História A letter for you - Memories

“Tínhamos apenas 17 anos naquela época, juventude e irresponsabilidade nos controlavam. Assim que nos encontramos pela primeira vez eu fiquei encantado por seu cabelo rosa, e assim que elogiei pude ver como você corava facilmente. Pouco tempo depois você o pintou de moreno, como já tínhamos uma amizade na época eu me arrisquei a opinar sobre tal, lembro que você ficou sem falar comigo durante uma semana por isso. Lembro do seu vício por café e como você era desastrado e vivia virando o líquido em suas composições, eu sempre pegava no seu pé dizendo que um dia teria uma overdose de cafeína, o seu riso quando dizia isso era incrível. Suas composições eram tão incríveis, eu realmente adorava-as, talvez se tivesse a chance você teria conseguido debutar. Admirava o jeito que se entregava quando cantava, o seu talento para a música, eu particularmente sempre toquei o violão e piano como ninguém, sua voz doce era literalmente como música pra mim, sua voz completava perfeitamente a melodia suave que vinha dos meus instrumentos.

Lembro-me de quando passei a lhe ver com outros olhos , eu era só mais um bobo apaixonado, enquanto você mantinha-se normal. Observava você da minha cadeira do fundo, guardava meu ciúme de seu ex-namorado para mim, eu não poderia sentir ciúme dele afinal. Durante o almoço eu via ele lhe tocar como eu queria, falar com você como eu queria, e olhar pra você como eu olhava mas disfarçava. Naquele ano o momento mais feliz foi quando você veio até mim contar sobre o término de minutos atrás, mas se tornou o mais triste assim que vi lágrimas em seus olhos. Naquela noite você chorou no meu ombro, me senti feliz quando mesmo com o pouco tempo de amizade você veio até mim. Mesmo que aquilo me magoasse eu lhe aconselhei de conversar e se resolver com JongDae, após uma longa conversa comigo e alguns minutos pensando você decidiu que o faria. E naquela mesma noite eu fiquei sentado no banco do meu quintal enquanto via você ir atrás da sua felicidade momentânea. Mas em exatos sete dias depois você retornou ao meu ombro pedindo consolo por seu término definitivo.

Apenas quando já estávamos na faculdade você ficou sabendo do meu amor encubado. Hoje me sinto triste por lembrar que você só ficou sabendo pela boca de BaekHyun, não sabia se agradecia ou batia no baixinho. De qualquer forma se ficamos juntos foi por causa do empurrãozinho dele. Me recordo  de quando você me apresentou como seu namorado oficial, a reação da sua mãe foi a melhor, a coitada se engasgou com o pedaço de frango ,ela no início foi bem relutante mas depois acabou demonstrando apoio, fico feliz com isso. Durante o jantar você passou o tempo todo corado, isso foi tão fofo. Após o jantar ela se sentou para conversar com nós, sério, confesso que senti medo dela, ela é muito protetora com o “Junmyeonye” dela, mas logo passou.

Lembra-se do nosso primeiro encontro? Você derramou refrigerante na minha camiseta branca que acabou ficando transparente e marcou o meu início de abs. A cena que era pra ser engraçada acabou por ser vergonhosa pra você, e fofa pra mim. Você corado poderia ser considerado a oitava maravilha do mundo. Meu Deus! Nós brigamos naquele dia. Após sairmos do restaurante sentamos na praça que tinha ali na frente e começamos a conversar sobre coisas aleatórias, e então entramos tão polêmico assunto: Girls Generation ou 2ne1. Foi uma motivo muito fútil eu sei mas, se sempre brigássemos e acabasse nos beijos como acabou naquela noite, eu brigaria sempre e por qualquer coisa.

E a nossa primeira noite? Apesar de não ser realmente a primeira de nenhum dos dois. A sensação foi incrível, você sempre foi único Kim JunMyeon. Cada toque queimava a minha pele, só você tinha esse efeito sobre mim, a sensação da dormência em todo o meu corpo após o ato, o abraço terno que nos protegemos durante a noite, o sorriso que pendia em nossos rostos no dia seguinte. Mas o melhor de tudo foi com certeza o cafuné que eu fazia em você,  era tão bom tocar seus cabelos, eram tão macios e sedosos. Foi tudo tão único, sem explicação, naquele momento eu já me preparava para dizer a frase tão esperada.

