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História A Janela - Traição


Escrita por: TaeSooHyung

Notas do Autor


Espero que gostem. Nada mais a dizer,
A Fanfic terá no máximo cinco capítulos.

Capítulo 1 - Traição


Traição

Kyungsoo encarava a rua lá fora havia uns bons minutos, apesar de não dizer qualquer coisa. Chovia uma chuva fraca, sem graça, sem vontade. Era como se o céu estivesse encardido, da mesma cor cinzenta e feia dos prédios antigos do centro da cidade. O coreano suspirou pesadamente, pelo que seria a terceira ou quarta vez, se alguém estivesse contando. Devia falar alguma coisa, devia mesmo, mas não conseguia. Não sabia o que dizer. Afinal, o que Kai esperava que ele dissesse? Que estava tudo bem? Não, não estava. Que, algum dia, ia ficar tudo bem? Isso ele não teria como saber. Talvez Jongin estivesse esperando que ele gritasse, que começasse uma briga ou atirasse algum objeto na parede. Acontece que tudo isso parecia tão sem sentido, tão estúpido e tão inútil, que D.O não conseguia fazer nada além de encarar a rua lá fora. E já havia uns bons minutos...

♦♦♦

A chuva engrossou e, de repente um relâmpago cortou o céu nublado. Algum tempo depois, fez se ouvir um estrondo de trovão. Foi só então que Kai, que estivera parado há vários passos do outro o observando, disse alguma coisa.

– Sai daí, Soo – ele pediu, com a voz triste. Triste. Por que será que o menor não conseguia mais acreditar nele? – Vamos conversar.

A tristeza de Kai simplesmente não o convencia.

– Eu não quero conversar – retrucou, num tom baixo, calmo, contido; um tom que não combinava em absoluto com a raiva que queimava sua garganta e seu estômago. – Não quero mais ouvir você falando sobre esse assunto. Aliás, eu não quero ouvir você falando a respeito de assunto nenhum, Jongin – acrescentou, sem se voltar para o outro homem no ambiente. – A sua voz me irrita.

Hesitante, o outro chegou mais perto do namorado, levando a mão com muita delicadeza ao ombro dele.

– Não me toque – pediu Kyungsoo, que fechara os olhos ante aquele contato. – Eu estou com nojo de você. Não encoste em mim. Eu não quero sentir nojo de você.

O maior retirou seus dedos dali, não iria forçar seus carinhos. Porém, a situação estava insuportável. D.O não fez uma cena, como ele imaginou que faria; não partiu para cima dele, como ele imaginou que partiria; não quebrou algum móvel da casa, como Kai imaginou que ele quebraria. Murmurou um “eu não acredito” perplexo e foi se prostrar a janela, magoado e trancado em silêncio, olhando para a chuva fina que a essa altura estava virando um temporal.

Então, o outro esperou resignado. Não havia muito mais que ele pudesse fazer. O erro havia sido seu, era verdade, e agora a ele só restava esperar o veredito de do seu Soo: culpado, ou inocente. Quer dizer, culpado Jongin era, de qualquer jeito. A questão era se o coreano seria capaz de perdoar o maior, ou não.

Entretanto, para Kyungsoo, se tratava de outro problema. Ele era capaz, sim, de perdoar Kai, mas será que poderia esquecer o que acontecera? Será que poderia continuar olhando dentro dos olhos do namorado, todos os dias, e não se lembrar da traição? Toda vez que Jongin se afastasse, nem que fosse para ir à esquina comprar cigarros, não ficaria ele pensando que o seu garoto maldito teria ido se encontrar com Sehun? Não parecia muito saudável insistir em um relacionamento assim, sem confiança.

– Você sabe o que é pior nisso tudo? – perguntou ele, sem esperar resposta, finalmente se virando nos calcanhares e voltando­se na direção do outro. – Quando eu estou triste, magoado ou com raiva do mundo, e preciso desabafar, é com você que eu quero conversar. Quando eu sinto uma vontade desgraçada de chorar, como agora, eu só quero me esconder nos seus braços. Entende porque é tão difícil para mim, estar brigado com você? Porque é tão horrível o fato de ser você o único motivo pelo qual eu estou triste, magoado e com raiva do mundo, e com essa puta vontade de chorar? Você entende?

Ele não queria, realmente, respostas e nem razões. Apenas precisava dizer aquilo, precisava que o maior entendesse a dimensão assustadora da sua dor, e o tamanho da sua decepção.

