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História A Herdeira - Segredo Sangrio REFAZENDO - Remexendo no passado


Escrita por: Amazyx

Capítulo 3 - Remexendo no passado


Liana



— Como assim? — perguntei a Ana, com a carta em minhas mãos. — O que você tem que a gente não tem?

Ela revirou os olhos, ajeitando o boné rosa na cabeça. Ela não costumava usar óculos ou qualquer tipo de chapéu — eles estragam suas tranças —, mas ela não parecia disposta em fazer uma delas no cabelo loiro.

— Eu não quero ir, tio — ela disse para Sandro. — Eu não vou saber o que fazer!

— Não saber fazer o quê? — Victória desceu as escadas, nos encontrando na sala de estar.

Ela parecia diferente. Não só sem os óculos, claro, os olhos pareciam ainda maiores e mais dourados, mas não era isso. Parecia ter um brilho no olhar diferente. Usava um blusão bonina grande demais para ela, um short branco, rasteirinhas da mesma cor e o cabelo estava completamente solto e voando como se fosse feito de plumas, quase como se tivesse lavado ele, mas ela não costumava fazer isso de manhã.

Nada de novo aí, Victória sempre estava deslumbrante, ainda mais depois da bênção que recebera da mãe. Poderia sentir inveja, mas não sou dessas e ela é uma de minhas melhores amigas.

— Ana vai a Hogwarts — respondi. — Abandonaram a gente legal!

— Você não pode ir, tem que cuidar de Hana! — Cecília disse, na poltrona.

— Eu sei! Mas eu queria ter a opção! Onde está Amanda?

— Dormindo ainda, é claro — Cecília respondeu e pegou a carta de minha mão, entregando para a mais nova.

— Como assim? — Victória perguntou, abrindo o envelope e começou a ler a carta: — “Senhorita Ana Carolina Oliveira van Weiss…” Como descobriram seu sobrenome? Bem, tanto faz. “... seria uma honra para nós que retornasse à Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts o quanto antes. A sua experiência em campo como meio-sangue será de extrema importância na orientação dos alunos de nossa escola. Como é um trabalho árduo e não está familiarizada com o universo bruxo, uma pessoa, também de fora da escola, irá ajudá-la com isso. Esperando que aceite nosso convite, Minerva McGonagall.” Quem mais além de vocês, de fora da escola, poderiam ir?

— Talvez Daniel, se os deuses forem benevolentes comigo — Cecília murmurou.

Olhei para Hana, que estava dormindo em meus braços. Eu, sinceramente, gostaria de ter passado mais tempo na escola. Afinal, eu sou Potterhead, ver tudo aquilo de perto foi como um sonho, mas eu tinha que cuidar de minha filha.

Não queria que ficassem eufóricos, mas Hana parecia muito estranha para mim. Ela mesma escolhia os livros que queria que eu lesse e começava a rir do nada. Eu pensava que ela podia sentir espíritos como eu, mas sempre que eu chegava perto para ver se conseguia sentí-los, nada acontecia. Isso me fez virar uma mãe coruja rapidamente. Só a deixava sozinha quando eu sabia que estava dormindo tranquila e não teria ninguém por perto. Meu tio até tentou me convencer a aceitar uma babá, mas recusei. Não ia deixar a minha filha sozinha por nada. Nada. Nem um sonho que tinha há tempos.

— Liana? — levantei os olhos, ao ouvir minha tia Daniela chamar. Nem tinha a visto chegar. — Está tudo bem, querida?

— Tá sim, tia — respondi, notando que todos os olhares estavam em mim. — O que foi?

— Eu chamei seu nome umas quinhentas vezes e você não respondeu a minha pergunta — estranhou Ana. — Foi isso que aconteceu, flor.

— Que pergunta? — Cecília e Victória trocaram olhares preocupados e voltaram a me olhar. Resolvi disfarçar. — Tô com sono, me deixem em paz! O que foi?!

— Perguntei se acharia uma boa ideia eu aceitar esse tal convite —  Ana repetiu. — Não sei se irei conseguir... Me conhecem, eu sou completamente pacífica. Nem brigar a minha mãe eu brigo.

— O que deveria fazer, Amélia é bem teimosa, às vezes — Daniela cruzou os braços, se sentando ao lado de meu tio.

— Amiga você não escolhe ir ou não ir à Hogwarts — respondi. — Hogwarts é que escolhe se você vai ou não. Mesmo se você disser não, de alguma forma você vai parar lá.

— Nisso eu tenho que concordar, Ana — Sandro disse e me senti bem, afinal, ele é o supremo da casa! Se eu falei algo que ele concorda, eu tô bem encaminhada. — Se você é necessária, vai acabar indo parar lá.

