História A Herdeira - Aqueles olhos

Emma abriu os olhos lentamente, a luz veio com toda força e ela sentiu uma pontada de dor em sua cabeça. Involuntariamente passou a mão naquela região. Percebeu que não estava mais no local onde havia desmaiado algum tempo atrás, sob seu corpo havia uma pequena cama. Não tão confortável, mas abrigava muito bem seu corpo. Ela passou a mão na testa e levantou-se. Os cabelos amassados e desengonçados.

- Olá, vejo que acordou. – Ela ouviu uma voz feminina, procurou em volta pela voz e avistou uma senhora de idade. – Qual é o seu nome?

Emma ainda estava tentando se lembrar da noite anterior, depois de tanto forçar sua mente ela obteve sucesso. Levantou-se rapidamente e tentou correr, porém, seu corpo não aguentou e logo foi segurada pela senhora que apesar de ser pequena e não possuir tanta força conseguiu por Emma de volta na cama rapidamente.

– Você ainda não está totalmente recuperada. Não se levante, encontrei você nas proximidades do castelo, provavelmente devia ter caído pois havia torcido o tornozelo.

– Ai meu Deus! Eu preciso voltar, Regina, ela... os guardas a pegaram... não, eu prometi que a tiraria de lá. Eu preciso voltar...

– Fraca desse jeito? Você não consegue nem andar direito.

– Mas ela precisa de mim. – Emma estava aflita, só imaginava o pior. O que teria acontecido a Regina?

– Eu vou fazer um chá e preparar um remédio para pôr no seu tornozelo. Acalme-se.

 ----------------------------------------------------------------------------------------------------

Como todas as manhãs, as moças levantaram cedo para se preparar para o dia. Depois de estarem devidamente prontas foram levadas para sala onde uma grande mesa farta as esperavam. Haviam muitas frutas, pães, sucos variados em grandes jarras de vidro, alimentos escolhidos a dedo pela governanta do harém para que as moças permanecerem sempre com o peso ideal.

Todas estavam sentadas a mesa, Zelena já havia retornado e não fazia outra coisa a não ser falar em como foi maravilhosa a sua noite com o rei. As moças estavam a sua volta, curiosas para saber como ele é.

- E então Zelena? Como foi? Conte-nos.

- Ele confessou estar encantado com a minha beleza – Disse com um ar de superioridade, depois de ter uma noite incrível com Rei, ela estava convencida de que seria a escolhida. – Ele foi muito carinhoso.

- E como ele é?

- Ah, é o homem mais lindo de todo o Reino, seus olhos são azuis, ele tem cabelos loiros escuros e... ahh, braços fortes e musculosos.. – Zelena suspirava ao descreve-lo. Regina que estava próxima pode ouvi-la, e admitiu para si mesma estar curiosa em conhecer o homem que arrancava suspiros de todas as mulheres. Ela não teve muitos amigos homens, durante sua adolescência sempre foi muito recatada. E o único homem em sua vida era Daniel, apesar de não o amar. Ele lhe deu seu primeiro beijo e lhe proporcionou outros momentos a dois, exceto a consumação do casal que seguindo a tradição só poderia acontecer após o casamento. Em alguns momentos ela agradeceu a Deus por isso, não queria entregar seu corpo a um homem que ela não amasse profundamente.

Mas o destino é irônico e injusto, de um jeito ou de outro ela teria que se entregar a alguém que ela nem conhecia. E o pior de tudo, ela se entregaria ao homem que, indiretamente teve culpa pela morte de seu pai. O rei.

Seu estômago embrulhou com esse pensamento, sua vontade de alimentar-se desapareceu subitamente. E ela levantou-se e seguiu para o quarto, o lugar estava vazio como previa, andou em passos lentos até sua cama mas ouviu um soluço, bem, parecia um soluço, se não estivesse sozinha acreditaria que fosse um. A não ser que...

Regina virou-se rapidamente, passou os olhos por todo o quarto e não havia ninguém nas camas. Andou mais um pouco, vai ver aquilo era coisa de sua cabeça. Mas não era...

– Você está bem? – Regina avistou uma moça de cabelos negros ajoelhada entre uma das camas, abaixou-se imediatamente. – Precisa de ajuda?

– Sim, mas você não pode me ajudar. Na verdade, ninguém pode me ajudar. – Ela levantou o rosto que antes estava abaixada e apoiada nos joelhos. Seus lindos olhos verdes estavam vermelhos por conta do choro, a ponta de seu nariz também estava levemente avermelhada. Regina recordou-se da moça, era a mesma que encontrará a noite passada durante a sua fuga mal sucedida.

– Olha, talvez eu possa. Você só precisa confiar em mim e me contar o que aconteceu. Mas se acha que não sou confiável, entenderei. – A moça ficou encarando a outra que estava a sua frente. Silencio. – Tudo bem, não vou insistir. – Regina se levantou, porém, sentiu a mão fria pousar em seu braço.

