1. Spirit Fanfics >
  2. A Missão >
  3. Apenas Começando

História A Missão - Apenas Começando


Escrita por: jaimencanto

Capítulo 7 - Apenas Começando


               Fernando estava apreensivo em seu apartamento. Era o seu primeiro dia de folga em muito tempo, e mesmo que Lety tivesse insistido que ele deveria aproveitar o dia sozinho em casa, ele não se sentia bem em deixá-la trabalhando sem ele. Já eram parceiros há muito tempo, e ele não gostava nada da idéia de Lety trabalhar com outra pessoa, principalmente se fosse outro homem. Sua preocupação não era apenas por ciúmes, mas também por saber que Lety se arriscava demais em qualquer coisa que fazia, e por isso, sempre corria perigo de que algo acontecesse à ela. Até então, ele conseguiu controlar bem a sua preocupação, e aproveitou o dia de folga da maneira que gostava: Assistindo à filmes de ficção científica, largado no sofá a manhã inteira. Por mais que ele gostasse de passar os seus dias de folga ao lado de Lety, era inegável que não era nada ruim ficar sozinho no apartamento fazendo o que quisesse. Mas, à medida que as horas passaram, sua preocupação começou a perturbá-lo, e a cada cinco minutos sua atenção era desviada para o relógio pendurado na parede da sala.

               Lety já deveria ter voltado há trinta e cinco minutos, já que ela sempre largava o turno no mesmo horário. Pela quinta vez seguida ele tentou ligar para o celular dela, mas novamente deu ocupado. Impaciente, ele não conseguia mais ficar largado no sofá como ficou durante a manhã inteira. Para tentar aliviar sua ansiedade, Fernando ocupou o tempo dando um jeito na casa. Assim, quando Lety chegasse, ficaria satisfeita por ver a casa limpa e o jantar pronto. Mas foi quando Fernando terminou de por a mesa para o jantar que sua preocupação passou dos limites. Lety já deveria estar em casa há duas horas atrás, e ele nem mesmo havia recebido uma notícia dela.

               A campainha tocou e Fernando se apressou em atendê-la. Por um momento teve esperança de que Lety por algum motivo tivesse perdido suas chaves, sendo esse o motivo para o seu atraso. Mas, quando abriu a porta, não pode evitar suspirar desanimado quando viu Márcia parada à sua frente carregando Pietro.

- Ah... É você.

- Eu adoro sua animação quando venho visitar vocês. – Márcia riu.

- Desculpe. – Fernando abriu mais a porta para que eles pudessem entrar.

- Tio Nando! – Pietro balançou os braços animados para ele.

- Oi amigão. – Fernando forçou um sorriso, e Márcia logo estranhou sua reação. Ele costumava ficar bastante animado com as visitas do afilhado.

- Aconteceu alguma coisa? – Ela perguntou observando-o fechar a porta. – Onde está a Lety? Oh... Que graça! Você preparou o jantar! – Comentou olhando para a mesa. – Ela ainda não voltou do trabalho?

- Não. – Fernando pegou o seu celular sobre a mesa. – E eu já estou preocupado.

- Por que?

- Porque ela já deveria ter voltado.

- Ah, pelo amor de Deus, Fernando! Pensei que vocês não tivessem um horário fixo para ir para casa. Você mesmo já chegou tarde várias vezes em casa e mamãe morreu de preocupação. E eu lembro exatamente o que você dizia para ela: “Meu emprego exige muito do meu tempo e...”

- Eu sei o que eu dizia para ela, Márcia. – Respondeu impaciente mexendo no celular. – Mas ela não atende o celular.

- Ela já deve estar voltando. Relaxa. – Márcia colocou Pietro no chão, que correu pelo apartamento.

               Fernando ignorou a péssima maneira de Márcia tentar tranqüiliza-lo, e mais uma vez ligou para o celular de Lety. Como das outras vezes, caiu na caixa postal.

- Que droga. – Resmungou discando outro numero em seu celular.

- Se ela visse você assim, brigaria com você com certeza. – Márcia sentou-se à mesa. – Para quem está ligando?

- Para o Rodriguez.

- O seu chefe? Você vai ligar para ele para perguntar sobre a Lety?

- É claro que sim!

- Você é louco...

               Obviamente Rodriguez também pensaria isso dele. Mas, para sua sorte, antes que o telefone pudesse chamar, a porta se abriu e Lety apareceu. Fernando imediatamente desligou o celular e a olhou, prestes a começar uma discussão acusando-a de ter se atrasado e de não ter atendido o celular. Mas, quando olhou para o seu braço engessado, sua preocupação falou mais alto.

- Oh! Olá. – Lety disse fechando a porta. – O que aconteceu? Alguém morreu?

- Ainda não... – Márcia olhou para Fernando.

- Por que estão com essas caras?

               Fernando não respondeu, apenas olhou para o braço engessado de Lety.

- Ah... – Ela sorriu. – Isso não foi nada. Estava em uma perseguição e quando fui atravessar a rua um carro bateu em mim.

- Você foi atropelada? – Márcia perguntou surpresa.

- Acho que sim. Não sei se dá para chamar isso de atropelamento porque o motorista freou a tempo. Só caí em cima do braço e tive que colocar essa porcaria.

