11- Traíra :
Takanori’s P.O.V
- Vamos lá, só um. Quantas vezes já caiu de boca no meu garoto e agora não quer me dar um beijinho?
- Cala a boca, Suzuki!
Arremessei um travesseiro com toda minha força na cara daquele ser tarado e desprezível. Nunca em minha vida tinha sentido tanta vergonha. Nem mesmo quando em uma aula de educação física minha bermuda rasgou quando pulei para – inutilmente – tentar acertar a bola na cesta.
- Você ‘tá muito estranho ultimamente.
- Aquieta o rabo e vamos ver o filme antes que eu me arrependa de ter ido atrás de você, sua cacatua louca.
- Ok, ok...
Logo Akira se acomodou ao meu lado, também se recostando contra a cabeceira da cama e ajeitando o pote de pipoca sobre o colo. Suspirei, me aconchegando melhor entre os travesseiros e pensando em como nunca em minha vida eu imaginei que no auge de meus trinta anos estaria passando uma noite na mesma cama que Suzuki.
O filme que ele havia escolhido me parecia estranhamente sugestivo: Um casal que começou se odiando e acabaram na cama. Não sei porque aquilo me lembrava nossa própria história. Tirando a parte do sexo, porque por mais que eu devesse ser o maior arrombado do mundo, ainda não tinha coragem de sequer pensar nessas coisas.
Discretamente encarei seu rosto distraído, mastigando pipocas e volta e meia sorrindo para o filme. A faixinha branca sempre o acompanhando fielmente.
- Akira?
- Hum?
- Por que você nunca tira isso?
- Isso o que? – questionou, enfiando um punhado de pipocas em minha boca, quase me afogando.
- Essa faixa. – respondi de boca cheia mesmo, deixando para xingá-lo depois – Eu entendo que você queira ser estiloso e tal, mas estamos só nós dois aqui.
E mais uma novidade para minha lista de descobertas: Suzuki tinha o mínimo de vergonha na cara. Pois ficou muito vermelho, desviando os olhos dos meus. E aquele era um momento épico: Akira constrangido! Não sabia que ele era capaz de ter esse tipo de sentimento.
- Nah. Você sabe, esse meu nariz de batata é horrível... Melhor deixar escondido... Você acha que eles se amam de verdade ou é só atração sexual?
Me sentei mais ereto, ignorando a pergunta sobre o filme e tendo a mais absoluta certeza de que aquela faixa não era efeito de uma pessoa excêntrica e cheia de estilo, mas sim de minhas palavras maldosas.
Respirei fundo. Que fosse para o inferno!
Akira levou um pequeno susto quando apoiei as duas mãos em seu peito, colando meus lábios nos seus. Ficamos estáticos, de olhos abertos e nos encarando profundamente.
Infelizmente, ironicamente, detestavelmente, improvavelmente, inacreditavelmente: eu estava apaixonado pelo Akira nariz de batata, na realidade sempre estive... e não conseguia sequer cogitar viver longe dele.
Senti suas mãos em meu rosto, bem mais delicadas do que qualquer um poderia imaginar, fazendo um leve afago enquanto nossos olhos se fechavam lentamente. Fiquei um pouco assustado quando sua língua tocou meus lábios, mas o deixei aprofundar o beijo, sentindo que aquilo não poderia ser tão gostoso com outra pessoa.
Quando quebramos o contato Akira beijou meu rosto, me sorrindo ternamente, e antes mesmo que pudesse questionar o que estava fazendo, me vi repetindo seu ato, também lhe sorrindo.
- Agora que começou... Bem que você podia ir descendo um pouquinho mais com essa boquinha linda.
- Cala a boca, Akira!
No fim Suzuki sempre seria Suzuki.
~(^_^)~
Até que meu dia começou bem. Dei meu primeiro beijo – ao menos o primeiro do qual me lembrava -, conversei com Akira até de madrugada, dormi de conchinha com o maridão e consegui acordar com a bunda intacta. Parecia que a sorte do Takanori estava começando a mudar.
Fui feliz trabalhar naquela manhã, cumprimentando todos e não ligando para os cochichos de: “O que deu nele?”
Quando adentrei minha sala Kouyou e Yuu estavam de costas para a porta, encarando Teru que estava com as mãos apoiadas sobre a mesa preta de vidro, um sorriso vitorioso nos lábios.
- Kou, você já está aqui.
Quando toquei seu ombro, um forte empurrão fez eu me desequilibrar e quase ir ao chão.
- Seu traíra de merda! Como você pôde, Takanori?
Fiquei sem ação com a raiva que Kouyou me encarava, tendo um braço sendo seguro por Yuu, que também ostentava uma expressão nada amigável, o que não combinava com o Yuu nerd que eu conhecia.
