Fazia-se absoluto silêncio dentro da caverna da resistência. As pessoas embaixo da arena ou de suas habitações incrustradas nas paredes apenas assistiam com expectativa que algo passasse. Os punhos de Malik e do avatar ainda se tocavam. O Grão-mestre da lótus tinha os olhos fechados, Kay não fazia idéia do por quê. Estava confuso e não sabia se finalizava o mestre de uma vez ou esperava que ele acordasse.
Um sopro de ar quente atingiu a orelha de Kay. Era Quen que acabara de aterrisar na Arena. Havia escalado rapidamente impulsada por jatos de fogo.
Jing Neutro denovo? - ela perguntou aborrecida.
- Definitivamente não... Ele simplesmente parou de lutar. Não sei que tipo de truque é esse...
Kay cutucou a bochecha do mestre e ele abriu os olhos de repente.
Você está pronto! - gritou ele. Seus olhos de tão abertos pareciam que se projetavam para fora das pálpebras.
Aaah! - Kay quase caia do susto que levou.
– HA HA. Sim... Fogo, fogo...Sim, sim... Quen, pode levá-lo com você. Kay já está preparado para o fogo! - disse Malik naquele seu jeito excêntrico.
– Eu não sei o que o senhor está falando. Nossa luta não terminou e eu...
– Kay, você sabe qual é a idéia por trás da Resistência? - perguntou Malik sério ignorando o que o avatar havia dito.
– Huuuh....
– Eu já lhes disse várias vezes que a coragem é o que move um dominador de terra. Mas onde será que sacamos tanta coragem? - perguntou Malik se virando de costas, Kay somente o escutava - Ninguém nasce naturalmente corajoso, Kay. Na dominação de terra não existe tal coisa como "talento natural" - Kay recordou imediatamente de Matt, se alguém se encaixava a essa denominação "talento natural" era ele. Malik agarrou uma pequena pedra solta na arena e se virou novamente pra Kay - Porque nós só reunimos verdadeiramente coragem quando lutamos uns pelos outros, principalmente por aqueles que amamos. Essa é nossa fonte de poder e é o que leva a nós, dominadores de terra, fazer coisas realmente extraordinarias - disse o mestre esmagando totalmente a pedra na sua mão.
– Então é isso que faz o senhor lutar por todas essas pessoas? Isso que te faz tão forte?
– Terra é o elemento da substância. O Reino da Terra, entre as 4 nações, é a que tem a maior população. Se lutamos todos juntos uns pelos outros, podemos vencer qualquer coisa e qualquer pessoa.
– Hmm - murmurou Kay pensativo, o mestre então agarrou firmemente seu ombro com uma das mãos.
– E o avatar é responsável por defender as pessoas de todo o mundo. É por isso que ele é o dominador de terra mais poderoso que existe... mesmo que ele não saiba disso ainda - disse Malik sorrindo fazendo Kay corar um pouco. Quen rolou os olhos entediada.
– Obrigado, Tio Malik...
– Quando nossos punhos se chocaram, se reavivaram memórias estranhas, acho que minha mestra queria que eu te passasse essa mensagem...
– Bem... pelo que eu entendi, parece que você está pronto para embarcar pra nação do fogo.
– Eu já te disse mil vezes, eu não vou sair daqui sem falar com o Matt - disse o avatar irritado, Quen rolou os olhos pela segunda vez - Tio, venha com a gente. Nós vamos voltar ao acampamento escondidos. Achar uma maneira de falar com Matt...
– Por mais que eu sinta falta do meu filho, não posso fazer isso, Kay. Eu tenho muito trabalho a fazer aqui...
Kay olhou para o lado tristonho.
– Eu também peço pra que você tome cuidado com o Matt. Nós dois sabemos que ele é muito cabeça dura. Pode ser que ele não digira fácil o fato de você ser o avatar - Malik fez uma pausa pensativo - Meu filho... está entre lobos hidrófobos...
