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História A história de nós dois - Sob os olhares espantados


Escrita por: CaliVillas

Capítulo 22 - Sob os olhares espantados


Sem saber exatamente como, os boatos sobre o caso de incesto entre dois irmãos, alunos da escola, espalharam-se descontroladamente como fogo, e acabaram por chegar aos ouvidos da diretora, que ficou surpreendida com os nomes envolvidos, porque sempre foram bons alunos, pertencentes a uma família bem constituída. Como era um caso incomum, podia ser só fofoca, difamação, bullying, mas os fatos teriam que ser apurados, pois aquela era uma denúncia muito grave e colocação em risco o bom nome da instituição. Assim, os pais dos envolvidos deveriam ser chamados para conversar, imediatamente.

Ao receber aquele telefonema da escola pedindo um agendamento de uma reunião urgente com entre eles e a diretora, Marta ficou bastante preocupada, principalmente, depois da briga de Gabriel. Considerou que estivesse acontecendo algo de errado, com o garoto, no entanto, não pensou em Nina.

Agora, diante do olhar frio e duro da diretora, Rui e Marta se sentindo meio intimidados, imaginavam o que poderia ser assim tão importante, para serem chamados com tamanha urgência.

- O assunto que tenho de tratar com vocês é um tanto delicado e muito grave, caso for verdade – a diretora começou em um tom firme e o olhar duro, os dois quedaram paralisados, com a respiração suspensa e olhos vidrados, na expectativa do que viria. – Eu não sei, se têm conhecimento do boato que está circulando aqui na no colégio – eles a interrogaram com o olhar, demonstrando sua total ignorância -, sobre o envolvimento amoroso dos filhos de vocês –concluiu de modo imparcial.

Marta e Rui não sabiam o que dizer, completamente, estarrecidos com aquela revelação, só podia ser mentira.

- Deve haver um engano – Marta, finalmente, falou com um fio de voz.

- Não, eu apurei muito bem antes de chamar vocês. Há um forte boato sobre isso correndo, há algum tempo, pelo colégio, e temos que ter certeza se é ou não verdade, não podemos apurar, só vocês poderão fazer isso – a mulher continuava em tom frio.

- Não pode ser verdade, eles são como irmãos, são muito amigos e estão sempre juntos, apenas isso! – Rui defendeu, ainda, abismado, não podia acreditar naquela história absurda.

- Mas, se caso seja verdade, espero que tomem providências energéticas quanto a essa situação – a diretora determinou, de um modo duro.

- Como assim tomar providências energéticas? Pode parecer estranho, nós não sabemos de nada sobre isso, mesmo assim eles não são realmente irmãos, não tem nenhum tipo de parentesco, não há nada de ilegal ou imoral nessa história – Marta argumentou, não gostando do tom da fala daquela mulher.

- Quanto a não ser imoral em tenho minhas dúvidas, já que eles vivem juntos na sob o mesmo teto, foram criados como irmãos e a maioria dos alunos do colégio acham que eles são, realmente, irmãos, por isso seria inadmissível para o nosso tradicional colégio aceitasse esse tipo de relação. O que os outros irão pensar? Vocês entendem que uma situação dessas poderia criar muita confusão na cabeça dos outros alunos, estaremos sendo permissíveis.

- Nós não sabemos de nada, mas iremos apurar antes de decidirmos e tomarmos qualquer atitude – Marta definiu ainda chocada com aquela conversa.

- Espero que façam o melhor e tomem uma posição energética contra essa situação absurda. Não desejamos criar problemas para ninguém. Seus filhos sempre foram excelentes alunos e não queremos tomar nenhuma providência radical que possa prejudicá-los. Então, podemos contar com a colaboração de vocês? – A diretora deu um sorriso que não chegou aos olhos.

- Iremos apurar toda essa história – Ruy completou, ainda descrente.

- Ótimo! Esperávamos por isso de vocês. Então, boa tarde – a diretora se despediu e os dois saíram como zumbis desnorteados pela escola, pararam na entrada esperando pela saída de João.

- Você viu como aquela mulher falou conosco?! Ela nos ameaçou! – Marta parecia despertar de um transe, irritada com as insinuações da diretora.

- Você acha que pode ser verdade? – Rui perguntou a Marta, na esperança que ela dissesse não.