               Márcia ficou em silencio, apenas esperando a reação de Fernando.

- O que é que você tem? – Lety perguntou à Fernando.

- Você se machucou... E não pôde me ligar para avisar?

- Bom... Eu estava no hospital, e o celular descarregou.

- E não poderia ter pedido alguém do hospital para ligar para mim? Como veio embora?

- Peguei um táxi. Fernando, fique calmo...

- Ficar calmo? – Ele aumentou a voz. – Eu estou aqui morrendo de preocupação, pensando que algo poderia ter acontecido. E olhe só... Aconteceu! E você nem mesmo me avisou sobre isso! E se tivesse acontecido algo mais grave?

- Então eu tenho certeza que o pessoal do hospital ligaria para você. Mas o que é que você...?

- É melhor eu ir embora. – Márcia levantou-se e pegou Pietro no colo. – Viemos fazer uma visita animada, mas pelo visto o clima está muito pesado. Ligo para vocês depois.

               Nenhum dos dois se despediu de Márcia. Lety estava confusa demais pensando por que Fernando estava tão furioso, e Fernando estava bravo demais para dizer qualquer coisa. Assim que Márcia os deixou a sós, Lety olhou para a mesa e sorriu.

- Você fez o jantar...

- Sim, eu fiz! Fiz porque eu tentei fazer algo que me distraísse esperando por você!

- Meu Deus, Fernando! Por que está tão bravo? – Lety perguntou indignada. – Eu não tive culpa se o meu celular descarregou! E eu não quis te preocupar. Com certeza se falasse que estava no hospital você não esperaria eu terminar a frase e já iria correndo me buscar.

- E isso é algum problema?

- É claro que é! Olha só como você está agora!

               Ele suspirou.

- Eu entendo que fique preocupado comigo. Eu também me preocupo com você. Mas você não precisa ficar neurótico dessa maneira.

               Fernando não respondeu. Pegou o seu celular sobre a mesa e deu as costas para Lety.

- Não estou mais com fome.

               Letícia observou ele se afastar e caminhar em direção ao quarto, batendo a porta logo depois. Sem saber o que fazer, ela passou a mão em seu rosto e resolveu que o melhor seria tomar um banho e deixar que a situação se acalmasse.

 

 

--------------------

 

 

               Após o banho, Lety se enrolou na toalha com certa dificuldade por causa do braço engessado. Já estava irritada o suficiente por ter que usar aquilo por tanto tempo, mas sua irritação ficou ainda pior quando ela percebeu que tinha dificuldade de fazer quase tudo por isso. Assim que abriu a porta do banheiro, ela seguiu para o quarto e quando abriu a porta, Fernando estava sentado à cama encarando o chão. Sem dizer nada, Lety seguiu até a cômoda para procurar um pijama, e deixou que o silencio se perdurasse por mais alguns minutos.

- Rodriguez sabe? – Fernando perguntou quebrando o silencio.

               Lety virou-se para ele.

- Sobre o que?

- Sobre isso. – Ele apontou para o gesso dela.

- Ah... Sim. Foi ele que mandou eu ir para o hospital.

- E o que ele disse?

- Queria que eu ficasse em casa por alguns dias, mas eu disse que isso não irá me atrapalhar.

- Imaginei que teria dito isso. – Ele se levantou e caminhou ate ela. – Olha, me desculpe por ter descontado tudo em você. Mas é que eu não havia percebido o quanto me preocupava com você até ficar em casa enquanto você trabalhava. Estou acostumado a estar do seu lado, e se algo te acontecesse, eu estaria lá para te ajudar. Perdi a cabeça quando vi que você tinha se machucado, e imaginei que poderia ter acontecido algo pior. E eu não estaria por perto.

- Você não precisa se preocupar com isso. Além do mais, foi apenas uma falta de sorte isso ter acontecido justo no seu dia de folga, mas poderia ter acontecido em qualquer dia que estivéssemos juntos.

- Eu sei.

- Gosto que se preocupe comigo... – Ela tocou em seu rosto carinhosamente. – Mas você não precisa exagerar. Isso não faz bem para você, e sempre que ficar assim, vamos ter uma discussão.

- Me desculpe.

- Não precisa se desculpar.

               Fernando sorriu e a puxou para mais perto, beijando-a logo depois. Lety cruzou os braços em volta do pescoço dele, mas por um segundo esqueceu-se de que estava com o braço engessado, batendo-o na nuca de Fernando.

- Ai! – Ele reclamou colocando a mão em sua cabeça.

- Desculpe. Não consigo me acostumar com essa porcaria.

- Isso vai ser mais útil do que a sua arma. – Ele brincou e Lety gargalhou.

- Não tinha pensado nisso.

- Você não tem que ficar de repouso nem nada do tipo, não é?

- Não. Por que?

               Ele sorriu malicioso, apertando-a contra seu corpo.

- Ah... Não precisa responder. – Ela sorriu. – Espero que isso aqui não atrapalhe.

- Não vai. – Fernando a puxou para um beijo de tirar o fôlego.

