História A Marca Negra - O Beco Diagonal

-CAPÍTULO UM-

O Beco Diagonal

"Você está ansiosa...?"

Rita olhou para a irmã.

"Acho que a minha cara já responde!"

Rita estava angustiada. Muita coisa havia acontecido nos últimos dois meses, a começar pelo homem inglês que havia feito uma visita a família em Lisboa. Com a cara mais cínica do mundo e um pedaço de madeira na mão, ele chamou ela e sua irmã, Lívia, de bruxas.

A não ser pelos xingamentos e palavrões que se seguiram logo após o fato, ele conseguiu finalmente explicar tudo depois que o Sr. e a Sra. McCurdy tiraram Rita das costas do homem ("bruxa é a sua vó, infeliz!").

Segundo ele, há séculos haviam bruxos vivendo entre nós. Sim, bruxos, e eles tinham uma vida tão normal quanto a vida das pessoas normais, e não, não comiam crianças como se dizia nos contos antigos. A única diferença desses dois mundos, era o acréscimo de magia.

Foi difícil acreditar, mas depois de demonstrações, Rita e Lívia acreditaram mesmo serem bruxas, afinal, assim como o mesmo homem falara, era de praxe acontecerem coisas estranhas ao redor de crianças bruxas quando estas se sentiam tristes, com raiva e até desesperadas, e Rita e a irmã lembravam bem de quando ela mesma imaginara o professor de cálculo pendurado no ventilador de teto, logo após uma discussão, e aquilo, inacreditavelmente, ocorrera.

Agora, ambas as garotas deveriam ingressar numa escola de magia localizada na Inglaterra.

"O certo seria vocês estarem indo para a escola francesa, seu pai é inglês, e vocês nasceram na Inglaterra, então é Hogwarts" O homem falou.

"Hogwarts?"

"Sim! A melhor escola de magia do mundo..."

Elas creram em tudo aquilo. A partir daquele momento, tudo iria mudar para toda a família.

"O que o homem disse?" Lívia perguntou para a irmã com uma das mãos à boca, provavelmente roendo o resto de unha que ainda tinha.

"Era pra a gente esperar nesse bar... Você já se esqueceu?" Rita discorreu olhando feio para ela.

A porta se abriu, mas em vez do homem a quem tanto esperavam, apenas a mãe das garotas entrou carregando uma caneca fumegante com um líquido amarelado. 

"Esse negócio é bom!" Ela falou lambendo um pouco de espuma que formava um bigode acima de sua boca.

"O que é?" 

"Cerveja com manteiga... acho que é isso..."

"Mãe o que vamos fazer agora?" Rita falou impaciente.

"Esperar o Sr. O'Brien, ele disse que quando o seu pai fizesse o câmbio no banco, ele viria nos chamar! Espero que os euros possam cobrir!"

Rita caminhou por todo o quarto úmido, a madeira rangia sob seus pés. Sua irmã, esperava sentada na cama já roendo as unhas da outra mão, nenhuma delas não aguentava de ansiedade.

Lívia pediu pela décima quinta vez, sua carta para ver. Havia chegado junto com o Sr. O’Brien, era ela que além de ter a lista de material escolar que seria comprado logo mais, comprovava de fato, a vaga em Hogwarts.

"Santo Agostino! Bruxas! Eu não esperava!" A mãe das garotas murmurou terminando o resto da bebida que tinha em mãos.

Alguém bateu na porta, imediatamente, as meninas se animaram. Lívia saiu da cama e arrumou suas vestes enquanto Rita dava uma última olhada no espelho.

"Sr. O'Brien, Bom dia!" Falaram quando o homem de capa negra entrou no cômodo

"Bom Dia Sra. McCurdy, as garotas estão prontas...?" Perguntou calmamente.

Quase que em uníssono, as garotas responderam: "Sempre!"

Era muito difícil concentrar a visão em uma única coisa, depois que o portal de tijolos se abriu despertando aplausos das garotas. A visão mostrou uma ruela abarrotada de pessoas com vestimentas estranhas e lojas incríveis de todos os tipos.

Os olhos das meninas se encheram com tamanha visão, parecia um sonho, e elas não queriam acordar.

"Bem vindos, a'O Beco Diagonal!"

Havia lojas com várias gaiolas com vários tipos de pássaros cada uma, pássaro que elas nunca haviam visto na vida, livros com a grossura de um braço empilhados de forma irregular de frente a uma livraria, sorveterias, boticários onde era possível ver, mesmo sem entrar, vários vidros de coisas gosmentas aos quais as meninas não pararam muito tempo para ver.