- Eu não sei, estou muito confusa. Mas, às vezes, eu acho os dois muito unidos, sempre juntos, quase como namorados. Quando Gabriel começou a namorar Lia, fiquei até mais aliviada, mesmo assim estou em dúvida.

- Precisamos conversar com eles e perguntar a verdade – conclui Ruy.

- Entretanto, precisamos ir com calma, Rui. Já tivemos essa idade e sabemos como é – Marta refletiu, ele lhe lançou um olhar tenso de interrogação, e ela prosseguiu - O amor pode ser irracional, ainda mais quando se é jovem e não se enxerga uma saída pela frente, daí podem vir soluções extremas.

- Que tipo de soluções extremas? Você não quer dizer...? Meu Deus, não! Você está falando tipo suicídio ou fugir de casa ou algo parecido? - Rui considerou, um arrepio de pavor subiu pela sua espinha. – Não, eles são jovens ajuizados, nunca fariam uma besteira dessa.

- Se eles estiverem realmente envolvidos e se acharem que estão apaixonados podem ficar desesperados e fazer algum tipo de besteira. Por isso, precisamos ir com muita calma para não os pressionar – Marta considerou, conseguindo raciocinar melhor.

- Mas, isso não está certo, Marta – Rui retrucou com tom sério.

- O que não está certo, Rui?

- Essa situação os dois namorando e vivendo debaixo do mesmo teto. Eles foram criados como irmãos. É quase como incesto.

- Você vai dar razão para a escola e para esses alunos maldosos? Ficar contra os nossos filhos?! Eles não são irmãos. Tenho que admitir que para mim também é estranho, não me sinto confortável com essa situação, mas não podemos ser radicais.

No carro, de volta para casa, os adultos estavam calados e pensativos, o silêncio era quebrado, somente, pelas músicas tocavam no rádio e que ninguém prestava atenção.

- Por que vocês dois vieram me buscar hoje? E por que estão tão calados? – João perguntou, desconfiado por essa estranha honra.

- Viemos conversar com a diretora do colégio – Rui explicou, sem dar detalhes.

- Sobre Gabriel e Nina? – João perguntou, com cuidado.

- Você sabe alguma coisa sobre isso? – Rui indagou, sem disfarçar a ansiedade, apesar do olhar desaprovador de Marta, não querendo envolver o filho mais novo nessa história.

- Toda escola está comentando – ele deu de ombros, com dissimulada indiferença. – Eu sei porque eles são meus irmãos, por isso me contaram. Estão dizendo que Nina e Gabriel estão namorando, que é errado porque eles são irmãos, só que eles não são irmãos de verdade.

- E você sabe de algo a mais que não sabemos, João? – Rui inquiriu.

- Não – João respondeu, em voz baixa, e eles tiveram certeza que estava mentindo.

 

Como há muito tempo não acontecia, houve um jantar em família, onde pouco se falou e mal se comeu, o único que parecia impune ao clima tenso que envolvia aquela mesa, era João.

- João, você não se incomodaria de ir para o seu quarto, porque precisamos conversar com seus irmãos, sozinhos – Marta explicou para o garoto, logo após o jantar.

- Eles fizeram alguma coisa errada? – João questionou, preocupado com os irmãos mais velhos.

- Não, só queremos conversar com eles – Rui corroborou, sem alterar a voz, diante das expressões impassíveis dos jovens.

Antes de sair, João deu um olhar ansioso e solidário para os irmãos, Nina assentiu com a cabeça com um sorriso, para tranquilizá-lo.

- Vai ficar tudo bem, João – ela afirmou para o irmão caçula, que saiu hesitante.

 

Nesse instante, na sala, estavam os quatros sentados, frente a frente, os olhares aflitos, inseguros diante da revelação iminente, o momento da verdade, onde as máscaras eram retiradas e as mentiras expostas.

- O colégio nos chamou – Rui começou a falar, olhando direto para eles, querendo manter o tom de voz imparcial, mas sua postura rígida demonstrava todo seu desconforto. -, devido um boato que está se espalhando sobre vocês dois.

- Por isso, queríamos conversar para entender, exatamente, o que está acontecendo - Marta concluiu, enquanto mexia as mãos suadas e olhava para Nina e Gabriel, atentamente, que pareciam inexplicavelmente tranquilos, como se nada daquilo importasse.

- Não é boato. É verdade – Gabriel respondeu, com a voz calma e segurou a mão de Nina – Nós estamos apaixonados.

Marta expirou com força e Rui passou a mão no rosto, não podia acreditar que era verdade.

