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História A Linguagem Das Flores - Me Desculpe


Escrita por: Caahs

Notas do Autor


Olár, amorzinhos.

Mais um capítulo pra vocês, com a sugestão de músicas semanal! Os links estarão nas notas finais, novamnte.

All We Do - Oh Wonder
She's Funny That Way - Erroll Garner
Adeline Apologizes - Rob Simonsen

A Playlist toda, pra quem quiser/se interessar também estará nas notas finais.

Obrigada por todo o carinho no último capítulo <3
Perdoem os possíveis erros e tenham uma boa leitura.

Capítulo 2 - Me Desculpe


Duas semanas após o fatídico incidente com o buquê de espinhosas flores murchas enviado especialmente para Shaw e a rotina no interior do escritório Hellfire havia em fim retornado à normalidade. O projeto iniciado por Angel, Erik e Shaw fora concluído e devidamente apresentado para os representantes da Starfox Enterprise, que surpreendentemente pareciam ansiosos para assinarem um acordo que legitimaria o que lhes fora proposto durante a nova reunião.

Desde que adentrou à equipe do escritório, Erik participava mensalmente da confraternização realizada em pró dos mutantes que ali trabalhavam arduamente, sempre se esforçando ao máximo para manter a confidência de seus poderes dos olhos inquisitivos pertencentes ao restante da humanidade que os rodeavam diariamente. Frequentes manifestações caracterizavam a luta corriqueira e insistente dos mutantes por um lugar igualitário junto ao restante da população. Contudo, assim como todos os demais tipos de preconceito que ainda residiam nas mentes de uma pequena porção, o repúdio contra os geneticamente diferenciados era frequente de ser encontrado.

“Lehnsherr.” Janos, o mais recém contratado estagiário, bateu na porta da sala do gestor, aguardando permissão por uma pequena fresta que abrira anteriormente.

Por detrás de uma pilha de formulários e uma tela de computador, Erik assentiu, permitindo a entrada do colega. Suas mãos afastaram pequenos amontoados de papéis da superfície de sua mesa metálica, facilitando a comunicação que se estabeleceria.

“Janos.” Erik o cumprimentou com um aperto de mão. “Em que posso ajudar?”

O latino-descendente prendeu parte de suas madeixas escuras atrás de sua orelha, encostando na fria parede branca e sentindo um leve arrepio lhe percorrer a pele. As feições de Lehnsherr; comumente de semblante fechado ou irritado com ambas as sobrancelhas franzidas emoldurando um olhar frio e penetrante, intimidavam qualquer um que tivesse audácia suficiente para encará-lo, mesmo que durante uma curta troca de palavras. Sua aura, ao mesmo tempo que afastava a maioria das pessoas que tentavam se aproximar, detinha de um indiscutível charme que as atraiam inconscientemente. Aqueles dignos de uma maior intimidade, no entanto, conheciam a verdadeira joia escondida no interior de uma desgastada e incolor concha calcária arroxeada.

“Emma me pediu para lhe avisar sobre a nova data em que vamos nos reunir. Será nessa sexta-feira ao invés da próxima, mudança de planos.”

Os olhos acinzentados mantiveram a expressão rígida de sempre, discretamente observando o calendário à sua esquerda e verificando a possibilidade de sua presença.  Em breves segundos sua mente calculou as tarefas pendentes que lhe restavam concluir, tal como o tempo que cada uma demandaria de seu intelecto. Seu rosto virou-se novamente para Janos, logo em seguida.

“Obrigado, Janos. Diga à Emma que farei o possível para estar lá.” Seguida de uma rápida despedida, Erik encontrou-se novamente na solidez de seu singelo escritório. O relógio localizado na direção oposta de sua cadeira contava os segundos em sons compassados, delimitando o tempo que separava o gestor do conforto de seu próprio apartamento. 

Com um suspiro atormentado, os olhos de Erik encararam e tela imutável e brilhante de seu computador antes de retornar às pilhas de formulários que necessitavam de sua assinatura, junto às dezenas de planos em fase de continuo desenvolvimento a pedido de clientes longínquos do escritório.

Os incessantes ponteiros metálicos do relógio rodopiavam sem se importar com seu destino final, seguindo a costumeira rota que lhes era proporcionada por uma pequena bateria interna. Assim como um pequeno filhote de beija-flor, o qual as asas jamais interrompiam o constante batimento, desde que houvesse uma fonte nutritiva para suprir a necessidade energética de seu frágil corpo. Os passos, fossem estrondosos pelo bater do relógio ou pelo silencioso voo do pássaro, marcavam a passagem dos dias, os quais passavam-se despercebidos pela íntegra população da cidade, presa em seu trabalho e vida pessoal. Instigadas, somente, pelo simplório desejo de sair daquele cotidiano que a assombrava de maneira cada vez mais atormentadora.

