História A Menina De Vidro - Capítulo 05

KyungSoo
13 de Maio de 2015.

Era bom te ver feliz, te ver sorrir novamente. Você tinha retirado a tala de seu corpo, fazia três dias, e mesmo que você ainda não conseguisse andar sozinha, estava feliz pelo simples fato de ter retirado aquele peso de si.

-Omma! Eu preciso ir ao banheiro.

Ao ouvir seu chamado, deixei de lado os biscoitos que estava fazendo, lavei minhas mãos e fui até você na sala. Te peguei no colo com o mesmo cuidado de sempre e subi até o banheiro.
Forrei o vaso sanitário com as bolsas de lixo que comprava pra você usar nesses casos, pois assim não ocorreria o risco de você se machucar.
A ajudei a retirar suas roupas de baixo e a sentei no vaso enquanto segurava os seus bracinhos.

-Vamos, Willow. Você está demorando muito e eu tenho que terminar de preparar os biscoitos. - Falei após um tempinho de espera.

-M-mas você está escutando! E-eu não consigo na sua frente.

-Aigoo... Você sabe que ainda não posso te deixar vim sozinha. Irei cantar, assim não ouvirei nada. - Falei tentando não rir dessa situação em que estávamos e comecei a cantar uma música aleatória, parando apenas quando ouvi sua doce voz.
A ajudei a se vestir novamente e a peguei no colo saindo do banheiro e voltando pra sala a deixando confortavelmente no sofá.

-Precisa de mais alguma coisa?

-Não, Omma. Está tudo bem.

Acenti levemente e estava prestes a voltar a cozinha, quando ouvi baterem na porta. Caminhei até lá logo a abrindo, dando um sorriso ao ver que era a MinHee.

-Quanto tempo! Pensei que tinha se esquecido dos amigos.

Falei a soltando do abraço. Dei espaço para que entrasse e Fechei a porta enquanto ela ia até você, parando a sua frente para atrair a sua atenção.

-Tia MinHee!

-Oi minha pequena. Adivinha o que trouxe? - ela sorriu e te entregou um embrulho de presente, que pela forma dava para perceber que era um livro.

-Um livro de curiosidades! Obrigada, tia.

Não evitei sorrir ao ver aquela cena. Realmente era algo lindo, você sempre ficava animada quando ganhava um de seus livros da coleção.
Eu e a MinHee te deixamos na sala e fomos a cozinha, onde voltei minha atenção para os biscoitos que estava preparando antes.

-Desculpe não ter vindo te visitar antes. Mas estava muito ocupada com o trabalho.

-Tudo bem. Afinal, posso imaginar o quanto dever ser cansativo ser uma obstetra. -Sorri doce para a mesma.

-Sim... Bem, e como anda as coisas? A Willow está bem mesmo? E a SooMin? Como anda o Jongin? 

-Está tudo do mesmo jeito. A Willow ainda não consegue andar sem ajuda, a SooMin vive trancada no quarto quando chega do colégio e Jongin... Bem, ele a uns dias chegou bêbado de madrugada. Porém, prometeu que não iria voltar a beber, até preparou um café da manhã pra nós três como desculpas. - Sorri me lembrando do dia.

-Sério? O Jongin nunca foi de beber em excesso. Você chegou a falar com ele? Perguntou o porquê dele ter feito isso?

Suspirei baixinho enquanto acentia. Eu já tinha tentado perguntar ao seu Appa o que tinha acontecido, mas ele apenas falava que era estresse do trabalho.

-Sim. Mas enfim, pelo menos ele não bebeu mais desde esse dia e agora chega cedo pra jantar com a gente.

Ficamos conversando por mais algum tempo, enquanto a MinHee me ajudava a preparar os biscoitos para a sobremesa.
Quando ela resolveu ir embora, a acompanhei até a porta e te olhei.
Você estava tão concentrada enquanto lia seu livro que tinha ganhado, era realmente adorável poder te ver assim. Por um certo momento, você parecia uma criança normal.

(...)

-SooMin! - Chamei sua irmã que como sempre, estava trancada no quarto.

-O que foi, Omma? - Ela perguntou após aparecer na sala nos olhando.

-Filha, venha assistir com nós. Ficar trancada no quarto não é tão legal.

-E assistir é? Só fazemos isso, Omma! Nós não passeamos, não vamos a parques, ao cinema, ao shopping, a praia e em nenhum lugar legal, simplesmente porque você e o Appa só pensam na Willow!

Sabe, me doeu ouvir essas palavras de sua irmã. Eu... Sinceramente, nunca tinha pensado que a SooMin se sentia assim, excluída.

-Min... E-eu... Você sabe o porquê de nós não podermos ir nesses lugares.