- Mas como? – Rui quis saber, atordoado.

- Simplesmente aconteceu. Não dá para explicar, a gente se gosta, sempre se gostou – Nina respondeu com a voz tranquila. – Eu até tentei fugir, fui para o Canadá, mas não deu para ficarmos separados.

- Mas, vocês foram criados juntos, como irmãos! – Rui exclamou, exacerbado, sem entender aquela situação improvável.

- Não somos irmãos, isso foram vocês que inventaram – rebate Gabriel.

- Nós não escolhemos se gostar desse jeito e queremos ficar juntos – Nina reiterou.

- Mas, não está certo! E os outros e a escola de vocês? Eles nunca vão aceitar isso, porque todo mundo acha que vocês são irmão de verdade – Rui argumentou.

- Não podemos pagar pelas suas escolhas, porque vocês se casaram. Não somos parentes – Gabriel retrucou.

- E se não der certo? Como é que fica? Vocês dois morando juntos na mesma casa, pode ser complicado – Marta ponderou.

- Eu não sei o que vai acontecer – Nina deu de ombros. – E se separar pode acontecer com qualquer casal, como foi com você e meu pai, mas não estamos pensando no futuro. Queremos ficar juntos aqui e agora. O amanhã fica para depois.

- Vocês são tão jovens para segurar toda essa barra – Marta disse, martirizada.

- Estamos dispostos a comprar essa briga para ficarmos juntos, contra qualquer um – Gabriel desafiou, encarando o pai, seu olhar era firme e corajoso, Rui sustentou o olhar, sabia que o filho falava a verdade.

- E você, Nina, concordada com isso? – Rui indagou, sem muita esperança de uma resposta contraria.

- Sim, queremos ficar juntos – ela confirmou, determinada, e as mãos deles se espreitaram com mais força. – Nós já estamos juntos há muito tempo.

- Como juntos, quer dizer que vocês estão ... – Rui estava atordoado.

- Sim, nós já transamos – Gabriel declarou com a voz firme e tranquila.

- Não pode ser?! – Rui passou a mão nos cabelos, Marta os olhou espantada.

- Como? Quando? – indagou.

- Aqui em casa, à noite, quando ficamos sozinho – Nina explicou, dando de ombros, indiferente.

Rui e Marta se entreolharam, assustados com a coragem e resolução deles, não sabia como e nem queriam lutar contra aquilo, seria uma batalha sem vencedores.

- Ficaremos do lado de vocês – Marta decretou, após um sonoro suspiro, Rui a olhou, pasmo.

- Jura, mãe! Vocês fariam isso? – A voz de Nina sorria, surpreendida.

- Sim, nós amamos vocês e precisamos respeitar a sua decisão, porque se eu e Rui não fossemos casados, não haveria problema nenhum de vocês namorarem, então, não há de ter agora – ela continuou, sob o olhar ainda inseguro de Rui.

- Espera aí! Você vai aceitar isso, dessa forma tão compassiva, Marta? – Rui questionou, irritado.

- O que você quer fazer?

- Eu não sei.

 - Se nós tentarmos separá-los, nós também teremos que nós separar, Rui. E eu não quero isso.

- Mas, nós somos diferentes! Somos adultos!

- E eles também serão em breve. Dê um voto de confiança a eles, afinal – Rui se sentia perdido, um voto vencido, assentiu com a cabeça.

- Obrigado, Marta e pai – Gabriel estava aliviado.

- No entanto, haverá regras a serem cumpridas nessa casa e que discutiremos depois, entenderam? – Marta impôs e os dois assentiram com a cabeça. – Vocês estão cientes que vai ter muita gente contra vocês dois? Amanhã começará uma batalha, apesar de oficialmente, a escola não pode fazer nada contra vocês, mas isso não resolverá as ofensas que poderão sofrer.

- Será por pouco tempo, o ano já está terminando e em breve estaremos na faculdade – relembrou Gabriel. - Não entraremos nas provocações.

 

No outro dia, logo pela manhã, Marta parou o carro na frente do colégio, já repleta de alunos, na hora da entrada.

- Vocês estão prontos? – ela indagou, olhando sério para Nina e Gabriel.

- Sim – responderam juntos, com segurança, e saíram do carro.

 Sob os olhares espantados de todos a sua volta, que abriam o caminho, eles se deram as mãos e, juntos, passaram pelo portão.



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