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História A Little Bit - Hands Down


Escrita por: sonnyssi

Capítulo 1 - Hands Down


Hands down, I'm too proud for love
But with eyes shut, it's you I'm thinking of

 

 

Yoongi deveria só ter virado para o lado e continuado a dormir. Ele estava querendo dormir desde que acordara. Havia sido um daqueles dias estafantes – não que os outros não fossem quando se estudava e trabalhava. Mas aquele havia sido particularmente exaustivo, psicologicamente falando. Provas e papéis para organizar no escritório da editora. -, entretanto, tão logo que escutara movimentação no andar debaixo, colocou-se de pé. Consultou o relógio na parede cozinha enquanto ajeitava a calça de moletom nos quadris, puxando a camiseta branca por cima do elástico, já passava das duas da manhã.

Ele estava atrasado.

Sua desculpa era o maço de cigarros que jazia sobre a mesa. Tomou um deles entre os dedos e acendeu na boca do fogão antes de abrir a porta e debruçar-se sobre os balaústres da sacada.

Yoongi morava em uma casa de dois cômodos, alugada. Era só um puxadinho mal diagramado em uma casa antiga. O dono havia divido o lugar em três casas de dois cômodos e as alugavas para estudantes, assim como Yoongi, que vinham de outras cidades para a capital, para estudar. A Yoongi era vantajoso. Ainda que o endereço não fosse privilegiado, bastava-lhe um ônibus para chegar na faculdade de manhã, ao contrário do seu antigo endereço em uma pensão para estudantes. Havia ganhado duas horas a mais de sono, por noite, ainda que pagasse um pouco mais no aluguel. Mas valia a pena, porque tinha sua privacidade.

As outras duas casas ficavam no andar debaixo, mas apenas uma estava ocupada. A da frente. Ainda que cada casa acabasse tendo seu próprio pedaço de quintal – e a de Yoongi ainda tivesse uma pequena sacada bem de frente para a porta da cozinha, que dava vista exatamente para o quintal da casa debaixo-, o da casa da frente era o único acesso ao portão, que era alto e fechado, de ferro. Yoongi sempre dizia que aquilo era quase um cortiço de duas pessoas.

O ocupante da tal casa da frente era um bailarino, ele não viera de longe, só brigara com os pais e decidiu sair de casa quando não recebeu nenhum apoio em seu sonho de ser dançarino. Passava seus dias dentro de uma academia de dança, dando aulas para crianças para poder receber suas próprias aulas, como pagamento. E fazia um bico como entregador em um restaurante para poder dar conta de suas despesas. Jung Hoseok, era seu nome.

Era sexta-feira. Yoongi já podia escutar movimentação alheia no andar debaixo enquanto tragava o cigarro. Foi questão de minutos até que o outro estivesse do lado de fora.

― Sem sono? ― Hoseok perguntou dando uma breve olhada para cima.

― Sempre. ― Yoongi respondeu com um sorriso torto, dispensando as cinzas no cinzeiro ao seu lado.

Hoseok exibiu um sorriso solidário, como se entendesse o que era passar toda a noite esperando que ele chegasse em casa para enfim poder dormir. Então voltou sua atenção para as roupas no cesto em suas mãos. Yoongi, como sempre fazia, observou-o lavar as roupas, coloca-las no varal, então lavar o quintal e trocar mensagens com alguém nesse meio tempo. Não que houvesse nada de especial, além do fato dele estar usando a madrugada para fazer aquele tipo de tarefa, mas era o único momento que tinha para olhá-lo sem ter que se explicar. E Yoongi gostava muito de olhá-lo. Contudo, fazê-lo exigia que Yoongi pagasse, como comprar um ingresso para acessar uma galeria de arte. Hoseok era uma galeria de arte. Cada pedaço seu era uma obra que merecia ser apreciada com devida atenção. E ainda que pudesse dizer que já havia memorizado até mesmo o número de veias saltadas em seus braços, Yoongi não se cansava. E o motivo disso é que não tivera chance de tocá-lo.

Exatamente como as obras de artes nas galerias.

Só que bilhões de vezes mais frustrante, porque ele estava ali tão perto. Completamente alcançável e ainda assim parecia haver uma enorme barreira entre os dois. Aquelas escadas nunca pareciam tão longas quanto naqueles momentos em que Yoongi queria descê-las, empurrar Hoseok para dentro de casa e prendê-lo em seus braços.

