História A jornada - Um ano depois...

A maior casa de festas de São Paulo estava abarrotada. Mesmo sendo enorme, era pequena para comemorar, ao mesmo tempo, o primeiro aninho daquelas nove crianças. Porém, seus pais não tinham para onde fugir. O grupinho havia resolvido vir ao mundo na mesma madrugada, e até que protestassem pelo contrário, celebrariam seus aniversários unidos.

O tema, após muito debate, se tornou o óbvio: carrossel. O elemento da vida dos pais, amplo o bastante para abrigar todos os seus filhos, independente dos gostos ou preferências. Era colorido, era animado, era cheio de vida... Era perfeito para comemorar o primeiro aninho de Lara, Luca, Enzo, Emma, Nina, Malu, Sara, Liam e Ravi.

Lara estava se divertindo na cama elástica com os pais. Alicia havia colocado um macacão cinza lindo, parte de uma das coleções de Majo, e um salto, mas agora estava descalça, pulando animada com o marido e a filha, os dois segurando a pequena pela mão, vendo-a gargalhar alto, se divertindo como nunca.

Luca, apaixonado por carros, estava vidrado no autorama, chegando a nem piscar. Jorge e Margarida é quem disputavam a corrida, se deixando ser dominados pelo espírito competitivo e quase quebrando os controles, até o momento em que o menino se esticou no colo do pai e tirou os dois carrinhos da pista, os abraçando e fazendo o casal suspirar de fofura.

Enzo estava agitado com o brinquedão. Ficava tentando escalar o escorregador, até desistir e resmungar para os pais, que o ajudavam a subir pelo lado certo e descer. Também havia adorado o pequeno labirinto que era parte do brinquedo, apesar de perder a paciência logo e choramingar, fazendo Mário ou Marcelina irem até ele e o ajudarem a achar a saída, só para ver o filho gargalhar e aplaudir a si mesmo.

Emma não queria sair do camarim de fantasias. Habituada a esse ambiente, se divertia remexendo nas roupas coloridas que estavam penduradas, e não cansava de ficar em frente ao espelho cheio de luzes, fazendo caras e bocas junto dos pais, que se divertiam tanto quanto ela com isso.

Nina e Malu estavam na piscina de bolinhas, arremessando as mesmas no pai com a ajuda da mãe. Daniel estava no extremo oposto, afundando e surgindo em meio ao colorido, se maravilhando em observar a risada idêntica de Carmen e das meninas, se divertindo em tentar acertá-lo.

Sara e Liam estavam destruindo o livrinho que o pai tentava ler para eles, enquanto Ravi dormia pesadamente no colo mãe. Dos três, foi o único com sequelas evidentes do nascimento prematuro, que era um atraso no desenvolvimento motor. Mesmo com um ano, ainda era bem mole, enquanto os irmãos já arriscavam seus primeiros passos.

Não demorou para que a organizadora do salão viesse anunciar a hora do “parabéns”. Os pais levaram os filhos para o banheiro, onde trocaram suas roupas e tentaram ajeitar o visual bagunçado.

“Maria Joaquina, é preciso dizer: você caprichou no look deles.” Suspirou Carmen, admirando as filhas com vestidinhos bem parecidos, um rosa e outro lilás.

“São exclusivos deles, já aviso! Até pensei me colocar na próxima coleção da Em’s Rivera, mas decidi que esses deveriam ser exclusivos do dia de hoje.” Confessou a estilista, se referindo a segunda coleção de sua nova marca de roupas, a que ela tinha começado a desenhar na gravidez da filha e que agora era um grande sucesso no país todo.

“Eu não consigo acreditar que, nessa mesma hora, um ano atrás, nós estávamos no berçário, com uma versão minúscula deles no colo, dando o primeiro banho.” Mário abraçou o filho, saudoso. “Eles crescem tão rápido.”

“Graças a Deus, né? Estou ansiando por voltar a dormir uma noite inteira.” Paulo disse na lata. “Eu amo a Lara, mas tem hora...”

“Nós sabemos, Paulo, realmente sabemos.” Riu Margarida, tentando arrumar Luca no colo de Jorge. “Filho, tá com formiga na calça, é?”

“Não, o pai fazendo cócegas na fralda mesmo.” Jorge gargalhou da cara da esposa.

“Vamos logo cortar esse bolo, pelo amor de Deus.” Pediu Valéria, com Ravi apoiado em seu ombro, enquanto Davi carregava Sara e Liam.

