História A Herdeira - Noiva

Não tão longe do castelo de Locksley, havia um casal de camponeses que tinham uma filha que possuía uma beleza rara e se destacava em meio a outras moças de sua idade. Hoje ela completaria 20 anos de idade, seus pais fizeram um pequeno jantar em comemoração ao aniversário de sua filha. A cada ano que se passava nesta mesma data eles sempre lembravam do dia em que encontraram a pequenina em uma cesta no meio da floresta.

Ela estava coberta por um manto rosa de algodão, e na extremidade da manta havia um bordado com o seu nome, e bem em cima também havia o desenho de uma coroa bordada com uma linha especial dourada. Ao perceberem estes detalhes, o casal deduziu que a menina fosse da corte, talvez uma filha bastarda, pensaram.

Procuram durante dias no Reino de Locksley pelos pais da garotinha, mas ninguém a reconhecia. Por fim, decidiram ficar com a criança. Não podiam deixa-la sozinha para morrer, ela era apenas uma bebezinha de talvez um mês. Ela era tão linda e pequenininha. A camponesa ficará encantada com a menina, e com o passar dos anos mais ainda, a menina crescia linda e forte, até se tornar uma bela moça com lindos cabelos negros compridos, pele alva e olhos castanhos penetrantes.

 Seu pai lhe ensinava todos os dias a manusear uma espada, a garota tomou gosto desde os seus 15 anos e hoje já superará até seu pai. Apesar de sua personalidade ter um lado doce, por outro lado, ela possuía gostos peculiares. Além de gostar de esgrima, ela adorava cavalgar e havia aprendido a lutar com sua melhor amiga, Emma.

- Faça um pedido! – Disse Emma para Regina que estava prestes a assoprar a pequena vela que havia em seu bolo. Ela assoprou e fechou os olhos.

Todos estão sentados diante de uma pequena mesa. Os pais de Regina haviam convidado somente as pessoas importantes para sua filha, seu noivo Daniel e Emma. Regina não considerava Daniel uma pessoa “importante” na sua vida, afinal seu noivado com ele não foi exatamente uma escolha sua e sim porque seus pais haviam dado sua mão em casamento a Daniel. Em troca, a família dele manteria os pais de Regina que estavam cheios de dívidas e ganhavam pouco em seu trabalho no campo. Daniel era filho de um fazendeiro que possuía muitas terras e viva muito bem, eles exportavam produtos para o Reino de Locksley e eram uma família bem-conceituada.

O jantar foi servido, todos comeram em silencio, exceto as vezes em que Daniel comentava o quanto a comida que sua sogra havia preparado estava uma delícia. Logo após foram até a sala para conversarem. Emma estava de cochichos com Regina, enquanto Daniel falava sobre os preparativos do casamento, seu pai fazia questão de dar uma grande festa de cerimônia. Ele pediu aos pais de Regina para conversar com ela a sós um momento, que lhe concederam apenas alguns minutos pois estava tarde.

Eles saíram da casa e pararam bem próximo a uma macieira que havia ali ao lado, Regina havia plantando a mesma, há alguns anos atrás.

- Você esteve um pouco calada enquanto falávamos dos preparativos do casamento, não está feliz? – Por mais que aquele casamento fosse arranjado, Daniel possuía uma pequena esperança de que Regina gostasse dele.

- Não é isso, só estou nervosa. E também muito ansiosa. – Ela abriu um pequeno sorriso, mais ainda assim estava desconfortável com a mentira que havia dito.

- Oh, não fique. Prometo que serei um bom marido, meu amor. – Disse ele, calmo. Aproximou-se dela e pôs as duas mãos em cada lado do roto dela que estava com uma expressão indecifrável. Ele a beijou calmamente, Daniel era apaixonado por Regina, sua beleza era hipnotizante. Porém, ela não sentia o mesmo, tudo estava acontecendo muito rápido, fazia um mês desde o pedido de casamento e faltava apenas 3 dias para o casamento.

- Preciso ir. – Separou seus lábios dos dela. -  E como já sabe, nesses 3 dias não poderei voltar aqui. Te espero no altar. – Sua alegria era perceptível, ao contrário de Regina que não esboçava nenhuma reação, apenas um sorriso forçado.

- Estarei lá. – “Não tenho escolha mesmo” pensou.

- Boa noite, meu amor! – Despediu-se ele.

Ela voltou para casa, desprendeu seu cabelo e os deixou soltos, tirou aquele vestido que tanto lhe apertava e sentiu-se por um momento livre de tudo aquilo, tomou um banho e se jogou na cama fechando os olhos.

- Pode ir levantando – Disse Emma, ao seu lado estava a mãe de Regina com uma grande caixa em mãos, ela se apavorou ao ver aquela caixa. – Você precisa experimentar pela última vez para darmos os retoques finais.

- Por que eu não posso ficar em paz um momento? – Choramingou ela. – Acabei de me livrar de um agora mesmo.

- Prometo que será rápido. – Sua mãe lhe disse abrindo a caixa.

Ajudaram ela a se vestir e o vestido lhe caiu perfeitamente, era branco, deixavam seus ombros a mostra e possuíam alguns brilhantes na parte do busto. O véu era longo caiam aos pés e arrastavam pelo chão, mas para não sujar Emma estendeu em seus braços.

- É lindo, simplesmente magnifico. – Emma estava encantada. – Pena que não o usará para se casar com alguém você ame. – Ela sussurrou. – Sinto muito, Regina.