Mais um pôr-do-sol coloriu o límpido céu previamente azulado de alaranjado, anunciando o fim de mais uma longa jornada semanal de trabalho e declarando o início de dois gloriosos dias de recesso para uns e três noites de entretenimento para outros.

No interior do décimo sexto andar do arranha-céu localizado no centro da cidade, os trabalhos inacabados eram deixados de lado, dando espaço para a algazarra que se estabelecia no pequeno consultório, precedendo as preparações da comemoração que viria logo em seguida.  Erik, como de costume, não se juntou ao restante de seus colegas, permanecendo no interior de sua sala na companhia de ainda mais papéis que haviam em sua mesa se acumulado ao longo da semana.

“Erik, me diga que você irá abandonar esses projetos, ir para sua casa, se arrumar e aproveitar a noite conosco.” Emma equilibrou-se no batente da porta ao anunciar sua presença, sentindo-se discretamente inebriada pelos efeitos da bebida que havia ingerido.

Com alguns curtos cliques de seu mouse, Erik desligou o computador em sua frente, escachando o nó de sua gravata azul escura. Seus olhos encararam os orbes azuis pertencentes à mulher na entrada de sua sala.

“Certo. Eu disse que iria me esforçar para estar lá, não é mesmo?” Um sorriso se esboçou no canto de seus lábios enquanto alongava seus membros superiores, estalando as articulações desgastadas e enferrujadas devido à cansativa semana.

Emma Frost poderia facilmente ser considerada a pessoa mais próxima de Erik naquele momento específico da vida do gestor. A amizade entre eles se deu de forma natural, amplificada pelo mútuo desgosto sentido pela figura desastrosa de seu superior, Shaw. De forma que ambos caíram conjuntamente nos encantos da ironia alheia, compartilhando dos mais curtos sorrisos; gestos que, considerando a natureza reclusa de ambas as pessoas envolvidas, se assemelhavam a uma declaração escancarada de afeto. No entanto, um único acordo feito entre eles limitava a propagação de tal relação e exibia a todos o respeito que ali existia. Ficar longe dos pensamentos de Erik era o mínimo que Emma poderia fazer a fim de garantir a futura amizade e convivência com o metalocinético.

Em troca das atitudes de sua colega, Erik tinha a oferecer sua, apesar de nem sempre agradável, companhia.

Os olhares de ambos se cruzaram brevemente antes de Emma tornar a falar. “Acho bom você estar lá, Erik.” Antes que pudesse continuar com as palavras pretendidas, a voz de Shaw pôde ser ouvida do corredor, clamando pela presença de sua assistente.

“Não se atreva a me deixar sozinha com ele. Eu estou falando sério.” Sua voz, repleta de elegância, não passava de um simples sussurro amedrontado. Não por não ter a audácia de enfrentar seu superior, mas sim pela falta de paciência que teria para escutar o escracho recebido em seguida.

A cabeça de Erik já estava virada para a lateral do espaço retangular, esperando com que Emma o deixasse para atender aos pedidos de Shaw. No entanto, a voz dela ecoou novamente, fazendo com que Erik franzisse as sobrancelhas em confusão.

“Aliás, não pense que vai escapar de me contar sobre a pessoa que finalmente afastou a aura amuada que pesava em suas costas.” Sem chances de protestar, Erik fitou a porta fechada de sua sala com a boca entre aberta. Seus pensamentos pairaram sobre os mais variados ocorridos da fatigante semana, até sentir as toneladas imaginárias do cartão dentro de sua carteira. Charles Xavier. O simpático, perspicaz e entusiasmado floricultor que atendeu os excêntricos pedidos de Erik com seu cabelo acastanhado, cintilantes olhos azuis, e sorriso cercado por um par de lábios avermelhados e bem delineados.

Inconsciente do curvar adotado por sua boca devido à breve lembrança, Erik juntou seus pertences e deixou o prédio rapidamente enquanto oferecia uma despedida momentânea para os colegas ainda ali presentes.

A poucas quadras do Hellfire, o modesto apartamento de Erik se mesclava aos demais prédios residenciais da região com sua infraestrutura clássica e fachada opaca, de tintura suavemente amarelada. Do exterior era possível observar as escadarias metálicas que conectavam as sacadas dos sete andares do edifício. Por muitas vezes, Erik já quis arrancá-las da parte que lhe pertencia, devido a tantos acidentes anteriormente ocorridos com um dos gatos do vizinho superior.

