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História A Maldição Do Meio Sangue - As noites de neve


Escrita por: OldHunter

Notas do Autor


Foi mal mesmo pelo atraso...

Capítulo 8 - As noites de neve


A Maldição do Meio Sangue

Capítulo 8 -> As noites de neve

[17:30 Itabashi, Tóquio]

O céu estava ficando nublado naquele fim de tarde, toda comoção do ocorrido na ponte havia acabado. Os corpos de 26 e de Grundyr estavam ensanguentados no chão, no entanto, um deles estava se mexendo. O demônio vermelho ainda estava vivo, apesar de extremamente ferido, ele ainda tentava se mexer.

- Ugh… Ahh… Aquele… miserável! - Reclamava Grundyr.

Ele estava tonto e sua visão escura, seu único objetivo era achar alguma saída daquele lugar. Grundyr procurou ao seu redor e avistou o antigo túnel de saneamento daquele lugar. Com todas as forças ele tentava se arrastar para o túnel, mas algo o alarmou. Havia uma figura saindo daquele mesmo túnel, ela vestia um manto escuro e usava uma máscara negra de metal que imitava a cabeça de um corvo com olhos vermelhos. A figura andou na direção do corpo de 26, ignorando Grundyr.

- Ei… Quem é você!? - Perguntou Grundyr.

A figura olhou para o cadáver no chão e continuou a ignorar Grundyr.

- Eu te fiz uma pergunta! - Grundyr insistiu.

A figura se virou e caminhou até Grundyr.

- O que aconteceu com vocês? - Perguntou a figura misteriosa, sua voz era abafada pela máscara, mas parecia ser de um jovem.

- Me responde! Quem é você?! - Disse Grundyr.

- Ah! Me desculpa, eu esqueci de te avisar que estamos do mesmo lado, eu achei que seria evidente pela máscara. De qualquer maneira, meu nome é Nero.

- Foi a merda da missão que nos deram, aquele garoto maldito! Ele me deixou desse jeito!

- Hum… Ele não estava sozinho, estava?

- Não, havia uma garota com ele. Ela era um anjo também!

- E vocês perderam pra dois jovens anjos…

- O seu amigo ali hesitou demais e acabou sendo morto pela garota, mas eu cuidei dela depois.

- E o garoto? Ele que é o alvo afinal.

- Aquele desgraçado… Ele me pegou de surpresa e despertou sua habilidade!

- E qual era a habilidade dele?

- Eu não sei… Ele disparou o próprio sangue em mim!

Nero parou por um momento.

- Aquele desgraçado, quando eu encontrar com ele novamente, eu irei arrancar sua cabeça! - Exclamou Grundyr.

- Hum… Vai arrancar a cabeça dele? - Disse Nero.

Ele pegou o corpo de 26 e começou a carregar ele até o túnel.

- Ei! Você não vai me ajudar? - Perguntou Grundyr.

- Heh… Ajudar? Vocês demônios são uns imprestáveis… - Nero disse com desdém.

- O que você disse!?

- Você quer que eu te ajude? Tudo bem… Eu acho que eu posso te livrar da sua miséria...

De repente o sangue das feridas de Grundyr começou a emitir um brilho vermelho e o mesmo mudou de forma, tornando-se pontiagudo. O sangue se espalhou pelo seu corpo e atravessou sua garganta e seus órgãos vitais. O demônio se contorcia e agonizava de dor.

- Não há misericórdia para inúteis como você... - Disse Nero.

Nero caminhava lentamente para dentro do túnel, deixando apenas o brilho dos olhos vermelhos de sua máscara enquanto desaparecia na escuridão...

[17:45 Apartamento da Rika]

Yuki estava sentado no sofá da sala, lendo o mangá que havia comprado na noite que conheceu Rika. Mesmo depois de terminar, ele relia várias e várias vezes, assim as horas passavam sem que ele percebesse. O ataque de algumas horas ainda perturbava sua mente, aquela luta tinha sido diferente da outra vez contra o 17, ela foi muito mais assustadora. Principalmente pelo fato de Rika ter sido incapacitada daquela maneira.

Seu trunfo também o intrigava, controlar seu próprio sangue, isso quer dizer que ele tinha que se ferir mais ainda a fim de lutar efetivamente. Só de disparar o sangue e de concentrá-lo em seu braço foi o suficiente para que o mesmo se quebrasse, isso era preocupante. Yuki fechou seu mangá e olhou para cima soltando um suspiro… Rika… O tempo de sua recuperação o preocupava...

De repente algo começou a vibrar dentro do bolso de seu casaco, era seu telefone, ele puxou o aparelho para fora e olhou para a tela. Estava tão rachada que não dava nem para ler o nome de quem o ligava, ele deslizou seu dedo com dificuldade e atendeu a chamada.

