" O ciúmes é o pior dos montros criados pela imaginação."
Talvez eu devesse seguir mais a minha intuição e ficar calado ao invés de deixar que a minha língua solta me encurralasse.
- Sou. - Como se não houvesse o que me dizer, o silêncio a seguir foi desesperador. - Eu sei, isso é ridículo.
- O que é ridículo?
- Um homem de 27 anos que nunca perdeu a droga da virgindade. - Passei a mão pelos cabelos.
- Isso não torna você ridículo.
- Sim, por que me torna um completo idiota.
- Por favor Spencer, pare de se alto sabotar. Você é incrível.
- Não sou capaz nem de lidar com as reações do meu corpo. Aonde o incrível se encaixa nisso?
- Por que isso incomoda tanto você?
- E a você isso não incomoda ?
- Por que incomodaria?
- Por que eu nunca transei com ninguém.
-E isso muda alguma coisa?
- Muda, não quero que seja ruim para você.
- Eu também não quero que seja ruim para você?
- Como assim? - Franzi o senho.
- Eu também nunca transei com ninguém. - Foi a vez dela de corar. Naquele momento eu só queria poder enfiar a minha cabeça em um buraco no chão.
-Mas você...
-É, eu sei que o jeito que fiz as coisas hoje não foi muito apropriado, não quero que pense nada errado de mim.
- Eu jamais pensaria. - Me sentei ao lado dela no sofá.
- Eu até tive um namorado quando tinha quinze anos, mas como a maioria dos garotos de quinze anos, ele estava pronto, e eu não.
- Sinto muito.
- Eu não sinto. - Senti sua mão macia tocar o meu rosto. - Eu sempre achei que deveria ser especial, mas nunca encontrei a pessoa, até agora. E quando acontecer, eu quero que seja com você.
- O que me faz diferente dos outros? Não há nada de especial ou extraordinário em mim, Lisa.
-Tudo, Spencer.- Ela deu uma pausa- Você, por si só já é extraordinário Dr. Reid. - A abracei forte sentindo o cheiro doce do seu perfume. Como ela conseguia ser tão incrível?
Naquela manhã de sábado quando os primeiros raios de sol invadiram a janela correndo pelas frestas das cortinas, senti o meu corpo reclamar. Lisa e eu haviamos adormecido no sofá e cada músculo do meu corpo parecia pedir socorro. Desajeitadamente eu levantei do sofá em uma tentativa de não acordá-la para olhar o celular que vibrava insistentemente sobre a mesa de centro.
" Não perca o jantar hoje a noite"
"JJ vai matar você"
" E por favor não se atrase"
- Derek Morgan
Naquela noite seria o jantar de comemoração do aniversário do Wiil.
Observei bobo por alguns segundos Elisa dormir, como podia ser tão linda?
Lavei o rosto e coloquei os tênis para fazer a minha caminhada matinal. O calor de vinte e sete graus as oito e trinta da manhã em Quântico adentrou meus poros quando coloquei os pés na rua. Caminhei pela calçada por duas quadras até passar em frente a joalheria. Talvez minha cabeça tenha se destraido pelos colares e brincos na vitrine que brilhavam mais do que qualquer coisa. Honestamente eu não entendia absolutamente nada de jóias,mas tinha alguém que entendia .
- Obrigada por ter vindo até aqui no seu dia de folga. - Rossi, sorriu para mim.
- Não há de que garoto, mas eu gostaria que você me explicasse o que está havendo.
- Bom, eu estava meio receoso que você e os outros da equipe soubessem, mas eu a Lisa, bom, nós estamos juntos. - Rossi me encarou com uma cara de poucos amigos.
- Sério? - Assenti. - Agora pode me contar alguma coisa que eu não sabia?
- Como você descobriu ? - O silêncio que venho a seguir foi esclarecedor.
- Droga,Morgan! - Rossi riu. - Quem mais sabe? - Rossi me encarou com as sombrancelhas arqueadas. - Todo mundo sabe não é mesmo? - Ele assentiu positivamente com a cabeça.
Rossi tinha muito conheciemento para compartilhar, mas bem mais do que isso, ele tinha bom gosto.
- Esse é perfeito garoto. Chamativo porém delicado ao mesmo tempo. Acho que vai ser perfeito.
- Eu devo usar um também?
-A não ser que ela vá namorar sozinha, eu aconselharia que sim - Não pude evitar de rir.
- Tudo bem , eu vou levar esse - Estiquei o braço entregando a caixinha para a vendedora.
- Você está certo disso, Reid?
- No começo eu não estava, tive medo. Não queria me deixar admitir que realmente sentia algo a mais do que eu deveria sentir. Minha mente ficava girando em torno do que as pessoas iam falar.
