Estava frio. Muito frio.
Frisk seguia atrás do Boboneco por um caminho completamente coberto de neve com árvores de ambos os lados o que impedia qualquer pessoa de desviar-se da estrada completamente exposta. A idosa estava feliz por trajar roupas aquecidas, mas apesar delas, o frio intenso penetrava-a quando ela respirava, o que fazia-a tossir o tempo inteiro.
Logo chegaram diante de uma ponte de madeira com largas barras construídas sobre elas. O boneco não hesitou em passar pela estrutura em momento algum, o que obrigou a senhora a segui-lo, a pesar de temer o que estava por vir.
Quando ela pisou na ponte, uma voz conhecida elevou-se às suas costas, assustando-a.
— Não acha que a senhora está bem velhinha para querer novas aventuras?!
Era o esqueleto que havia ajudado Frisk quando ela fora perturbada pelos guardas. A idosa queria muito falar com ele, dizer que eles se conheciam, mas como ela poderia se a maldição de Gaster não lhe permitia dizer nada?
Depois de alguns segundos, ela anunciou: — Pode não parecer, mas existe uma moça pronta para mais novidades por baixo dessas rugas.
Frisk esperava que ele entendesse o que ela queria dizer com aquelas palavras, mas tudo o que ele fez foi rir e anunciar: — Olha... Creme rejuvenescedor existe, mas o nome não é milagre! A senhora tem uma pele boa, mas vamos concordar que os anos passaram e você deixou de ser mocinha faz tempo.
Frisk sentiu-se murchando como uma flor que ficou tempo demais ao sol. Seu plano não havia dado certo e ele ainda não estava sendo nenhum pouco gentil com ela o que a irritou profundamente: então aquele esqueleto só sabia ser um “cavaleiro” com jovens mulheres?
A idosa apertou o casaco azul com seus mantimentos e aproximou-se do esqueleto, batendo nele com a trouxa até que estivesse tossindo muito por causa do esforço físico.
— Ei, vovó, cuidado aí ou você vai acabar tendo um infarto. — O esqueleto brincou, o que lhe rendeu mais umas pancadas da trouxa.
O monstro não se importou com os “ataques” da senhora: fosse o que fosse que ela carregava dentro daquela trouxa, não era pesado o suficiente para machucá-lo e ver a idosa irritada lhe era estranhamente divertido.
— Você não sabe mesmo tratar uma bela dama! — Frisk bufou, dando-lhe as costas — Vou procurar alguém que saiba dar valor à uma verdadeira alma jovem por minha própria conta.
— Ok, faça o que quiser, mas cuidado para não quebrar as pernas. — O esqueleto anunciou, rindo quando ouviu a senhora bufar e resmungar alguma coisa consigo mesma. Por fim, o sorriso do monstro desapareceu quando ele informou — Se eu fosse a senhora, voltaria lá pro lado dos humanos, porque aqui são os monstros rebeldes que dominam e capturar uma velha frágil como você vai ser a coisa mais fácil do mundo.
Frisk virou-se assustada, mas o esqueleto não estava mais ali. Uma sensação de temor a encobriu, mas ela teve de seguir em frente, pois o boneco de treino começou a pular sem parar do outro lado da ponte.
— Calma, calma! — A idosa anunciou cruzando a estrutura de madeira no meio da ponte — Como você é impaciente. Eu já estou indo!
Passaram por uma cabana que parecia um pedágio, ou uma casa de vigia e enquanto Frisk estava examinando um abajur que tinha o formato do contorno de seu corpo, passos foram ouvidos e ela paralisou.
— OH! AÍ ESTÁ VOCÊ, BONECO! — Uma voz extremamente conhecida pela idosa elevou-se no ar — VIU ALGUM HUMANO POR AQUI?
— Papyrus... — Frisk sussurrou, sem sair de trás de seu esconderijo.
Não houve resposta por parte do boneco de treino o que fez o grande esqueleto resmungar consigo mesmo: — CERTO... FIQUE DE OLHOS ABERTOS E ME AVISE SE ALGUM HUMANO PASSAR POR AQUI!
Como o boneco ainda permaneceu calado e imóvel, Papyrus murmurou: — VOCÊ QUER SABER PORQUE VOCE NÃO PODE CAPTURAR O HUMANO? HORAS, VEJA BEM... É MELHOR ASSIM, ENTENDE? VOCÊ NÃO TEM FORÇA OU PODER O SUFICIENTE PARA CONSEGUIR AGUENTAR A REVOLUÇÃO.
Papyrus pareceu achar que o monstro à sua frente havia discutido com ele, embora o outro tenha continuado do mesmo jeito de antes, porque ele imediatamente retrucou: — SE EU TENHO FORÇA PARA ENTRAR NA REVOLUÇÃO?! MAS É CLARO QUE EU, O GRANDE PAPYRUS, TENHO A CAPACIDADE DE CAPTURAR UM HUMANO E SER RECONHECIDO COMO UM BOM GUERREIRO! EU SOU FORTE E NENHUM HUMANO NUNCA PASSARIA POR MIM COM SEUS TRUQUES! É POR ISSO QUE É MELHOR VOCÊ DEIXAR O HUMANO PARA MIM, ESTÁ BEM? E SEM MAIS DISCUSSÃO!