— Então eu não tenho opção?!  — Ana colocou as mãos no ar, sem entender. — É sim ou sim?!

— Basicamente — afirmou Cecilia.

— Tem um endereço que é perto da Plataforma 9 ½ — Victória tirou o mesmo do envelope. — Sem data e um telefone. Pode ir quando quiser mesmo, pelo jeito.

— Disseram “o mais rápido possível.” Bom, só será possível segunda, quando nós estivermos no acampamento, meu tio e Victória vão estar na Itália. E aí? Como esse “serumaninho” vai?

—  Vai ter que ser hoje — meu tio se levantou e Ana o olhou, surpresa.

—  Como é que é?! — ela quase gritou, fino. — É muito pouco tempo, tio!

—  Então sugiro que arrume suas malas o mais rápido possível —  ele estendeu a mão para Cecília, com o intuito de pegar o bilhete e, sem ter exatamente muita escolha, o entregou e ele pegou o celular, subiu as escadas, discando, e desapareceu no andar de cima.

— Espere um pouco, meu bem — Daniela disse para Ana e subiu atrás do  namorado.

— Bem, isso foi estranho —  eu disse. — Qual é a do meu tio, Vih?

— Eu venho me perguntando isso faz uns dois meses.

Hana começou a chorar e estranhei já que tinha acabado de se alimentar e tentei acalmá-la.

— Não há como eu arrumar as malas tão rápido! Nem sei quanto tempo eu vou ficar lá! Eu não quero ir.

—  Não parece ser uma decisão sua, amiga. Melhor se apressar.

— Não acredito nisso… — Ana sussurrou, começando a subir as escadas.

— Eu subo com você, Hana parece querer um de seus brinquedos.

Estranhamente, subimos em silêncio. Ana costumava falar, mas ela parecia apreensiva de verdade com o retorno à escola de bruxaria. Me perguntei se algo teria acontecido com ela lá, mas não. Ela era muito quieta e centrada — provavelmente por isso a chamaram — quase não falava com ninguém além da gente. Esperava que tal pessoa fora da escola que fosse ajudar, conseguisse acompanhar Ana na orientação.

— Eu vou me sair bem, não é? — ela me parou, antes de entrar em seu quarto. Quer dizer, me chamaram por alguma razão…

— Claro que sim, Ana! Tire essa ideia da cabeça.

Ela respirou fundo e me senti mal por mentir. Ana, sem alguma espécie de ajuda ou suporte, não conseguiria orientar milhares de alunos nem fodendo. Porém ela é minha amiga, não iria falar algo para deixá-la ainda mais nervosa.

Se despediu e entrou no quarto, sem dizer mais nenhuma palavra.

Entrei em meu próprio quarto, já sabendo o brinquedo que Hana queria. A deixei no berço e andei devagar até o baú que Daniel me dera no início do ano. Eu o mantinha debaixo da cama, para me esquecer que ele estava ali. O puxei e o encarei, suspirando. Quando minhas mãos foram abrí-lo, notei que eu estava tremendo. Droga, aquilo nunca ia parar?

O abri, deixando um sorriso escapar de meus lábios.

Estava tudo ali. Cada parte do que ele havia me contado em nossos encontros estava ali, como que para materializar todas as histórias que me dissera.

Letras de música não terminadas, alguns desenhos, uma coleção de palhetas, bandeirinhas e uma gravata da Grifinória. Respirei fundo e afastei tais coisas, ignorando as que surgiam para pegar o dragão de pelúcia cinza, que estava no fundo. O peguei e fiz menção de ir até Hana, mas vi algo cair. Parecia um bilhete em papel cartão quadrado.

Fui até o berço e coloquei o dragão ao lado de Hana, que parou de chorar no mesmo instante. Como já disse, essa garota era estranha, mas só fazia com que eu a amasse ainda mais.

Voltei para o bilhete que caiu no chão. Tinha prometido a mim mesma não fuçar mais que o necessário no baú, queria deixar para quando Hana fosse a Hogwarts como certamente iria. Cabia a ela saber sobre o pai, já que nem o conhecera.

Peguei o bilhete com intuito de colocá-lo no baú sem olhá-lo, mas acabei reconhecendo o cabelo lilás. Não resisti e virei, percebendo que era uma foto de Polaroid, que tiramos há dois anos, no aniversário de quinze anos da Victória. Ele estava sorrindo enquanto tirava a foto e eu beijava sua bochecha. Joguei a foto no baú e o fechei fortemente, o empurrando de volta para debaixo da cama rapidamente.