-Claro que sei. Vocês não querem que a Willow se machuque. Sempre a Willow! E eu, Omma? E eu? Eu sou alguém normal! Mereço viver uma vida normal, e não apenas ter a mesma vida que a Willow tem!

Isso foi o fim pra mim. Como ela podia falar tudo aquilo dessa forma? Logo na sua frente?
Te olhei e vi que você ficava olhando para seus próprios pés, e eu sabia que estava se segurando para não acabar chorando. Era sempre assim. Você nunca queria chorar em nossa frente.

-CHEGA, SOOMIN! NÃO FALE ESSAS COISAS COMO SE SUA IRMÃ NÃO TIVESSE VALOR ALGUM. - Eu simplesmente não aguentei e acabei gritando. Nunca fui de levantar a voz para vocês, mas aquilo tinha passado dos limites.

-O-omma... Tá tudo bem.

Você falou tão baixinho, que meu coração se apertou quando você me olhou e deu um sorriso, para mostrar que realmente estava bem. Só que eu sabia que não estava.

-Você está de castigo. Ama ficar no quarto, não é? Então pronto, apenas saia de lá quando for para comer.

Falei sério olhando sua irmã que te olhou uma última vez e subiu para o quarto sem falar mais nenhuma palavra.

-Querida, me desculpe. Sua irmã... Isso é apenas uma fase, ela não queria realmente ter falado aquelas palavras.

A abracei com cuidado - mesmo que minha vontade fosse de te apertar durante o abraço. Mas eu não podia. - deixando um selar em sua testa.

-Omma, a Min não me ama mais?

-Claro que te ama! Nós três amamos muito você huh? - Sorri tentando demonstrar confiança.

-Eu acredito.

Permanecemos mais um tempinho abraçadas, até que você acabou dormindo um tempo depois.
Te ajeitei no sofá para ficar confortável e a cobri.

-Eu te amo, Willow.

Sorri fraco acariciando seus fios e subi para o quarto em que você dividia com sua irmã. Ela precisava me explicar porque agiu daquela forma em sua frente.

-Precisamos conversar.

Falei após entrar no quarto e a olhei. Sua irmã estava deitada na cama mexendo no celular e fingiu apenas não ter me ouvido.

-SooMin, o que deu em você hein? Por que disse aquilo tudo?

-O quê? Eu apenas disse a verdade. Agora se isso te ofendeu, o problema é todo seu!

Ela se sentou na cama ficando abraçada aos próprios joelhos.
Suspirei baixinho tentando não ficar ainda mais estressado e me sentei na cama ao lado dela.

-Se é verdade, por que só agora resolveu falar? Por que simplesmente não disse isso antes?

-E você tem tempo pra mim escutar? Omma, você só enxerga a Willow! Ela é mais importante pra você do que qualquer outra coisa!

-Não é verdade! A Willow é sim importante, mas você também é.

-Mentira! Desde que a Willow nasceu, você e o Appa só dão atenção a ela. Faz tudo que ela pede!

-Você sabe muito bem o porquê, SooMin! Sua irmã é doente! Ela precisa de atenção 24 horas por dia, poxa!

Respirei fundo fechando os meus olhos e contando até dez mentalmente,  tentando recuperar a  minha calma que estava praticamente no zero.

-Certo... Ela é doente. Mas você não sabe dividir o tempo entre nós duas. Você perdeu o dia da minha apresentação de música!

-E-eu... Me desculpe, Min. Mas a Willow naquele dia, estava com dores.

-TÁ VENDO? SEMPRE É A WILLOW! WILLOW PRA CÁ, WILLOW PRA LÁ! E A SOOMIN? NADA!

-VOCÊ ESTÁ SENDO EGOÍSTA! NÃO VER QUE MACHUCA SUA IRMÃ DESSE JEITO?

Nós já não se importava com o tom de voz que falávamos. Mas acabamos esquecendo que você tinha um sono maneiro e por qualquer barulho que seja, acabava acordando.

-EU NÃO ME IMPORTO
EU ODEIO VOCÊS. ODEIO PRINCIPALMENTE A WILLOW!

Naquele momento, eu não aguentei e desferi uma tapa no rosto de sua irmã. Simplesmente não aguentei ela falar que te odiava. Logo você, a menina frágil, mas que se fazia de forte, a menina que era inteligente, tinha um sorriso meigo e que acabava encantando todos a sua volta.

-Eu espero que tenha ouvido o que falou. E perceba, o quão idiota foi.

Eu nunca tinha batido em você e em sua irmã, e naquele instante, estava me sentindo péssimo por isso.
Me levantei e saí do quarto fechando a porta, ouvindo assim o momento em que a sua irmã começou a chorar.