– Espera! – Os olhos verdes suplicaram. – Fica, por favor!

Sentou-se novamente e se aproximou mais da outra moça para lhe ouvir melhor.

– Você tem que me prometer que não irá contar a ninguém o que eu te disser, isso poderá lhe custar duas vidas.

– Tudo bem, eu prometo. Pode confiar.

– Lembra-se do moço que viu junto comigo na noite passada? – Regina balançou a cabeça em confirmação. – Bem, ele é... meio que meu “noivo”, nós pretendíamos nos casar, mas como vim parar aqui isso não aconteceu. Mesmo assim continuamos a nos encontrar, escondidos é claro. Descobri recentemente que estou grávida, contei ao David e decidimos que vamos fugir daqui, só assim viveremos em paz. Só que... Helena está desconfiando de minha gravidez, falta pouco para fugirmos mas se ela descobrir antes disso, estou perdida.

– Nossa, é bem mais complicado do que eu imaginava. Mas vai dar tudo certo, tenha esperança. Posso ajuda-la, mas terá que guardar segredo sobre mim também.

– Como me ajudará? – Mary uniu as sobrancelhas e deu um pequeno sorriso frustrado.

– Eu tenho uma espécie de “dom”, na verdade, eu nasci com isso. Eu sei fazer magia. – Disse Regina com um pequeno sorriso. – Posso fazer algo para que as pessoas não notem sua barriga, mas durará por pouco tempo.

– Sério? Você é algum tipo de fada? – Perguntou Mary.

– Não. – Regina riu da pergunta. – Agora preciso que fique quieta para isso funcionar. – Pousou suas pequenas mãos delicadas sobre o ventre de Mary e num piscar de olhos um feixe de luz saiu de suas palmas. A moça estava com os olhos arregalados, aquilo era mesmo magia. Depois que as mãos de Regina se afastaram elas contemplaram o grande feito. Quem olhasse para Mary nunca diria que estava grávida.

– Isso é incrível, obrigado Regina. – Abraçou-a. – É esse o seu nome, não é?

– Sim, e não precisa agradecer.  

As duas se espantaram com o som de palmas. Rapidamente se levantaram e olharam em direção a origem do som.

– Incrível? Isto é esplêndido. – Zelena se aproximou. – Com certeza Helena gostará muito de saber que há uma feiticeira no harém. Ah, e parabéns Mary Margaret, Helena anunciou durante o café que você foi escolhida para dormir com o Rei esta noite. – Mary arregalou os olhos surpresa.

– Do que está falando? Não há feiticeira alguma aqui.

– Não se faça de desentendida! Eu vi muito bem o que fez. – A ruiva confrontou a morena.

– Você deve estar ficando maluca.

– Negue o quanto quiser, agora você está em minhas mãos. – Sorriu vitoriosa.

 -----------------------------------------------------------------------------------------------------------

O dia passou lentamente, quase se arrastando, diferente dos dias anteriores que para ele passará com uma rapidez anormal. Ele sabia muito bem o porquê de isso estar acontecendo, não conseguia tirar de sua mente a imagem daquela mulher. A morena de olhos negros não saiu de sua cabeça um minuto sequer desde a noite passada. Ah, aqueles olhos. Seu rosto sob a luz do luar era uma perdição, ele estava enlouquecendo, certeza. Nunca fora de pensar em alguma mulher antes, ele apenas as usavam e não voltava a olhar na cara delas novamente. O que aconteceu com a primeira moça escolhida para passar a noite com ele, apenas se divertiu com ela, definitivamente ela não era a pessoa que iria reinar ao seu lado. Ela serviu só para satisfazer os desejos carnais que ele possuía.

Neste momento, Robin suplicava aos céus para que a morena que havia encontrado no jardim fosse uma das moças escolhidas para viver no harém. E se isso realmente fosse verdade, logo a teria em seus braços. Ele sentia grande necessidade em protege-la, desde que a encontrou com aqueles malditos homens.

Em fim a noite cairá, sua vontade de revê-la só aumentava. Estava nervoso, dispensou até a moça com quem iria dormir esta noite. Inventou que tinha muitas coisas para fazer, questões relacionadas ao Reino e se trancou em seu quarto. A meia noite se vestiu adequadamente e saiu, foi para os jardins em busca dela. Ao lembrar-se de que ela estava com uma rosa na noite anterior, ele decidiu colher algumas e dar-lhe de presente assim que a encontrasse.

Ele estava em frente ao chafariz, de costas para o grande corredor aberto do castelo que dava passagem de acesso ao jardim. Ao redor do grande chafariz circular haviam quatro bancos de mármore, bem posicionados.

Robin fechou os olhos, sentiu a forte brisa bater em seu rosto. E com a brisa, o seu cheiro.

– Eu sabia que viria. – Ele sorriu abertamente.

– Ah, é? Por acaso você possui alguma espécie de bola de cristal? – Ela brincou.