Tinha começado a chorar, sem saber o que mais fazer. Puxei meus joelhos e abracei minhas pernas, sentindo raiva de mim mesma.

Aquilo nunca tinha acontecido, quer dizer, eu era a pessoa que menos se apegava das cinco, como fui me deixar envolver por um moleque assim tão fácil? Assim tão rápido? Se eu tivesse continuado no meu modo sem sentimentos eu não estaria sofrendo como sofria naquele momento.

Mas isso não aconteceu, né?

Depois que Hana nasceu, eu vinha sonhando muito com ele e com lembranças de nós dois. Eu achei que eu tinha superado, por incrível que pareça, eu realmente pensei que estava indo bem, mas tudo tinha voltado para me atormentar e me fazer sentir tão triste.

Enxuguei meus olhos, me lembrando de como eu estava conseguindo fazer com que ninguém visse que eu estava quebrada por dentro. Fazia quase dois meses que eu escondia muito bem e aquilo não ia mudar.

Me levantei e fui ao banheiro, agarrando minha necessaire no caminho. Com alguns retoques simples de maquiagem e meu olho esfumado preto de sempre, estava nova em folha. Parecia uma outra pessoa.

Lembrei disso e peguei a caixinha de tinta e descolorante para cabelo. Sempre que algo me marcava fortemente, eu mudava meu cabelo. A mecha branca foi quando dei meu primeiro beijo. O cabelo lilás, quando soube que meus livros favoritos eram reais. As mechas verdes quando ele se foi em Machu Picchu. O lado raspado, quando descobri que estava grávida dele. O tinha cortado na metade do pescoço pelas pontas ressecadas da tintura, que eu não tinha cuidado. Minha filha tinha nascido e era uma menina. Com certeza uma das mudanças mais avassaladoras da minha vida.

Encarei meu reflexo no espelho, pensando em como valeu a pena gastar dinheiro com uma maquiagem a prova d’água.

— Sua vida nunca será mais a mesma, Liana — eu disse, abrindo a torneira do banheiro. — Hora de mudar o cabelo.


Cecília


Mas é claro que a imbecil da Ana esqueceu o celular na sala, era a cara dela.

Andava até seu quarto, quando reconheci a voz estressada de minha mãe — eu a conheço como ninguém. Como não sou boba nem nada, fui de fininho até a porta do quarto dela e do meu tio.

— … nem teve a consideração de me dizer a data da viagem, só soltou no ar “Victória e eu vamos para a Itália, você cuida da casa e da Liana”! O que pensa? Que não me importo com ela? Nem me contou o que vão fazer lá!

— Eu quero um tempo com a minha filha, Daniela! — era a primeira vez que via meu tio se exaltar. — Só nós dois! Sabe quando isso aconteceu? Nunca!

— Eu não estou dizendo que não pode fazer isso, Sandro. Estou dizendo para me dizer o que está acontecendo. Acha que Victória não tem percebido sua distância? Acha… Acha que eu não percebi? Anda misterioso, cheio de segredos… Ela não é mais uma garotinha ingênua de treze anos, Sandro! Ela tem quase dezessete! Pelo menos tente dialogar com ela sobre os motivos que…

— Por que se responsabiliza tanto?! Ela é minha filha, não sua!

A discussão ficou braba e eu sabia que ia ficar pior, convivo com Daniela Vazques Aguiar há praticamente dezoito anos. Decidi chegar mais perto da porta meio aberta, para tentar ver os dois. Minha mãe deu um lento passo para trás, sem tirar os olhos dos de Sandro.

— Sinto muito, mas quem estava quando ela chorava querendo mamar? Quem estava lá quando deu seus primeiros passos, quem estava lá quando seus "amigos" a maltratavam, quem estava quando teve sua primeira desilusão amorosa? Licença, mas não você estava lá, Sandro, eu estava!

— Sabe muito bem as circunstâncias que levaram a isso! Está querendo dizer que ela é mais sua filha do que minha?!