Kai, por sua vez, mordeu o lábio inferior, nervoso, estreitando os olhos claros. Então concordou, com um aceno mínimo e muito constrangido.

– Você me detesta – afirmou, vendo o namorado fazer que sim com a cabeça. E prosseguiu, em tom sombrio. – Você me odeia.

– No momento, sim – foi o que o espanhol respondeu.

– Quer que eu vá embora? – arriscou temeroso.

A verdade é que Jongin não tinha para onde ir. Não tinha nenhuma casa além do apartamento que ele dividia com o namorado no centro da cidade, e até seu irmão estava longe demais para ajudar o mesmo com isso. É claro que poderia pedir abrigo a um dos seus amigos, porém, suspeitava que eles fossem tomar partido do menor, e não sem razão. Por último, havia Sehun, mas a ele é que não ia pedir guarita. Dormiria em um hotel barato, caso fosse preciso, mesmo em um albergue, mas não forçaria o namorado a aguentar sua presença sendo ela tão indesejada. Não depois do que ele havia feito a seu pequeno Soo. Entendia que o outro estivesse magoado, aceitava que o mesmo o odiasse. Ele apenas havia feito por merecer, não?

– Eu não sei – ouviu o menor responder, suspirando novamente. Tornou a se virar, encarando a rua lá fora. A chuva diminuíra, mas o trânsito agora estava caótico e engarrafado. Dava para ouvir buzina atrás de buzina, vindo dos carros lá embaixo, embora eles morassem no oitavo andar.

O mais alto passou a mão pelos cabelos rebeldes, só porque não tinha mais o que fazer. Estava nervoso. Temia pela decisão de D.O e, ao mesmo tempo, queria ouvi­lá de uma vez. Aquele suspense o tirava do sério. Esperou que o namorado se pronunciasse, cada vez mais aflito, correndo nervosamente as mãos pelos cachos castanhos.

– Eu não quero olhar para a sua cara, Jongin – disse o coreano – Mesmo assim, entre você e todo o mundo, é de você que eu gosto mais. Eu não sei o que fazer. Eu acho que preciso de um tempo. Você sabe, para colocar a cabeça no lugar – mais um suspiro: mais triste, mais pesado, mais melancólico.

– Quer dizer que você vai embora? – perguntou o outro, surpreso. Não parecia justo, e nem correto, que fosse o menor a deixar o apartamento. Kyungsoo não deveria ser obrigado a sair da própria casa por culpa de uma traição do namorado, Kai ainda era um cara decente o bastante para saber disso. – Não! Você fica. Eu vou – foi categórico. Isso fez o espanhol se virar para ele com dois olhos redondos e grandes, antes vivos e brilhantes, mas, naquele momento, inexpressivos e de aparência cansada.

– Eu não quero ficar aqui, cercado das coisas que me lembram de você, dentro do apartamento que nós dois escolhemos juntos. Eu não acho que consigo fazer isso – desabafou. Era uma confissão, e dolorosa.

Ele entendeu. Pelo menos, julgou ter entendido.

– Para onde você vai? – perguntou, torcendo para que ele simplesmente falasse o nome de algum amigo em comum, alguém de confiança, como Suho ou Luhan. E que, pelo amor de qualquer deus, não fosse aquele Chanyeol descarado!

Entretanto, o menor não respondeu de imediato. Abanou a cabeça, parecendo desolado, e o moreno não sabia o que o agoniava mais: ver o cara que amava – ainda amava – naquela situação, ou o clima de indecisão após a pergunta.

– Eu não vou falar para você – informou, afinal. O outro levantou uma sobrancelha, mais que exasperado, cheio de desconfiança.– Que lugar seria esse, que você não pode nem contar ao seu namorado? Kyungsoo franziu a testa, encarando o maior com raiva.

– Vai querer exigir direitos de namorado agora, depois do que você fez comigo? Depois de ter me traído com Sehun? – perguntou, com um tom acusatório. – Você não pode cobrar nada de mim, Jongin. Nada! – enfatizou a última palavra, pronunciando as sílabas bem devagar, com uma paciência quase sádica.

O garoto abaixou os olhos, sinceramente envergonhado. Ele estava certo, ele não tinha o direito de lhe cobrar coisa alguma.

– Mas se você quer mesmo saber – escutou o menor completar, e ergueu o rosto depressa – eu não sei para onde estou indo, só não quero ficar aqui.

– Você vai voltar, não vai? – soltou o mais alto, apressado, as palavras escapulindo da sua boca como se tivessem vida própria.