― Yoongi-ssi? ― Hoseok chamou, tirando o mais velho de seu transe. Yoongi deixou a bituca do cigarro há muito acabado no cinzeiro e pigarreou antes de fazer um som que sinalizava que ele estava escutando. ― Eu vou entrar agora. E você deveria fazer o mesmo, vai acabar pegando um resfriado se ficar aí.

― Ah, tá. Eu vou entrar também.

― Boa noite.

― Boa.

 

Ele entrou, mas não conseguiu dormir mesmo assim. Pensou em pegar o notebook e escrever sobre mais aquela de noite de sono perdida, mas não sentia vontade, mesmo tendo aberto o aparelho. Acabaria matando o personagem de sua história com tanta frustração.

Yoongi era escritor. Pretendia ser, na verdade. Nunca havia publicado nada, além de alguns textos na internet. Gostava de escrever para si. Colocar para fora tudo o que o atormentava ou o alegrava. E desde que conhecera Hoseok, escrevia com muita frequência. Porque transformava todos os sentimentos que inundavam seu peito em relação ao outro em uma história de personagens sem nomes. Não sabia exatamente o motivo, mas talvez um dia pudesse superar a existência de Hoseok e ler todo o seu amor por ele fosse uma boa lembrança, no futuro. Naquele primeiro momento, era só um alívio mesmo.

Tudo o que fez foi largar-se na cama, fitando o teto, esperando o sono. Poderia dormir até mais tarde no dia seguinte, já que não teria nem que aparecer no trabalho. Graças a Deus, havia conseguido terminar todo o seu trabalho na sexta.

Quando finalmente pegou no sono, o dia já estava claro. A luz adentrando pela fresta que deixava na janela. Seu quarto/sala era muito quente e o ventilador estava quebrado. Puxou o cobertor até o topo da cabeça e virou-se para a parede, pronto para enfim afundar-se nos braços de Morfeu. Até escutar uma batida tímida na porta. A estranheza daquele gesto era enorme. Levando em consideração que não esperava nenhuma visita e que o portão estava há um lance de 23 degraus dali, só podia ser uma pessoa batendo em sua porta.

Colocou-se de pé rapidamente, ajeitando os cabelos negros para longe da testa. Girou a maçaneta sem nem mesmo pestanejar ou perguntar algo. E era ele, Hoseok. Exibindo o tronco nu, expondo a tatuagem de notas musicais que tinha perto dos ossos do quadril no lado direito. Havia alguma coisa escrita um pouco acima, na lateral, sobre os ossos da costela, mas Yoongi nunca conseguiu decifrar a letra cursiva daquela frase. Os cabelos ruivos brilhavam ao sol que já estava a pino no céu, mas não o seu sorriso, que estava escondido atrás da linha fina que era seus lábios repuxados em um dos cantos, em um esboço de sorriso. Yoongi imaginou que ele tentava segurar o riso devido a aparência do zumbi a sua frente, mas antes que pudesse se perder em seus próprios pensamentos, notou que ele tinha uma xícara nas mãos. E só o fez porque Hoseok a ofereceu.

― O que é isso? ― Yoongi perguntou, mas já tinha a xícara nas mãos.

― Chá preto. ― Hoseok respondeu simplesmente. ― Como você disse que estava sem sono, imaginei que um pouco disso fosse te animar. Me ajuda quando eu não durmo bem, porque eu não bebo café.

― Ah. ― Yoongi fez. Bebeu um gole do chá apenas para esconder o sorriso que queria aparecer. Tão infantil de sua parte, mas não podia evitar a alegria de saber que o outro esteve pensando, mesmo que por um breve momento que fosse, em seu bem-estar. ― Obrigado.

Yoongi deu mais alguns goles no líquido sob o olhar atento e sempre gentil de Hoseok. Seus olhos foram para o céu nublado que ele podia ver por cima dos ombros de Hoseok.

 Sua mente trabalhava em diversas possibilidades naquele curto período de tempo. Baixou a xícara e tornou a fitar o ruivo.

― Acho que vai chover...