Tudo era simplesmente mágico!

"Ah! Me desculpe!" Uma garota havia esbarrado em Rita.

"Chris, tenha mais cuidado! Já não basta a calça do homem!" A mãe dela reclamou enquanto caminhavam em direção a loja de animais.

De longe, em meio a multidão, o Sr. McCurdy caminhava com um pequeno saco.

"Onde estava, papai?" Lívia perguntou.

"Ali!" Ele apontou um edifício em mármore branco bem irregular. "Eu vi duendes, naquele lugar. Muitos deles.".

"Que legal!" Rita falou demonstrando interesse.

Elas caminharam mais um pouco, até uma calçada que não havia muitas pessoas.

O Sr. O'Brien pediu as listas das garotas, e passou o olhar sobre cada item.

"Vocês precisam de vestes, Madame Malkin é claro, é o melhor lugar!" Ele pegou das mãos do Sr. McCurdy o saco, e com leves acenos encaminhou os McCurdy para a loja.

Madame Malkin, era uma senhora baixinha e sorridente. Ela fazia ajustes na roupa de um garoto, ele estava sobre um banquinho. Assim que terminou ele desceu do banco, e entregou moedas douradas a mulher.

"Obrigada Sr. Hermida" Ela falou. 

Ele passou pelas meninas, não olhou pra elas e em nenhum momento respondeu a Madame Malkin que já preparava mais tecido para as vestes...

"Então... Primeiro ano em Hogwarts?"

***

Lívia correu para a livraria no mesmo momento que as ambas saíram da loja da madame Malkin, ela apontou um livro grosso com uma imagem que para espanto das próprias se mexia.

O livro: O menino que sobreviveu: Volume II - A queda do Lorde das Trevas da escritora Joanne Rowling, tinha a fotografia animada de um homem com óculos redondo sorria e acenava na capa.

Sendo a loja seguintes que iriam visitar, elas compraram os livros, e foram para o boticário, que ficava do outro lado, para comprar frascos de poções entre outros, se apressaram a sair daquela loja, onde as coisas gosmentas como fígado de bode (Lívia havia lido em uma das etiquetas) lhe causavam arrepios.

Foram então, logo depois de dois grandes sorvetões, comprar o último item da lista. Caminharam para uma loja chamada Olivaras, um fabricante de varinhas, essa era a parte que as meninas mais estavam ansiosas, segundo o Sr. O'Brien, a varinha iria acompanhá-las por toda sua vida bruxa.

Eram 12:00 pm quando elas adentraram na loja que era estreita e fria, parecia muito com o quarto do bar. 

O Sr. O'Brien sentou-se junto com a mãe das garotas em um sofá empoeirado que havia no canto.

Um homem de cabelos extremamente brancos e cara enrugada apareceu no fundo de um corredor.

Ele tirou uma fita métrica de dentro da roupa, e começou a medir Rita, depois passou para Lívia.

"Nascidas-trouxas... Hum..."

Ele chamou Rita, que caminhou de vagar para perto dele.

"Tente esta!"

Ele entregou uma varinha de cor preta para ela, mas mal ela tocara ele retirou-a de sua mão.

"Talvez essa."

Rita pegou a varinha, e fez movimentos circulares três caixas que provavelmente seriam de varinhas caíram no chão.

"Não! Não quero que me arranquem a calça outra vez!" Falou mais para si.

Ele então pegou uma escada, e subiu na prateleira. Retirou duas caixas, e desceu.

"Senhorita...?"

"McCurdy!" Rita falou, seus olhos acompanhavam por entre as lentes quadradas, cada movimento que o homem fazia.

"Srta. McCurdy, a varinha escolhe o bruxo, sempre saiba disso!"

Ele entregou uma outra varinha a ela. Desta vez, quando ela tocou, sentiu um calor invadir seu corpo. Ela girou a varinha e faíscas verdes saíram de sua ponta. Sorriu com aquilo, quase deu gritos de agitação.

"Fantástico! Figueira, corda de coração de dragão, 12", inflexível... Interessante, as mesmas características da varinha de Vana Vickery... Uma bruxa excelente! Apesar de sua condição de comensal!"

 A voz do homem de repente pareceu fria quando Rita se afastou, Lívia caminhou até ele

Rita então se perguntou o que viria a ser um comensal...