Trocaram olhares por quase um segundo, antes de D.O desviar seus olhos grandes e se pôr a encarar o assoalho de madeira já gasto do apartamento. Kai então se aproximou, sentindo, mais do que vendo, o namorado retesar os músculos numa postura de desagrado e autodefesa à sua proximidade iminente.

– Diz que vai voltar para mim... – sussurrou o Jongin, baixinho, a voz humilde e macia. D.O continuava se recusando a olhá­lo como deveria.

– Eu vou voltar – disse ele, tão baixo quanto o companheiro. – Eu vou voltar, mas não sei se para você.

Muito justo, pensou o outro com amargura. Mesmo assim, a ideia de perde aquele que amava mais que a si mesmo deixava um nó incômodo em sua garganta, e um gosto desagradável na boca. Estendeu a mão em direção a ele, tocando muito de leve o seu queixo e fazendo o mesmo voltar o rosto para si. Viu o lábio dele tremer e a fraqueza em seus olhos, junto com toda a mágoa, e soube que o menor estava fazendo um esforço absurdo para não chorar. Puxou ele para si, delicado, trazendo os lábios dele para mais perto dos seus, na intenção de um beijo que não aconteceu. Kyungsoo se desvencilhou rápido, e dizendo “vou arrumar minha mala” desapareceu pelo corredor que levava ao interior do apartamento.

Pouco depois ele voltava, trazendo não uma mala, e sim uma mochila grande, de viagem. Bom sinal, pensou o maior, ele não pretendia ficar muito tempo longe de casa. Despediram-se de maneira formal, sem muitos toques. Nada de abraços, ou beijos, ou carinhos de qualquer espécie; o mínimo possível de contato físico. O menor permitiu que Kai chamasse um táxi pelo telefone, mas não que ele o acompanhasse até a entrada do prédio, e não deu qualquer pista do seu destino. Jongin ficou só observando, da mesma janela, Kyungsoo se enfiar dentro de um carro com mochila e tudo, debaixo da chuva que insistia em não se interromper.

♦♦♦

Dez dias haviam se passado, mas o menor de cabelos negros e olhos grandes ainda não estava de volta à cidade. Não telefonara a nenhum de seus amigos, nem mandara notícias. Todos sabiam muito bem que ele permanecia ausente, não apenas pela ausência de novidades, como também pelo estado de ânimo deplorável em que se encontrava Kai. O mesmo se atrasava para o serviço e andava com uma cara péssima, não queria sair e estava bebendo muito mais do que o normal. Mal cumprimentava os amigos, quando os via, e recusava­-se a atender suas ligações.

Era sexta-feira à noite e Luhan, preocupado com ele, resolvera passar em seu apartamento para verificar se Jongin estava bem. Encontrou o maior debruçado sobre a janela da sala, olhando para a rua lá fora como se esperasse alguma coisa, ou alguém: uma mão sustentando o queixo, o cotovelo apoiado no parapeito da janela; e a outra segurando uma garrafa de cerveja pela metade. No chão, recipientes semelhantes acumulavam­se, vazios; um deles quebrado. Não chovia, porém, o céu estava nublado e havia um vento frio que soprava insistente, sem nunca perder o fôlego.

– Você precisa sair dessa, Kai – falou Luhan, pronto para começar um sermão. Jongin bem que estava precisando ouvir, mas ele não queria. – Por que você não larga essa garrafa? Acha que se entupir de cerveja e ficar bêbado até desmaiar no sofá da sala vai trazer o D.O de volta? Você está se acabando, meu amigo.

O maior não se virou para ele. Permanecia na mesmíssima posição, à janela, encarando ora a rua embaixo de si, ora os prédios velhos ao redor do seu. Não dava qualquer mostra de ter notado a presença do amigo, a não ser pelo tom de voz com que ele falou alto o bastante para que o amigo o escutasse com clareza:

– Sabe o que minha mãe costumava dizer a mim e ao Xiumin, quando nós éramos pequenos e saíamos todos juntos para passear? Ela dizia que se ficássemos perdidos, deveríamos esperar por ela no mesmo lugar em que nos vimos pela última vez. Desse jeito, ela saberia exatamente onde nos encontrar.

Depois disso, o outro não disse mais nada. Concordou intimamente, apesar do seu suspiro contrariado, e resolveu deixar o amigo sozinho outra vez. Talvez Suho estivesse com a razão: Kai estava apenas afundando sobre o peso da própria culpa, não sem merecê-­la.

 

CONTINUA...

 



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