Enquanto a noite começava a sobrepor o dia, todos na pequena vila passaram a se recolher para os seus abrigos. Seja lá qual fosse a criatura que aterrorizava aquela região, parecia dominar um território realmente grande.
-Na noite em você me encontrou, a criatura já andava por aqui?- perguntei à Roland.
-Então te contaram sobre ela. Já, para falar a verdade isso já faz alguns anos.- respondeu ele desanimado.- Dizem que ela é o espírito do deserto.
Iniciamos a volta para o abrigo de Roland, onde Tiger nos aguardava com nossa preciosa encomenda.
-Você já viu essa tal criatura?- perguntei curiosa.
-Há dois anos atrás eu acordei no meio da noite com um barulho estranho do lado de fora,- respondeu ele,- então fui até a porta e abri o mínimo possível, pela fresta eu consegui avistar um lobo de uns quatro metros de altura, eu achei que fosse morrer, mas ela apenas foi embora sem me ver.
Naquele momento não sabia o que era um lobo, mas fiquei com vergonha de perguntar, talvez Tiger soubesse e pudesse me contar mais tarde.
Levamos algum tempo para convencer Tiger a ficar no abrigo de Roland durante o anoitecer ao invés de se manter na tenda, mas ele conseguiu fazê-la entrar dizendo que ninguém saia naquela região durante as noites de lua cheia, nem mesmo os Ladrões do deserto.
No abrigo não haviam cadeiras ou bancos então simplesmente nos sentamos no chão, Roland entregou uma esfera doce para cada uma e, assim como havia acontecido comigo, Tiger não soube o que era aquilo, mas pareceu entender quando começamos a comer.
-O que é isso?- perguntou ela surpresa.- É bom!
-Vocês não comem, não dormem... O que fazem da vida?- perguntou Roland espantado.
-Somos quartzos.- respondeu Tiger.- Quartzos lutam, é para isso que somos feitas.
Isso não pareceu satisfazer sua curiosidade, ele continuou com suas perguntas.
-Tudo bem, mas e quando não estão lutando? O que fazem?
O silêncio pairou por um momento enquanto tentava me recordar de algum momento em que não estivesse lutando ou indo atrás de uma luta desde que sai da terra, não consegui me lembrar.
-Não existe outro motivo para um soldado existir.- respondeu minha parceira.- Isso é tudo que fazemos, só precisamos disso.
-Bem,- disse um pouco nervosa,- acho que meu único propósito é servir às vontades da minha Diamante.
Nos mantivemos em silêncio por mais algum tempo.
-Diamante é como uma rainha?- perguntou ele e após perceber que não havíamos entendido continuou.- É como uma líder do seu povo?
-Não!- respondi ofendida.- Ela é a maior comandante da maior sociedade da galáxia! Não uma simples líder, Ela é perfeita, tão poderosa e imponente que não consigo descrever.
Continuamos conversando por horas, enquanto nos deliciavamos com as estranhas coisas que Roland trouxera, Tiger já parecia mais tranquila em relação a ele e os dois se falavam normalmente. De repente Roland se ergueu esticando todo o corpo enquanto fazia um barulho extremamente primitivo, assustando nós duas por um segundo.
-Acho que já passou da minha hora.- disse ele coçando o rosto.- Vou me deitar. Acho que não tem espaço para as duas na cama, se quiserem posso estender uma pele no chão para vocês, já que vocês não dormem.
-Não será necessário.- respondeu Tiger.- Vamos apenas aguardar o dia clarear.
-Tudo bem então.- disse ele indo se deitar.
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Passamos a maior parte da noite em silêncio para não incomodar Roland, eu já sabia como os humanos ficavam irritados ao serem acordados. Quando o dia começou a surgir um aperto passou a tomar meu peito, mais uma vez teria que ir embora correndo e deixar Roland para trás. Claro que eu provavelmente poderia vê-lo novamente, mas quando? Quanto tempo levaria? Alguns meses? Anos? Realmente iríamos nos reencontrar?
Balancei a cabeça tentando afastar tais pensamentos, isso não fazia diferença, a única coisa que importava era terminar minha missão e voltar a caçar Rose Quartz, mesmo que Peridot não houvesse encontrado meu grupo.
-Bem...- começou Tiger percebendo minha inquietação.- Acho que não poderemos seguir hoje. Se me lembro bem depois de amanhã o período de lua cheia vai ter se encerrado então provavelmente será mais difícil de a criatura estar andando por aí e como parece que estamos adiantadas com a entrega não vai fazer muita diferença perdermos dois dias.
Olhei para Tiger surpresa, não sabia o que fazer, não havia sentido em ela fazer isso por mim apenas para que eu ficasse mais alguns dias naquela vila, porém decidi apenas aceitar tal gesto. Me virei para Roland, ele pareceu ter ouvido tudo e me encarava com um belo sorriso em seu rosto.
-Bom dia.- disse ele.- O que vamos fazer hoje?
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