Ele nunca foi um filho querido. Desprezado pela mãe, vive perambulando por aí, ganhando seu pão com pequenos bicos e algumas batalhas. Sua única companhia é Sandslash, a quem salvou há eras, quando o monstrinho, ainda um Sandshrew, caiu em um rio e quase se afogou. Os pés de Icaro doem após longas caminhadas pelas florestas e cavernas. Mas ele gosta de sentir a terra. O cheiro úmido, o toque acolhedor. Da terra nós viemos e para ela havemos de retornar, como gosta de dizer.
Lembrar-se de sua mãe é doloroso. Nunca foi muito carinhosa. A postura indiferente e nada consentânea rendeu-lhe a fama de uma mulher amarga que descontava no filho pequeno a dor de ter sido abandonada pelo homem que mais amou. Icaro já não se importa mais. Ao lado dela, nunca teve um lar de verdade. Seu lar é o próprio mundo, é as florestas que cruza, é as cavernas em que busca abrigo das chuvas, é as costas de Sandslash que o acomodam e aquecem nas noites frias.
Durante suas viagens, aprendeu a fazer utensílios de greda. Gosta de como a argila é moldada por suas mãos, assumindo as formas mais impossíveis. Vendo os dedos deslizarem assim tão fácil, criando objetos tão lindos, quase acredita que é especial, que algum dia poderá fazer a diferença em o que quer que seja. Orgulhoso, esfrega o nariz, espalhando a greda pelo rosto todo. E Sandslash boceja, tranquilo por ver seu amigo sorrir.
Mas saiba isto: todo semblante guarda algum tipo de tristeza. Essa catáfora está presente nos caminhos de Icaro. Ele sempre vai cada vez mais longe, deixando a casa da mãe mais e mais para trás. Não se livra das dores, porém. É um filho rejeitado, com uma autoestima destruída. Acredita não valer nada. Mas Sandslash discorda.
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