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História A Herdeira do Fogo - Cosmornorth


Escrita por: _betterharmony

Notas do Autor


Olá pessoal tudo bem?
Demorei mais do que eu queria, mas vou tentar atualizar o próximo cap mais rápido pra compensar.
Qualquer erro concerto assim que eu os ver, e por favor leiam as notas finais!
Boa leitura!

Capítulo 3 - Cosmornorth


Fanfic / Fanfiction A Herdeira do Fogo - Cosmornorth

C.C

 

Amor é sentimento que pulsa, arde, e machuca.

 

Cordialmente dizendo, nunca acreditei no paranormal, ouvia com interesse quando diziam e me jogava nas aventuras de meus personagens favoritos de algum livro ou série. É claro que em algum momento já imaginei como seria se houvesse outro mundo, como seria as pessoas de lá, seus costumes, crenças e políticas. Mas não me fazia uma devota em acreditar que realmente existe outro lado. Quando a manhã de sábado chegou, não imaginei que seria o dia que me faria acreditar naquilo que é dado como irreal. É engraçado como conceitos podem sim mudar da noite pro dia.

Após eu ter sido arremessada para as imagens projetadas pelo quase desconhecido em minha casa, parte de meu corpo foi domado por adrenalina, matando de vez minha parte lógica. Quando projetei meu corpo para sair da cozinha, Adlan estralou os dedos fazendo duas malas caírem em minha frente. Perplexidade era pouco para expressar meu estado, mas não fiz perguntas como antes, apenas tentei aceitar o que estava se passando ao meu redor sem pirar.

- Acho que estamos prontos para partir.

- Acho que duas malas não é o suficiente. – Eu disse estática.

- Mas todas as suas coisas estão aí. – Ele levantou uma sobrancelha mostrando confusão.

- E as de minha tia? – perguntei o óbvio.

Adlan suspirou, olhando-me em dúvida e virando-se para a mulher, agora de pé com os braços cruzados.

- Eu não posso ir para onde você está indo, Camila.

- Mas...

- Eu sei. E sinto muito por isso estar acontecendo, mas quando você chegar ao seu destino vai compreender, e eu vou estar aqui, sempre estarei, e quando quiser voltar estarei te esperando com sua pizza preferida. – Ela brincou, mas seu olhar estava longe demais, triste demais.

- Então estou indo pra um lugar desconhecido, sozinha, cheia de dúvidas, e com uma pessoa que não conheço... – Disse perturbada.

Candace não disse mais nada, apenas concordou com um aceno fraco, como se aquilo bastasse. Quando minha razão deu sinal de vida mais uma vez, fazendo-me pensar em desistir, minhas mãos arderam insanamente, e um desconforto se alastrou em meu corpo, quase como um sinal de que por mais que eu estava indo por uma “escolha”, eu não tinha realmente uma escolha que não fosse aceitar.

- Quanto tempo? – Encarei Adlan que pegava as duas malas.

- O tempo que você quiser. Mas se for de ajuda, seu tempo letivo em Cosmornorth é de quatro anos.

Eu não sei se fiquei mais abismada por aquele nome estranho ou pelo fato que poderia ficar quatro anos fora de casa, então para fugir desse pensamento foquei no fato que estudo eu teria pelo menos. Sempre prezei em ter conhecimento e sempre gostei de estudar, Candace incentivava-me nos estudos desde que eu me conhecia por gente, e sempre gostava de ver seu olhar orgulhoso quando pegava minhas notas.

Estava com o pensamento longe quando notei Adlan levando as malas para a sala de estar, Candace foi logo atrás dele e eu os segui. Antes dele colocar as malas perto da mesa de centro eu subi rapidamente as escadas, indo ao meu quarto, comprovando que realmente minhas roupas e outras coisas não estavam mais em seus devidos lugares, porém havia duas coisas que para mim eram essenciais e não estavam nas malas, um retrato de minha tia e eu quando fomos a Disney no ano passado e minha corrente com um sol de pingente, tinha sido meu presente de dezesseis anos, ele era algo especial que eu guardava em uma caixinha, usava-o em ocasiões tão especiais quanto o significado dele, era um dos vários presentes que Candace me deu, mas por alguma razão, esse sempre foi o que mais me chamou a atenção. Coloquei-o no pescoço e voltei para sala.