Fechei os olhos impedindo que as lágrimas descessem e voltei a sala, mas parando na escada, quando eu te vi toda encolhida no sofá e chorando.
Você tinha escutado. E naquele momento, não aguentou mais se fazer de forte e se desmanchou em lágrimas.

(...)

-Amor, cheguei.

Ouvi a voz do seu Appa quando chegou e fui até o mesmo o abraçando forte tentando não chorar novamente.

-O que houve?

-A Min... Nós descutimos e e-eu bati nela.

-Você o quê? Por que fez isso, KyungSoo? - Jongin se separou do abraço pra poder me olhar melhor.

-Ela d-disse coisas horríveis. Falou que nos odiava e que odiava a Willow.

Você estava em seu quarto - cujo dividia com sua irmã - e eu sabia que vocês não trocaram nenhuma palavra.

-A SooMin está louca? Por que disse isso? Aish! Depois falarei com ela.

Seu pai suspirou baixinho e retirou os sapatos deixando-os ao lado da porta.
Avisou que iria tomar banho e eu aproveitei para ir arrumar a mesa pra nós quatro poder jantar.
Quando terminei, subi para o quarto de vocês duas e te ajudei a tomar banho antes. A vesti com seu pijama e te peguei no colo.

-Desça para o jantar.

Falei pra sua irmã após sair do quarto e desci contigo para a cozinha, onde seu appa já nos esperava.

-Oie minha pequena.

Jongin selou sua testa e te ajudou a sentar na cadeira após ajeitar a almofada para que você pudesse ficar confortável.
Sentei ao seu lado e passei a nos servir enquanto ouvia você e seu appa conversando.

-Cadê a SooMin? Ela não vem?

-Eu chamei ela.

Suspiro baixo. Nós nunca tinha passado por isso antes. A Min sempre foi alguém sensata, você sabe disso. Realmente não sei porque ela chegou a falar aquelas palavras que te magoaram tanto.

-Depois falo com ela.

Acenti levemente e passamos a comer com calma, enquanto você falava mais umas das curiosidades que aprendeu com seu livro novo.
Quando terminamos, Jongin te levou para o quarto porque iria falar com a sua irmã, e eu fiquei lavando as louças.

Ao terminar, desliguei todas as luzes do andar debaixo, e subi para o quarto em que dividia com o Jongin.
Aprovei para tomar meu banho, e foi nessa hora que passei a chorar.

Eu realmente era um péssimo pai? Eu não dava tanta atenção a Min?
Esses pensamentos rondavam minha cabeça me deixando mal por não ter percebido nada antes. Sempre pensei que sua irmã não ligava muito por eu passar mais tempo com você. Pensei que ela entendesse sua doença, que você sempre precisaria de mim.

Fiquei mais tempo no banho do que o normal, e quando resolvi sair, enrolei a toalha envolta de minha cintura e voltei ao quarto.
Sequei meu corpo com calma e vesti uma calça moletom e uma blusa de seu pai. Arrumei a cama trocando os lençóis e me deitei ficando a espera de Jongin, que demorou quase uma hora pra voltar.

-Falou com ela?

Perguntei em um tom de voz baixa enquanto o olhava curioso quando adentrou o quarto.

-Sim... Ela está magoada, Soo. Você não tem só a Willow de filha, sabia?

Seu appa suspirou baixo indo trocar sua roupa para uma mais confortável pra poder se deitar.

O quê? Agora você vai me culpar? Jongin, eu sei que tenho outra filha, sei que não dou tanta atenção a ela como deveria, mas vocês sabem o motivo!

-Corrigindo: você não dá atenção a ela de jeito nenhum.

O olhei incrédulo quando falou aquilo. Sério mesmo? Ele tava me culpando? Logo eu, que sempre dei meu melhor por vocês três?

-Eu não acredito que você falou isso. Você se ouviu, Jongin? Porque se ouviu, devo dizer que antes, olhe para si mesmo pra poder vim falar de mim.

-O que quer dizer com isso, KyungSoo? Eu não dou atenção as minhas filhas porque EU sou o único que trabalha nessa casa pra sustentar vocês!

Fiquei em silêncio ao ouvir o mesmo. Seu pai estava mesmo esfregando isso na minha cara?
Sorri fraco tentando não chorar em sua frente, não daria mais a oportunidade dele me ver sendo fraco novamente.

Apenas me deitei e virei para a parede fechando os olhos.
Ouvi quando ele suspirou, e apagou a luz caminhando até a cama e deitando ao meu lado. Sei que ele ficou um tempo acordado olhando para o teto, e quando finalmente ele dormiu, eu chorei. Mordia o cobertor para abafar os soluços, ficando assim até dormir quando o cansaço me abateu.