Emma estava triste pela amiga, ela sabia muito bem que Regina não estava feliz, durante esse mês ela andava muito triste e quase não saia com Emma para cavalgar no campo ou para tomar banho na cachoeira. Tentava ao máximo mostrar o lado bom desse casamento, mas até ela mesmo não conseguia encontrar um lado bom. Não para Regina. Era claro que a situação dos pais de Regina iria melhorar, mas isso custaria a felicidade da amiga.

Naquela noite Emma dormiu na casa de Regina. As duas passaram a noite conversando e acabaram adormecendo juntas.

Na manhã seguinte Emma propôs a amiga que fossem ao mercado juntas, no começo ela não gostou da ideia mas decidiu que iria logo depois de lembrar que teria que comprar alguns legumes para preparar o almoço.

Elas tomaram café e Regina percebeu que seus pais nem se despediram dela antes de partirem para o campo, como era de costume. Deduziu então que talvez tivesse chegado os dias de colheita, por isso saíram tão cedo.

Logo elas partiram ao mercado, haviam várias barracas e vendiam todo tipo de coisa, joias, adagas e espadas, legumes e frutas, animais, as duas avistaram uma barraca onde vendiam óleos e essências e pararam lá para apreciarem os melhores perfumes.

- Olá senhoritas, vão querer levar alguma essência? – Disse um senhor que cuidava da barraca. – Acabaram de chegar essas, podem experimentar um pouco.

- Esse é o melhor, Regina. Sinta isso. – Disse Emma, se deliciando com o cheiro.

- É muito bom mesmo.

- Foi extraído óleo de algumas flores. – Falou o senhor para elas.

- Vamos ficar com este. – Emma estava empolgadíssima, pagou-o e voltaram a caminhar por ali.

Enquanto andavam alguns rapazes mexiam com elas, dando-lhes cantadas e alguns assobios. Por um momento, Regina esqueceu de tudo o que estava acontecendo em sua vida, não havia coisa melhor do que está na presença de Emma, que eram amigas desde a infância.

Regina comprou tudo o que precisava para preparar o almoço e elas logo seguiram o caminho do vilarejo, porém ao voltarem perceberam um tumulto nas ruas, ouviram também gritos ao longe. Eram cavaleiros do Reino de Locksley, conheciam muito bem aquele símbolo contido nas vestimentas dos guardas e nas celas dos cavalos.

- O que está acontecendo aqui. – Regina falou virando-se para a amiga. As duas se olharam sem entender o que estava acontecendo.

- Bom dia, senhoritas. – Ouviram uma voz masculina e no mesmo instante se viraram para ver quem estava atrás delas. Era um homem jovem, cabelos escuros, possuía uma barba toda trabalhada e trajava boas vestimentas, deduziram então que devia ser alguém da corte.

- Quem é você? E o que está acontecendo aqui? – Perguntou Emma.

- Oh, vejo que não sabem das novidades. Deixem-me apresentar primeiro. Sou Killian Jones, capitão do navio Jolly Rogers e o conselheiro do novo Rei de Locksley. – Disse ele, elegantemente.

- Responda-nos, o que está acontecendo aqui? Por que estas pessoas estão gritando e lutando com os guardas? – Regina estava apavorada, percebia-se pelo seu tom de voz.

- Calma garotas, como sabem, Locksley tem um novo Rei. Mas para ser oficialmente Rei, ele terá que ser casar ou melhor, encontrar uma rainha. – Ele disse dando um sorriso sínico e levantou um dos braços acenando para os guardas que seguraram elas a força. – Parabéns garotas, vocês foram selecionadas para concorrer a coroa real.  

- O que? – Gritaram elas. – Solte-nos agora!

- Sinto muito, mas isso não será possível.

Elas se debatiam e gritavam em desespero, foi preciso quatro guardas para segurar as duas. Regina e Emma tentaram lutar contra eles, mas eram muitos e não conseguiram. Os guardas não tiveram outra opção a não ser amarrá-las. As montaram nos cavalos e quando estavam para partir de volta ao castelo foram interrompidos pelos pais de Regina que corriam em direção aonde elas estavam.

- Filha! – Gritou seu pai. – Deixe-as em paz!

- Ela já está noiva, não podem levá-la. – Falou sua mãe. – Por favor, solte-a. Seu noivo não irá querer se casar se souber que ela não será mais pura.

Regina estava em cima do cavalo de Killian ele desceu e disse:

- Haha, vejam pelo lado bom, ela agora será praticamente noiva do Rei. – Disse ele sorrindo. – E tem mais, se ela não se tornar rainha, talvez nós deixemos voltar para casa, e o tal noivo para quem ela foi prometida deverá se sentir honrado por sua mulher ter dormindo com o Rei. – Killian soltou várias gargalhadas junto com os outros guardas.

- Seu miserável. – Gritou o pai de Regina e partiu para cima de Killian. Um guarda percebeu o ato e se antecipou enfiando a espada nas costas do homem.

- Papai. – Regina gritou chorando. O homem caiu no chão na mesma hora. Sua mulher se atirou sobre ele segurando o marido nos braços. – Papai, não.

Killian voltou a montar no cavalo e então partiram. Regina olhava para trás, seus olhos estavam cheios de lágrimas e a visão de sua mãe segurando o corpo de seu pai, no chão e sem vida agora estava embaçada.