 

 

 

-----------------------------

 

LETY

 

 

               As pessoas corriam em minha volta, mas eu não as via. Houve outros dois disparos, mas eu não conseguia desviar o meu olhar de Fernando. Alguém me ajudou a levantar, mas eu não tive tempo para notar quem era. Fernando estava caído em minha frente, e as pessoas começavam a rodeá-lo. Só então me dei conta do que tinha acontecido, e meu corpo se queimou por dentro. Eu conseguia sentir o meu coração se partir a cada segundo, conseguia sentir a dor da bala que o havia atingido, em meu próprio peito. Logo quando consegui voltar para a realidade, corri na direção em que Fernando estava e me abaixei em sua frente. Ele ainda estava acordado, com a mão no peito, esforçando-se para conseguir me olhar. Eu não sabia o que fazer. Ele havia me salvado, ele entrou em minha frente para me salvar.

- Lety... – Ele sussurrou com lágrimas nos olhos.

               Segurei sua mão e ele a apertou. Desesperadamente comecei a chorar, procurando fazer algo para ajudá-lo. Percebi quando Rodriguez falava ao celular chamando o resgate, e voltei minha atenção para Fernando. Estava me doendo vê-lo daquela maneira, e estava insuportável aquela dor em meu peito. Era como se eu também tivesse sido atingida.

- Você vai ficar bem. – Falei com a voz rouca, sem conseguir controlar o choro. – Você vai ficar bem, meu amor.

               Fernando abriu a boca várias vezes para tentar dizer algo, mas a dor parecia impedi-lo.

- Não diz nada. – Falei imediatamente, tocando em seu rosto. – Você vai ficar bem. Já estão vindo buscá-lo e...

               Eu não consegui terminar minha frase. Algo estava em minha garganta e me impediu de continuar a dizer qualquer coisa. Eu não conseguia suportar vê-lo sofrendo sem poder fazer nada. Por tantas vezes Fernando quis me proteger, e eu não pude fazer o mesmo por ele. Fechei os olhos e coloquei sua mão próxima ao meu rosto, soluçando meio ao choro. Eu não conseguia me controlar, por mais que tentasse. Não queria demonstrar meu desespero para Fernando, principalmente porque eu deveria ajudá-lo a pensar positivamente. Mas não tive forças para isso. Não tive forças para continuar ali, ajoelhada ao seu lado, sem desabafar a dor que eu estava sentindo.

- Lety... – Ele sussurrou e eu abri meus olhos, ainda soluçando. – Eu quero te dizer que... – Ele tomou fôlego, como se o ar lhe faltasse. – Eu... Eu adoraria formar uma família com você.

               Eu não conseguia suportar. Eu precisava fazer algo. Precisava fazer alguma coisa para ajudá-lo. Meu choro e desespero aumentou, e olhei em volta esperando que alguém fizesse algo. Notei que os policiais conseguiram conter os comparsas de Joseph, e quando olhei ao meu lado, Joseph estava caído no chão, com dois tiros no peito. Rodriguez se aproximou desligando o celular e tocou em meu ombro, assim como Marcela e outros policiais.

- Lety, a ambulância está vindo. Ele vai ficar bem, mas precisamos que alguém desligue a arma. Ela está ativada, e faltam apenas vinte e três minutos para.

- Não. Eu não vou sair de perto dele. – Falei apertando a mão de Fernando.

- Eu fico com ele para você, Lety. – Marcela disse. – Eu prometo que ele vai ficar bem.

- NÃO! – Gritei. – EU NÃO VOU SAIR DE PERTO DELE! EU VOU FICAR AQUI ATÉ ME DISSEREM QUE ELE ESTÁ BEM E FORA DE PERIGO!

               Eu não conseguia parar de chorar. Fernando me olhou e seus olhos estavam se fechando lentamente. Eu não teria cabeça para lidar com qualquer outra coisa que não fosse sobre Fernando. Não conseguiria me concentrar em mais nada além dele. Os segundos pareciam longos minutos, e os minutos pareciam horas. Rodriguez suspirou e olhou para Marcela, e nenhum dos dois disse mais nada.

- Vai. – Fernando disse com a voz embargada.

- O que? – Perguntei meio à um soluço.

- Só você consegue desativar a arma.

- Fernando, não.

- Lety... A vida de todo... De todo mundo depende de você. Eu sei que você... É... Capaz.

- Não... – Voltei a chorar, olhando para ele.

               Ele já não estava mais resistindo como antes. Suas forças começavam a se esvair, e me doeu ver que ele lutava para manter os olhos abertos.

- Eu tenho muito orgulho de você. – Ele se esforçou para olhar em meus olhos, e as poucas forças que eu tinha, se foram. – Você será uma ótima mãe.

- Saiam da frente!

               Ouvi alguém dizer, mas não tirei os olhos de Fernando. Toquei em seu rosto com carinho e sorri triste.

- Eu também tenho muito orgulho de você.

               Algumas pessoas se aproximaram e só então percebi que era o resgate. Me levantei rapidamente e em poucos segundos eles colocaram Fernando em uma maca. Voltei a segurar sua mão antes que eles se afastassem com ele, e pela ultima vez o ouvi dizer:

- Eu te amo.

               Não tive tempo para respondê-lo. Após lhe colocarem uma máscara de oxigênio, os enfermeiros se afastaram rapidamente com ele.

- Lety... – Rodriguez parou ao meu lado. – Eu sei que esse não é o momento, e que você está preocupada com ele. Mas a arma...