― Sim, eu vi na previsão do tempo quando acordei. ― Hoseok suspirou, olhando para o alto. Yoongi quase sorriu, já sabia que o outro não gostava de dias chuvosos.

― Vai fazer alguma coisa hoje?

― Não sei ainda. ― Hoseok respondeu dando de ombros, tornando a baixar os olhos.

― Vamos almoçar juntos? ― Yoongi sugeriu e começou a morder o lábio inferior.

Hoseok começou a ponderar sobre a oferta, fazendo Yoongi perguntar-se se ele estava escolhendo uma mentira para dispensá-lo.

― Comida italiana? ― Hoseok respondeu.

― Isso é um sim? ― Yoongi rebateu um tanto surpreso. Hoseok não passou recibo:

― Eu sei fazer lasanha. ― Ele riu. Yoongi sorriu e concordou.

Combinaram de irem juntos comprar os ingredientes. Como a receita exigia um pré-preparo nem não curto, decidiram que era melhor ir o quanto antes no supermercado. Só quando estava trocando suas roupas que Yoongi soube que já era quase meio-dia.

A tal chuva veio, de fato. E nenhum dos dois lembrara-se de pegar um guarda-chuva. Yoongi e Hoseok trocaram olhares enquanto a chuva caía como uma cachoeira do lado de fora do estabelecimento. Os dois tinham as mãos cheias de sacolas quentes, isso porque optaram por comprar comida pronta na rotisseria do mercado. Estava tudo bem embalado, então a preocupação dos dois eram com suas próprias cabeças. Não estavam tão longe de casa para pegar um táxi, entretanto. Acabaram parados na porta do mercado por muito tempo até Hoseok suspirar evidentemente rendido e olhar para Yoongi uma vez mais:

― Vamos correr?

― O quê? ― Yoongi realmente não estava interessado em enfrentar aquele aguaceiro todo.

Contudo, antes que pudesse piscar, Hoseok já tinha tomado a frente, afundando o tênis na água que corria no meio-fio da rua. Yoongi não pensou, apenas correu atrás do outro tentando não pensar muito. Mas era impossível não se importar com a água gelada tomando cada centímetro do seu ser em um tempo recorde. Ele não gostava da água gelada em sua pele, da sensação do tênis inundado, da jeans pesando. Pensou no celular em seu bolso, dos documentos na carteira. Realmente queria chutar Hoseok. Mas ele tinha pernas longas, já estava muito na frente. Por causa da torrente de água, Yoongi mal podia ver um palmo na frente do nariz.

Hoseok o esperou no portão de casa, segurando-o aberto.

― Aqui. ― Ele disse, tomando a frente de novo e destrancando a porta de sua casa.

Yoongi deu a si mesmo um momento para recuperar o fôlego enquanto escutava a risada de Hoseok ecoando pela cozinha. Ele pegou as sacolas da mão do mais velho e Yoongi viu quando ele as deixou sobre a mesa do cômodo antes de voltar para perto do outro, que estava recostado na parede, exatamente ao lado da porta.

Hoseok livrou-se das roupas, ficando apenas com sua cueca boxer. Yoongi ainda estava meio zonzo por causa da corrida para perceber alguma coisa – isso porque aquele fora o máximo de esforço físico que fizera em meses -, até que Hoseok estivesse exatamente a sua frente, puxando a camiseta preta para fora de seu corpo.

― Você está molhando meu chão inteiro. ― Ele disse, mas não parecia chateado com isso. Não quando havia um sorriso tão grande tomando seus lábios.

Yoongi ajudou-o a livrar-se da peça. Mas parou-o quando seus dedos foram para o botão de sua jeans. Seus dedos gélidos fecharam-se ao redor dos pulsos alheios enquanto fitava-lhe os olhos. Não deveria deixar que aquela tensão tomasse conta de seu corpo. Já havia visto o corpo de Hoseok antes, claro. Contudo, era diferente olhá-lo da sacada e vê-lo agora, perto o bastante para que suas respirações descompassadas pudessem se cruzar. Ele não sabia o que estava fazendo, o quanto era perigoso para a sanidade de Yoongi que seus dedos estivessem tão próximos.