- Alô? - Disse Yuki.

- Yuki! Por que você não visualizou as minhas mensagens!? - Perguntou uma voz feminina.

- Me desculpe, mas quem tá falando?

- Como assim "quem está falando"? Sou eu, Akane!

- Ah! Oi Akane! Foi mal, é que eu deixei meu telefone cair e a tela rachou toda, eu não consegui reconhecer seu nome.

- Não importa! Por que você não leu minhas mensagens?

- Mensagens? Que mensagens?

- Você não estava com seu telefone em mãos?

- Tá bom! Me desculpa por não ter lido elas, algumas coisas aconteceram hoje. Agora pode me dizer que mensagens são essas?

- É de feliz aniversário! Você não se lembra do dia do próprio aniversário?

- Huh… Hoje é meu aniversário? Tudo bem, obrigado então.

- Típico de você... Aliás, o papai está preocupado com você.

- Sério!? Mas por quê? Eu deixei uma carta para ele dizendo exatamente para não se preocupar comigo!

- Ele disse que você saiu de casa e vai ficar fora por um tempo, é claro que ele está preocupado. E outra, qual o motivo disso?

- Ah! É… O motivo… Bem, eu não posso te dizer.

- Isso é ridículo, onde você está agora?

- Bem… Na casa de uma garota…

- Na casa de uma… Ah! Agora eu entendi!

- O quê?! Não! Espera aí, ela uma amiga minha de escola, não é nada do que você está pensando!!

- Hum… Nada do que eu estou pensando não é? Pode se abrir comigo Yuki, eu não vou contar para ninguém.

- Mas não é nada disso mesmo!!!

- Hehehe… Tudo bem Yuki… Eu só acho que você devia ligar pro papai, dizer pra ele que está tudo bem.

- Eu vou trocar de telefone, tá impossível usar esse aqui.

- Tudo bem, olha, se alguma coisa ruim acontecer, me avisa…

Yuki parou por um momento… Ele se lembrou dos borrões negros que estava vendo, isso fez com que ele voltasse ao seu passado…

Quando crianças, Yuki e Akane viviam em um orfanato, ela era a única que se aproximava dele, enquanto todos o rejeitavam. Naquela época, Yuki conseguia enxergar borrões negros e criaturas esquisitas que cercavam as pessoas, mas ninguém além dele os notava. Akane era a única pessoa que entendia Yuki, então, mesmo sem enxergar essas coisas, se esforçou ao máximo para ajudá-lo a superar isso e ignorá-los. No entanto, havia um problema… Akane possuía arritmia cardíaca e Yuki enxergava isso na forma de uma criatura que apertava seu coração toda vez que ela tinha uma crise. Isso gerou um trauma na mente de Yuki que custou para ir embora.

Após serem adotados por Atsushi e Akemi, Akane recebeu tratamentos médicos e Yuki parou de enxergar essas criaturas por um bom tempo… Agora, depois de seu primeiro encontro com um demônio, essas visões voltaram, e dessa vez tudo está claro… Yuki enxergava demônios. Ele pensava em avisar sua irmã sobre isso.

- Akane… Eu… - Yuki tentava falar, mas as palavras se prendiam em sua garganta.

- O que foi? Pode falar. - Disse Akane.

- Eu… Aquelas coisas… Eu voltei a…

De repente a auréola de Yuki começou a brilhar e Hiruka apareceu em sua visão.

- Yuki! Está aí? - Ele perguntou.

- Waahh!! - Yuki se assustou. - Merda, eu esqueci de tirar o anel!

- Yuki? O que está acontecendo? O que você quer me dizer? - Akane perguntou confusa.

- A-Akane, eu vou ter que desligar! A gente se fala, tchau!

Yuki encerrou a chamada abruptamente e encostou suas costas no sofá.

- Você podia avisar quando for fazer isso! - Ele reclamou.

- Ah, eu te assustei? Me desculpe, eu só queria te avisar que Rika já se recuperou. - Disse Hiruka.

- Ah! Ok, tudo bem! Eu estou indo!

- Ela pediu pra você trazer umas roupas e um agasalho, está nevando lá fora.

- E-Espera! Ela quer que eu mexa nas coisas dela?!

- É só pegar algumas roupas e um casaco! Venha logo.

- O-Ok…

- Fique longe das roupas íntimas…

- O quê?! Pera aí, você acha mesmo que eu…

A auréola parou de brilhar e Hiruka desapareceu da visão de Yuki. "Eu tenho que me lembrar de tirar esse anel", ele pensou. Yuki puxou um casaco preto de sua mochila, o vestiu, pegou as roupas de Rika e deixou o apartamento.