- Não estou acreditando que realmente estou indo embora assim. – Disse passando a me dar conta do que realmente eu estava fazendo.

- Vai ser para o seu bem, você verá. – Minha tia olhou-me com carinho e se aproximou de onde eu estava. – Vou sentir sua falta Kaki. – Me puxou para seus braços, me prendendo em um abraço comprido e forte, como se não quisesse me soltar, e por aqueles segundos eu não queria que ela me soltasse.

- Eu não quero ir, você sabe disso, não sabe? – Perguntei. – Mas eu não aguento mais essas sensações, e não saber o que se passa é ainda pior.

- Eu sei meu anjo, eu nunca vou te julgar. – Ela deu uma risadinha baixa, ainda me apertando contra seu corpo. – Hectares, o lugar onde Adlan está te levando é muito bonito, há uma diversidade enorme lá. – Se afastou um pouco, segurando meu rosto com as duas mãos e tendo certeza que eu estava prestando atenção no que ela dizia. – Você irá aprender tudo o que precisa, mas quero que tome sempre muito cuidado, por mais que em Cosmornorth una a todos, não são todos que se unem, saiba com quem se misturar. E o mais importante... – Pegou o pingente que estava em meu pescoço em suas mãos. – Nunca o tire. Eu estarei sempre com você, saiba que eu te amo e faria tudo para te proteger, nunca esqueça.

Eu a abracei novamente, algumas lágrimas já escorriam de meu rosto, e eu sentia seu peito arfando levemente, ela também chorava. Após mais alguns longos segundos grudadas, tomei coragem em me afastar, e olhei para o homem a minha frente perto da lareira. Ele parecia paciente, sabendo que aquele momento era importante. Quando viu que eu já estava pronta, virou-se em direção da lareira erguendo os dois braços. Eu não consegui ver muito, mas em menos de dois segundos uma fumaça condensava-se em sua frente, aos poucos foi tomando forma e cor, tornando-se um tipo de túnel de quase dois metros de altura que girava em espirais, reluzindo em um tom safira brilhoso, olhei assustada para minha tia que mantinha um braço em meu ombro.

- Assim que você quiser poderemos ir, Camila. – Adlan disse virando em minha direção e pegando as malas.

Assenti uma vez, engolindo em seco e tentando conter o formigamento em meu estomago. Assim que dei dois passos a frente, Candace deu um aperto em meu braço, fazendo-me parar.

- Adlan, cuide dela. Se você não mantiver Camila segura, eu juro que sou capaz de arrancar forças dos poços de Astaroth para acabar com você. – O tom da mulher foi tão frio e cortante que um arrepio gélido passou por minha coluna.

- Dou minha palavra, Candace. Ela estará segura enquanto estiver sob minha proteção. – Adlan a respondeu com o olhar erguido e postura reta, como se aquilo fosse algum tipo de juramento.

Olhei uma última vez para a sala, tentando gravar cada detalhe, olhei para a mulher em meu lado, tentando compreender uma última vez, eu tinha tanto para perguntar, mas um sexto sentido dizia que ela não diria em hipótese alguma, e que aquilo de alguma forma era para estar acontecendo. Fechei meus olhos por um segundo, gravando tudo o que eu poderia, eu não tinha muito pra guardar, mas era apegada a esse pouco. Quando abri meus olhos, deixei um suspiro sair de meu corpo, junto com qualquer resquício de insegurança. Minha tia me deu um beijo em minha testa e eu segui em direção ao homem.

