História A história de nós dois - De frente com a verdade

Lia ficou parada na porta, estática, sem entender o significado daquela cena, que se desenrolava a sua frente, não era um beijo, não era um abraço, era só Nina e Gabriel muito próximos um do outro, olhando-se de uma maneira estranhamente intima, foi só por um segundo, antes deles se separarem, rapidamente, ao perceberem sua presença, mas nos seus olhos havia um sentimento mais forte, algo que ela não podia explicar.

- Lia, o que você está fazendo aqui? – Nina questionou, assustada, soltando as suas mãos das de Gabriel e se afastando.

- Eu vim falar com Gabriel. Rosa me deixou entrar quando estava saindo e disse que vocês estavam aqui – Lia revelou, com um fio de voz, não querendo processar o que estava acontecendo ali.

- Por que não ligou antes? – Gabriel indagou, sem disfarçar sua irritação.

- Eu achei que não terei problemas – Lia respondeu, sentindo-se acuada.

- Lia, você não pode invadir meu quarto e minha vida dessa maneira, sem pedir licença – ele disse, exaltado e sem paciência, com olhar duro para ela, que se encolheu na sua frente - Você não pode continuar dessa maneira!

- Gabriel, por favor, me desculpa! – O tom de súplica de Lia o trouxe de volta à realidade, ele respirou fundo, passou a mão nos cabelos como se quisesse ajeitar seus pensamentos.

- Tudo bem. Nina, eu posso conversar com a Lia, sozinhos – Gabriel solicitou, com a voz mansa e firme, sob o olhar de surpresa de Nina e do receio de Lia.

Nina saiu do quarto, relutante, pois imaginava o que poderia acontecer ali, estava dividida com os seus sentimentos contraditórios, quando fechou a porta atrás de si.

- Lia, não dá para continuar assim dessa maneira, a gente precisa dar um tempo – Gabriel começou a falar em tom seguro, mas gentil.

- Você está terminando comigo? – Lia não podia acreditar, deixou-se cair sentada na cama, era como um pesadelo, só que estava acordada.

- Sim, estou – ele repetiu, sem vacilar.

- Mas por que se eu te amo? – disse, com uma expressão de total desespero, não queria acreditar naquelas palavras.

- Lia, eu também gosto muito de você, mas não do mesmo jeito. Você não pode viver a sua vida dessa maneira, não pode depender de outra pessoa assim.

- Eu te amo, Gabriel, por isso, quero ficar sempre perto de você - ela murmurou, desolada.

- Esse amor não é bom para você nem para mim, Lia. Isso que você sente por mim é algo doentio.

- Você fala igual a um velho – Ela reconheceu de um jeito triste. – Você não entende como eu preciso de você, eu tenho medo de ficar sozinha sem ninguém, sem ter uma razão para o que viver.

- Acho que minha alma é muito velha, e pela maneira de como está falando, sei que você precisa de ajuda e não sou eu que poderei ajudá-la. Você não pode achar que sua vida depende de que alguém goste de você e isso não é bom – ele ponderou, mantendo a calma.

- Mentira! Você está gostando de outra pessoa?! Não é isso, Gabriel?! – Lia olha nos olhos dele e o acusa da súbita e terrível suspeita que surgiu no seu pensamento.

Uma sombra passou pelos olhos do rapaz, ela dá um passo para trás como se atingida por um tapa, notando que seu receio era real.

- Não é nada disso, Lia. Não tem ninguém - Gabriel insiste e tenta manter a voz firme na mentira, contudo há um sutil vacilo, assim Lia teve certeza que era verdade.

- Sim, eu sei que há outra garota na jogada. Quem é ela? – Lia falou alto, exigente, precisa saber quem é a sua rival, sua expressão era assustadora, uma máscara de ódio e desilusão.

- Não há ninguém, Lia – Gabriel persiste não pode admitir a verdade, sabendo que ele e Nina tinham ido longe demais naquela história, agora, estavam prestes a serem desmascarados.

Nesse instante, a cabeça de Lia trabalhava rápido, pensando em mil possibilidades a serem consideradas, todas as garotas que conheciam eram inimigas em potenciais e, em um súbito lampejo, recordou-se da cena que presenciou de alguns minutos antes, onde Gabriel e Nina estavam próximos, olhos nos olhos, sorrindo com intimidade. Estava na cara e ela nunca percebeu antes, que aquela relação que ia além da mera fraternidade, era algo muito mais intenso e profundo.

- Meu Deus! – ela gritou, levando a mão na boca, sua face é de puro terror, ao descobri a verdadeira e dolorosa traição de quem menos esperava e que fere como uma faca no peito. – Você e Nina! Isso é horrível, vocês são irmãos!

- Lia, não é nada disso que você está pensando, Lia! Eu e Nina não somos irmãos, nossos pais que são casados – Gabriel ponderou, querendo, inutilmente, mostrar a realidade, diante de uma Lia quase histérica, que não o escutava.

- Seus filhos da puta traidores, eu confiava em vocês, achava que eram meus amigos! Vocês me sacanearam pelas costas! – Lia esbravejava, sem controle, o rosto vermelho e os olhos brilhando de raiva.

- Lia, não é verdade! - Gabriel deu um passo à frente e a segurou pelos braços para encará-la, no entanto, ela se desvencilhou com um rápido movimento de corpo, quando, a porta abriu e Nina entrou, atraída pelos gritos.

– Sua cadela! Piranha! – A ira de Lia se voltou para Nina, que parou, aterrorizada, diante da porta. – Como você pode fazer isso comigo?! Eu achando que você era a minha melhor amiga! -  rosnava entredentes para a outra, que a fitava de olhos saltados, enquanto sua boca abria e fechava, sem conseguir articular nenhuma palavra, paralisada pelo choque.

- Lia, não fizemos por mal, nós só queríamos proteger você, para que não sofresse – Nina, finalmente, proferiu, entregando-se e com lágrimas escapando dos seus olhos.

- Me proteger?! Me proteger de que?! De vocês e do seu namoro incestuoso! Eu vou me embora! Tenho nojo de vocês! – Seus olhos dançaram de um para o outro com o mais profundo desprezo.

Os dois permaneceram parados e paralisados como em transe, no momento que Lia saía pisando forte, sem olhar para trás, só despertando, quando ouviram a porta da frente bater com força, entreolharam-se bem devagar, sem se mexer.

- E, agora, o que faremos? – Nina murmurou, com a cabeça vazia, não conseguindo pensar.

- Não temos que fazer nada agora, por enquanto – Gabriel deu de ombros, com fingida indiferença.

- Você acha que ela pode fazer alguma besteira? – Nina considerou, ainda preocupada com Lia.

- Contra a ela mesma, não. Ela está com muita raiva da gente agora.

- Eu me sinto tão mal com tudo isso, Gabriel. Éramos as melhores amigas e, agora, ela me odeia, porque acha que eu a trai. Você acha que ela vai fazer alguma coisa contra a gente?

- Eu não sei. Ela está muito magoada e, talvez, queira se vingar de nós dois.

- Gabriel, eu estou com tanto medo – Nina confessou, atirando-se nos braços deles, encostando a cabeça no seu peito, escutou o seu coração batendo forte, ele também estava assustado.

- Vamos enfrentar qualquer coisa que venha, juntos –Gabriel afirmou, abraçou-a e afagando os seus cabelos e deu um longo suspiro.