Ao destrancar a porta com o auxílio de seus poderes, Erik descansou a maleta sobre a bancada da cozinha americana e despiu-se de seu casaco, colocando-o nas costas de uma cadeira qualquer. A decoração de seu apartamento era escassa, de certa forma minimalista. Alguns famosos quadros decoravam as paredes monótonas e sem vida, junto a poucos adornos que enfeitavam as superfícies das mobílias. Um largo sofá escuro tomava conta do espaço dedicado à sala de estar, e em seu oposto uma televisão prendia-se na parede junto a um móvel escuro amadeirado. Na lateral, próximo da sacada, um pequeno tabuleiro de xadrez entregava um dos hobbies favoritos do gestor, circundado por um par de cadeiras envernizadas de ferro.

Erik apoderou-se de uma garrafa d’água e seguiu para o conforto de seu próprio quarto, desabotoando sua camisa ao longo do caminho e desafivelando o cinto de sua calça social. Após deixar seus pertences sobre o criado-mudo, o gestor permitiu a si mesmo um mero descanso, sentando-se na beirada da cama e suspirando profundamente com ambas as pálpebras bloqueando a luz advinda da janela. Os sapatos foram logo abandonados junto às meias, sentindo um frescor percorrer por entre seus dedos enfim libertos do confinamento. As costas de Erik encontraram a maciez do colchão e protestaram contra qualquer movimento que ousasse quebrar o precioso conforto. Mal se deu conta do momento em que sua consciência o deixou deliberadamente, deparando-se rapidamente com o privado mundo de seu subconsciente.

Em seu mundo fantasioso, Erik encontrou-se perdido em um campo florido e ensolarado, no qual as róseas flores de uma cerejeira caíam com o balançar do vento sobre seus galhos rígidos. À distância, seus olhos captavam a imagem de uma pessoa, aparentemente um homem, a debochar-se em gargalhadas e caminhando lentamente em sua direção. Erik cerrou os olhos a fim de enxergá-lo melhor, colocando uma das mãos em frente de sua testa para bloquear a claridade. Seus pés o levavam, instantaneamente, para mais perto da figura que tanto lhe intrigava, dando a ela cada vez mais traçados característicos.

“Charles?” Erik questionou estupefato, não acreditando nos truques que sua mente estava a realizar.

A figura respondeu com um sincero sorriso a desabrochar, enfeitando as feições do rosto sardento e pálido do floricultor.

O vento tornou-se mais forte e violento, fazendo com que Erik fechasse os olhos contra a rajada que soprava em sua direção. Ao abri-los novamente, pôde ver resquícios do florista se desmanchando em sua frente, resumindo-se a um mar de pétalas adoecidas e secas, manchando gradualmente a vívida grama em que pisava.

“Não!” Erik estendeu uma das mãos para tentar alcançar o que restava de Charles, mas foi brutalmente afastado do homem que se perdeu, sendo arrastado pela ventania e colidindo contra o tronco da árvore que primeiro avistou.

Longe daquele ambiente utópico, os sentidos desnorteados de Erik captaram o tocar de um som familiar, rompendo com todo o cenário criado pelo seu próprio subconsciente.

Após o acordar de sua mente, Erik se viu novamente em seu quarto, grunhindo pelo barulho azucrinante a ecoar pelas paredes de seu quarto escuro. O gestor tateou o móvel ao lado da cama, derrubando sua carteira e quase dando o mesmo destino para o pequeno aparelho eletrônico antes de trazê-lo mais para perto. Em sua tela haviam avisos distintos. Três chamadas perdidas de Emma, uma de Azazel e duas mensagens de texto.

 No primeiro dos recados, às 8:42PM, Emma escreveu a seguinte sentença:

“Se você não aparecer nos próximos dez minutos vou me certificar de que você nunca mais tenha uma boa noite de sono, Lehnsherr. A bebida está deixando Shaw mais insuportável do que o costume.”

A segunda, às 10:23PM, era de Azazel:

“Espero que você esteja preparado para enfrentar a frieza da Frost a partir de segunda-feira. Não acredito que você a deixou sozinha com o Shaw.”

“Merda!” Erik, irritado consigo mesmo, exclamou antes de bisbilhotar o horário atual. 10:37PM, o relógio digital lhe informou.

Sentado na beira da cama, as mãos de Erik correram pela extensão de seu rosto enquanto mais dos diversos xingamentos percorriam por sua mente afoita. Mesmo que corresse para colocar uma roupa casual e chegar até o local desejado, já era tarde demais para consertar o que estava então em pedaços. Seu olhar fixou-se nos cartões, dinheiro e documentos espalhados pelo assoalho, emoldurando a figura de seus pés desnudos. Dentre os itens, um único cartão colorido chamou sua atenção, com a mesma caligrafia afeminada que alertava os confins de sua memória pela indiscutível familiaridade.

“Eu espero que ela goste de flores.” Erik sussurrou enquanto manuseava o cartão por entre os dedos, virando-o de um lado para o outro como se estivesse a procurar por uma mensagem secreta inexistente.