- Pessoas? - Assenti. - Eu? Hotch e Garcia? Emily, JJ ou Morgan? Por favor Reid, somos a sua família. - Ele posou a mão sobre o meu ombro. La tua felicità, la nostra felicità. (Sua felicidade, nossa felicidade.) - Sorri com aquilo. Italiano não era a minha lingua favorita da vida então não tinha o menor interesse em aprender.
Quando cheguei em casa com a caixinha de veludo preta enfiada no bolso da calça de moletom depois de ter dispensado a sacola de papel de presente da joalheria em uma tentativa, de bastante sucesso de esconder da Elisa, escutei o barulho do chuveiro. O bilhete que eu havia deixado na porta da geladeira agora estava sobre a mesa.
"Fui caminhar, volto logo"
Com carinho, Spencer.
Era o acaso perfeito para que eu enfiasse a caixinha em um canto qualquer mais alto do guarda roupa. Quando Elisa saiu do banho e chegou na cozinha com os cabelos enrolados em uma tolha de banho rosa e vestindo short jeans e regata, o café da manhã já estava na mesa.
- Oh céus, que suto. - Virei para encará-la quando ela colocou a mão sobre o peito.
- Desculpe, não foi a intenção.
- Que horas você voltou?
-Acabei de entrar. - Depositei um beijo em sua testa. - Vamos tomar café?- Elisa assentiu enquanto puxava a cadeira, me juntei a ela na mesa. - Hoje é aniverário do Will.
- O marido da JJ? - Confirmei com a cabeça equanto enfiava um pedaço de ovos mexidos na boca.- Vão dar um jantar na casa dela as oito.
- Estou animada. - Ela sorriu. Como eu amava aquele sorriso. - O pequeno intervalo de tempo que venho depois que me abestalhei com o sorriso dela foi interrompido quando o celular vibrou sobre a mesa.
- Pode pegar para mim? - O celular estava do meu lado direito . No visor, uma mensagem de Wathsapp do Josh. Maldita memória fotográfica.
" Eu fico tão incrivelmente feliz com isso, mas ao mesmo tempo, mesmo sabendo que isso pareçe completamente egoísta, tudo que eu queria agora era você aqui comigo."
Elisa fitou a tela do celular durante alguns segundos, eu engoli seco.
-Aconteceu alguma coisa?
- Não, nada demais. -teclou por alguns segundos antes de bloquear a tela do celular e colocar de volta sobre a mesa. Que sentimento esquisito e agoniante.
- Posso fazer uma pergunta?- Elisa assentiu enquanto bebiricava o café. - Você e o Josh... Vocês tem, ou tiveram alguma coisa?- A risada alta foi instantânea.
- O que ? Claro que não. Do que está falando?
- "Mesmo sabendo que isso parece completamente egoísta, tudo que eu queria agora era ter você aqui comigo." - Falei em tom seco.
-Você ... leu minhas mensagens?
- Claro que não, estava na barra de notificação, e é inevitável que a minha memória não absorva.
- Spencer...- Quando a encarei ela tinha um sorriso malicioso nos lábios.
- Do que está rindo? Não vejo graça.
- Está com cíumes.
- O que ? Eu, não, claro que não. - Senti minhas bochechas corarem.
- Josh e eu somos apenas amigos, ele tem se sentdo um tanto triste, parece que o relacionamento não vai muito bem. Nós nos conhecemos desde crianças, fomos criados como irmãos. Somos SÓ amigos.
- Você é , ele não.
- Spencer, por favor, confie em mim. - Houve silêncio. Lisa contornava a borda da xicára como dedo indicador.- Você fica lindo quando está com ciúmes.
- Já disse que não é ciúmes. - Dei as costas para ela depois de levantar da mesa enquanto colocava a xicára no balcão. Novamente desejei esnfiar a cabeça em um buraco bem fundo e ficar por lá mesmo. Que ridículo, Spencer. Meu coração acelerou quando senti suas mãos abraçarem a minha cintura por trás.
- Não há nada demais entre mim e o Josh. - Me virei para encará-la.
-Me desculpe, eu não tinha esse direito.
- Não precisa se desculpar, Spence. Mas quero que saiba que não existe nada com que deva se preocupar. As bochechas ficaram rosadas antes que dissesse. - Eu sou apaixonada por você, Dr. Reid. - Tomei seus lábios para um beijo apertado. Eu tinha conhecimento e sabia explicar muitas coisas na vida, mas aquilo era diferente. Quando nos beijávamos eu sentia a energia elétrica que percorria o meu corpo junto com o calor dos lábios dela. Como se só existissemos nós no mundo.
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