               Limpei meu rosto rapidamente e voltei a enxergar as pessoas ao meu redor. Estavam preocupados e desesperados. Percebi quando outros enfermeiros passaram por nós, carregando Joseph. Ele não estava como Fernando, e haviam colocado um lençol branco tampando todo o seu corpo. Quando ele tinha sido atingido? E por quem?

- Precisamos de você, Lety. – Rodriguez continuou a falar. – E se você não conseguir... Não sei o que pode acontecer.

               Marcela me olhava com pesar, e enquanto alguns policiais se ocupavam com os comparsas, os outros ajudavam os feridos. Tudo estava um caos, e eu não conseguia pensar em outra coisa a não ser em Fernando. Eu tentava me manter firme pensando que ele ficaria bem, mas era impossível não me preocupar. Mas, como ele disse, precisavam de mim. Fernando confiava em mim, e eu teria que continuar orgulhando-o.

               Me virei para a arma e me aproximei dela, estudando-a. Eu jamais tinha visto algo parecido. Uma forte luz brilhava ao centro de um recipiente de metal, e uma espécie de relógio mostrava a contagem regressiva até ela ser ativada. Dezoito minutos. Eu tinha apenas dezoito minutos para conseguir entender que tipo de arma era aquela, e como eu poderia desativá-la. Fechei os olhos tentando me concentrar e me lembrar das pesquisas que fiz quando Fernando e eu voltamos para o apartamento. A imagem de Fernando sorrindo e olhando para mim não saía dos meus pensamentos. “Se concentre, Lety. Se concentre”. Respirei fundo e voltei a me esforçar.

 

 

“- Quem diria que juntando energia eu conseguiria produzir uma arma tão potente, não é? Devem estar se perguntando por que estou perdendo o meu tempo dizendo tudo isso à vocês ao invés de matá-los de uma vez, não é? É que gosto de dizer aos outros o quanto eu sou inteligente.”

 

            Abri os olhos imediatamente e voltei a olhar para a arma. Só então notei que ele a construiu para funcionar com energia. Quando ele ativou a arma, me lembrei que uma forte luz praticamente me cegou por alguns segundos. A luz estava diminuindo à medida que os minutos passavam.

- À medida que a temperatura sobe...

            Energia. A energia estava elevando a temperatura para que a arma funcionasse.

- Preciso interromper essa energia. – Falei para mim mesma, até que Marcela se aproximou.

- O que? Como vai fazer isso?

- Não sei, mas precisa ser antes que o tempo termine. O calor gerado por ela vai conseguir destruir tudo isso em segundos.

- Então pense... Como podemos diminuir a temperatura?

 

 

 

---------------

 

 

 

 

- Lety... Quer largar esse notebook e vir deitar logo? – Fernando choramingou deitado à cama.

- Eu já vou em um minuto. – Lety respondeu sem tirar os olhos do computador.

- O que tanto você faz aí?

- Estou lendo algumas coisas...

- Sobre o que exatamente?

- Sobre tudo. Ciência... Física.

            Fernando bufou.

- Eu admiro muito a sua inteligência e o seu gosto por aprender coisas novas, mas realmente precisa fazer isso agora? – Ele virou-se à cama. – Não prefere vir aqui e deitar ao lado do seu lindo marido que está morrendo de saudades de ter uma noite com você?

            Ela riu e virou-se para Fernando.

- Tudo bem, você venceu. Só preciso tomar um banho antes.

            Fernando se levantou e caminhou até ela, abraçando-a por trás.

- Não demore. – Sussurrou.

- Exigente.

            Lety levantou-se da cadeira lhe dando um rápido beijo, e antes que saísse do quarto, Fernando olhou para a tela do notebook.

- É sobre isso que você estava lendo?

- Sim. – Respondeu pegando a toalha. – Por quê?

- Desde quando você se interessa por esses assuntos? “As altas temperaturas relacionadas à reatores só podem ser contidas através da água e blá blá blá”. Minha cabeça até dói só de tentar entender.

            Lety riu.

- Não seja bobo. É interessante.

- É chato. Tem algo melhor que podemos fazer. – Ele sorriu. – Não ia tomar banho?

- Já estou indo. – Ela saiu do quarto, rindo.

 

 

---------------------------

 

 

 

- Água. – Sussurrei.

- O que? – Marcela me olhou.

- Água. Precisamos de um recipiente com água para colocarmos a arma dentro. Isso irá conter o calor gerado por ela!

            Marcela não parecia entender absolutamente nada, mas eu não a culpava por isso.

- Padilha! – Rodriguez se aproximou, acompanhado de alguns homens que logo identifiquei que eram do esquadrão anti bombas. – Precisa de reforço?

            Olhei para o recipiente de vidro que um deles carregava.

- Precisamos de água! – Falei rapidamente e todos me olharam confusos. – Coloquem água nessa caixa!

- Mas o que...?

- Rápido! Nós temos pouco tempo!

            O rapaz que carregava a caixa olhou para os outros e se afastou. Rodriguez deu um passo à frente e me olhou com seriedade.

- Você tem certeza do que está fazendo?

            Olhei para Marcela que estava ao meu lado, e ela respirou fundo. Estavam todos contando comigo, e se eu estivesse errada sobre a arma, era o fim para todos nós.

- Sim. – Respondi com firmeza.