[Algum tempo depois, na Sede Japonesa dos Anjos]

Yuki se encontrou com Hiruka na mesma sala de espera e entregou as roupas de Rika. Hiruka as levou para uma outra sala e depois de algum tempo, ele e Rika voltaram até Yuki. Rika estava usando um casaco de couro marrom com um cachecol vermelho, calças jeans e botas marrons. Ela olhava para si mesma.

- Parece que você ficou um bom tempo escolhendo a roupa pra ela… - Disse Hiruka.

- E-Ei! Não é como se eu… - Yuki disse envergonhado.

- F-Foi uma ótima escolha… - Disse Rika.

- Viu? Ela gostou! - Hiruka falou num tom sarcástico.

Yuki olhou de maneira irritada para Hiruka.

- A ferida se curou completamente, mas você vai ter um pouco de dificuldade para andar até se acostumar com isso. Eu sugiro que andem devagar e admirem a neve. - Disse Hiruka.

- Você não vai me dar uma muleta ou algo do tipo? - Perguntou Rika.

- Bem, eu acho que você não precisa disso, mas se quiser algum apoio, segure a mão de Yuki ou algo assim.

Rika desviou o olhar envergonhada.

- Bom, voltem pra casa e descansem até serem chamados novamente, até mais. - Disse Hiruka.

- Até. - Rika e Yuki falaram em unissom.

Atravessando o corredor, eles pegaram um elevador que os deixou no mesmo shopping de antes. Rika subitamente segurou a mão de Yuki.

- Err… Você precisa de alguma ajuda pra andar? - Yuki perguntou sem jeito.

- Vamos passear um pouco, ok? - Disse Rika.

- O-Ok...

Finos flocos de neve caíam lentamente sobre as ruas e calçadas. A luz da lua era refletida pela neve, enfeitando aquele ambiente cinza e monótono com um espetáculo natural. Rika observava estonteada, Yuki conseguia enxergar o brilho em seus intensos olhos vermelhos.

- Uau! Neve em plena primavera, isso não acontecia há muitos anos não é? - Disse Rika.

- É mesmo, já faz dez anos que isso não acontecia. - Disse Yuki.

Esse fenômeno ocorreu inicialmente há dezoito anos atrás, quando no meio da primavera ocorreu uma pequena tempestade de neve. Ele continuou pelos próximos oito anos, até deixar de acontecer por dez anos seguidos.

Yuki caminhava de cabeça baixa, com sua mão esquerda dentro do bolso do casaco, enquanto a outra segurava a de Rika, sua linguagem corporal tornava seu nervosismo evidente. Rika olhava para todos os lados de maneira descontraída e alegre, emitindo uma positividade contagiante. Os olhares alheios estranhavam o contraste daquela cena, o que apenas aumentava o nervosismo em Yuki.

- É lindo não? - Perguntou Rika.

- Hã, a neve? Esteticamente falando é bonito de se ver, só que… sei lá, eu não gosto muito dela. - Disse Yuki.

- Sério? Mas por quê? Neve é tão agradável.

- Eu não sei direito, acho que ela me faz lembrar de coisas ruins… É irônico... Isso acontece logo no meu aniversário...

- Hoje é seu aniversário?! Por que não me falou?

- Eu não sei… Eu mesmo havia esquecido que era hoje.

- Hum… É uma coincidência enorme nevar no seu aniversário, o seu nome literalmente significa neve.

- Eu não me lembro muito bem, mas minha mãe tinha contado uma história de que o pessoal que cuidava das crianças no orfanato me deu esse nome.

- Olha só, a neve tem muita coisa em comum com você, mas mesmo assim não gosta dela.

- Não é que eu odeie a neve, é só que…

De repente Rika tombou um pouco para frente por causa de suas pernas, Yuki a segurou firmemente, impedindo que ela caísse.

- Ei, você tá bem? - Yuki perguntou preocupado.

- Sim, sim… Só foi um tombo… - Disse Rika enquanto se apoiando em Yuki.

Yuki começou a lembrar do confronto contra Grundyr e 26, o sentimento de culpa perfurava seu coração novamente.

- Vamos nos sentar naquele banco ali! - Disse Rika enquanto apontava para um banco ao lado de um poste. - Vamos descansar um pouco.

Os dois se sentaram no banco, que ficava debaixo de uma árvore. Yuki olhou para Rika, ela estava com uma expressão feliz, como ela conseguia fazer aquilo? Como depois disso tudo ela ainda conseguia sorrir daquele jeito?

- Hã? Por que você tá me olhando desse jeito? - Perguntou Rika envergonhada.

- Ainda dói? - Perguntou Yuki.

- Como assim?