Não eram amigos. Conversavam aqui e ali por casualidade ou falta de opção. Nada longo ou profundo, nada que pudesse justificar os sentimentos de Yoongi. Talvez ele fosse algum tipo de psicopata. Mas a curiosidade, o desejo, foram os motivadores de tudo o que acontecia em seu peito. Ele não sabia nomear. Talvez passasse agora que Yoongi sabia qual era a sensação de sua pele sob seus dedos. Talvez crescesse depois daquele momento.

Yoongi estava com medo.

Mas ainda assim segurava-o enquanto via sua expressão sorridente dar lugar a surpresa. Hoseok tentou recuar as mãos murmurando desculpas, mas Yoongi resistiu. Hoseok insistiu e ele soltou. Mas não deixou que se afastasse. Suas mãos o seguraram pelo quadril e puxaram contra seu corpo.

― O que você está fazendo? ― Hoseok questionou em uma voz trêmula, contudo o corpo estava estático contra o do mais velho.

Yoongi não respondeu. Deu-se conta do que estava fazendo e soltou-o. Sem explicações, voltou para a chuva, buscando o rumo de sua própria casa, sem nem mesmo lembrar-se da camiseta esquecida no chão.

 

Enquanto tentava se afogar na água quente do chuveiro, Yoongi não sabia se estava mais constrangido ou com ódio de si mesmo. Nem havia tentado nada ainda e já havia estragado tudo. Ele era mesmo uma ruína quando se tratava de relacionamentos, Hoseok não era exclusividade. Todas as vezes que Yoongi se apaixonara, salvando um relacionamento que deu certo, sempre terminava de forma trágica antes mesmo de começar. Estava decidido, ele não queria ver o rosto de Hoseok nunca mais. Talvez até mesmo começasse a planejar sua mudança assim que criasse coragem para sair do chuveiro.

Por estar tão distraído com seus próprios pensamentos, Yoongi não escutou quando Hoseok bateu na porta. Sem obter resposta e também sem escutar o ruído do chuveiro, Hoseok abriu a porta e adentrou a casa a passos tímidos, chamando baixinho por Yoongi. Só quando entrou no segundo cômodo da casa que notou que o outro estava no banho. Estava pronto para girar nos calcanhares e voltar para a sua casa quando seus olhos caíram sobre o notebook de Yoongi sobre uma pilha de livros. Lembrou-se de quando ele comentou sobre escrever uma coisa ou outra. Nunca concordara em mostrar nada, alegando que tinha seus motivos. Só então Hoseok percebeu o quanto estava curioso para ler algo da autoria de seu vizinho.

Ele sabia que era errado, mas confiando que poderia sair correndo assim que escutasse o chuveiro sendo desligado, Hoseok aproximou-se do computador e ligou-o. Deparou-se com o acesso livre, sem senhas para barra-lo. Imaginou que, por viver sozinho, Yoongi não sentia necessidade de ter uma senha ali. Fuçou por um momento na pasta de arquivos até se deparar com algo curioso, um arquivo nomeado de aquele cara.txt. Parecia diferente dos outros cujos nomes pareciam apenas nomes de músicas, algumas que Hoseok conhecia. Ou acreditava que sim. O arquivo rolou até o final de sua paginação, metade da lauda de número 207. Hoseok franziu o cenho conforme seus olhos corriam pelo último parágrafo escrito:

 

Não tenho mais formas de descrevê-lo. Eu já usei do vocabulário que conheço e o que aprendi depois de algumas consultas a um dicionário de sinônimos e ainda assim não consigo expressar propriamente o quanto ele me deixa louco. Contudo, essa noite eu creio ter atingido um novo nível de loucura. Que ele é lindo, isso eu já cansei de dizer e de saber. Que seu sorriso de covinhas é capaz de iluminar todo o universo que é minha mente, também. Eu só não sabia que ele também podia me colocar me chamas. De dentro para fora. Sequer o vi esta noite, mas escutei-o chegando em casa. Estou feliz por ele estar bem. Ou espero que ele esteja. Entretanto, não o ver só fazia minha mente trabalhar avidamente sobre as lembranças de seus traços enquanto eu tentava dormir. Eu podia trazer bem para a frente das minhas pálpebras fechadas a imagem dele. Mas hoje não era o seu sorriso que me fazia estremecer. Sem que percebesse, estava pensando nas linhas de seu corpo esguio, em qual deveria ser a sensação da sua pele ligeiramente queimada de sol, se aquelas tatuagens em seu tronco teriam algum alto-relevo sob meus dedos, se seus lábios seriam quentes contra os meus, se nossos corpos se encaixariam e se ele gemeria manhoso se eu o penetrasse. E então eu estava me masturbando, pensando naquele cara da casa debaixo. E era a primeira vez que eu fazia isso.

