História A Lista De Hoseok - Diário

      Deslizo o dedo sobre a caligrafia, nunca tão elegante quanto se esperaria de uma pessoa tão bonita. Minha garganta dói. Apesar de sua promessa de um final feliz, ela sabia que chegaria o dia em que eu precisaria ser resgatado. Ela me deixou o vinho para o dia de hoje, e um retrato de sua vida, seus pensamentos íntimos e suas reflexões para amanhã.

      Mas eu não posso esperar até amanhã. Fixo o olhar no diário, desesperado para ler suas palavras agora mesmo. Apenas uma espiada rápida, só isso. Porém, quando puxo a fita verde, uma imagem de minha mãe toma forma em minha mente. Ela balança a cabeça, gentilmente criticando minha impaciência. Olho de relance para o bilhete que ela me deixou, dizendo para eu esperar até que estivesse mais forte, e fico dividido entre os meus desejos e o dela. Por fim, deixo o diário de lado.

- Por você = Sussuro e dou um beijo na capa do caderno -, vou esperar.

      Rompendo o silêncio, um gemido sobe do meu peito. Cubro a boca rapidamente com a mão para impedi-lo de sair, porém, é tarde demais. Eu me dobro ao meio, abraçando o meu corpo, e literalmente sinto pela perda de minha mãe. Como vou conseguir andar por esse mundo sem ela ? Ainda que não há tenho por perto, serei eternamente grato pelos dias contados que tivemos juntos...

      Pego o vinho. Segurando a garrafa entre os joelhos, estouro a rolha, que dispara até o outro lado do quarto e derruba um frasco de remédio da mesa de cabeceira. Vou me arrastando até a mesinha, reúno os comprimidos triangulares na mão e me lembro da primeira vez que ofereci um deles à minha mãe. Ela havia acabado de passar pela primeira sessão de quimioterapia e, pelo meu bem, estava cheia de valentia fingida. "Estou me sentindo bem, mesmo. Já tive cólicas menstruais que me fizeram sofrer mais"

      Porém naquela noite a náusea a atingiu como um tsunami. Ela engoliu um comprimido e depois me pediu outro. Fiquei deitado ao lado dela enquanto o remédio fazia seu efeito misericordioso, permitindo que o sono chegasse. Eu me aninhei junto à minha mãe, exatamente como ela havia feito comigo tantas vezes. E então, tomado de desespero, cerrei os olhos e comecei a me derramar em lágrimas.

      Um fluxo de comprimidos cai da palma de minha mão para dentro do frasco plástico. Deixando a tampa solta, posicio-o na beirada da mesinha, perto da cama, de maneira que ela possa alcançá-lo com facilidade. Mas não... Minha mãe se foi. Ela nunca mais vai tomar outro comprimido.

      Eu preciso do vinho.

- A você, mãe = sussurro com a voz embargada - eu tinha tanto orgulho de ser seu filho. Você sabia disso, não ? 

Em pouco tempo está tudo girando, e minha dor misericordiosamente é amenizada. Coloco a garrafa no chão e afasto o edredom. Os lençóis frescos cheiravam levemente a lavanda. A sensação de ficar deitado aqui é de decadência, longe da multidão de estranhos no andar de baixo. Eu me afundo ainda mais sobre as cobertas e me permito mais um momento de silêncio antes de voltar para sala. Só mais um minuto...