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História A história de nós dois - Mudanças de estação


Escrita por: CaliVillas

Capítulo 9 - Mudanças de estação


No hemisfério norte, sutilmente, o inverno se transformou em primavera e aos seus primeiros sinais, os canteiros e nos jardins da cidade começaram a se encher de flores, as árvores ganhavam sua nova roupagem de tenras folhas, o que provocava uma sensação de renascimento e liberdade, já que poderiam sair das suas tocas, onde se escondiam nos meses mais frios, dispensando as pesadas roupas e aquecendo-se ao sol ainda morno. Por isso todos corriam para os parques e lugares livres, onde se estendiam preguiçosamente, em busca de algum calor e luz. Apesar de ainda estar bem friozinho, já se via nos rostos das pessoas a alegria que esta época trazia, o prenúncio das estações mais quentes e da vida ao ar livre.

Também, foi quando Nina fez seu aniversário de dezessete anos, comemorado com bolo e velas, chapeuzinhos e balões coloridos, presentes da família próxima, os parabéns de Rui, João e Lia à distância, além das lágrimas de sua mãe por ter passado o primeiro aniversário longe dela. Nesse dia, esperou, ansiosa, por uma ligação especial, seria uma oportunidade tão esperada de falar com Gabriel, contudo, sua expectativa foi em vão, pois ele não deu notícias, nem mesmo uma simples mensagem de texto, deixando-a triste e aborrecida, com o coração pesado e a certeza que aquele sentimento especial que havia entre eles nunca mais seria como antes. Considerou que algo havia morrido entre eles, no momento, daquele beijo, ela o perdera para sempre.

Nina havia se adaptado bem a nova escola, não teve dificuldade nos estudos, os colegas foram simpáticos, receptivos e, até mesmo, calorosos, entretanto, ela ficou meio indiferente como não se importasse, já que não se importava mesmo. Era uma fugitiva, que se infligiu o desterro, sentindo um constante vazio dentro do peito, na tentativa de suprimir aquele sentimento que a sufocava.

Passar pelo inverno foi difícil e solitário, os dias cinzentos e frios espelhavam suas emoções, mesmo com um sorriso no rosto, havia sempre uma certa tristeza no seu coração. Permanecia a maior parte do tempo no cálido conforto da casa aquecida, não melhorava seu humor, sentia a falta do sol, daquele sol que esquentava o corpo e a alma, não do débil sol, que de vezes em quando, insistia em surgir.

E foi em um dia desse de céu azul e sol brando que ela conheceu Ethan, sentada em um banco de parque, aproveitando o fraco calorzinho do fim de tarde primaveril, lendo um livro, pois, nos últimos tempos, aproveitando as longas horas de ócio que se arrastavam, tornou-se uma leitora ávida, e mal percebeu alguém se sentar ao seu lado nem desviou o olhar das páginas à sua frente.

- Desculpe-me, mas que língua é essa? – ele perguntou, curioso com a capa do livro, ou seria apenas uma desculpa para falar com ela. Nina olhou, surpresa, para encontrar o sorriso agradável do bonito rapaz alto, de cabelos loiros escuros, olhos azuis transparentes como aquele céu sem nuvens e a pele muito clara e já rosada pelo fraco sol de primavera.

- Português – disse, mostrando-lhe a capa, gostava de ler na língua pátria, a reconfortava, levando de volta para casa, através das palavras.

- Você é portuguesa?

- Não, sou brasileira.

- Então, você deve estar sofrendo muito com o frio daqui? – Ele lhe deu um sorriso encantador

- Sim, um pouquinho – respondeu, devolvendo-lhe um sorriso simpático, grata por ele não ter feito nenhuma daquelas perguntas clichês sobre o seu país, que estava cansada de responder.

- Meu nome é Ethan – apresentou-se.

-O meu é Nina.

- Então, Nina, o que a fez deixar aquelas terras quentes e ensolaradas e vim morrer de frio aqui?

 

O verão já havia terminado e, apesar da chegada do oficial outono, o calor persistia implacável, embora com pouco menos intensidade. Na modorra do meio da tarde, sentados no chão e encostados ao muro da escola, aproveitando a sombra, Lia e Gabriel estava quase dormitando, de olhos fechados, a mente apagada e entorpecida.

- Você se lembrou do aniversário de Nina semana passada? – Lia perguntou, com a voz arrastada, um tanto sonolenta. Gabriel pensou que nunca se esqueceria daquela data.

- Não – respondeu, com fingida indiferença.

- Como não?! – Agora, Lia estava desperta, olhava de um modo acusador.