E sem dizer mais nada, o esqueleto deu às costas ao monstro e seguiu em frente, orgulhoso de si mesmo. Passou um tempo de silêncio e o boneco de treino quicou na neve, indicando a Frisk que ela podia sair.
A humana aproximou-se do Boboneco cautelosamente e depois de olhar atentamente o caminho que Papyrus havia feito, ela inquiriu: — Você por acaso não é um dos caras maus que querem me capturar, certo?
O monstro ficou algum tempo parado e então, seguiu em frente pulando sem parar o que fez a idosa apressar um pouco o passo para conseguir alcançá-lo.
— Agora eu tenho a chance de estar sendo enganada por boneco de treino... — Frisk murmurou consigo mesma, observando os pulinhos que o outro dava e então ironizou — Parece que a sorte está mesmo do meu lado.
Seguiram por um caminho que parecia estar livre de qualquer armadilha, mas a quantidade de monstros com os quais eles esbarraram era simplesmente espantosa. Várias das criaturas saíram correndo apavoradas ao verem um ser humano à sua frente, mas algumas outras pareceram achar que Frisk seria uma velha bobona e por isso insistiam em atacar.
Para sua sorte, o Boboneco estava ali para defendê-la: como ele era apenas um boneco de treino, nenhum dos ataques que ele recebia podiam machucá-lo de verdade.
— Você está mesmo bem, Bobo? — Frisk inquiriu, observando um rasgado no corpo do monstro — Quer dizer... Não quero que você se machuque dessa forma só porque você quer me defender... Eu estou bem, não precisa fazer isso...
Como resposta, o boneco colocou-se à frente da humana, recebendo um ataque que Frisk nem vira de onde viera.
— Fica frio! — O monstro que atacara riu de sua própria piada ruim.
A idosa estava tão surpresa que inesperadamente começou a rir também, o que alegrou o Snowdrake, que saiu saltitando para longe alegremente.
— Você está bem? — Frisk examinou o boneco que apenas seguiu em frente pulando — Vou considerar isso como um sim.
Mais à frente, a humana e o monstro tiveram a agradável surpresa de encontrar-se com Papyrus novamente. O esqueleto vinha caminhando na direção contrária à deles e assim que os viu, arregalou as órbitas e virou-se para uma árvore na beira do caminho como se estivesse pensando no que dizer e inesperadamente deu-lhes as costas.
Frisk lançou um olhar para o boneco de treino no exato momento que o esqueleto virou-se, apontando para ela como se tivesse um grande discurso para fazer, mas acabou por desistir e virou de costas para a dupla novamente.
Essa cena se repetiu até a humana rir e engasgar-se por causa do frio, tendo um acesso de tosse. Papyrus virou-se para eles uma última vez, mas parecia estar um pouco tonto, pois apontou para o Boboneco e gritou: —VOCÊ É UM HUMANO!
— Na verdade... Ele é um boneco de treino — Frisk ainda tossia — Eu o chamo de Boboneco, ou Bobo.
— OH... MIL PERDÕES EU ME CONFUNDI... — O esqueleto deu às costas à dupla e seguiu andando.
A senhora, no entanto, não conseguiu ficar de boca calada ao ver seu amigo indo embora: — Ah, mas... Eu sou humana. Uma humana bem velha mas...
— UMA HUMANA! — Papyrus voltou-se apontando para Frisk dessa vez — BONECO, VOCÊ REALMENTE ME TROUXE UM SER HUMANO! EU FINALMENTE CONSEGUI!
— O jovem esqueleto não sabe que não é educado apontar o dedo para a cara das outras pessoas? — A humana inquiriu, achando graça.
— OH, EU SINTO MUITO! — Papyrus baixou a mão — NÃO FOI MINHA INTENÇÃO TE OFENDER, SOU GRANDIOSO DEMAIS PARA TAL COISA!
— Ah sim, tenho certeza que é!
Papyrus pareceu chocado com a reação da humana, pois desfez a pose heroica e encarou-a sério, anunciando após alguns segundos: — HUMANA... VOCÊ FICOU TÃO ENCADA QUE ESTÁ FLERTANDO COMIGO?!
Frisk piscou. Era óbvio que não era aquilo, mas o esqueleto parecia tão feliz, enquanto murmurava em alto e bom tom “WOWIE! EU JÁ ESTOU FICANDO TÃO POPULAR E NEM FIZ NADA AINDA!” que em vez de negar, ela deu-lhe uma piscadela e anunciou: — Não dá para resistir a um jovem bonitão e descolado como você.
— NYEH HE HE... — Papyrus fez pose e então, quando notou o que realmente estava acontecendo, ele encarou Frisk e anunciou — HUMANA, NÃO CAIREI NOS SEUS ENCANTOS CAPTURADORES DE MONTROS! EU VOU TE CAPTURAR E ENTÃO SEREI EU QUE ENCATEREI OS OUTROS! AHEM... HUMANA, FIQUE AVISADA: VOCÊ NÃO PASSARÁ DESTA ÁREA! EU, O GRANDE PAPYRUS, TE DETEREI E ENTÃO TE CAPTURAREI E VOCÊ SERÁ ENTREGUE PARA O NÚCLEO E ENTÃO... ENTÃO!!! EU NÃO TENHO CERTEZA DO QUE VEM DEPOIS... DE QUALQUER MODO, CONTINUE, SE TIVER CORAGEM! NYE HE HE HE HE
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