O mestre deu um longo passo com grande tensão nos músculos da perna e a Arena voltou rapidamente ao nível do solo abaixo.
– Então é melhor já partirmos amanhã pela manhã - disse Quen.
No outro dia pela manhã os três estavam na entrada do esconderijo. Era cedo e os pássaros cantavam. A cachoeira do rio Yang espalhava uma neblina rasa ao redor.
– Bem, foi um prazer revê-la velha amiga.
– Obrigado por nos fornecer abrigo no seu esconderijo - disse Quen estendendo a mão, Malik riu, avançou para perto dela e a abraçou.
– Não se atreva a me agradecer Quen. Você é como uma irmã pra mim - disse Malik com um tom brando, Quen retribuiu e o abraçou com ainda mais força emocionada.
– Ai Ai! - Malik começou a se queimar com o calor que emanava do corpo da amiga.
– Desculpe - disse Quen recuando um pouco nervosa.
– Tio, quando vamos nos ver outra vez?
– Kay, você é o avatar, pode apostar que nossos destinos ainda irão se cruzar muitas vezes mais.
– E eu posso confiar nessa mulher mesmo? - disse agora sussurando ao ouvido do mestre.
– Eu posso ouví-lo daqui - disse Quen entediada.
– Não há ninguém no mundo que possa garantir melhor sua segurança do que ela, Kay, isso eu te asseguro.
O avatar deu um longo abraço no seu mestre de dobra de terra e junto com Quen partiu pela estrada.
Já fazia uma semana desde a batalha naquela vila no território do General Grand. Quen estava mais do que cuidadosa para não ser reconhecida durante a viagem. Ela e Kay usavam capuzes negros emprestados por Malik. A herdeira da Nação do Fogo ficou silenciosa durante todo o trajeto, conservava seu jeito durão e razinza, parecia estar mergulhada em seus pensamentos.
Chegaram ao acampamento. Estava completamente vazio. Kay averiguou as pegadas e marcas de fogo, não fazia mais de 2 dias que os homens haviam partido.
– Oh não... - disse Quen.
– O que foi?
A mulher apontou para a esquerda. Kay então se deparou com algo desolador. Passando o rio toda floresta parecia ter sido destruída. Pedaços queimados de madeira flutuavam na lama entre as raízes mais resistentes. O horizonte era negro e cinza.
– O pântano... - pensou Kay imediatamente. Formou um grande rolo de terra e avançou em direção à paisagem devastada.
– Kay, espere!
Kay avançava entre as vinhas mortas que flutuavam na lama, o cheiro de putrefação tomava conta do lugar. Começou a chover, nuvens negras pesadas de mugre e fumo derramavam seu conteúdo encharcando ainda mais o lugar. Quando o rolo de terra de Kay já não tinha mais altura para transitar pelo rio de lama, ele parou. Quen chegou saltando com jatos de fogo entre os troncos e raízes derrubados. Kay a encarou assustado.
– Essa destruição é audaciosa até mesmo para os parâmetros de dominadores do fogo.
Enquanto perscrutava o ambiente, Kay conseguiu identificar um pequeno monte na lama. Forçou os olhos e viu um tufo de cabelos espetados sobresalentes.
– Não!
Kay pulou de seu rolo de terra mergulhando diretamente na lama. Nadou até o monte e virou o volume, era o corpo desfigurado de Rahan, o guardião do pântano. O espírito com a aparência de Wan estava irreconhecível se não fosse por seus cabelos espetados. Kay o sacudiu pelos ombros durante alguns minutos.
– Rahan!!
– Ka- Kay...? - perguntou Rahan confuso com uma voz fraca e rouca.
Então de repente um sentimento de medo se apossou da cara do espírito, ele começou a respirar mais forte, Kay pôde perceber o desespero no seu olhar. Ele agarrou a gola da camisa do avatar com toda a força que conseguiu reunir.
– Kay, corra! Fuja daqui... - murmurou logo antes de desfalecer.
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