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História A história de nós dois - Sem escolha


Escrita por: CaliVillas

Capítulo 17 - Sem escolha


Na tarde nublada e úmida, a cerimônia do enterro foi terrivelmente sombria e triste, o ar pesado cheio de desespero, dúvidas e espanto que pairava em volta das pessoas, que ainda não entendiam o que havia acontecido, o porquê alguém se auto infligiria uma morte tão absurda e violenta. No meio de toda aquela consternação, Lia ficou estranhamente calma, durante o tempo todo, não derramou mais nenhuma lágrima, seu rosto pálido e impassível, apenas olhava o vazio e sacudia a cabeça, falando palavras da boca para fora, para aqueles vinham a consolar e dizer-lhe palavras de esperança e solidariedade.

Logo em seguida à cerimônia, Lia quis voltar para a sua casa, afirmando que queria ficar um pouco sozinha. No entanto, nos dias que se sucederam, ela desapareceu da vida e escola e não atendia mais o telefone dos amigos. Nina ficou muito preocupada, pois, no fundo, tinha medo que a história da mãe se repetisse com a filha. Assim, após uma semana de isolamento de Lia, ela saiu do colégio direto para a casa da amiga, tocou a campainha, um tanto reticente. O pai de Lia veio atender, que apesar do semblante abatido, demonstrava um certo ar de alívio, quem acabou de acordar de um terrível pesadelo, depois de tanto tempo convivendo com a doença da mulher.

- Oi, Nina. Lia está no quarto. Ela fica trancada lá o dia inteiro, não come, não toma banho, não fala com ninguém, só dorme o tempo todo. Veja o que pode fazer por sua amiga. Senão, terei que chamar o médico da mãe dela, para resolver essa situação – informou, um tanto contrariado, enquanto abria a porta e a deixava entrar.

- Posso tentar – Nina respondeu, sem esperar pelo que iria encontrar, foi em direção ao corredor, sem saber o que a esperava, parou na frente da porta do quarto de Lia e girou a maçaneta que cedeu, sem resistência.

No interior do quarto, mergulhado na penumbra, o ar estagnado tinha um cheiro rançoso de sujeira e suor. Com a tênue luz que entrava pela porta aberta, clareava o lugar em completa desordem, com roupas, sapatos e outros objetos espalhados pelo chão e sob os móveis, Nina conseguiu identificar o vulto de Lia enroscado sob as cobertas deitada na cama.

- Lia! – Nina se aproximou e falou, suavemente, tocando-lhe o ombro de leve, não obteve resposta. – Lia! – Tentou outra vez, a garota grunhiu algo incompreensível. – Lia! – A voz dela saiu mais alta, seu toque mais bruto.

- Vai embora! Eu quero dormir! – Lia exigiu, sonolenta, sem olhar de volta.

-Você não pode continuar, assim! Vamos, saía dessa cama! – Nina pediu com calma, mas a sua voz era firme.

- Vai embora! Me deixe em paz! – Lia resmungou quase inaudível, ajeitando melhor as cobertas sob seus ombros.

 - Vamos, Lia! Pare com isso! Levanta daí! – Nina exigiu, mais uma vez, puxando as cobertas, mas Lia resistiu, segurando-as com força.

- Saía daqui! Me deixa em paz! – Lia gritou, ensandecida, sentando-se na cama, abraçada as cobertas, Nina a encarou, abismada com a violenta atitude da amiga.

- Se é isso que você quer, eu vou embora! – Nina falou em voz alta, irritada. – Quando parar de sentir pena de si mesma, me procure! – Saiu do quarto, com um misto de preocupação e impotência, sem saber como poderia ajudar.

- Você não entende! Não sabe como é! – Lia esbravejou nas suas costas.

Nina se voltou e, pasma, observou a figura em que Lia se transformou, tenuamente revelada pela luz que vinha de fora do quarto. Ela estava horrível, com o rosto abatido e magro, cabelos desgrenhados, os olhos inchados de tanto dormir, um cheiro rançoso pela falta de banho, e, depois, do seu ataque de fúria desabou, novamente, na cama e cobriu a cabeça com o lençol.

 

À noite, sozinhos em casa, Gabriel consolava Nina, que chorava, aconchegada nos seus braços.

- Você precisa vê-la, Gabriel. Ela está sinistra, horrível, igual a um zumbi ou algo parecido.

- Ela não está conseguindo superar a morte da mãe, talvez, seja melhor, o pai dela chamar mesmo um médico – Gabriel considerou de maneira lógica.

