele — acusou Chanyeol.

— Tem certeza de que não tem ascendente em Leão? Porque de dramático...

O namorado o ignorou.

— Eu já posso imaginar nos jornais: “Famoso produtor musical é trocado por um filho de Dionísio.”

— Ele é filho de Baco, Channie — corrigiu o menor. — E desde quando ter seiscentos mil inscritos no Youtube faz alguém ser popular o suficiente pra sair no jornal?

— Aish! Você não dá valor ao namorado que tem. Vai acabar me perdendo, Seokkie.

Minseok ainda se lembrava da cena que o namorado fez antes de eles acabarem fazendo outras cenas quando o seu celular vibrou três vezes ao lado de seu refrigerante e fez o líquido balançar dentro da embalagem de plástico. O garoto suspirou de alívio. Era a primeira vez na última hora que o melhor amigo dava sinal de vida.

Suco de fruta: eu devia ter vindo de limusine ✓✓

Suco de fruta: virei em uma rua errada e quase fui parar na Coreia do Norte ✓✓

Suco de fruta: a vida não tá fácil, filho de Hades :( ✓✓

Suco de fruta: me responde logo cria do demo que você visualizou ✓✓

Garoto das trevas: você me deve outro lanche ✓

Ele acabou vendo alguns vídeos do namorado e tomando um milk-shake com gosto de Ovomaltine enquanto aguardava a chegada de Junmyeon. A verdade é que Chanyeol sabia muito bem como se virar com a câmera semiprofissional que usava para gravar suas composições e vlogs. Ele era extremamente esforçado, além de naturalmente talentoso e charmoso; qualidades que o garoto de pálpebras duplas valorizava. Minseok deslizava os dedos por sua lista de reprodução do Youtube cheia de thumbnails do namorado orelhudo quando sentiu seu celular vibrar novamente. Depois de alguns segundos curtindo seu ringtone de Emperor’s New Clothes, ele decidiu atender.

— Hyung?

Minseok tapou um dos ouvidos a fim de abafar os ruídos de fundo.

— Eu odeio o que vem em seguida quando você vem me chamar assim.

— Então vai odiar saber que eu estou em um shopping do outro lado da cidade.

Ele realmente odiou saber disso.

— Não se mova. Não ouse nem respirar. Só me faça o favor de marcar a sua localização pelo GPS que eu estou indo aí.

O garoto suspirou enquanto pedia outro Whopper sem picles e uma casquinha recheada com Negresco. Deixou o hambúrguer esfriando dentro da embalagem e ia lambendo o sorvete que escorria pelos dedos sempre que o sinal fechava. Minseok não era o melhor motorista, mas até que estava se virando muito bem dirigindo com uma mão e segurando a sobremesa com a outra. Enquanto mastigava o recheio da casquinha, perguntou a si mesmo se o intercambista chinês que Junmyeon vinha hospedando nos últimos três meses não estava fornecendo nenhuma substância ilegal para o melhor amigo.

O rapaz deu uma espiada no hambúrguer que esfriava no banco do carona e rezou para que seu pai olimpiano, Hades, não o punisse por estar querendo mandar mais uma alma para o Submundo. Uma voz feminina pediu para que ele fizesse outra curva antes que ele se deparasse com um shopping bem maior e mais chique que o que eles haviam combinado de se encontrar.

Junmyeon provavelmente era a pessoa mais rica e burra que Minseok teria o prazer de conhecer.