- Temos apenas... – Rodriguez olhou para a arma. – Nove minutos. Se isso não funcionar...

            Era óbvio que ele não estava cem por cento confiante. Aliás, ninguém ali estava cem por cento confiante. Os comparsas foram levados um por um pelos policiais, e os que ficaram ali, olhavam curiosos para nós três.

- Vai funcionar. – Insisti. Fernando confiava em mim, e isso era suficiente.

- Senhor... – Um dos meus colegas se aproximou, e estava um tanto quanto abatido. – Sei que não é o momento para isso, mas gostaria de me explicar depois do que aconteceu.

            Eu não entendia sobre o que ele estava falando, mas pelo visto Rodriguez sim, e ele não parecia nada feliz com isso.

 

 

----------------------------

 

 

 

            Letícia estava no chão, parecendo perdida. Fernando havia acabado de cair, com a mão sobre o peito ensangüentado. Alguns policiais voltaram sua atenção para o que aconteceu, enquanto os outros ainda travavam uma batalha de disparos com os comparsas. Marcela gritou assustada quando viu o momento em que Fernando foi atingido pela arma de Joseph, e no mesmo instante, houve mais dois disparos vindo da arma de um policial. Os disparos acertaram Joseph, que caiu desacordado no chão. Todos se assustaram e ficaram confusos com o que tinha acabado de acontecer, mas não tinham tempo para questionarem ao policial por que ele havia acertado Joseph. Rodriguez ficaria furioso, já que sempre deixou claro que um policial jamais tinha o direito de tirar a vida de outra pessoa por pior que ele tivesse feito. Mas, todos estavam preocupados com Fernando que estava ferido. Alguns policiais ajudaram Lety a se levantar, e imediatamente ela correu até Fernando, ajoelhando-se ao seu lado.

 

 

 

 

- Se o Senhor me permitir, irei explicar porque acertei o Senhor Joseph. Sei que nada irá justificar o que eu fiz, mas...

- Temos cinco minutos! – Marcela disse e todos nós olhamos para a arma.

 O tempo estava se acabando. Para o nosso alívio, dois homens voltaram carregando o recipiente de vidro, cheio de água até a metade. Abrimos espaço para que eles se aproximassem da arma e todos olharam para mim, inclusive Rodriguez.

- Tem certeza que isso irá funcionar? – Ele tornou a perguntar.

            Dessa vez eu não respondi. Era a nossa única esperança, e se não funcionasse, só Deus sabe o que poderia acontecer. Rodriguez acenou para os dois homens se aproximarem e eles colocaram a caixa sobre a mesa. Juntos, pegaram a arma com cuidado, e a levaram até a caixa de vidro. As pessoas que restaram ali se aproximaram curiosas, e era possível ouvir a tensão de cada um, mesmo que não dissessem nada. Cuidadosamente colocaram a arma dentro do recipiente, e cada um de nós deu um passo a frente, esperando que funcionasse. O relógio marcava três minutos, e eu esperei que ao menos aumentasse o tempo ou que ele se apagasse. Encaramos a arma dentro do recipiente com água e eu apertei minhas mãos uma na outra. Fernando confiava em mim, e eu não poderia errar. Não poderia ter colocado a vida de todos em jogo.

            De repente, o relógio se moveu, marcando dois minutos. Todos soltaram uma exclamação desanimados, e Rodriguez me olhou com uma das veias saltando em sua testa.

- Não funcionou. – Ele disse.

            Olhei para Marcela e ela balançou os ombros, tão surpresa quanto eu. Eu tive tanta certeza de que estava fazendo a coisa certa, e acabei colocando a vida de todos em jogo. Não sabia como me desculpar, e muito menos o que fazer. Estávamos a dois minutos de algo inimaginável, mas que poderia comprometer nossas vidas. A única pessoa que veio em meus pensamentos naquele momento foi Fernando. Fernando havia confiado em mim, e eu o decepcionaria. E o pior de tudo, e o que mais me doía: Eu não sabia se o veria novamente.

- Então é isso... É o nosso fim. – Um dos policiais disse. – Não teremos tempo para...

- Espere! – Marcela gritou e todos a olharam. – O relógio! Está... Apagando?

            Todos olhamos para a arma, e realmente, o relógio estava mudando rapidamente os números, como se estivesse com defeito. A luz que havia ao centro do metal que antes produzia uma grande claridade, estava diminuindo. De repente, o relógio se apagou, assim como a luz que vinha do interior da arma. Ela estava desligada.

- Funcionou! – Marcela sorriu. – Lety, você conseguiu!

            Eu ainda não tinha caído na real até que todos começaram a aplaudir e comemorar. Naquele instante, fogos de artifício chamaram nossa atenção, e suas diversas cores iluminaram o sol. Lá em baixo, na praça, as pessoas comemoravam algo. A banda continuou a tocar e a animação parecia maior.

- Aniversário da cidade... – Um dos policiais disse. – Aquele desgraçado ia fazer tudo justo no momento dos fogos.

            De repente, meu corpo se arrepiou. Seria uma terrível tragédia muito bem planejada por Joseph. Pela primeira vez quis que ele tivesse vivo, para que pudesse ver que seu plano fracassou.

- Por sorte, tudo deu certo. – Rodriguez olhou para mim. – Parabéns, Padilha. Fez um ótimo trabalho.

