História I'm still here - One- The dark past

                            Emily

A turbulência do avião era tão forte que quase vomitei ali mesmo. Eu estava viajando sozinha para a casa da minha tia, na França. Depois de ser expulsa da minha antiga escola por me meter em briga com uma garota que xingou os meus pais, estaria me mudando para um colégio chamado de Sweet Amoris. Sinceramente, que nome ridículo para se dar para um colégio. Me endireitei no banco, como se isso fosse ajudar com a ânsia de vômito. Tentei dormir, mas a turbulência agitava a minha mente também. Senti uma lágrima escorrer pelo canto do meu olho ao me lembrar da morte do meu avô. Ótimo, mais uma pessoa perdida na droga da minha vida. Respirei fundo e deixei o sono me levar.

                        Flashback ON

Minha mãe me deu um último abraço, sorrindo.

-Entre, querida.- pediu ela, apontando para o closet.

-Por que, mamãe? O que vai acontecer?- perguntei. Eu estava com medo, muito medo. Ela estava assustada também, deu para perceber pelos seus olhos marejados e sua expressão de medo. Ela correu até a janela baixa do quarto e olhou para fora.

-Eles estão vindo. Entre rápido!- ela me empurrou para o closet.-Eu te amo, querida. Não faça nenhum barulho. Pode fazer isso por mim?

-Sim, mamãe.

Ela bateu a porta com força me deixando no escuro. Ouvi o baixo clique da chave trancando a porta por fora. Tentei sair, já estava passando mal. O armário era muito abafado. Então começou. Primeiro os barulhos da porta da frente sendo arrombada e depois os gritos desesperados da mamãe, do papai e de alguns homens. Comecei a chorar baixinho, abraçando os joelhos. Eu queria sair e ajudar a mamãe, mas a porta estava trancada. Queria gritar, pedir para que parassem, mas ela pediu para eu ficar quieta. Depois de um tempo os barulhos e gritos pararam, e aí veio o completo silêncio. Comecei a ver coisas na escuridão, monstros querendo me atacar. Os monstros que mataram a mamãe. Eu podia sentir que ela estava morta. Não consegui chorar. Não consegui mais respirar. O closet ficou mais escuro até eu não conseguir ver mais nada.

                                  ***

Uma moça vestindo uma roupa estranha me acordou. Ela era bonita. Tinha a pele escura e os cabelos castanhos. Tentei me levantar para perguntar da mamãe, mas descobri que estava presa a um fio. Ao redor haviam máquinas e eu estava deitada em uma cama com cheiro de limpeza vestindo uma camisola estranha.

-Cadê a mamãe e o papai? O que você fez com eles?- gritei.

-Acalme-se querida. Nós vamos lhe contar tudo, mas agora você precisa descansar. Você foi encontrada no closet de sua casa desmaiada por insolação. Você estava muito desidratada, então a colocaram no soro. Meu nome é policial Olivia.

-Eu quero ir para casa.- murmurei, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.

-Sua casa é uma cena do crime, você não pode voltar, eu sinto muito. Descanse.

Um homem vestindo roupas esverdeadas veio e colocou algo no meu soro, me fazendo perder a consciência novamente.

                      Flashback OFF

-MAMÃE!

Ao acordar, percebi que todos no avião estavam olhando para mim. Ao perceberem que eu percebi, eles se viraram e fingiram que estavam fazendo algo importante. Revidei os olhos. O mundo não estava de bem comigo no dia. O dia estava perfeito. Céu cinzento, clima de chuva. A paisagem era entediante. Tudo era entediante. Até a comida era entediante. Suspirei e me conformei em olhar para baixo. Não queria pensar no que aconteceu naquele fatídico dia no qual meus pais morreram. Doía muito. Pela mudança dos elementos, presumo que estávamos quase chegando. A cidade começou a aparecer os poucos. Ah, Paris, a terra do amor. Que clichê e ridículo. O avião pousou lentamente no aeroporto, esticando ainda mais o tempo. Fui a primeira a descer, minha tia estava lá me esperando. Ela era muito estranha. Ela tinha um cabelo rosa muito comprido, preso em uma trança-rabo de cavalo e usava uma roupa bem caricata. Era uma blusa social azul, uma calça amarelo limão e uma gargantilha dourada com um pingente de coração  no pescoço e pulseiras iguais nos dois pulsos. Assim que desci, ela me puxou para um abraço que quase tirou meu fôlego de tão apertado.

-Que bom finalmente conhece-la!- disse ela ainda me abraçando.

-E-eu não consigo respirar.- me desvencilhei do abraço antes que morresse de falta de ar.

-Ah, me desculpe querida. Venha, vamos. Você vai adorar Paris.

-É claro que vou.- fui sarcástica, mas ela não percebeu.

                                     ***

Meia hora depois, estávamos no café. Eu estava mexendo meu café forte com a colher, distraída, mas ela puxou assunto.

-Sinto muito pela sua perda.

-Eu não quero falar disso.- disse baixinho. Meu avô não era nada dela, era por parte de pai e ela era irmã da minha mãe. Mesmo ela parecendo sincera, eu não queria conversar com ela sobre isso. Embora fosse minha tia, ela era uma estranha. Nunca a tinha visto em toda a vida.

-Certo, você quer fazer compras? Tem um vestido rosa em uma loja aqui perto que…- ela começou, mas eu a interrompi.

-É... eu não estou com muito clima para isso.- ao ver o rosto de decepção dela, suspirei- Mas nós podemos ir amanhã.

O sorriso dela voltou. Eu sabia que ela estava tentando ser legal, mas eu ODIAVA compras. Muito menos rosa. Eu estava de suéter preto, uma calça jeans e um all star gasto preto que customizei colocando umas estrelas vermelhas do lado. Meu cabelo era curto e eu havia pintado de roxo, mas desbotou ficando um rosa bem clarinho. Estava meio claro que eu não gostava dessas coisas, mas eu sorri de volta, tentando agrada-la.