Eu não precisava que ele dissesse, eu sabia que o que ele projetou de suas mãos no momento era algum tipo de portal, era nítido o formato de um túnel, o problema era o destino que aquilo me levaria e se teria algum efeito colateral, mas a energia vindo dele era algo magnético, como se fosse a metade de um imã que me completava. Adlan estendeu um de seus braços cordialmente para que eu segurasse, fazendo-me virar de costas para o portal. Sem aviso algum as aspirais tomaram conta de meu corpo, envolvendo-me em sua cor brilhante, a última imagem que eu vi antes de ser totalmente abraçada por aquele manto de energia foi os lábios de minha tia sibilando a palavra desculpa.

 

O termo ser sugada por um aspirador poderia ser uma ótima referência para a sensação estalada em meu corpo. Não era como se eu estivesse girando e tudo estivesse desmoronando, era mais como um peso estalado em meu corpo, paralisado, mas movendo-se em uma velocidade alucinante, tudo era um borrão por fora da nuvem que se mantinha ao meu redor, como um sinto de segurança. Quando tudo parou, senti meu estomago quase saindo pela boca pelo tranco, não sentia um centímetro de meu corpo, era como se ele fosse arrancado de minha alma, para piorar a sensação, eu não enxergava absolutamente nada, nem escutava.

“Devo ter morrido.”

Antes do desespero se alastrar por mim, senti duas mãos me segurando pelos ombros, tendo noção que ainda tinha um corpo.

- Calma, respire fundo, a primeira vez sempre traz algum efeito colateral. – Ouvi a voz de Adlan como um eco em minha cabeça.

Aos poucos outros sons vieram até mim, sentia meu corpo inteiro e minha visão voltava gradativamente. Após alguns segundos eu já estava normal e petrificada com o que via.

“Definitivamente isso não existe na Terra”

Foi a única coisa que eu pensei vendo a paisagem em minha frente, era a mesma que eu tinha visto na cozinha de minha casa, a diferença que agora era real, e eu estava mais perto da enorme construção.

- É bonito, não é?

- Magnífico! – Respondi sem ao menos olhar para ele, estava estupefata com o que eu via. – Isto é mesmo real?

- Cosmornorth é real para qualquer pessoa tocada ou nascida no sopro.

- Então isso é nome deste lugar. – Deduzi lembrando que minha tia também havia pronunciado esse nome. – O que é sopro?

- É o que te faz estar aqui. – Disse praticamente o que já tinha dito antes. – Todas suas duvidas serão sanadas neste lugar, Camila. Sem pressa. Tudo bem?

Olhei incomodada por sua resposta, queria alguma coisa que tirasse essa sensação de incomodo no meu peito, não saber de algo que parecia essencial me deixava impaciente.

Adlan levou meu silêncio em consideração e passou a andar em direção à enorme construção, foi quando percebi que estávamos em uma longa planície. Trilhávamos em um pequeno caminho feito em pedras cravadas ao chão, fazendo um mosaico de símbolos que eu nunca vi, ao lado do caminho, a grama rente e baixa parecia quase eterna, algumas flores chamavam atenção pela cor e tamanho, mas mesmo com aquela bela vista, nada superava a construção de pedras e vidros platinados alguns metros em minha frente. Quanto mais perto eu chegava mais eu sentia meu corpo tencionar.

No meio, separando os dois altos e largos prédios, havia uma enorme passagem, como uma entrada, acima desta, pendia a enorme circunferência com um cristal flutuando ao centro, tendo ao redor mais seis escudos, cada um com uma cor diferente. Como aquilo flutuava? Não fazia a menor ideia, mas para uma pessoa que chegou até aqui sendo sugada por um moinho azul, aquilo era quase o de menos, quase. Eu poderia ficar olhando por horas que eu não cansaria de admirar cada detalhe, quanto mais eu chegava perto mais uma sensação de conforto e animo me atingia. Quando eu realmente cheguei à enorme entrada, meu corpo inteiro arrepiou como se eu tivesse recebido uma descarga elétrica, assim como das vezes que Adlan projetava algum de seus truques, eu fui domada por uma energia, mas desta vez era algo confortável como se acariciasse minha pele, quase como um abraço de boas vindas. Nada no mundo pagava aquela imagem e sensação.