 

Mesmo sem uma informação consolidada no verso do cartão, lá estava Erik, deparando-se com a mesma cobertura azulada da semana passada. Ao que tudo indicava, a loja encontrava-se aberta e pronta para atender os clientes que necessitavam de seus serviços. Após uma deglutição forçada, Erik ansiosamente forçou seus pés a moverem-se, escutando atentamente ao sonoro e agudo sino que anunciou sua presença.

A primeira coisa que Erik percebeu foi que havia uma jovem mulher atrás do balcão. A segunda foi que não havia sinal algum de Charles.

“Bom dia, senhor! Meu nome é Raven, em que posso ajuda-lo?” A mulher de cabelos dourados apoiou-se no balcão de maneira terrivelmente animada e sugestiva.

Erik, sentindo-se subitamente perdido e acanhado, levou uma das mãos para as costas de seu pescoço. Era como se fosse a primeira vez que pisava naquele interior colorido, repleto de aromas e paisagens diferentes. “Ah...” Seus olhos evitavam ao máximo encarar o rosto da atendente. “Eu preciso da sua ajuda pra escolher uma flor.”

A moça riu detrás do balcão. “É por isso que você está aí.” Ela apontou para a loja, na direção de Erik. “E eu aqui.” Seus dedos sinalizaram para si própria.

“E então, o que vai ser? Declaração de amor? Uma coroa para levar ao cemitério?”

A cabeça de Erik balançou em negação. “Não, nada disso.” Seus olhos pairaram sobre a pequena porta que levava aos fundos do estabelecimento, imaginando se Charles estaria a realizar algum afazer por lá. “Estou procurando algo que possa expressar um pedido de desculpas.”

Os olhos da atendente arregalaram-se em surpresa, concordando rapidamente. “Certo! Brigou com sua namorada?” Ela perguntou, não fazendo nenhum movimento em direção às flores, mais interessada em saber sobre a vida do intrigante cliente.

Incrédulo com a audácia da desconhecida, Erik recusou-se a responder, erguendo uma das sobrancelhas em resposta.

“Namorado, então?” A mulher insistiu, escorando a própria face na palma das mãos. “Que pena.” Erik sentiu o penetrar do olhar alheio através de sua roupa, irritando-se com a nítida falta de ética e educação.

“Você poderia, por favor, arrumar-me um buquê ou qualquer outra coisa parecida? Estou com pressa.” O gestor mostrou um sorriso amarelo, suplicando internamente para que o questionamento cessasse.

A atendente mordeu os lábios e fitou a porta em suas costas brevemente. “Na verdade eu estou há pouco tempo aqui, então não tenho todo o conhecimento das flores e seus significados.” Ela tentou explicar com gestos, completamente envergonhada por não conseguir atender ao pedido como requisitado. “Mas não se preocupe! Eu irei perguntar ao meu irmão, então, se você puder aguardar só um instante?” Seus olhos pediam por uma pitada de compreensão e paciência.

Erik cogitou ir embora, mas um buquê de flores era a única opção viável que conseguia pensar para dar à Emma. Além disso, quais eram as chances de encontrar outro estabelecimento aberto naquela manhã de sábado?

Sem muitas palavras, Erik gesticulou para que Raven seguisse com o planejado. Observando seu arredor, o gestor caminhou até um pequeno jardim interno de flores azuladas, das quais ele não fazia noção alguma sobre sua nomenclatura. Contudo, a beleza delas o fez recordar de um tom com o qual sonhara na noite passada; aquele que ficara gravado no fundo de sua memória.

Um murmurar de palavras ditas em um rico sotaque britânico fizeram com que Erik virasse o rosto em direção ao som. Em seu rosto, um sorriso abriu-se instantaneamente ao deparar-se com a figura de Charles e seus fios de cabelo acastanhados emaranhados como um ninho de pássaros sobre sua cabeça. As mãos brancas do floricultor parcialmente bloqueavam os raios de luz que penetravam em seus sensíveis olhos, fragilizados pela claridade local.

“Pelo amor de Deus, Raven. Qual a dificuldade em perguntar se a pessoa pode esperar até segunda-feira para pegar o buquê? E não, eu não me importo se ele parece uma celebridade global ou uma estátua esculpida por Michelangelo.” Charles dizia enquanto caminhava lentamente em direção aos suprimentos básicos para a confecção do buquê. “Eu cheguei em casa às quatro da manhã e fui gentil o suficiente para vir até aqui e cochilar no sofá para que você pudesse sair com o Hank mais tarde.” Suas mãos mal ajeitaram o plástico que circundaria as flores especificamente escolhidas.

“Agora, estou com uma dor de cabeça dos infernos e o mínimo que eu esperava de você era que me permitisse dormir. Mas ao invés disso, estou sendo obrigado a lidar com a sua clientela.” Charles continuou a resmungar, apoderando-se do par de luvas próximo ao balcão e enfim levantando o rosto para encarar o visitante que perturbara seu descanso.