 

Hoseok tinha a garganta seca quando terminou a leitura. E os lábios entreabertos em um pequeno “o” enquanto tentava levantar o mais silenciosamente que podia fazer. Estava claramente surpreso ao reconhecer-se naquela descrição. E tamanha era sua surpresa que ele acabou esbarrando na perna da mesa da cozinha, fazendo alguns potes que estavam sobre o tampo caírem com um enorme estrondo. Hoseok não sabia se deveria correr ou ficar para arrumar sua bagunça. E aquele minuto de confusão foi o bastante para que um Yoongi assustado aparecesse no cômodo, com uma toalha enrolada na cintura e água escorrendo dos cabelos negros para o tronco pálido. Hoseok arfou ao seu pego.

― Desculpa. ― Disse, corando até a raiz dos cabelos para então começar a organizar sua bagunça.

Yoongi estava verdadeiramente confuso. Mas tudo o que fez foi voltar para o outro cômodo, para procurar algo para vestir. Foi quando notou a tela acesa do notebook. Seu coração falhou uma batida. Associou mais rápido do que conseguiu processar que Hoseok estar ali e parecer tão sem graça só podia ter uma motivação. Ele mesmo sentiu as bochechas corando ao pensar as últimas coisas que havia escrito. Depois de ter trocado a toalha por um conjunto de moletom qualquer, Yoongi fez menção de voltar para a cozinha. Mas Hoseok teve a mesma ideia e os dois se esbarraram no batente que dividia os dois cômodos.

― Sou eu ali? ― Hoseok perguntou sem rodeios, fazendo Yoongi recuar alguns passos até estar no meio do cômodo que não era tão grande.

Yoongi mordeu o lábio inferior por um breve momento até decidir falar: ― Sim.

― Você pensa em mim desse jeito ou só me usou de inspiração para um personagem?

Yoongi franziu o cenho perante àquela pergunta. Hoseok sabia a resposta, ao que presumia, mas ainda assim estava dando a Yoongi uma chance para escapar.

― Tudo o que está nessas páginas é sobre você. Sobre como eu me sinto a seu respeito. ― Yoongi confessou, optando por não mentir nada, já que estava enfrentando seu segredo. Já estava pensando em se mudar, de toda forma, então não parecia mais interessante tentar manter as aparências.  ― Uma pena que você só tenha visto a última parte. ― Deu de ombros.

― Esse arquivo é muito grande. ― Hoseok apontou, virando a cabeça para a tela ainda acesa, confirmando o número de páginas.

― Ponderações. ― Yoongi suspirou. ― Nós quase não nos vemos e nos falamos menos ainda, então eu só posso imaginar como são os seus dias com os fragmentos de informação que sei sobre você.  E assim eu vou escrevendo sobre meus pensamentos. Eu construí você com ponderações, Hoseok. ― Ele abriu um pequeno sorriso nos lábios finos, achando graça de suas palavras. Porque era verdade. ― Eu não conheço você e te desejo como louco. ― Continuou, aproximando-se do outro dois dos passos que havia recuado anteriormente. ― E te peço desculpas por isso. Não sei, mas desde a primeira vez que eu te vi que eu sinto essa vontade doida de conhecer-te, ter-te para mim. E não é culpa sua. Você nunca fez nada, eu que devo ser maluco mesmo, por deixar as coisas irem tão longe. Mas eu não posso mais evitar. Quando eu não estou em casa, quero correr para cá só para ver se você chegou. Estar com outras pessoas não alivia o que eu sinto por você. ― Sua voz era baixa, um tanto trêmula. Yoongi sempre fora terrível em assumir seus sentimentos, mas agora ele não podia parar. Já estava sufocando há tanto tempo que realmente achava que estava perdendo seu juízo.

Estando perto o bastante, seus dedos correram pelos fios ruivos de um Hoseok atônito, cujos olhos esquadrinhavam avidamente o rosto de Yoongi enquanto as mãos estavam fechadas em punho.