- Você pode tentar conversar com ela, porque tiveram história iguais, os dois perderam as mães – Nina insistia, com ar de súplica.

- Minha história é bem diferente da dela, Nina. Minha mãe morreu em um acidente causando por um cara bêbado, não procurou por isso, e eu era muito pequeno não me lembro de nada. E ela viveu todos esses anos junto a mãe doente, que tentou se matar várias vezes, até conseguir.

- Eu acho que ela se sente culpada pela morte da mãe, por não notar o que ela iria fazer e não conseguir impedir, por isso está sofrendo à beça. Mas, você bem que podia tentar. Ela gosta de você e vai escutar, porque é o namorado dela – Nina considerou, apesar de estarem mentindo para Lia, só porque queria ajudá-la.

- Posso tentar, mas eu não quero continuar sendo mais o namorado dela, Nina. Eu quero ser o seu namorado. Sou estou ainda nessa história porque você me pediu, mas estou ficando cansado disso – Gabriel confessou, de um jeito desanimado.

- Eu sei – Nina disse, com um falso entusiasmo, afastou o cacho rebelde da testa dele, acariciou seus cabelos e descendo até o rosto de Gabriel, sua expressão suavizou. – Mas, agora, não dá para dizer para ela que estamos juntos. Lia iria pirar de vez. Temos que dar um tempo e esperar ela melhorar, sair dessa.

- Ela nunca vai melhorar, Nina. O tempo não cura esse tipo de ferida, só passa um pouco a dor.

- Por favor, Gabriel, prometa que vai lá falar com ela.

- Prometo – Gabriel concluiu, estreitando ainda mais Nina nos seus braços, que se aninhou seu rosto contra o peito dele, ouvindo seu coração bater.

 

E Gabriel cumpriu a promessa, assim que saiu do colégio, no dia seguinte, mesmo sentindo mal consigo mesmo, pois não queria estar ali, não sabia como deveria agir diante daquela situação e por continuar mentindo para Lia, bancando o namorado, quando, agora, ele e Nina estavam juntos. A empregada abriu a porta e o convidou para entrar, foi até a porta do quarto de Lia, respirou fundo e bateu, esperou por uma resposta que não veio, a empurrou, com cuidado, que abriu sem resistência com um leve rangido, revelando o quarto escuro tenuamente iluminado pela luz que vinha do corredor, ele demorou um pouco a se acostumar com a penumbra, apertou os olhos procurando por Lia, no meio da desordem do lugar, só encontrou a figura envolta nas cobertas sobre a cama.

- Lia! – Gabriel a chamou em tom suave, quase musical. A figura sobre as cobertas emitiu um sutil gemido. – Lia! – Repetiu, dando um passo para dentro do quarto em direção a cama. – Lia! – Sentou-se ao lado dela, que com o balançar se remexeu, virando-se para ele.

Ela abriu os olhos em fenda, espreitando, querendo reconhecer quem estava ali ao seu lado.

- Gabriel! – ela exclamou com certo alivio, sentando-se em um pulo, jogando os braços em volta do pescoço dele e o apertando em um abraço. – Gabriel, você veio! – repetiu em um sussurro.

Procurou por sua boca e o beijou com carinho. Ele se deixou ser beijado e acariciou os seus emaranhados cabelos, enquanto, ela encostava a cabeça no seu ombro.

- Lia, o que está acontecendo com você? Não pode continuar assim, trancada dentro desse quarto, escondida do mundo – ele argumentou, com a voz branda.

- Eu me sinto tão sozinha, não tenho mais ninguém, nem minha mãe quis viver por mim – ela se lamuriou, olhando nos olhos dele, enquanto as lágrimas desciam pelo seu rosto.

- Sua mãe tinha uma doença muito grave, Lia. Não conseguia pensar em mais ninguém, só na tristeza que sentia. Todos tentaram ajudá-la, mas não conseguiram – Ele tentava acalmá-la, limpando as lágrimas do rosto dela com a mão. – Vamos sair daqui! Tome um banho. Você está cheirando mal! – disse, em tom de brincadeira, ela lhe deu um sorriso tristonho. – Depois, podemos comer alguma coisa juntos – sugeriu, com um sorriso amável.

- Não quero sair de casa – ela retrucou com um tom de pavor.

- Podemos pedir uma pizza, se você quiser.

- Gabriel, por favor, não me abandone agora, eu preciso tanto de você – suplicou, entre lágrimas, agarrada ao pescoço dele.



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