- Obrigada.

- Contudo... Ainda gostaria de saber o motivo de sua ação, Robins. – Ele virou-se para o policial que se apresentou como culpado por ter atirado em Joseph. – Se Joseph continuasse vivo, o trabalho da Padilha poderia ter sido mais fácil, e ela poderia apenas ter arrancado dele como desativávamos a arma.

- Desculpe, Senhor. – Robins se aproximou. – Mas... O meu desejo de vingança falou mais alto. – Ele suspirou. – Joseph matou o meu irmão. Ele estava infiltrado entre os comparsas, e logo quando chegamos, eu o vi caído no chão. Mendiola me ajudou a tirá-lo do meio de toda a confusão, mas... Ele já estava sem vida. Ele me disse que Joseph havia atirado nele assim que ele chegou aqui. Eu sei que o que eu fiz foi errado, e irei arcar com as conseqüências. Mas, se quer minha sinceridade, não me arrependo por ter feito isso. Meu irmão era um bom rapaz, e havia acabado de entrar para a policia. Ele se espelhava em mim. Foi injusta a forma como ele morreu.

            Senti o meu coração doer. Fernando viu um homem morrer, e meio à toda confusão ainda ajudou que o irmão dele deixasse seu corpo longe de tudo. Senti o meu coração se cortar, e novamente me preocupei com ele. Eu precisava sair dali. Eu precisava vê-lo. E eu desejava do fundo do meu coração que ele estivesse bem. Eu não sobreviveria sem Fernando ao meu lado.

- Eu sinto muito por seu irmão. – Rodriguez disse com pesar. – Mas infelizmente não posso livrá-lo disso e deixá-lo como inocente. Você tirou a vida de um homem, mesmo que ele também tenha feito isso. Mas irei ajudá-lo. Sua punição não será tão grave.

- Obrigado, Senhor.

- Senhor... – Dei um passo à frente e Rodriguez me olhou. – Preciso ver o Fernando.

- Ah... É claro. Você pode ir. E... Bom trabalho. Terminarei de resolver tudo por aqui. Fernandez, acompanhe a Letícia até o hospital.

- Sim Senhor. – Marcela parou ao meu lado e sorriu.

- Vamos! Temos muita coisa para resolver! – Rodriguez exclamou e os policiais se dispersaram.

- Ele está bem. – Marcela olhou para mim. – Você vai ver.

            Sorri agradecida pelo pensamento positivo. Era tudo o que eu queria, que Fernando estivesse bem.

 

 

 

------------------------

 

FERNANDO

 

 

 

 

            Abri os olhos com dificuldade. A claridade me incomodava, mas aos poucos percebi onde estava. O cômodo era totalmente branco, e o cheiro estava me enjoando. Logo notei que estava na sala de um hospital. Quando enfim consegui enxergar normalmente, olhei em volta e percebi que não estava sozinho. Respirei aliviado ao ver Lety ao lado da cama, mexendo em algumas flores que estavam sobre a mesinha ao lado. Ela ainda não tinha notado que acordei, e isso me deu alguns segundos para que pudesse olhá-la. Ela estava bem, e estava ali ao meu lado. Fui incapaz de pensar em alguma palavra que expressasse a felicidade que senti naquele momento. Eu queria abraçá-la, e não soltar nunca mais, mas quando tentei me mover, senti uma pressão em meu peito que me fez gemer de dor.

            Imediatamente ela olhou para mim e abriu um largo sorriso. O sorriso pelo qual eu me apaixonei.

- Meu amor... – Ela sussurrou meio à um suspiro, aproximando-se da cama. – Não vi que estava acordado.

- Você está aqui. – Sorri tocando em meu peito que ainda estava dolorido. Havia uma faixa em volta dele, e só então percebi que eu estava sem camisa.

- E você está bem. – Ela segurou minha mão e voltei minha atenção totalmente para ela. – Você não sabe o quanto eu...

- Não... – Apertei sua mão carinhosamente. – Não diga nada. Não vamos falar sobre isso agora.

            Ela continuou sorrindo, com os olhos marejados.

- Eu só quero olhar pra você.

            Lety puxou um banco e sentou-se ao meu lado, entrelaçando sua mão à minha. Nossos olhares se cruzaram, e naquele momento eu senti que estava no céu. Depois de tudo o que passamos, depois de toda loucura que enfrentamos, conseguimos ficar juntos. Vê-la ali, em minha frente, sorrindo, fez com que eu pensasse quanta sorte eu tenho por ter uma mulher como ela ao meu lado.

- Eu te amo tanto... – Falei ainda olhando-a.

- Eu te amo muito mais. – Ela aproximou seu rosto do meu. – E finalmente podemos respirar aliviados.

- O que aconteceu com a arma?

- Voltou para as mãos do governo, mas dessa vez asseguraram que seria destruída. Eu duvido que irão fazer isso, mas... Ao menos Joseph não poderá usá-la novamente.

- Por que?

            Ela riu.

- Eu conto depois tudo o que aconteceu. Agora você precisa descansar.

- Descansar mais? Há quanto tempo eu estou aqui?

- Não muito tempo. Quando cheguei você estava na sala de cirurgia. Estavam retirando a bala. Por pouco não acertou no seu coração.