— Claro que não, não ponha palavras em minha boca! Eu digo que tenho direito de saber o que está acontecendo.  — ela respirou fundo, fechando os olhos, que se encheram de lágrimas.  — Sabia que eu ainda tinha leite quando ela chegou pequena de quatro meses na creche? Eu a amamentei, Sandro. Quando ela fugia da casa de Breno eu a acolhia correndo o risco de ir presa por isso! Sabia que eles ameaçaram o fazer? Eu… Claro eu não fiz tudo sozinha, minhas amigas me ajudaram, mas todas também tinham afazeres, seus empregos, suas famílias. Eu estava desempregada e consegui cuidar de Cecília e de Victória, de novo com ajuda de minhas amigas, mas eu não a deixei nem por um segundo! Sempre que eu podia eu estava lá. Não estou dizendo que ela é mais minha do que sua, Sandro. Estou dizendo que ela é tanto minha quanto sua — ela balançou a cabeça com lágrimas saindo dos olhos. Nunca tinha visto minha mãe daquele jeito, nunca sequer ouvira parte daquela história. Victória era minha irmã de leite? — Eu só quero saber o que está acontecendo, meu amor. Eu só… Só…

Sandro a puxou e abraçou fortemente, deixando que ela chorasse em seu peito. Parei de olhar pela porta ali, e me encostei na parede, sem reação. Quer dizer, durante muito tempo a minha mãe foi uma toda poderosa para mim, eu sabia que ela tinha seus altos e baixos, mas ela sempre se erguia sem abaixar a cabeça, sem se deixar vencer. Ver ela daquele jeito, foi como um grande choque de realidade.

— Só quero proteger vocês, meu bem  — ouvi meu tio dizer. Proteger do que?

— Proteger do que?  — minha mãe disse meus pensamentos em voz alta e ouvi passos até a porta, que se fechou logo depois.

Mentira que ele resolveu fechar a porta na melhor parte! Tentei escutar atrás dela, mas provavelmente tinha um feitiço para manter o silêncio  — eu não ouvia nada!

Voltei a andar até o quarto, ainda atônita com o que eu escutei. Tanta coisa que minha mãe não tinha me contado. Dificuldades financeiras quando eu era bebê? Victória minha irmã de leite? Ameaça por ser presa por acolhê-la? Sim, todos sabíamos que Victória era extremamente maltratada com Breno e sua família, mas o resto? Não tinha a mínima ideia!

Meu celular começou a tocar e o atendi, sem saber como lidar com outro ser humano sem pensar muito no que eu ouvi antes.

— A-alô? — gaguejei ao atender o telefone.

— Sério? De todas as pessoas para atender o celular da minha irmã tinha que ser justamente você?

Me endireitei na hora. Tinha esquecido que estava com o celular de Ana. Burra, burra, burra.

— Daniel  — eu respondi. — Um desprazer falar você.

— Digo o mesmo, esquentada  — fechei o punho com aquele maldito apelido que ele me dera. — Cadê a minha irmã?

— Pelo amor de Deus, você nunca se importou realmente com ela, dá pra deixá-la em paz?

— Isso não lhe diz respeito, Cecília. Passe para Ana.

— Ela está ocupada, bem. Quer deixar recado? — ironizei, mas indo até o quarto de Ana. Não queria conversar com ele nem mais um segundo.

— Com você? Ha! Prefiro falar com um poste, se bem que seria a mesma coisa.

— Ana — chamei, tampando o microfone. — O estrupício quer falar contigo, esqueceu seu telefone na sala.

— Estou ocupada, tenho que fazer as malas! — ela disse, estressada atrás da porta. — Diz para ele ligar depois!

— Malas? — Daniel disse, antes que eu pudesse avisá-lo. — Para onde ela vai?

— Não posso dizer, liga para ela depois!

Desliguei na cara dele. Não merecia ouvir mais daquela voz. Abri a porta do quarto de Ana e deixei o celular na escrivaninha ao lado da porta, sem olhar para Ana, ela precisava de espaço. E eu também ainda precisava ir pensar no que eu ouvi.

— Aí! — ouvi a voz de Victória, que vinha rapidamente em minha direção.  — Me deixaram sozinha lá embaixo, piranhas!

— Foi mal, eu disse que ia entregar o celular para Ana.

— O que houve com meu pai e Daniela?

Dei de ombros, me lembrando da conversa.

— D.R. comum, nada demais — respondi e ela assentiu. — Vou dormir um pouco, fui pra cama de madrugada ontem.

— Tudo bem — ela disse, me acompanhando ao meu quarto, ao lado do dela. — Mas eu te acordo quando Ana estiver para ir. Ela vai ficar puta se a gente não estiver lá. Por falar nisso, eu vou acordar Amanda, ela vai ficar perdida no meio disso tudo.

— Isso é verdade, faça isso — encarei o moletom masculino bonina que usava. Eu não me lembrava dele. — Esse moletom, de onde é?

Ela pegou o moletom com as mãos eu o analisou,como se só tivesse notado naquele momento que o estava usando.

 — Compre na internet.

Assenti e entrei em meu quarto, pronta para me jogar na cama e me isolar de todo mundo.



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