As mãos que seguravam o suporte do buquê paralisaram-se assim como o restante de seu corpo ao ver ninguém mais do que Erik Lehnsherr a requisitar de seus serviços novamente.

“Erik!” Seus olhos cintilaram e a prévia irritação dissipou-se em meio ao perfumado ar que os envolvia. “Que surpresa vê-lo novamente por aqui.” Com os dentes à mostra, Charles caminhou até o conhecido, tapeando seus ombros gentilmente. “Necessitando de outro buquê para mandar alguém à merda?”

Os lábios de Erik foram pressionados em uma fina linha, suprimindo o riso que borbulhava no interior de sua garganta. Satisfez-se com um largo sorriso, ao invés. “Não dessa vez, Charles. Mas devo agradecer-lhe pelo ótimo trabalho, meu chefe ficou lisonjeado com o presente.”

“Tenho certeza que sim. E espero que você ainda esteja empregado.” A mão que ainda se situava no ombro de Erik deslizou sutilmente pelo braço do gestor, caindo paralelamente ao corpo de Charles novamente.

“Você está subestimando minhas habilidades.” Erik sentiu uma ligeira falta de uma mão a pressionar contra seu corpo, que estremecia por um calafrio que o percorreu subitamente.

“Eu? Eu jamais faria isso, meu caro.” Charles tombou a cabeça para um dos lados, observando as flores que haviam capturado o interesse aparente de Erik. “Flor de Nigella. Você gostou?”

Indeciso para onde focar seu olhar, Erik seguiu o de Charles. “Sim, muito exótica, eu diria. O que significa?”

“É engraçada, sua mensagem. Digamos que é um tanto ambígua.” O floricultor aproximou-se da flor em questão, gentilmente traçando o contorno de uma das pétalas com a ponta dos dedos. Uma delicadeza que somente os mais dedicados possuíam. “Ela representa a corrente que liga uma pessoa à outra, na maioria das vezes relacionada ao amor, mas ocasionalmente à amargura.” Apesar do latejar de sua cabeça, Charles movimentou-se para encarar a feição enaltecida de Erik com um sorriso.

“De qualquer forma, a maioria das pessoas a compra pela sua beleza.” Charles adicionou com um encolher rápido de ombros.

“É uma pena que elas não vejam o que está por trás dela.” Erik comentou, não sabendo ao certo se estava direcionando suas palavras para a flor ou para aquele cujas mãos proporcionaram seu nascimento e desenvolvimento.

“Não podemos ter tudo o que desejamos, não é mesmo?” Charles disse retoricamente, distanciando-se de Erik. “Agora, Raven me disse que veio à procura de um buquê de desculpas?” Mudando rapidamente de assunto, o florista buscou confirmação.

As rugas na testa de Erik tornaram-se mais pronunciadas, acompanhando os passos de Charles lentamente. “Exatamente.” Por um momento, quis deixar-se cair em gargalhada pelas palavras usadas pelo floricultor ao sair do aconchego de seu cômodo.

“Me desculpe pelas palavras de antes.” Charles comentou, como se estivesse a ler os pensamentos de Erik. “E também pelas atitudes de um outro alguém.” Sua voz tornou-se mais alta, enfatizando o tom de voz para que Raven pudesse ouvi-lo. “Estou com uma ressaca terrível. E sobre Raven, bem, ela não sabe se comportar corretamente. É um ensinamento a longo prazo.”

“É compreensível.” Erik cuidadosamente disse, evitando usar qualquer outra expressão que demonstrasse o que ele realmente pensou sobre Raven naquele momento.

Charles pigarreou, indo em direção às plantas coloridas e compridas em extensão, recobertas por flores pentâmeras de finas, estreitas e vistosas pétalas. “Sobre o buquê, perdoe a curiosidade, mas qual foi o ocorrido da vez?” Apesar das diferentes colorações, as mãos de Charles delicadamente escolhiam somente as arroxeadas.

Os olhos de Erik desviaram-se para os brancos ladrilhos, contraindo os dedos de seus pés algumas vezes. “Eu tenho uma amiga, Emma, no escritório. Todo mês fazemos uma reunião para comemorar as conquistas adquiridas, e eu a deixei na mão ontem. Caí no sono e a abandonei com o babaca do meu chefe. Digamos que ela não ficou muito feliz.”

A expressão estampada no rosto de Charles deixou claro que ele não desejaria estar no lugar da colega de Erik. “Eu não a culpo.” O floricultor comentou, tirando uma tesoura de poda dos bolsos de seu avental e moldando as frágeis flores ao redor dos enfeites. “Só um pedido de desculpas não seria o suficiente?”

“Eu não costumo me desculpar tão facilmente.” Muito menos se expunha com tanta espontaneidade, mas Charles parecia estabelecer uma exceção. Erik culpava o ambiente ao seu redor que o fazia lembrar de sua mãe, confortando-o inconscientemente.