- Bom, nossa pequena viagem chegou ao fim. Bem vinda a Cosmornorth, lar de toda nação mística. – Adlan disse risonho. – Então bem, lhe darei algumas instruções. Assim que passar por esse cristal. – Apontou para cima de nossas cabeças. – O véu que protege a entrada lhe dará passagem, você seguirá reto indo direto ao pátio da corte, quando chegar lá saberá em que lugar ficar. – Disse tudo muito rápido e antes que eu perguntasse alguma coisa um manto de energia o cobriu, fazendo que ele sumisse de minha frente.

Fiquei petrificada quando ele sumiu da minha frente, olhei para todos os lados, dando um giro para tentar localiza-lo, mas só havia eu naquele lugar. Eu não podia acreditar.

- Droga! – Amaldiçoei com toda força. O cara tinha me trazido pra um lugar que nem eu sabia o que era e me deixado sozinha, nem minhas malas ele deixou. – Isso tá pior que um show de horrores.

Girei em meus calcanhares ficando de frente mais uma vez para a entrada daquela imensidão brilhante. Eu não conseguia ver nada do que estava do lado de dentro, eu sabia que havia uma parede ali, mas não era de pedras nem vidro. Parecia um lençol gelatinoso que balançava suavemente, refletindo minha imagem parada e a vastidão verde logo atrás. Que opção eu teria a não ser entrar?

- Espero que aquele esquisito apareça porque minha paciência está encurtando. – Suspirei raivosa enquanto andava decidida em direção ao meu reflexo.

Fechei meus olhos automaticamente quando encostei naquela cortina reluzente, dando-me a sensação que estava passando por debaixo de uma cachoeira. Gelado, era o que eu sentia, mas não doeu ou causou alguma reação em meu corpo como no túnel que me levou até aqui. Da mesma forma que eu entrei, eu saí. Inteira. Só que agora eu estava do lado de dentro daquela construção, a trilha de pedra sob os meus pés ainda era a mesma, com os mesmos símbolos estranhos, porém ela não seguia só por um caminho reto, ela se ramificava em várias direções, e quando ousei tirar meus olhos do chão não contive o suspiro. Eu esperava tudo, menos aquilo. O interior daquele lugar parecia-se com uma mine cidade do futuro. Era quase impossível aquilo estar aqui dentro, olhei para trás onde estava a parede de energia, e os longos prédios, e vendo pelo ângulo interno, notei que além de prédios, também serviam como uma espécie de muro. Tudo era feito em uma arquitetura refinada e as cores pulsavam como se tivessem vida, e por um instante acreditei que tinham, na trilha a minha esquerda, bem distante, eu conseguia avistar um tipo de arena enorme em ônix, em cima dela um brilho dourado piscava, brilhava tanto que nem reparei que estava andando em sua direção, tirando toda minha atenção do resto, quase que enfeitiçada fui buscando por aquele pequeno ponto.

- Lado errado! – Quase dei um pulo quando uma voz aveludada chamou minha atenção. – O pátio da corte não fica nessa direção e pelo o horário eu correria para chegar em tempo.

Virei bruscamente buscando a referência da voz e definitivamente senti meu coração parar quando dei de cara com uma garota me olhando com olhos críticos. Ela estava menos de meio metro de distância, o que me fez dar bons passos para trás. Como ela tinha chegado tão perto sem eu perceber? Olhei para o chão sentindo-me estranhamente envergonhada, como se tivesse sido pega fazendo algo errado. Encarei seus pés cobertos por coturnos preto, um pouco surrados, e parte de suas pernas cobertas por uma calça também na cor preta, quando ela deu um passo em minha direção levantei minha cabeça e foi quase como receber um soco no estômago.

