História A Herdeira do País das Maravilhas - O Primeiro recomeço

Ela sabia que logo logo não poderia mais conviver com o pai que tanto a amou e protegeu. 

Mais um aniversário se aproximava e os ritualísticos cupcakes a esperavam em casa.
-Oi pai -sorriu ela, indo abraça-lo
-Oi filha -Retribuiu ele -Feliz aniversário, meu anjo
-Obrigada -disse baixinho, queria parar de sentir aquela culpa antecipada
A caixa com seis cupcakes decorados estava sobre a mesa, mas ela não sentia fome.
-Quer sair para jantar, podemos comemorar sem seus irmãos -Brincou o pai, sempre muito bem humorado
-Não, eu tenho que estudar hoje, mas podemos sair sexta-feira -Com o tempo, ela tinha se tornado ótima em contar mentiras, mesmo que seu estômago revirasse ao direciona-las à alguém que sempre quis seu bem.

Ela levou a caixa de doces para o quarto e olhou para o livro aberto inutilmente por horas. Jantou à mesa com a família e se despediu do pai antes de dormir como de costume, desabando em lágrimas assim que fechou a porta do próprio quarto. Agora só restava esperar até que todos adormecessem.
As lágrimas caiam em silêncio, ela se sentia esmagada pelo peso da própria escolha e foi sobre isso que escreveu em uma folha antes de partir. 
“Obrigada por ter me escolhido, em meio a tantas crianças. Eu o amei tanto quanto o senhor amou-me, por isso peço que não me procure, eu preciso fazer isso por mim.
Seja forte como me ensinou a ser
Seu anjinho”

Ela fugiu levando tudo o que cabia em uma mochila e um coração partido. Andou até a rodoviária e comprou uma passagem para Miami, esperando que suas economias dos últimos meses desse pelo menos para algumas noites em qualquer pensão barata que encontrasse. A caixa de cupcakes viajava em seu colo, mas ao invés de vontade de comer, fazir seu estômago revirar em ansiedade. Não acreditava no que tinha feito.

***

Com seus documentos em mãos, Sophie começou desesperadamente a procurar um emprego, precisava de algo para o que viver. Já era final de ano e muitas lojas estavam contratando funcionários extras para as festas, conseguiu uma vaga temporária como atendente em uma loja de departamento. Não era o emprego dos sonhos, mas possibilitava se manter com o básico. 
Ela estava construindo uma nova vida, buscando se aproximar das pessoas com quem trabalhava, ao mesmo tempo que torcia para alguém ser demitido para que a contratassem no lugar.