“O ser humano é uma raça terrivelmente egocêntrica e orgulhosa, devo dizer.” Charles comentou, mordendo o lábio inferior pela severidade de sua sentença.

Erik bufou, secando o suor frio que se acumulava na palma de suas mãos antes de guardá-las dentro do bolso da calça. “Você se inclui nessa definição?”

Charles enviou a Erik um olhar reconfortante, junto de um sorriso bem-humorado. “Sem sombra de dúvidas, meu amigo.”

O sino anunciou a entrada de mais um cliente, fazendo com que todos os rostos virassem para o recém-chegado. Consequentemente, o íntimo momento estabelecido entre Charles e Erik despedaçou-se como uma taça de cristal de encontro ao chão. Em surpresa, a tesoura que estava em posse do florista escapou da segurança de seus dedos, indo em direção aos pés que tocavam o chão. O estardalhaço, contudo, jamais chegou até os ouvidos daqueles ao redor.

“Hank!” Raven correu em direção aos braços de seu namorado, sufocando-o em um abraço apertado.

Charles, por outro lado, parecia inerte ao lado de Erik. A surpresa que era encontrada estampada em suas feições não se resumia à chegada de Hank, mas sim ao levitar da tesoura próxima de seus membros inferiores. O caminho por ela realizado era lento, como se estivesse sob ação de um campo magnético, atingindo seu destino entre as mãos de Erik.

Olhares esbarraram-se imediatamente após o ocorrido. O desespero e ansiedade presente como uma sombra nos olhos acinzentados sendo refletidos na surpresa e excitação de brilhantes orbes azuis. O tempo pareceu congelar aquele momento compartilhado entre os dois, no qual nenhuma das partes sabia se quer o que dizer. Ambas as respirações adotaram um ritmo acelerado e Erik poderia jurar que as batidas de seu coração ecoavam de modo mais retumbante do que o canto de um pássaro preso entre quatro paredes.

Erik se atreveu, seus lábios entre partindo em câmera lenta, na mesma velocidade em que devolvia o utensílio de jardinagem para as mãos de Charles novamente. Fosse pelo metal, ou pelo simples toque entre as mãos, um súbito choque elétrico subiu através dos nervos no braço de Erik, fazendo seu coração palpitar em resposta.

“Eu acho melhor ir embora.” No preciso momento em que se virou, a mão de Charles deslizou-se para seu pulso, agarrando-o fortemente e impedindo a continuidade das ações do gestor.

“Espere!”

A mesma voz polida e de sotaque britânico ecoou em lugares diferentes na cabeça de Erik, deixando-o levemente desordenado. Com as sobrancelhas invertidas, virou-se para encarar o rosto expressivo de Charles.

Por favor, não vá embora, Erik.

Os lábios avermelhados não se moveram como deveriam, Erik observou atentamente. Entretanto, a voz se fazia claramente audível, tão serena quanto aquela presente em seus mais recentes sonhos. A boca, também exibida em sua privada e ilusória realidade, se abriu em um largo sorriso, deixando à mostra os brancos e ligeiramente tortos dentes.

Você não é o único que possui seus truques, sabia?

No imediato instante em que Erik percebeu o assunto que Charles insistia em informar-lhe, suas feições transformaram-se gradualmente em algo de cunho mais contente, e de certa forma ainda repletas de incerteza.

“Você é um telepata.” Erik disse em voz alta, beirando entre o tom duvidoso e afirmativo.

Charles permitiu com que o sorriso fosse rebaixado para um mais contido do que o anterior, erguendo uma de suas sobrancelhas em questionamento.

“É a primeira vez que conhece um?”

Erik negou com um simples gesto, seus lábios curvando-se silenciosamente. “A amiga para quem levarei o buquê também compartilha do mesmo poder.” Com o olhar travado na hipnotizante maré azulada que o arrastava, ele continuou. “Na verdade, todos no local onde trabalho são mutantes.” Por mais que tivesse enfim confessado sobre os poderes próprios e alheios, Erik não achou necessidade em corrigir a razão por detrás da reunião do dia anterior, deixando com que Charles tirasse suas conclusões por si só.

“Isso é incrível. Telecinese?” Charles murmurou, apertando a mão de Erik uma última vez antes de soltá-la.

“Manipulação de campos magnéticos, de forma generalizada.” Erik respondeu de maneira confiante, orgulhoso da abrangência de ações proporcionada pelos seus poderes.

Raven e Hank, a observar o desenrolar da situação mantiveram-se calados por quase todo o tempo, cochichando sobre alguns dos detalhes presentes na interação entre os dois conhecidos. Quase tão entretidos quanto ao assistir seu seriado de televisão favorito, não perdendo um segundo se quer das cenas a acontecerem.