Sabe quando você sente cada poro de seu corpo em alerta? Era assim que me senti quando me deparei com uma imensidão verde me olhando profundamente, como duas galáxias. Sem qualquer palavra ela passou o olhar por todo o meu corpo, e focou na direção em que eu estava caminhando, voltando a me olhar em seguida. Senti-me impotente com o jeito que me encarava, parecia me fuzilar, percebi sua testa um pouco franzida como se analisasse algo só pra ela. Tentei não focar no quanto sua pele era branca, quase reluzindo. Busquei falar alguma coisa, mas parecia que meu cérebro tinha entrado em curto, e ela não parecia incomodada em continuar parada em minha frente. Repetindo o que tinha feito antes, me deu um último olhar e encarou algum ponto atrás de mim, deslocando o corpo em sinal de passagem. Sem hesitar, passei por ela em passos largos, recebendo a mensagem silenciosa para eu ir embora dali, não me atrevi a olha-la de novo, sabia que ela provavelmente me analisava enquanto eu andava, quase sentia minhas costas queimando, mas foquei no que Adlan me instruiu antes de sumir, o que me fez lembrar de como vim parar neste lugar, que mesmo parecendo magnífico não era o que eu espera como projeto de adolescência.

Foquei na calçada de pedra que seguia reta, tentando não desviar minha atenção desta vez, vai que aparecesse outra pessoa me fuzilando. Aquela garota parecia irritada, será que era tão errado ir para aquela lado? Continuando no meu trajeto percebi que agora a trilha era mais larga, sem desvios, ergui meus olhos e vi o enorme pátio com uma imensidão de pessoas andando de um lado para o outro, tentei achar o jovem homem de cabelos brancos, mas era muita gente.

“Merda, sozinha e praticamente perdida.”

Com passos mais firmes, praguejei tudo o que tinha de direito, que nem percebi que já estava caindo de bunda ao chão por ter esbarrado em alguém. Soltei um chiado de dor sentindo metade de um corpo caindo em mim, deixando-me ver só longas mechas loiras.

- Meus Deus! – A pessoa resmungou, já saindo de cima das minhas pernas. – Desculpe-me! Eu te machuquei?

Olhei incrédula para nova garota em minha frente agora, que eu quase passei por cima como se fosse um trator por ser tão desastrada. Ela fixou seus olhos em meu rosto com um semblante preocupado, levantando-se e me estendendo a mão para me ajudar a sair do chão.

- Não, tá tudo bem. Eu que vim avoada e nem olhei pra frente. – Falei sentindo minhas bochechas corarem em vergonha. Como eu podia ser tão desajeitada?

A moça deu uma risadinha, concordando com a cabeça. Pelo menos ela parecia mais educada do que a dos olhos verdes.

- Eu te entendo, esse lugar é lindo demais para conseguir manter a atenção apenas em nossa frente. – Comentou mantendo o sorriso no rosto enquanto passava os olhos ao nosso redor.

E ela estava certa. O enorme pátio também era belo, em forma oval com imensos pilares ao redor, dividindo o jardim do chão de pedra lisa lustrosa. Acima de cada pilar ficava uma espécie de braseira revestida de bronze onde continha enormes chamas. Fitei a multidão no lugar e não foi difícil perceber um palanque em uma das laterais. Muitos pareciam deslumbrados com o que estavam enxergando, rodavam em seu próprio corpo querendo gravar cada pedaço, outros conversavam animados uns com os outros. Reparei que integralmente eram adolescentes, talvez a mesma idade que a minha.

- Realmente. – Consegui responder a menina ao meu lado que também observava.

- Dinah Jane. – Ela estendeu a mão, e entendi que esse era seu nome.

- Camila – Apertei sua mão em cumprimento, abrindo um sorriso de lado. – Pelo jeito você também é nova aqui. – Reparei pela forma como ela se comportava olhando o mesmo que eu.

- A maioria aqui são, digo, novos no sentido de não serem daqui, você sabe, híbridos. – Ela disse naturalmente e eu fiz uma careta.

- Híbridos?

- Sim. – Ela percebeu minha confusão. – O que? Você não sabe o que você é? – Ela perguntou um pouco incrédula. – Seu rastreador não disse o motivo de você estar aqui?