Lembro-me que brigávamos por coisas tão fúteis, como você usar as minhas camisas favoritas após a noite, eu sempre amei isso apesar de implicar, ou por opiniões contrárias dos filme, ou quando alguém perdia a partida de Mortal Kombat e acusava o outro de trapacear, admito que ficava beijando seu pescoço para lhe distrair, você deitava no meu peito e me possibilitava de executar tal ato. Mas de qualquer forma sempre acabávamos aos beijos em algum canto da casa.

Lembra-se da nossa primeira briga séria? Você ficou com ciúmes porque Kris, um amigo novo, tinha –segundo você- “intenções comigo”, foi bem feia a briga, eu insistia que era apenas o jeito dele embora você não acreditasse. Foram duas ou três semanas sem se falar? Não sei ao certo mas foi bem difícil já que costumávamos nos falar toda hora. Eu achava tão linda a sua insegurança comigo, eu sabia que você confiava em mim, mas o seu medo de eu achar alguém melhor. Algum tempo depois eu descobri que suas desconfianças eram verdade, me desculpa por não acreditar. Mas ao contrário dos meus outros relacionamentos, eu sentia que cada briga que tínhamos era mais um parede nos protegendo de cair.

Na sua formatura, que você entornou todas as garrafas que pôde. Você vomitava enquanto dizia que me amava, enquanto eu apenas mantinha a minha mão em suas costas e permanecia parado  ao seu lado, não vou mentir que eu ria com o seu estado. Assim como você sempre esteve do meu, eu estive do seu. Recordo-me das bebidas que dividíamos, e de quando, muito raramente, dávamos comida na boca um do outro, como um legítimo casal meloso, no fundo nós éramos assim.

Com três anos de namoro já tínhamos um guarda-roupa inteiro basicamente de roupas de casais. Tínhamos calças, camisetas, tênis, moletons, ao longo do nosso relacionamento adquirimos um guarda-roupa combinado. Mas o que nós mais usávamos era o suéter azul, eu achava lindo em contraste com seu cabelo e você adorava a cor escura contra aminha pele alva. Ainda temos o guarda-roupa, ele se mantém intacto na parede contrária da janela do querto.

Costumávamos sair de mãos dadas pelas rua, me sentia tão bem quando via que não nos importávamos com os olhares reprovadores que nos eram direcionados, domingo pela tarde nós íamos até a sorveteria que tinha aqui na esquina para então ir para a praça, apenas tirando fotos e aproveitando um tempo juntos. Logo após isso íamos até o caís da cidade e novamente ficávamos por lá curtindo a companhia alheia. E novamente a noite acabava em beijos intensos, era sempre assim, de qualquer maneira éramos intensos e melosos sob medida para nós mesmos.

Lembra-se de quando eu tive a ideia de te ensinar a dançar? Meu Deus! Você era um horror JunMyeon! Você me avisou que era um horror mas eu insisti, ao menos podemos dizer que já conseguimos coreografar uma coreografia a casal juntos. Ela não ficou maravilhosa mas ficou ao nosso nível. Ao nível Yixing e JunMyeon.

Lembro de quando minha mãe faleceu, você me deu suporte para fortalecer o resto da família. De qualquer forma eu nunca fui próximo dela, mas sempre foi muito boa pra mim. No dia já faziam 5 anos que eu vim morar com minha dinda e perdi o contato com ela. No velório eu molhei sua camisa com minhas lágrimas, estava frio no dia mas você não me afastou. Eu chorei, chorei muito, mas porque além de ela ter morrido, ela morreu sem saber que você era da sua família. Eu enrolei o máximo para contar pois sabia do preconceito dela. Ainda naquela noite eu lhe abracei forte e chorei mais, fui dormir ouvindo sua doce voz em meus ouvidos cantando enquanto era aquecido pelo calor de seu corpo e das cobertas que nos isolava em nosso canto.

Em nosso quarto ano de namoro fomos até o novo pub localizado no centro com alguns amigos, aproveitamos bem a noite, até o meio da madrugada, quando eu notei que você estava chamando muita atenção. Não lhe culpo já que eu também fico embasbacado quando você coloca essas calças de couro. Mas de qualquer forma nos despedimos de nossos amigos e continuamos a nossa comemoração entre dois.

Em comemoração aos seus 25 anos nós nos mudamos para um apartamento maior, nossos planos era em algum tempo adotarmos uma criança. Eu queria mais que você, sempre foi, mas quando você viu Baek e Chanyeol com a pequena Naomi você se entusiasmou de um dia para o outro.