“Vocês não são os únicos capazes de fazer coisas extraordinárias!” Raven exclamou, desprendendo-se dos braços de Hank que timidamente circulavam sua cintura. Sua figura transformou-se lentamente. A pele branca substituída por escamas espessas e azuladas; os cabelos louros tingindo-se de vermelho; e os olhos assemelhando-se aos de um felino, com íris amareladas e profundas.

Charles, apesar de forçadamente soltar um punhado de ar pelo nariz, sorriu ao ver a mutação da irmã adotiva. Seus olhos curiosamente pairaram no homem ao seu lado, ansiando por sua reação.

Os olhos acinzentados, por mais que supostamente neutros, pareciam expressar uma certa surpresa e admiração pelas habilidades mutagênicas de Raven. De sua boca não saíram palavras destinadas a ela, mas sim ao rapaz na sombra da pele azulada. “E você?” Erik apontou com o indicador.

As bochechas de Hank enrubesceram-se enquanto ajeitava a moldura de seus óculos ao redor do rosto. “Eu...”

Ao perceber o incômodo do jovem pesquisador, Charles repousou uma das mãos no ombro de Erik. “Peço desculpas, meu caro. Mas entenda que Hank é um tanto tímido.” Um singelo olhar, repleto da mais pura complacência, fez com que Hank agradecesse mentalmente.

“Garanto que sua mutação é tão magnífica quanto a do resto de nós.” O florista complementou, voltando a focar-se no metalocinético ao seu lado.

Porém, a sua ainda é uma das mais esplêndidas que já tive a chance de prestigiar, Erik.

A silenciosa projeção, reservada somente para a superfície da mente do gestor, trouxe um sorriso torto aos lábios finos de Erik, que por mais aflito que estivesse pelo contato íntimo estabelecido com Charles, não o afastou brutalmente como de costume. Sua presença não apresentava frieza ou invasão grosseira como a de Emma, mas sim um aparecimento constante e sutil, realizado da maneira mais convidativa e calorosa possível.

Descansando no aconchego das mãos do florista, as pétalas de jacinto resvalaram pelos seus dedos, acordando-o do imediato transe no qual sua mente se sucumbiu ao perder-se entre o olhar crítico e magnético de Erik.

Sua mão; ainda repousando sobre a maciça estrutura óssea do gestor, escorregou cuidadosamente ao abandonar a consistência que a amparava, deixando para trás somente o leve formigar de uma pele rósea a suplicar por um ínfimo contato adicional.

“Eu...” O sotaque anglicano falhou em pronunciar-se, e Charles pigarreou rapidamente para que pudesse prosseguir com sua fala. “Estou quase terminando com o buquê. Gostaria de escrever um cartão para acompanha-lo?” Charles disse, distanciando-se em direção à bancada principal com o arranjo floral seguro em mãos.

“Por favor.” Erik o acompanhou, relembrando a primeira vez que esteve no estabelecimento, em uma posição semelhante, com exceção de seu estado emocional atual.

Silenciosamente, o pequeno cartão fora preenchido com uma caligrafia executada de forma caprichada. O suficiente para que as letras se tornassem legíveis. Diferente do primeiro encontro, a frase formada não fora lida em voz alta, mas Erik não fez questão de escondê-la dos curiosos orbes azuis que por ali circundavam curiosamente.

Um singelo resfôlego acompanhado de um riso complacente surgiu dentre as leves feições de Charles. “Pelo menos você tem consciência de suas características, meu caro.”

“É assim que você conquista tantos clientes, Charles?” Erik tateou os bolsos, retirando deles sua carteira e buscando a quantia necessária. “Se eu fosse você teria cuidado, posso não voltar mais aqui.”

As pálpebras de Charles cobriram parcialmente seus olhos. “Não se preocupe, eu sei que você voltará quando precisar de mais flores.” O florista disse confiantemente.

Sentindo-se ameaçado pela possibilidade de ter suas pretensões lidas por Charles, o gestor recuou, encarando o rosto de Charles com a testa enrugada. “Não acha impróprio ler a mente de seus clientes sem permissão alguma?”  

O tom nada amigável das palavras de Erik não fora capaz de remover o distinto sorriso do rosto do floricultor. “Admito que algumas emoções, principalmente as mais superficiais, sejam difíceis de ignorar. Mas eu jamais adentraria sua mente sem autorização, Erik. Além disso, não preciso ler sua mente para saber que voltará quando precisar. Ou estou enganado?”

Três notas de dez dólares foram separadas e colocadas na superfície do balcão, próximas às mãos de Charles. “Você está sendo determinadamente presunçoso.” Erik comentou, refutando-se a acreditar na veracidade das palavras ditas por Charles.

“O que posso dizer? É mais forte do que eu.” Os ombros encolheram-se e Charles aceitou o dinheiro posto em sua frente, pronto para argumentar sobre a quantidade extra que havia recebido.