Encolhi-me em meus ombros me sentindo boba por não estar entendo o que ela estava me dizendo. Apenas neguei, abaixando meus olhos e encarando os bonitos desenhos no chão.

- Eu não tenho ideia, apenas me disseram que eu devia vir pra cá, porque seria bom pra mim. – Lembrei de minha tia e de Adlan. – Mas ninguém me explicou concretamente. – Suspirei em frustração e voltei a olha-la.

- Que merda, sua cabeça deve estar toda bagunçada. – Dinah, olhou-me como se pesasse o que falaria a seguir. – Há quanto tempo chegou em Hectares?

Levantei minhas sobrancelhas em sinal de maior desentendimento do que eu já estava, parecia que a cada palavra que ela dizia mais confusa eu me encontrava.

- Pensei que aqui fosse Cosmornorth. – Expressei lentamente provando o som da palavra nova em meu vocabulário.

- Sim, aqui é. Mas Cosmornorth fica dentro do Reino de Hectares. – Exclamou como se aquilo fosse o óbvio.

- Então deve fazer uns dez minutos que cheguei aqui. – Dei de ombros. A garota parecia abismada com o que eu dizia, seria cômico ver nossa cara de confusão uma pra outra, se não fosse a situação em que eu estava.

- Caramba... Realmente sua cabeça deve estar uma zona.

- Você não sabe o quanto. – Dei um risinho em escárnio, lembrando tudo o que aconteceu na manhã de hoje. – Em uma hora eu estava descendo as escadas da minha casa e em outra estava vendo um homem estranho projetando coisas mais estranhas ainda pelas mãos e me convencendo de entrar em um túnel que me trouxe até aqui. – Desabafei em voz alta me sentindo uma retardada.

- Eu te entendo, apesar de meu rastreador ter sido um pouco mais cauteloso com a minha sanidade quando foi me buscar, e ter tirado muitas das minhas dúvidas no caminho. – Ela afirmou um pouco nostálgica, balançando sua cabeça em negação rapidamente e virando-se para frente, vendo o pátio enchendo-se de pessoas cada vez mais. – Sei que não sei muito, praticamente nada, mas posso tentar te explicar o que eu sei. Você quer? – Perguntou um pouco apreensiva e vi que estava tentando uma aproximação amigável.

Olhei surpresa em sua direção e me senti um pouco aliviada em saber que poderia ter alguém respondendo algumas da minhas dúvidas. Dei um largo sorriso para Dinah em agradecimento e ela passou a andar em direção a frente do palanque.

- De maneira geral, não posso te prometer que ainda não será confuso, porque é uma das coisas mais irracionais que eu ouvi na minha vida quando me disseram. – Dinah começou com um tom suave. – Resumindo, é como se não existisse vida só na Terra, mas ao invés disso ser colocado em espaço espacial, é colocado em espaço interdimensional. Você não vai achar vida em outro planeta, mas vai achar em outra dimensão, que é onde estamos. A Terra, onde nascemos, é como se fosse um segundo centro de tudo, mas muito fraco, então os humanos não conseguem ter acesso a Hectares, que é o primeiro centro dimensional. – Parou a explicação, perguntando silenciosamente se estava conseguindo explicar de maneira clara e eu fiz um sinal de quase, mas incentivando-a continuar. – Bem... Hectares, pelo o que eu entendi é o lugar que aceita todas as nações interdimensionais, e como prova fizeram Cosmornorth, em que aceitam os jovens nascidos ou tocados pelo sopro.

- Espera, está dizendo que existe outras dimensões? E que existe uma que é o centro, e que é onde estamos? – Perguntei lentamente, recebendo um aceno. – E isso aqui é tipo um instituto que liga todo mundo? – Perguntei torcendo o nariz com a ideia. 

- Quase isso. – Ela meneou a cabeça. – Não acho que aqui seja o único modo de unir os reinos, mas é um pensamento meu.

- Mas o que eu tenho haver com tudo isso?

- Se algum rastreador foi atrás de você e te trouxe até aqui é porque você deve ser uma híbrida, uma humana tocada pelo sopro. E antes que você me pergunte, eu não sei o que é sopro. – Ela levantou as mãos brincando rendimento.

