História A Lenda dos Zora - Capítulo 4 - Normais

Tarde, 13:57

Alek abriu e fechou seu novo punho pela décima primeira vez. A mão havia sido revestida com pele artificial e se não fosse a falta de tato a substituição passaria despercebida.
A liga era leve como um braço humano, a prótese era perfeita e logo seu corpo entraria em sincronização com ela.
A médica pediu-o para que se pusesse de pé. Alek se ergueu com dificuldade pelo tempo em coma e pelas cirurgias.
O frio nos pés parecia quase uma sensação nova para ele. Com dificuldade ficou sobre as duas pernas sentindo as dores invadindo seu corpo.
A médica aproximou-se e passou os braços pelo corpo do garoto encostando as mãos em suas costas nuas. Alek não conseguiu disfarçar o rubor. Ela era linda.
Ele sentia sua exocoluna. Uma estrutura metálica que saia pela parte de fora das costas e se unia a sua pele. Devia estar realmente fodido.
-Quando estava em coma instalamos sua coluna. Então não teve que passar pela experiência de ficar tetraplégico...
-Acho que te devo um obrigado então.-Disse em tom de piada.
Ela soltou uma risada rápida e começou a examinar seu corpo.
Depois pediu que fizesse uma série de exercícios e alongamentos. Além de testar os reflexos da mão direita.
Depois Alek foi liberado.
-Qual seu nome?
-Melyssa...
Alek olhou para ela franzendo o cenho.
-Brasil?
-Uhum. Como soube?
-Chute.
Ela soltou uma risada leve. Era realmente muito bonita.
-Então, acho que está pronto Sr. Zora!
-Muito obrigado, doutora.
-Pra você Melyssa.
Os dois conversaram fiado mais um pouco. Alek pediu contato.
-Caso eu precisse de uma ajuda relâmpago.
-Garanto se continuar a se estropiar tanto, minha ajuda pode ser pouca.
-É suficiente.-Então, ela o acompanhou até a saída.

Tarde, 14:27

Kisa esperava do lado de fora do quartel. Segurava uma caixa de chocolates preferidos do primo. Andara tão preocupada com a saúde de Alek que pouco se importava com seus próprios danos.
Agora tinha que tomar uma pilula de cinco em cinco horas para não começar a ter uma hemorragia nasal. É claro que o garoto não precisava saber disso.
Avistou o garoto saindo da área médica. Estava vestindo uma calça jeans, tênis preto e uma blusa branca com estampa de panda. Kisa comprara suas roupas, e tinha alguma fixação com pandas não compreendida pelo familiar.
Ao lado do garoto uma pessoa o acompanhava. Era mais baixa que ele e vestia roupas de médico. Era muito jovem pra estar ali. Tinha cabelos caramelos e pele bronzeada. Parecia estrangeira.
Os dois estavam conversando enquanto andavam como velhos amigos.
Kisa não gostou dela.
-Sobaka! Aqui!
A garota correu até o garoto e lhe entregou os chocolates.
-Não se acostume.-Disse rindo e deu um abraço em Alek.
O garoto lhe deu um beijo na cabeça.
-Vamos passar pelo menos uma semana de férias, por favor...
Os dois riram.
-Bom, acho que vou indo. Bom dia para vocês dois, vejo vocês dois nos exames de rotina.-A médica se despediu.
-Se depender da sorte, vê antes disso.-Alek disse e a abraçou despedindo-se.
-Não sei se comemoro ou choro.
-Eu também.
Os dois riram e então Alek se voltou para a prima apoiando o braço no seu pescoço e os dois foram embora.
Melyssa sorriu. E depois deu meia volta.

Tarde, 16:34

-Então como você tá?
-Tirando o recém desmebramento, o coma e a paralisia diria que estou bem...
-E eu que tenho que tomar cuidado.
-Tem sim, aliás como você está? Como foi sua avaliação física?
-Nada demais.
-Certeza?
-Sim, só algumas crises de ansiedade...
-Hum...
O motorista os largou na portaria do prédio. Estavam em Kazan a poucos quilômetros da capital onde ocorrera o desastre em Kremlin.
Entraram no apartamento, logo teriam que sair dali. Apenas os dois sabiam que o ataque não havia sido apenas para desestruturar o mundo. Os vampiros estavam caçando os Zora. E os dois Zora mais conhecidos só apareceriam se algo grande acontecesse. Dois coelhos com uma cajadada só.
Kisa se largou sobre o sofá.
Estava vestindo uma blusa preta com um casaco marrom, jeans e tênis normal.
Esticou como um felino preguiçoso sobre o sofá. A roupa subindo e revelando uma pequena parte de sua magra barriga.
Alek não entendia como podia ser tão forte com seu tamanho.
O garoto se largou no sofá ao lado de Kisa e suspirou.
Estavam em casa.
Kisa se arrastou para o colo do garoto e dormiu. Alek pegou o controle que estava na mesa desde o dia em que foram para Moscou.
Kisa havia passado ali apenas para deixar as armas e fechar a morada que fora deixada as pressas.
Ligou a tv. O aparelho era feito totalmente de acrílico. A tela exibiu os sites e canais que poderiam ser acessados.
Então assistiu Pulp Fiction até adormecer.

-Dia Seguinte-
Tarde, 14:00

O zoológico estava incrivelmente lotado. Apesar do desastre de proporções apocalípticas as familias tentavam viver com normalidade.
Crianças corriam por todos os lados observandos os animais.
Ao redor das jaulas dos pássaros, muitas criancinhas se aglomeravam para ver suas penas coloridas. E Kisa fazia parte do grupo de infantes.
Alek observava ao longe sorrindo. Tomava um sorvete de chocolate e já não achava zoológicos tão divertidos quanto a prima.
Mais divertido era observar sua alegria espontânea ao ver os animais.             Kisa a então abandonou as aves, puxando-o pela manga.
Eles então foram observar os felinos, o vidro exibia um belo tigre albino que olhava altivo para as pessoas ao seu redor.
Kisa quase que sentia a aura do animal, o tigre e ela estabeleciam uma conexão que Alek não compreendia mas achava interessante vê-la.
Olhou ao redor. Era bom ser normal de vez em quando. Nada podia tomar-lhe aquele momento.
Exceto o tigre ao lado. O animal laranja olhava diretamente para Alek. O garoto sentiu um gelo na espinha, era quase como se a criatura sorrisse para ele.
Então dá sua boca surgiram milhões de presas prontas para arrancar a cabeça de todas as crianças dali.