― Ainda agora eu olho para você e desejo poder ler teus pensamentos. ― Yoongi retomou, abaixando um pouco mais o tom de sua voz, sustentando o olhar do outro. ― Por que não me diz nada? Pode gritar comigo, pode ir embora e nunca mais falar comigo.

Hoseok hesitou por um momento, deixando-se concentrar apenas nos afagos que Yoongi deixava em seus cabelos, seus dedos descendo para sua nuca aqui e ali.

― Eu quero escutar mais de suas ponderações. ― Hoseok respondeu por fim, no mesmo tom baixo do mais velho.

Yoongi abriu um sorriso mínimo.  Sabia o que Hoseok esperava ouvir, mas não o daria aquilo. Ele já deveria ter tirado algumas conclusões pelo o que havia lido. Yoongi precisava que ele soubesse de mais do que isso. Deixou seus dedos caírem para as mãos dele, entrelaçando seus dedos juntos. Aproximou-se o bastante para encostar sua testa na dele. Viu Hoseok fechar os olhos e fez o mesmo. Roçou a ponta de seu nariz na dele, em um carinho, feliz que o outro estivesse dando aquela pequena liberdade.

― Eu acho que você é a pessoa mais animada que eu vou conhecer na vida. ― Yoongi começou, sua voz era sussurro e seu hálito fazia cócegas no nariz de Hoseok. ― E eu não sei se isso é uma coisa boa, porque eu sou realmente o oposto disso. ― Ambos riram.  ― Eu notei isso não só por causa do seu hábito de limpar a casa de madrugada e dormir até mais tarde no domingo, mas pelas músicas que você canta quando está fazendo suas coisas. Acho que você não percebe quando se empolga, por estar de fones.

― Desculpa. ― Hoseok sussurrou entre risadas.

― Você é organizado. Metódico, eu diria. Eu percebi isso pela forma que você pendura suas roupas no varal. Blusas em um varal, calças no outro... Você nunca pendura suas cuecas no quintal, tem medo que alguém as veja?

Hoseok tornou a rir. ― Penduro de dia, quando você não está. Não queria que você conhecesse minhas peças íntimas, poxa.

― Agora estou curioso.

Os dois riram, de novo.

― O que mais?

― Você tem medo de coisas sobrenaturais. ― Yoongi disse isso entre risos.

― Como você sabe?

― Teve um dia que nós estávamos assistindo ao mesmo filme na televisão. O fantasma apareceu na minha televisão e eu escutei você gritar de susto.

― Isso pode ter sido coincidência. Eu também não gosto de baratas. ― Hoseok defendeu-se.

― Você gritou “Menina do caralho! Eu falei para não abrir essa maldita porta!”. Então eu percebi que era o mesmo filme.

Yoongi riu, mas Hoseok não.

― Eu acho que sua cor favorita é verde. E que você gosta mais de cerveja do que de soju. Você tem muitos amigos, porque está sempre respondendo mensagens no celular e rindo para a tela. E você sai com eles todo fim de semana. Um tal de Namjoon sempre te dá carona, porque eu te escuto gritando “Namjoon-ah, obrigado!”, antes de bater o portão. Você é muito barulhento também.

Além de sentir as bochechas corando, Hoseok percebia que estava encantado. Não imaginava que alguém poderia prestar tanta atenção em si. Não imaginava que aquilo poderia causar um sentimento bom em seu coração, mais do que assustá-lo, por nunca ter percebido a quantidade de interesse que Yoongi nutria por si. Sem mencionar que era assustador que ele fosse tão bom em presumir coisas, já que suas respostas eram precisas.

― E o que você quer de mim, me contando tudo isso?

Yoongi pensou a respeito antes de responder: ― Já que você não vai sair correndo, eu quero almoçar, como havíamos combinado. 


Notas Finais


Quando a ideia apareceu, eu não sabia que casal seria. Pensei em Jikook, Sugamon, Vhope. Vhope parecia bom, mas Taehyung não parecia se encaixar tão bem quanto o Hoseok. Então pensei em Namjoon, Jimin, Jin e Yoongi. Yoongi. Parecia perfeito. E foi. E só me fazia me lembrar de uma yoonseok shipper que é muito especial para mim.


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