- Mas... O que aconteceu? – levei uma mão ao meu próprio peito, olhando para todos e sem entender nada.
- Já dei as boas novas pro Kouyou. – Teru me respondeu, ainda me deixando sem entender nada.
- Be-be-be-bem que eu eu eu es-tra-tra-nhei su-su-sua apro-apro-aproximação.
- Meu Deus, o que eu fiz?
- Você me fez perder o contrato com a outra agência pra chegar na última hora e me dispensar? O que foi que eu te fiz, Takanori? Pra que todo esse teatrinho de se fingir de amigo, afinal?
Fiquei boquiaberto, querendo me defender, dizer que eu jamais faria uma coisa dessas, mas aparentemente, já havia feito.
- Perdão. Eu juro que não sou mais essa pessoa.
Kouyou suspirou pesadamente, os olhos enchendo de lágrimas, mas sacudiu a cabeça, como se estivesse desistindo de argumentar com uma víbora como eu.
O casal passou por mim sem me dirigir uma palavra. E naquele momento eu soube que nossa amizade não teria mais volta.
Baixei a cabeça, sentindo meus próprios olhos margearem por baixo das lentes escuras.
- Conseguimos, Taka. O novo modelo vem às quatro falar com você...
- Me deixa sozinho.
- Oi?
- Me deixa sozinho, por favor.
Teru ergueu as sobrancelhas, revirando os olhos:
- Aff, vai ter outro ataque de pelanca? Você ‘tá muito estranho.
Quando ouvi aporta bater depois de sua saída, me permiti tirar os óculos escuros e secar minhas lágrimas. Os únicos dois amigos verdadeiros que tive na vida tinham acabado de me darem as costas para sempre.
Me sentei à mesa, discando o número de quem eu achei poder me confortar um pouco naquele momento:
- Akira? Quando puder... dá uma passadinha aqui?
(...)
Passei a manhã avoado, tentando organizar minhas tarefas com a ajuda de um estagiário, que por milagre, não fazia só merda e estava me sendo muito útil.
Perto do meio dia a secretária me avisou que eu tinha visita:
- Ok, pode mandar entrar. Ah, e se o Akira aparecer manda ele entrar também, ok?
- Sim, senhor.
Takashi.
Então era sobre esse cara que Teru falava outro dia. Maravilhoso, diga-se de passagem.
O recebi e fingi entender sobre o que ele falava o melhor que pude, tentando ser ultra simpático e seguro no que estava falando sobre minha nova coleção. Ele era um fotografo que costumava trabalhar comigo e voltara da Europa há poucos dias.
O adorei. Muito querido.
Assim que o estagiário saiu para almoçar, minha ideia sobre Takashi mudou.
Eu estava em pé, tentando alcançar uma pasta no alto de uma das prateleiras para lhe mostrar meus últimos desenhos.
- Eles ainda não estão cem por cento acabados... M-mas o que é isso? – perguntei assustado, me virando bruscamente quando ele me enlaçou pela cintura. Levei minhas mãos aos seus braços, querendo evitar aquele contato.
- Você não sentiu minha falta? Eu passei cada segundo da viagem lembrando do seu corpo, do seu beijo, do seu...
Parei de prestar atenção em qualquer palavra que deixava aquela boca quando meus olhos bateram nas duas figuras paradas à porta.
A secretária estava roxa, com uma mão sobre a boca, no mínimo querendo sair correndo e contar para todos a cena que tinha acabado de presenciar.
A outra pessoa era Akira.
Puta que me pariu.
- Akira, eu juro...
Não deu tempo de falar mais nada, só vi o vulto de sua jaqueta preta atravessando a porta.
Takashi se assustou me largando imediatamente.
Definitivamente minha vida estava acabada.
Saí correndo dali o mais rápido que pude, seguindo Akira ao longe pelos corredores e lances de escada que descíamos correndo.
- Akira! Por favor, espera. Eu não sei quem ele é... Eu vou te contar tudo, volta aqui!
Eu estava literalmente correndo atrás dele quando deixamos o prédio e alcançamos a rua movimentada.
Diferente do que acontecia nos filmes, eu não consegui o alcançar e muito menos ele me deu chance para alguma explicação. Apenas se foi e me deixou ali, chorando no meio da rua como uma criança abandonada.
E era exatamente assim que me sentia naquele momento: abandonado.
Todas aquelas pessoas indo e vindo e esbarrando e falando estavam me deixando tonto.
- Olha o pé, rapaz!
Senti meu tornozelo doer quando pisei em falso no cordão da calçada. Novamente aquela dor aguda na cabeça e a sensação de algum liquido escorrendo por ela. Tudo foi ficando escuro e distante, mas daquela vez não tinha a reconfortante voz do meu carrapato de moicano ao fundo.
~Continua...
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