Pisquei forte tentando organizar as informações recebidas, não era fácil acreditar em tudo aquilo, mas olha só onde eu estava? Dei uma risadinha irônica com a situação e passei minhas mãos em meu rosto, em um ato inútil de alívio.

- Aqui, aceitam cinco tipos de pessoas, pelo o que meu rastreador disse. – Retomou a falar, quando abri os olhos. – Uma delas somos nós, híbridos. – Apontou para o pátio. – Depois vem as que podem te assustar. – Ela conteve um sorrisinho.

- Acho que estou em um estado que mais nada pode me assustar.

- Nem se eu te disser que todo o mundo fictício dos livros em parte existe? – Ela perguntou erguendo uma sobrancelha. – Tipo elfos e fadas, magos e bruxas, vampiros e lobisomens?

Medi seu semblante esperando ela mostrar sinal de brincadeira, mas apenas encontrei uma face risonha, não era como se ela estivesse zombando de mim, mas parecia se divertir com o estado que fiquei sendo atingida por aquilo.

Fechei tão forte meus olhos que quase senti as pálpebras colando permanentemente entre si, subi meu rosto em sentindo pro céu, analisando a imensidão azul sem qualquer nuvem. Quase soltei um choro silencioso em desespero, sentia-me que tinha dormido e que entre meus pesadelos rotineiros, eu tivesse acordado em um livro de ficção. Olhei mais uma vez para Dinah, que me analisava talvez pensando nas possibilidades de eu sair gritando. Apenas balancei a cabeça em negação e soltando a risada mais irônica que poderia, não por achar que Dinah estava mentindo, mas ver onde eu estava metida sem ao menos saber o porquê.

- Deixe-me adivinhar, esse são os outros cinco tipos de pessoas aceitas aqui. – Não perguntei, afirmei o que ela tinha deixado a entender e sua confirmação em um aceno me deu a certeza.

- Veja pelo lado positivo, o que quer que estava te incomodando na Terra vai sumir. Todos que estão aqui agora, tem algo os machucando, e aqui é o lugar que iremos aprender a controlar o que nos machuca. – Vi que suas palavras, diferente de antes, eram ditas de forma que a fizesse acreditar que aquilo aconteceria, quase como um brilho de esperança.

 

Ficamos conversando por mais alguns minutos, ela reforçava alguns pontos do que tinha me explicado, fiquei sabendo que fora de Cosmornorth haviam lugares tão incríveis como aqui, e que o reino de Hectares parecia o lugar utópico da paz, pela forma que as pessoa se comportavam, Dinah estava na nova dimensão fazia uma semana, a pessoa que a trouxe fez com que ela se acostumasse com a ideia antes de começarem as “aulas”, por esse motivo ela sabia tanto.

Fomos interrompidas quando quatro barulhos de explosão, um sucessivo do outro, eclodiu no espaço ao nosso redor, sendo acompanhado logo em seguida com a abertura de quatro grandes portais, um do lado do outro, em diferentes cores. Eram parecidos com o que Adlan tinha feito, mas esses eram gritantemente maiores.

- Parece que os outros reinos chegaram. – Dinah disse no mesmo momento em que diversos adolescentes começaram a sair dos moinhos.

Olhei um pouco assustada pela quantidade de pessoas que estava se aglomerando na frente do palanque em que Dinah e eu estávamos. Quando todo o pátio foi ocupado, e ninguém mais saia dos portais, mais quatro barulhos de explosão surgiram e da mesma forma que apareceram, os portais sumiram. Em cima do palco a nossa frente, de um em um, surgiram pequenos moinhos de energia, revelando para cada um deles uma pessoa, havia no total de quase vinte em cima daquele lugar, em diferentes roupas e acessórios, mas todos com caras sérias. A agitação presente no recinto foi sumindo assim como o alto volume de conversas.