– Não, mas... – Ele virou-se de frente para ela. – Você não faz o tipo que deixa um cavalheiro plantado. – A morena sorriu, olhando para ele. Robin então teve a grande ideia de sempre contar-lhe coisas engraçadas para que pudesse ver aquele sorriso o tempo todo, era o mais belo que já vira em toda sua vida. – Isto é para você.

Entregou-lhe as rosas. Regina as aceitou e o agradeceu, sentindo o cheirinho das rosas.

– E que tipo, eu faço? – Provocou-lhe, Regina nunca esteve tão instigada a conhecer um rapaz. Sua vida se resumia a Daniel, então quis ir além.

– Quer mesmo saber? – Ele aproximou-se e a encarou.

– É tem razão, melhor não. – Ela deu de ombros e passou ao seu lado, aproximando-se do banco e sentando ali.

– Sua curiosidade foi embora assim, do nada... – ele a seguiu e sentou-se a seu lado.

– Talvez sim, ou não... – Ele sorriu.

– Posso fazer-lhe algumas perguntas? Quero apenas te conhecer melhor. – Robin realmente estava interessado na moça.

– Sim, claro.

– O que fazia ontem antes de eu lhe encontrar com aqueles... malditos. – Falou com ódio ao lembrar-se da cena.

– Não sei se devo te contar. – Regina estava com medo de se abrir com ele, mal o conhecia. Era certo que ele havia lhe salvado, mas estava com receio, principalmente porque ele a hipnotizava com os seus lindos olhos azuis que apesar da escuridão da noite era possível enxergar com veemência.

– Tudo bem, se não quiser...

– Fui trazida para o castelo a força, aquele Rei louco, mandou que trouxessem moças do reino para que ele pudesse escolher uma esposa entre elas. Acho que você já deve saber disso, afinal você vive aqui no castelo. – “Ótimo, ela me acha louco” pensou ele ao ouvi-la. E afirmou com um balançar de cabeça. – Não conheço esse rei, mas já o odeio, foi por essa maldita escolha que um de seus guardas tirou a vida do meu pai. Ele tentou impedir que me levassem. – Regina deixou que lágrimas escapassem, Robin a fitava entristecido, pensou em não revelar por enquanto que ele era o Rei que havia lhe causado tanto sofrimento.

– Sinto muito. De verdade.

– Havia combinado com uma amiga de fugirmos naquele dia, porém deu errado, o resto você já sabe.

– Onde está sua amiga? Eu lembro-me de apenas ter visto você.

– Ela estava em cima do muro, tentou voltar par me ajudar mas perdeu o equilíbrio e caiu para o lado de fora. Estou preocupada, não tenho notícias dela. – A expressão de Regina era triste, ansiava saber o que havia acontecido com Emma, e hesita ao pensar o pior.

                ( IN MY DREAMS - RUTH B. )

– Queria poder te ajudar a sair daqui, mas não posso. – Aproximou-se mais dela e tocou o seu rosto com uma das mãos. – Primeiro porque é arriscado demais, eu não colocaria sua vida em perigo e segundo, porque sou egoísta demais para te deixar ir.

Regina estava confusa com as palavras que ele acabara de pronunciar.

– Se me permite... – Ele acariciou mais o rosto macio e com a outra mão entrelaçou com as dela. – Eu gostaria de cortejar-lhe.

Ao dizer isso, Regina sentiu um friozinho na barriga, uma sensação estranha se alastrava por todo seu corpo, as famosas “borboletas no estômago” entravam em ação. Era a primeira vez que conversava com um homem, um homem que ela escolhera. E que por sinal era lindo, de todas as formas, não seria difícil fazer com que alguém se apaixonasse por ele. Nesse momento ela não pensou em mais nada, decidiu se lançar a paixão. Queria saber como era a sensação de ter alguém, realmente. Só estava com Daniel por escolha de seus pais, porque era obrigada a fazê-lo feliz. Dessa vez seria diferente.

A morena fechou os olhos e aproximou seu rosto ao do homem a sua frente. Os lábios se chocaram imediatamente, ela passou os braços ao redor do pescoço dele e intensificou o beijo, ela se sentia livre. Suas línguas se encontravam em perfeita sincronia, o loiro finalizou puxando o lábio inferior dela.

­ – Então isso é um...? – Ele não finalizou sua pergunta.

– Sim. – Regina soltou um lindo sorriso, ao mesmo tempo que ele. As covinhas no rosto do homem só fizeram ela se encantar ainda mais. – Mas, você se esqueceu de algo... – Seus olhos castanhos fitaram o chão.

– O que? – Perguntou ele, confuso.

– Estou prometida ao Rei, e se caso ele não me tornar sua esposa, de qualquer jeito estarei presa a ele para sempre, ele nos trancará naquele harém. - "Bom, isso com certeza não será um problema, sou o Rei. Ela não precisa saber disso agora" Pensou Robin.

 – Antes preciso te conquistar, depois nós daremos um jeito, farei o que for preciso para ficar com você. Você será minha.