- É, eu dei muita sorte. – Sorri e ela me repreendeu.

- Isso não tem graça. Eu fiquei com tanto medo de te perder, Fernando. Quando vi você naquele chão eu... – Ela suspirou, limpando as lágrimas que rolaram eu seu rosto.

- Ei... – Levei uma das mãos até seu rosto e o acariciei. – Está tudo bem agora.

            Lety tomou fôlego e voltou a sorrir.

- Sim. Está tudo bem.

- E eu tenho que aproveitar o tempo que temos a sós. Imagino que agora você será uma heroína.

- Heroína? Por quê?

- Não foi você que salvou a todos?

- Não foi bem assim. – Ela riu.

- Foi sim. E quer saber? Eu sabia que você ia conseguir.

- Obrigada. – Ela apertou minha mão carinhosamente. – Foi difícil porque eu não conseguia parar de pensar em como você estava. Eu queria ter ficado ao seu lado o tempo inteiro.

- Mas você estava onde deveria estar. Do contrário, não posso nem imaginar o que teria acontecido.

- É, nem eu. Mas de qualquer maneira, Rodriguez não permitiu que o caso se espalhasse. É claro que sempre há comentários, mas o governo concordou em não dizer nada.

- É claro que concordaram... – Bufei. – Ainda não acredito que ficamos do lado do governo.

- Mas foi por uma boa causa. Prefiro pensar que fizemos tudo isso para salvar milhares de pessoas.

- Tem razão. – Sorri e voltei a olhá-la. – Agora teremos o descanso merecido, e sabe de uma coisa? Acho que deveríamos viajar.

            Ela gargalhou.

- Eu gostaria muito, mas podemos falar sobre isso quando você estiver recuperado.

            Olhei para o ferimento em meu peito.

- É, é melhor.

            A porta do quarto se abriu e Omar olhou para nós dois.

- Olá! – Ele sorriu. – Posso entrar.

- Omar! – Lety exclamou animada.

            Omar aproximou-se da cama e não pude conter a felicidade em vê-lo bem. Provavelmente ele pensou o mesmo de mim, e nos abraçamos animados, até a dor em meu peito interromper aquele momento.

- Desculpe. – Ele se afastou e me olhou. – Então... Qual é a sensação de ter sido baleado?

- Você sabe muito bem qual é.

- Mas você está pior do que eu.

- O destino se vinga bem das pessoas. – Sorri divertido e Lety bufou.

- Vocês são ridículos. – Ela disse irritada. – Não vejo graça nisso.

- Ela não entende... – Omar riu.

- Ainda bem.

            Novamente a porta se abriu, e Marcela nos olhou sorridente.

- Oi! – Ela adentrou o quarto. – Ah! Omar! Que bom te ver.

- Mesmo? – Omar a olhou. – Bom... Sendo assim, igualmente. Poderíamos fazer isso mais vezes, não acha?

- Fazer o que?

- Nos vermos.

            Marcela riu e cruzou os braços.

- Não pense que terei pena de você só porque levou um tiro.

- Mas isso já é um ponto a mais para mim. Não será tão fácil você conhecer um cara bonito e de bem que levou um tiro.

            Ela riu e Lety e eu nos olhamos.

- Ahm... Nós estamos atrapalhando algo? – Perguntei divertido.

- Não, é claro que não. – Marcela pigarreou. – Que bom que está bem, Fernando.

- Obrigado. – Sorri.

- Foi uma pena você ter perdido o show de Lety. Ela fez um ótimo trabalho.

            As duas se olharam e sorriram. Me senti aliviado por não ter mais o clima pesado entre elas.

- De qualquer maneira, vim me despedir. Vou voltar para o meu lugar, mas queria dizer que foi bom trabalhar com vocês mais uma vez.

- Igualmente. – Falei. – E obrigado pelo que fez por todos nós.

- Não há de que. – Ela sorriu.

            Pela terceira vez a porta do quarto se abriu, e eu pensei quem teria permitido tantas pessoas entrarem ali. Dessa vez, não era uma pessoa sorridente, mas ao menos pareceu contente em me ver bem. Rodriguez adentrou o quarto e todos fizemos silencio, esperando que ele dissesse algo.

- Como está, Mendiola?

- Bem, Senhor.

- Que bom. Você nos deu um grande susto.

- É, mas não foi dessa vez. – Sorri.

            Lety me olhou com raiva.

- Eu... Sei que não é o momento para isso, mas gostaria de me desculpar com você. Não deveria tê-lo tirado do caso, e talvez se tivesse confiado em você da primeira vez, teríamos evitado muita coisa.

- Não se preocupe, Senhor.

- De qualquer maneira, seu cargo ainda estará esperando por você quando se recuperar.

            Olhei para Lety e ela sorriu animada.

- Senhor... Eu agradeço, mas... Eu gostaria de conversar melhor sobre isso depois.

- Como?

            Todos me olharam confusos.

- Eu tenho algo importante para decidir com Lety, e o meu emprego depende dessa conversa. Se o Senhor não se importar, gostaria de conversar sobre isso depois, quando eu estiver recuperado.

            Rodriguez sorriu e eu não me lembrava a ultima vez que o vi sorrir.

- Tudo bem. Como quiser.

- Obrigado.