- Eu me esqueci – ele mentiu, dando de ombros. – Falo com ela depois – completou dissimulado.

- Ela teve ter ficado muito chateada com você – Lia presumiu, Gabriel desejou que sim, pois, pelo menos, ela se lembraria dele, mesmo que de um modo ruim. – Acho que você deveria falar com ela.

- Sabe, Lia, você até que não é tão esquisita como eu achava que era – Gabriel gracejou, com um sorriso travesso, Lia se fez de ofendida, dando um soco de brincadeira no braço de dele, que reclamou de falsa dor, esfregando o local da agressão.

- Nossa! Como você está forte! – Lia observou, Gabriel lhe mostrou os bíceps bem definidos, conseguidos pelo novo hábito da malhação, ele deu uma leve apalpada, sorrindo aprovando o resultado.

Naqueles últimos tempos, os dois estavam muito próximos, suprido entre si, a ausência de Nina.

 

Para Nina, a primavera e Ethan se misturavam, eram cálidos, suaves e reconfortantes, preenchendo um pouco o vazio que existia desde que ela chegou ali. Antes de conhecê-lo, sentia-se sozinha, não por culpa do pai, ocupado com o seu trabalho, nem de sua madrasta, sempre às voltas com a casa e o bebê.

Ethan era só alguns meses mais velho que Nina, tinha a mesma idade que Gabriel, mas diferente do outro, era leve e descomplicado, sua vida sempre foi simples, sem atropelos ou percalços. Nasceu no Estados Unidos, seu pai era americano e sua mãe canadense, jogava no time de futebol americano do colégio como quarterback, e igual a muitos jovens, sonhava em tornar-se profissional, estava no último ano e ele devia ser bom, pois havia sido convidado por algumas universidades.

- Não entendo nada do seu futebol - ela confessou, quando ele lhe contou isso.

- Não! – Ethan exclamou, surpreso. – Então, eu a introduzirei no fascinante mundo do futebol – propôs, assim começaram a sair.

Com ele, Nina assistia os jogos e aprendeu as regras do futebol americano, além de passear pela cidade, foram ao cinema, a festas, divertiam-se, gostavam de ficar juntos, mas ainda não era o que se podia chamar de um namoro.

Um dia, ele a convidou para vê-lo jogar contra outro colégio. Nina não imaginava que seria assim, com a torcida uniformizada, rostos pintados, a empolgação, algo que nunca vira antes. O jogo seguia equilibrado, os pontos conquistados, um a um de cada lado, mas em uma última jogada emocionante, Ethan foi mais veloz e conseguiu fazer o touchdown, que levou a vitória do seu time.

-Vamos lá falar com eles! – Sugeriu Eve, uma das garotas da turma de Ethan, que estava ao seu lado, torcendo, também.

A sua primeira intenção foi de recusar, mas a outra garota a puxou até o meio do grupo de garotos que pulavam animado, comemorando a difícil vitória. No momento que Nina viu Ethan suado, despenteado e com um lindo sorriso radiante, orgulhoso pela conquista, seu coração se encheu de ternura. Ele caminhou em direção dela, abraçando-a, a ergueu e girando no ar, pararam olhos nos olhos, o coração aos pulos, ele a beijou e ela retribuiu, sobre os aplausos de todos a sua volta.

 

No meio da noite, Gabriel acordou assustado, com o toque do seu telefone, na tela aparecia o nome de Lia.

- Lia, o que houve? - Indagou, preocupado.

- Desculpa por eu ligar a essa hora, mas não sabia o que fazer... - ela começou a chorar.

- Calma! Você está machucada? Sofreu algum acidente? – Ele estava cada vez mais aflito.

- Não, eu estou bem, pelo menos, fisicamente – ela conseguiu falar, entre os soluços, com a voz embargada. – É a minha mãe, ela tentou se matar, de novo.

Gabriel sentiu zonzo, um calafrio percorrer a sua espinha, como se voltasse no tempo, quando estava com 4 anos de idade e recebeu a notícia que sua mãe morreu.

- O que houve? – ele perguntou, tentando manter a voz firme.

 - Hoje, meu pai chegou em casa, tarde da noite, como sempre, e a encontrou deitada na cama, tinha tomado um monte de comprimidos para dormir e estava desmaiada.

- E como ela está agora? – indagou, com medo da resposta.

- Eu não sei. Uma ambulância veio e a levou embora, meu pai foi com ela, estou sozinha em casa agora.

- Espera um pouco, que eu vou até aí, ficar com você, Lia.

 



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