Saíram do banheiro, vendo que todos já estavam ao redor da grande mesa de docinhos. O bolo era uma obra de um cake designer amigo de Maria Joaquina, e tinha nada menos que dois metros de comprimento, com nove cavalos feitos em pasta americana, cada um com um nome e uma vela com o número 1.

Se acomodaram da melhor forma possível, vendo as crianças sorrirem animadas. Ao redor, seus pais, irmãos, primos, tios, avós e amigos, todos encarando as pequenas famílias com largos sorrisos.

Parabéns para você

Nessa data querida

Muitas felicidades

Muitos anos de vida!

“E para a Lara nada?” Gritou Jaime.

“Tudo!”

“E para o Luca nada?”

“Tudo!”

“E para o Enzo nada?”

“Tudo!”

“E para a Emma nada?”

“Tudo!”

“E para a Nina nada?”

“Tudo!”

“E para a Malu nada?”

“Tudo!”

“E para a Sara nada?”

“Tudo!”

“E para o Liam nada?”

“Tudo!”

“E para o Ravi nada?”

“Tudo!”

“E então como é que é?”

“É pique, é pique, é pique, pique, pique. É hora, é hora, é hora, hora, hora! Rá-tim-bum! Lara! Luca! Enzo! Emma! Nina! Malu! Sara! Liam! Ravi!” As pessoas cantaram ao redor, mas os pais estavam alheios a tudo isso.

Ajudaram os filhos a assoprarem suas velinhas, logo os envolvendo em abraços que queriam dizer muitas coisas.

A verdade é que Paulo e Alicia não esperavam, talvez em momento nenhum, por um bebê. Agora, só podiam encher Lara de beijos e agradecer a Deus e ao universo por aquele pequeno deslize, que havia se tornado o centro de seu mundo e tudo o que realmente importava para eles dois.

Já Daniel e Carmen, que não queriam um bebê de jeito nenhum, agora tinham os braços preenchidos pelas duas preciosidades que eram Malu e Nina. Apesar de todo o drama no nascimento, as duas cresciam fortes, saudáveis e espertas, fortalecendo o amor entre seus pais e os ensinando coisas que livro nenhum no mundo ensinaria, a cada dia que passava.

Para Mário e Marcelina, o que parecia um acidente fora de hora se tornou o acerto de suas vidas. A condição grave de Enzo fez com que Mário desistisse do estágio, e toda a preocupação com sua saúde os fez repensar muito seu estilo de vida. Para poder ficar mais perto dele, o veterinário abriu seu próprio consultório, já que a (agora) esposa passou a trabalhar de casa, para poder cuidar do menino. Desaceleraram, repensaram, se reorganizaram e passaram a ver as coisas com outros olhos, e naquele momento davam pequenas mordidas no garotinho, como sempre, para poder vê-lo gargalhar.

Enquanto isso, Jorge e Margarida choravam abraçados com Luca. Após toda a luta que tiveram ao longo dos anos anteriores, poder comemorar o primeiro aniversário de sua pequena vitória era extremamente emocionante, mais do que eles conseguiam colocar em palavras, e eles só podiam ser gratos por isso.

Cirilo e Maria Joaquina se maravilhavam com a beleza que surgiu de dois egoísmos: o dele de querer as coisas do seu jeito, e o dela de querer impor sua vontade ao marido. E disso, para mostrar aos dois que estavam errados, veio Emma. Pequena, perfeita, um anjo de amor e carinho para ensinar os dois a colocarem a vontade de outra pessoa à frente da sua, para relembrar seu pai de que era preciso pensar nos outros além de si mesmo, e para ensinar definitivamente para sua mãe ela não decidia a vida de todos à sua volta.

E Davi e Valéria se revezavam em beijar as três crianças em seus braços, os olhos repletos de lágrimas e o rosto rasgando em um sorriso. Sara, Ravi e Liam eram suas maiores lutas e vitórias. Depois de muita conversa, o pai resolveu largar seu trabalho e se dedicar aos filhos, deixando que a mãe das crianças continuasse a exercer sua grande vocação, que era ser jornalista. Sabiam que o caminho seria difícil com três, mas não ligavam.

Cada uma sua forma, agradeciam por aquela louca jornada em que estavam, e se preparavam para tudo o que ainda tinha que vir pela frente.