“Fique com o troco. Considere um extra pela sua encantadora simpatia e pelos elogios oriundos de sua irmã.” Erik se adiantou com um pleno sorriso estampado nos lábios, balançando umas das mãos ao sentir um fio de benevolência, transmitida pelo sincero brilho no olhar de Charles.

O agradecimento ficou subentendido no curvar da boca de Charles, que finalizou o belo arranjo e o ofereceu a Erik de bom grado. “Foi bom te ver novamente, Erik. Sinta-se livre para visitar-nos a qualquer momento.”

“Obrigado, Charles. Até uma próxima vez.” Um honesto riso deixou-se transparecer enquanto Erik divergia seu olhar entre as flores de aroma intenso e as feições leves encontradas no rosto de Charles. Relutantemente, deu as costas a não somente o florista que tanto o intrigava, mas também ao restante das pessoas ali presentes.

“Até outro dia, Erik!” Raven acenou, apoiando-se despreocupadamente nos ombros de Hank e sorrindo travessamente para Charles quando a silhueta do cliente se misturou com as escassas pessoas que passeavam pela calçada.

Charles ergueu uma sobrancelha inquisitiva. “Qual o problema?”

“Nada.” Raven respondeu, observando o estado de suas unhas. “Só me perguntando quanto tempo vai demorar para eu encontrar você aos beijos com o Erik no quarto dos fundos.”

O arfar dramático de Charles não passou despercebido. “Raven! Ele é simplesmente meu cliente!” A mão que repousou contra seu peito escondia as latentes batidas de seu coração. Não era a primeira vez em que Charles se sentiu embebido na mais pura sorte por possuir o dom da telepatia, escondendo os mais sórdidos pensamentos das mentes alheias.

“E até quando você irá tentar se convencer disso?” Hank, ao contrário da personalidade comunicativa de sua parceira, permanecia a observar a situação com curiosidade. Realizando apenas discretos comentários em resposta ao desaforo de Raven.

“Deixe-o em paz, Raven. Nós estamos atrasados.” O jovem cientista comentou, ajeitando seus óculos ao redor da sólida ponte de seu nariz antes de puxar sua namorada pelo braço em direção à porta.

Antes de deixar o estabelecimento, Raven adiantou-se para circular o pescoço de Charles com seus braços. “As chaves da loja estão dentro do quarto, perto da escrivaninha.” Um audível beijo foi depositado nas bochechas de seu irmão. “Te vejo mais tarde.”

Assim que o casal deixou o estabelecimento, Charles debruçou-se sobre o balcão, novamente abandonado, a mercê de seus próprios intermitentes pensamentos. Tão insistentes que fluíam constantemente pelos cantos mais profundos de sua mente como um gás a sucumbir-se pelas mais espessas das membranas, ocupando cada centímetro cúbico do seu interior. O lábio inferior, por mais que avermelhado, encontrou-se novamente preso entre dentes calcificados. Enquanto os mesmos prévios pensamentos vagavam sobre a mesma figura alta e garbosa, o enrugar da pele ao redor de olhos acinzentados hipnóticos ao exibir um sorriso brilhoso, que apesar de assustador, tornou-se imediatamente encantador aos olhos de Charles.

O telepata riu desacordado, inconsciente do manifestar de sua reflexão. Após uma última admirada nas flores que o rodeavam – parando segundos a mais no esplendor de seus jacintos; seus pés deixaram-se levar pelas suas obrigações. As estufas foram programadas junto dos borrifadores, assegurando a manutenção do ambiente propício para a natureza que ali proliferava em constante cuidado. Assim que a tranca estalou pela segunda vez, Charles recolheu ambas as mãos no interior dos bolsos e caminhou para seu apartamento.

Do outro lado da movimentada cidade, um buquê fora depositado no tapete de entrada de um complexo de prédios residenciais. Seu odor espalhava-se pelo andar a cada segundo que passava ali intacto. Tendo em vista, além da eximia beleza das flores selecionadas, um cartão cuja caligrafia poderia ser facilmente confundida por alguém que não estivesse familiarizado com tal desarranjo de linhas e curvas.  

Me desculpe por ser um completo babaca. Erik.


Notas Finais


Músicas:
https://www.youtube.com/watch?v=F30G87zlRPw (ALL WE DO)
https://www.youtube.com/watch?v=tMeMxhciMPk (SHE'S FUNNY THAT WAY)
https://www.youtube.com/watch?v=CesUfpbp7ew (ADELINE APOLOGIZES)

Playlist:
https://open.spotify.com/user/12179160716/playlist/0f9S1PM66E6ySM2kCObxvS

Obrigada por lerem até aqui e nos vemos na próxima semana com mais Erik buscando por flores e Charles sendo...Charles.


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