 Nós tentamos mas, o conselho não aprovou a adoção, tentamos uma batalha judiciária, porém nós a perdemos, isso me entristeceu, nos entristeceu. Eu nos enchi de esperanças e então foi tudo por água abaixo. O único argumento deles era “vocês não são oficialmente um casal”. Sim, éramos um casal, de qualquer jeito, do nosso jeito. Tínhamos tudo para criar um criança de um jeito que ela deve ser criada, mas a legislação não nos permite isso.

Após isso, não fomos os mesmos. Durante um tempo eu tentava e reerguer ao máximo e criar mais esperanças, mas como eu posso reerguer alguém se eu mesmo me encontro no chão, parecia que eu sempre carregava um peso nas costas. Brigávamos por exatamente tudo, um copo quebrado, um bolo que não deu certo. Não era mais aquelas brigas que acabavam em carinhos e em risadas, passaram a acabar em ambos sem se falar por algum tempo. Parecia que todo aquele carinho diminuía a cada dia, de ambas as partes. A vida a dois parecia mais difícil, e foi nessa época que sofremos a primeira separação.

Após uma briga sobre quem perdeu a chave, eu me esgotei e saí de nossa casa, como eu ainda tinha a minha, foi para onde eu fui. Não durou muito, no primeiro “me desculpa” que me dirigiu eu já voltei. Admito que se não tivesse vindo atrás de mim eu teria ido.

Após a longa conversa que tivemos sobre nós e como estávamos, finalmente nos acertamos. E assim seguimos de novo nossa vida juntos. Creio eu que nossa briga apenas fortaleceu a relação. Mas como sempre, quando está tudo indo bem demais vem algo e estraga.

Aos 26 nós descobrimos que nosso tempo junto estava em risco, o diagnóstico de leucemia mieloide aguda, estávamos em uma corrida contra o tempo, esse tipo de leucemia se espalha mais rápido pelo organismo. Logo após o resultado do exame você começou as poliquimoterapia,  que era muito mais agressiva que as quimioterapias comuns.

Desde a descoberta da doença nossa vida foi passando naqueles corredores claros com cheiros de antibióticos e cadeiras desconfortáveis. Aos poucos eu vi você emagrecer, as olheiras surgirem, os cabelos foram mais demorados mas caíam. Você ainda mantinha aquele sorriso de quando eu lhe conheci há sete anos atrás, o mesmo brilho no olhar, as mesmas ruguinhas embaixo dos olhos.

Eu não saí do seu lado por um minuto sequer, só quando necessário. Nossos amigos faziam visitas quase que diariamente, mas nada conseguiria me alegrar. Até o fim eu me mantive agarrado naquela mísera esperança e em sua mão fraca e já não tão macia. Mas uma hora eu teria que aceitar, o tratamento rigoroso não funcionaria, a doença se espalhava rápido demais. Não demorou muito e o câncer foi se alastrando.

E enfim aos seus 26 anos eu ouvi aquele famoso “bip”  e então a sua mão afrouxou o aperto enquanto uma lágrima escorria do meu olho. E de novo eu caí aos prantos, mas dessa vez você não estava ali pra me amparar, eu estava sozinho em um quarto de hospital com o amor da minha vida morto na cama, sem forças pra nada a não ser chorar. Eu observava seus olhos fechados e sua mão já tomando uma temperatura gelada agarrada a minha. Eu tinha que seguir em frente, por você eu iria que me reeguer. Logo a moça com cabelos longos e roupas claras apareceu no quarto. Apartir dali foi tudo um borrão, não sabia mais o que acontecia ao meu redor, absorto demais para absorver o que houve.

Agora olhando esse caixão vazio na minha frente em rezo, pra que você não tenha ido para o inferno como todas as pessoas desejam para pessoas como nós, para que eu tenha forças pra superar o vazio que você deixou e principalmente, para que nada nunca lhe apague do meu coração.”

  Descanse em paz, meu querido amigo e amante

 Do seu bobo apaixonado com sotaque engraçado, Zhang Yixing.

 Para meu pequeno pedacinho de paraíso, Kim JunMyeon

 Enquanto via a carta cair lentamente dentro da cova sinto as gotas grossas e geladas molharem meu corpo, e em seguida eu me dirijo para a saída daquele local triste e nostálgico.