História A Lista De Hoseok - Jantar

      Sou despertado pela voz de Tae me chamando. Esfrego os olhos com as palmas das mãos e me sento a cama. Minha cabeça latejava, pesada e confusa. Pisco diversas vezes e olho ao redor.

- Está na hora do jantar. = Tae diz me ajudando a levantar.

- Eu sei. Só me dê licença para me arrumar. 

                                       ∆∆

      Desço para ver meus parentes. Noto que a sala está cheia de sombras e vejo empregados andando de um lado para o outro, empilhando pratos e copos em caixas plásticas marrons. O que está acontecendo ? A verdade me atinge me atinge como beisebol. Um nó se forma em minha garganta e cubro a boca com a mão. Toda a dor, cada pedacinho da agonia e da tristeza, me atinge mais uma vez.

      Certa vez me falaram que uma longa batalha contra o câncer é pior que uma curta batalha, mas não estou convencido de que isso seja verdade para os sobreviventes. O diagnóstico e a morte de minha mãe vieram com tamanha rapidez que parece quase surreal, como se fosse um pesadelo do qual vou acordar com um grito de alívio. Em vez disso, com muita frequência eu acordo depois de ter esquecido a tragédia, e sou forçado a reviver a perda repetidas vezes. Será que algum dia vou me sentir bem sem ter aquela única pessoa que me amava incondicionalmente ? Algum dia serei capaz de pensar em minha mãe sem ter um aperto no peito ? 

      Enquanto fico fitando o nada, fragmentos de imagens surgem com tudo em minha mente, recriando meu passado com minha mãe.

- Ei, dorminhoco.

     Vejo meu irmão se aproximando e se abaixando na frente de nosso primo de três anos. 

- Primo Hobi. 

     Meu coração bate descompassado, e em segredo nutro a esperaça de que meu pequeno primo nunca aprenda a pronunciar os erres. Devagar, vou andando até ele e bagunço seus cabelos.

- Como você está ? = diz Jimin se levantando.

- Estou bem ! 

     Ele dá um beijo em minha testa.

- Não se preocupe. Todos nós sabemos que isso é mais difícil para você.

      O que ele quer dizer é que, dos três filhos, eu sou o mais novo e ainda solteiro. Eu contava muito com minha mãe. Meu irmão sente pena de mim.

- Todos nós estamos de luto = Afirmo, afastando-me dele.

- Mas você era o casúla dela = diz meu irmão mais velho, Suga.

      Ele aparece no canto do hall de entrada, com seu corpo magro, mas musculoso, quase escondido por um grande vaso de flores que traz nos braços. Ele se vira para o lado e me dá um beijo rápido no rosto.

- Vocês dois tinham uma ligação especial. Eu e o Jimin não teriamos conseguido sem você.

- É verdade. Quando nossa mãe foi diagnosticada com câncer no ovário na última primavera, eu a convenci de que lutariamos juntos contra a doença. Fui eu quem cuidou dela depois da cirurgia, ficou sentado ao seu lado em todas as sessões de quimioterapia. Insistiu em ter uma segunda e depois uma terceira opinião médica. E, quando todos os especialistas  concordaram com um prognóstico sombrio, eu era quem estavá com a nossa mãe no dia em que ela decidiu parar com os terríveis tratamentos.

      Suga aperta a minha mão de leve, e seus olhos brilham marejados de lágrimas.

- Estamos aqui para o que precisar. Você sabe disso, não sabe ? 

      Confirmo com um aceno de cabeça.

Meus dois irmãos saem lentamente da casa de minha mãe, enquanto fico parado mantendo a porta aberta, tal como nossa mãe costumava fazer. Taehyung é o último a passar.

- Nos vemos em breve. = Ele diz e me dá um beijo na bochecha.