- Bom... Não vamos atrapalhá-los mais. Imagino que queiram ficar a sós. Carvajal, Fernandez... Vamos?

            Marcela e Omar concordaram, e se despediram de nós dois. Quando saíram do quarto e nos deixaram a sós, Lety virou-se para mim e perguntou:

- Posso saber o que temos para conversar? Rodriguez estava te dando o seu cargo de volta, e você ficou tenso durante um dia inteiro pensando que perderia o seu emprego ou seria rebaixado.

- Não estou me importando com o emprego agora, Lety.

- Como é que é?

            Respirei fundo e voltei a segurar sua mão.

- Você sabe o quanto me preocupo com você, e chego a ficar neurótico com isso.

            Ela me olhava com atenção.

- Quando estávamos no meio daquela bagunça, eu vi quando Joseph apontou a arma para você. Foi como se tudo passasse em minha cabeça em câmera lenta. Eu sabia que ele atiraria contra você e... Naquele momento... Por um segundo eu pensei que eu não poderia viver se algo acontecesse com você.

            Minhas mãos tremeram ao pensar naquilo novamente.

- Eu não pensei em mais nada a não ser correr até você a tempo de tirar você da mira dele. E foi quando eu te empurrei que...

- A bala te atingiu. – Ela disse com pesar. – Eu só percebi depois que tudo aconteceu. Você me salvou Fernando, mas eu também não poderia viver sem você.

- Eu não pensei com clareza. Eu só senti um medo surreal de perder você. E eu me lembro que quando caí no chão e você se aproximou de mim, eu pensei que se algo acontecesse comigo, eu ficaria feliz por ter visto você pela ultima vez.

- Não fala isso... – Ela choramingou com os olhos cheios d’água.

- Sabe quando dizem que quando você está prestes a morrer, você ve sua vida inteira passar como um flashback?

            Ela balançou a cabeça concordando.

- Eu vi a minha. E não havia um momento que você não estivesse comigo. E mesmo que pareça besteira, eu me lembrei de todas as vezes que perdi a oportunidade de falarmos sobre termos uma família.

- Meu amor, não precisamos falar disso e...

- Lety, eu preciso falar disso. – Apertei sua mão e a olhei com seriedade. – Eu adiei esse assunto por tanto tempo porque tinha medo de falar sobre isso. Eu não estava preparado para pensar em tudo que abriríamos mão para termos uma família. Mas foi naquele momento que eu me senti péssimo por isso. Eu deveria ter aproveitado mais o meu tempo com você. Deveria ter recusado várias propostas de Rodriguez para termos alguns dias de descanso. Deveria ter levado você para viagens românticas, deveria ter me dedicado para formarmos uma família.

            Ela sorriu triste.

- Eu me senti culpado por ter perdido tanto tempo apenas pensando em trabalho. Não precisávamos ter trabalhado tanto. E é por isso que agora eu quero que tenhamos a nossa conversa. Quando voltarmos para nossa casa, teremos todo o tempo do mundo para falarmos sobre nossa família. Isso é, se você ainda quiser...

- É claro que eu quero. – Ela sorriu. – Mas... Eu não quero que se sinta obrigado à isso. Não quero que toda essa adrenalina faça você dizer coisas que realmente não...

- Lety. – A interrompi. – Ter uma família com você é o que eu mais quero nesse mundo. E sim, eu estava tenso e com medo antes, mas agora não estou mais. Agora eu tenho certeza de que nada me deixaria mais feliz do que ser pai dos seus filhos.

            Ela sorriu emocionada e se aproximou de mim.

- Você fala sério?

- Muito sério. – Sorri. – E me desculpe por ter feito você esperar tanto. Eu me sinto péssimo por isso.

- Não sinta. Estou feliz por você ter sido sincero.

            Toquei em seu rosto carinhosamente.

- E você sabe quando terei alta? Não vejo a hora de irmos para casa.

- O médico disse que você precisa ficar em observação por hoje, mas que não vai demorar para você ter alta. Ah... E por falar nisso... Márcia insistiu para que eu dissesse onde estávamos. Eu não disse porque tenho certeza que ela viria até aqui com seus pais, e aqui não é o melhor lugar para explicarmos tudo o que aconteceu.

- Tem razão.

- Eu a tranqüilizei e disse que você estava bem, mas acho que vai ser bom se você ligar para ela depois.

- Tudo bem, eu ligo depois. Agora... Eu quero aproveitar que tudo terminou bem. – Sorri olhando em seus olhos.

- Na verdade, não terminou. Está apenas começando... – Ela sorriu.

 


Notas Finais


Então pessoas... Eu não sei se esse capítulo ficou bom, tentei dar o meu máximo. E olha... Foi difícil escrevê-lo KKKKK Quis tentar fazer algo um pouco mais realista, mas não sei o que acharam sobre isso. Acho que já deu para notar o quanto Lety é inteligente, não é? E eu quis colocar um papel importante para ela para enfatizar isso. Espero que não tenha ficado muito exagerado e nem muito confuso. Mas, estarei à disposição de responder as perguntas. Como eu já disse várias vezes aqui, é a minha primeira fic policial, então eu posso não ter muito jeito com isso.


PS: O próximo cap ja é o epílogo, mas como devem se lembrar, a fic será dividida em temporadas ♥


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...