Em algum instante desde a abertura dos portais até agora, minhas mãos passaram a formigar tanto que não conseguia mais sentir meus dedos, tentei esfregar uma na outra, abrir e fecha-las, mas nada tirava o desconforto, até eu esconde-las nos bolsos da minha calça e tentar esquecer. Dinah, vendo minha pequena movimentação, espiou-me com o canto dos olhos, mas nada disse.

Tomando a frente das quase vinte pessoas em cima do palco, um homem jovem e forte com os cabelos domados pela cor branca surgiu. Adlan. Os poucos sussurros sumiram, fazendo a atenção de todos no recinto serem capturadas para ele.

- Sejam bem vindos. – Sua voz calma ressonou no espaço, ele não usava nenhum microfone, mas sua voz saiu tão alta como se estivesse usando um. – Bem vindos àqueles que escolheram mais um ano Cosmornorth como lar, e bem vindos aos que chegam pela primeira vez. Este ano tivemos alguns problemas, como a maioria sabe, o ano letivo deveria ter sido iniciado há dois meses, mas garanto a todos que isso não irá atrapalhar na programação anual de vocês na instituição. – A voz de Adlan era polida e firme. Eu tinha certeza que minha atenção deveria estar presa nele, não só pelas informações sendo passadas, mas pela energia que pulsava do local onde ele e os outros atrás transmitiam, eu não estava tão perto, uma distância considerável, mas ainda sentia o libido me cobrindo como um véu. Porém mesmo com toda pulsão magnética ao meu redor, minha atenção estava desfocada, pois além de minhas mãos fervilharem, eu sentia minhas costas arderem, como se minha pele estivesse a ponto de derreter. Rezei silenciosamente para que aquilo parasse, e como resposta toda vez que eu fechava meus olhos as imagens de uma cidade em chamas aparecia, eu já não escutava o que Adlan falava, e aos poucos fui perdendo minha consciência no real para meus pesadelos, antes que eu mergulhasse no mar tempestuoso, por alguma razão virei para o lado direito. Foi quando a quase três metros no meio da multidão em minha diagonal, eu a avistei. Estava concentrada a sua frente, com a expressão tranquila, quase angelical, diferente da que estava quando a vi pela primeira vez, me senti um pouco tonta, mas não ousei cair e arriscar perder minha visão privilegiada. Foi quando em quase câmera lenta eu vi um pequeno vinco aparecer entre suas sobrancelhas, ela contorceu levemente o semblante calmo, fechou os olhos e quase como um tiro, quando os abriu, me encarou. Não foi raiva, fúria ou aversão desta vez, quando os verdes colidiram com os meus castanhos, eu vi dúvida e... Frustração?

Não soube explicar, porque logo depois tudo voltou à velocidade normal, e mais uma vez fui submergida por imagens que eu não entendia, pela dor em meu peito e assombro de sentir minha pele rasgar. Esqueci-me de onde eu estava, de Dinah ao meu lado, de que ainda havia uma pessoa discursando em algum lugar, e que uma garota de lindos olhos me encarava tentando assimilar o que estava acontecendo.

 

 


Notas Finais


• Cosmornorth: instituto, lugar de formação dos jovens de todos os reinos. Usada para unificar e manter a paz nas dimensões.
• Hectares: reino que abriga Cosmornorth, regida pelos anciões e sábios, lar de todos, recebendo e abrigando qualquer raça. – será melhor descrita no decorrer da fic.
• Híbridos: humanos tocados pelo sopro, sofrem de efeitos paranormais, sendo psicologicamente, fisicamente ou ambos, tem direito de lar em Hectares se assim quiserem e de frequentar Cosmornorth.
• Sopro: visto como energia superior e evolutiva, que se diferencia para cada raça. – será melhor descrita no decorrer da fic.
• Adlan: o sábio mais importante de Hectares, e respeitado por todas as dimensões.



Espero que tenham gostado.
Se puderem, comentem o que estão achando para eu saber se devo continuar com a fic.
;)


para quem gosta de ler pelo wattpad: https://www.wattpad.com/story/88930724-a-herdeira-do-fogo


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