- O ferimento que aquele demônio fez nas suas costas… Ele ainda dói?

- Hã? Não, eu não sinto nada na verdade, o Hiruka resolveu tudo.

- E na hora que aconteceu? Você sentiu dor?

- ….. Pra ser sincera, eu nem me lembro mais…

- Você sentiu medo naquela hora?

- ….. Não…

- Como você faz isso?

- Hã?

- Como você faz pra não ter medo?

- Ah, eu não sei, eu apenas ignoro o sentimento.

Yuki olhou para seu braço esquerdo enfaixado e fechou sua mão com força.

- Você não tem noção de como eu me senti patético... - Yuki disse com um tom pesado.

- Hã? - Indagou Rika confusa.

- Quando eu vi ele fazer aquilo com você... Eu senti vontade de explodir… Você fez aquilo tudo por mim, se sacrificou daquele jeito por mim… Aquilo tinha me fortalecido… Por um segundo eu achei que eu ia conseguir honrar seu sacrifício de maneira justa… Mas depois disso, ele apenas varreu o chão comigo, me chutou como se eu fosse um cachorrinho irritado...

- Você não precisa pensar assim! Aquele era um inimigo muito poderoso até pra mim! Você tem que se orgulhar, afinal de contas, você derrotou ele!

- Isso porque eu despertei o meu trunfo, imagina se eu não tivesse conseguido! Quando ele me jogava de um lado pro outro, esfarelando meus ossos, eu só pensava que ia morrer! Eu estava sentindo a maior dor da minha vida e estava tremendo de medo!

- Ei! Não tem nenhuma vergonha nisso, eles são sempre assustadores de começo, depois de algum tempo você se acostuma.

Yuki respirou fundo.

- Heh… Parece que a vida não gosta muito de mim. - Ele disse brincando.

- Por que você acha isso? - Rika perguntou.

- É até engraçado… Eu não gosto muito de arrumar problemas, nem para mim e muito menos para os outros, e olha só agora... Eu tenho um braço que atrai demônios!

- Ah, relaxa! Eu tenho certeza de que Luther está procurando uma maneira de consertar isso.

- Eu não queria soar ingrato, mas até lá, o que eu faço? Eu digo, o próximo demônio pode ser milhões de vezes mais forte que o de antes! E se eles forem atrás da minha família? - Yuki segurou sua própria cabeça e soltou uma risada nervosa. - Eu estou com muito medo… Eu achei que queria proteger os outros, mas no final… Acho que estava apenas mentindo para mim mesmo...

Rika olhou para Yuki, ele olhava para o chão e seus cabelos cobriam seu rosto. A neve abaixo dele estava úmida, lágrimas caíam de seu rosto.

- Por que eu sempre tenho que ser um problema? - Disse Yuki com pesar.

A luz da lua passava por entre os galhos das árvores, a neve continuava a cair, tornando-se um lembrete de seu passado. Naquela mesma situação, Yuki chorava, a luz atravessava as folhas… sangue na neve… tristeza… e as vozes… "Você fez isso!"… "Fique longe"… "Aberração!".

Todo aquele sentimento, envolto à neve fria que caía sobre sua cabeça. Naquela época, Yuki estava sozinho... Lembranças que ele pensou que haviam desaparecido, voltavam à tona… Mas agora… Ele não estava mais só. Algo o envolvia, algo quente, o afastando do frio solitário da neve. Yuki abriu seus olhos, Rika o envolvia em seus braços com um forte abraço.

- Eu entendo como se sente… Mas nem tudo ao seu redor é ódio. - Ela disse.

Rika sentia simpatia pelos sentimentos de Yuki, ela sabia como era aquela sensação, isso a deixava confortável perto dele.

- Nem todo mundo te odeia, Yuki… E… Você não é um problema pra mim… Eu estou aqui para te ajudar, desde o começo... Não importa o tamanho do próximo problema, nós vamos resolver juntos, ok?

As palavras de Rika o tocaram profundamente, elas transmitiam um sentimento de conforto e segurança.

- Obrigado, Rika. - Ele disse enquanto enxugava suas lágrimas. - Me desculpa por isso, eu devo ter parecido um mané chorando desse jeito…

- Ah, pare de se desculpar… Eu já sei, vamos tomar um café ou comer alguma coisa, pra melhorar o ânimo. - Ela disse de maneira descontraída.

- Heh… Você que manda.

Os dois deixaram o banco e partiram para a cafeteria. Yuki se sentia mais confortável com a presença de Rika, era como se sua mente descansasse de tudo aquilo.

Quem diria… uma boa noite de neve…

Continua…


Notas Finais


Obrigado por ter lido, espero que tenha gostado! Se quiser, comente com a sua opinião! Até a próxima!


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