História A Herdeira do País das Maravilhas - Mais Uma Despedida

Sophie temia que fosse a última vez que a veria. 

Clarisse continuava brava por tudo o que tinha acontecido nos últimos dias, apesar das tentavas da namorada de se desculpar, mas mesmo assim entendia a gravidade daquele momento. 
Via apenas os cabelos azuis já meio desbotados pela falta de tempo para retocar. A jovem encostada em seu ombro parecia mais frágil do que nunca, se agarrava a ela, trêmula, como se fosse sua última esperança. 

Talvez fosse mais certo dizer que se agarravam uma a outra.

Há algumas horas, Clarie recebeu a ligação da amada chorosa, e isso era novo para as duas. Mas dessa vez, seu discurso não era por perdão e sim por ajuda. 
Preocupada, ela foi até o apartamento onde a jovem estava hospedada, com a família da melhor amiga. Deu de cara com uma bagunça fora e dentro da jovem, completamente fora de seu estado normal.

-Eu precisava me despedir de você, Clarie... 
As duas sabiam do que ela estava falando. 
Por isso a loira concordou em ficar e acolheu-a nos braços escondendo as lágrimas que corriam dos próprios olhos.
Talvez essa fosse a última chance. 

Foi quando Soph pareceu se dar conta de algo novo, levantou a cabeça e olhou-a. As mãos pálidas no próprio rosto.
Clarisse não sabia mais quem estava ali.

-Quanto tempo não a vejo, Clarie -Ela sorriu de maneira infantil, se levantando
-Oi Alice -Respondeu a jovem, mais uma vez perdendo o chão -Posso falar com a Soph mais um pouquinho? -parecia idiota tentar
-Não, desculpe. O tempo dela acabou -a pausa pareceu durar bem mais do que durou realmente -E parece que o meu também

A passos apressados, Alice seguiu para a varanda. Apavorada com o que a nova louca faria, Clarisse seguiu-a até alcançar seu pulso
-O que acha que vai fazer?
-Sair -respondeu em tom um pouco irritado, tentando se soltar -Clarisse, não torne tudo mais difícil.
-Você vai acabar com ela, Alice -Pronunciar tais palavras só não era mais dolorido do que acreditar nelas
-Na verdade, eu já acabei!
Como um animal que reage com agressividade, ela puxou a garota, segurando com mais firmeza o pulso. 

Ao invés de um tapa, um beijo que podia ter durado bem mais. O último brilho nos olhos azuis e arredondados um dia pertencentes a Sophie Taylor se apagou ali.
O corpo tinha uma nova dona e ela se intitulava Alice, pronta para atender seu chamado rumo ao país das maravilhas. 

Ela soltou e se virou para não ver a cena.
Demorou-se na travessia da sala, ouvindo os passos na direção oposta e o pulo.
Era questão de tempo até ouvir o baque surdo do corpo morto chegando ao chão cinco andares abaixo.
Mas ele não veio.
Correu até a sacada, as mãos apoiadas no guarda corpo. Nenhum corpo espatifado na calçada; Nenhum sinal de Alice ou de Sophie.

Nesse momento, surgiu no coração de Clarisse uma fagulha de esperança.