História A moleca e O garanhão - Capítulo Quinze

Capítulo #15 - 

POV Alícia - 

 Faltavam apenas três dias para o baile, que seria numa sexta feira a noite, e eu nem sequer me importava mais com nada que envolvesse ele. 

 No dia em que Paulo esteve na minha casa, tentei insinuar que eu não acharia ruim ir ao baile com ele, mas pelo visto ele não percebeu isso, porque não me chamou para ir. Então como eu não podia fazer nada, e não tinha um par, no último baile do ano eu não estaria presente.

Na semana em que ele iria acontecer não tivemos aula, afinal, como era um evento muito grande aonde iam muitas pessoas, os organizadores decoravam a escola inteira, e se nós alunos estivéssemos lá iríamos atrapalhar, com certeza. Por isso, eu me encontrava fazendo a mesma coisa de sempre: deitada na cama, vestindo meus amados pijamas, comendo porcarias e assistindo séries. 

Eu já estava quase para acabar um episódio, quando minha mãe invadiu meu quarto. 

 - Quando você vai aprender a bater na porta? 

 (Viviane) - Me respeita, garota! Só invadi o seu habitat assim porque tenho novidades. 

- O que? Foi no shopping e tinha roupas bonitas em liquidação? Essa sempre é sua novidade. - respondi desanimada.

 (Viviane) - Claro que não é isso, Alícia. Deixa de ser chata. É o seguinte, eu acabei de voltar daquele Ateliê que eu amo sabe? E aluguei um vestido maravilhoso pra você, sexta ele estará prontinho, ai nós vamos busca-lo. 

 - Vestido? Meu Deus, pra quê? - fiquei preocupada com a notícia, que até ajeitei minha postura e fiquei sentada de forma ereta na cama. 

 (Viviane) - Oras, para ir ao baile. E nem venha me dizer que você não vai, porque você vai sim. É seu último ano na escola, e é sua obrigação ir ao baile. 

 - Eu não vou, mãe! Já disse! 

 (Viviane) - Até sexta feira você muda de ideia. Se anima, garota! 
 *** 

 POV Maria Joaquina - 

 [Sexta feira, dia do baile] 

 Eu havia acabado de chegar na casa do Cirilo, pois tínhamos combinado de passar a sexta feira juntos. Não sabia ao certo o que nós tínhamos. Não éramos namorados, porém, ao contrário de antes nós estávamos muito amigos. Só que nessa amizade estava incluso beijos e carinhos, então devíamos ter uma... amizade colorida! 

 Fazia tempo que eu não me sentia tão bem assim com uma pessoa. Não que o Paulo fosse o pior namorado do mundo, mas todos sabiam que aquilo era fachada, e mesmo não querendo aceitar, até eu sabia. E mesmo depois do ocorrido, eu não culpei o Paulo por nada. Aquilo tinha me ajudado a amadurecer muito, eu era uma pessoa muito melhor. E graças a isso, eu pude ter a enorme chance de conhecer o verdadeiro Cirilo, e ele era incrível. 

Depois que eu cumprimentei seus pais, nós subimos para seu quarto, aonde ficamos trocando alguns beijos até ele começar a falar. 

(Cirilo) - Você realmente está muito mudada! 

 - Estou? Por que acha isso? 

 (Cirilo) - Hoje é o dia do baile, e pelo que eu saiba, a Maria Joaquina Medsen de antes estaria no salão desde agora se arrumando para estar impecável quando for de noite. Mas ao invés disso, você está aqui, comigo! 

 - Ah Cirilo... Você tem razão, eu mudei mesmo. Mas eu estou feliz com isso, prefiro ficar aqui com você. Sem contar que eu já estou quase toda pronta. Minhas unhas estão feitas, fiz limpeza de pele ontem, meu vestido já está em casa. E eu vou ao salão arrumar o meu cabelo e fazer minha maquiagem sim, só que não vou demorar muito tempo lá, por isso não preciso me preocupar com isso agora. Eu continuo sendo bem organizada, e está tudo sob controle. 

 Nós sorrimos e ficamos olhando um pro outro. Coloquei minha cabeça em seu colo e fechei os olhos enquanto suas mãos acariciavam meu cabelo. 

 (Cirilo) - Sabe, parece que nós vamos fechar o ano letivo com chave de ouro. Esse baile tem tudo pra ser incrível. 

 - Você diz isso porque vai ao baile comigo né? Eu sei que sou uma ótima companhia. - falei brincando. 

 (Cirilo) - Com certeza. Mas também porque parece que agora tudo está certo com a turma. Eu e você. Jaime e Valéria. Jorge e Margarida. Mário e Marcelina. Daniel e Carmen... Todos nós estamos indo aos pouquinhos, mas estamos conseguindo ficar juntos. Só faltou o Paulo e a Alícia, mas... 

Me levantei do colo dele rapidamente. O caso "Paulo e Alícia" estava sendo comentado por todos nós da sala, mas parecia que não estavam havendo progresso nenhum, e isso me preocupava. Eu queria ver os dois juntos! 

 - Me diga que o Paulo chamou a Alícia para ir no baile, pelo amor de Deus! 

(Cirilo) - É... Não, ele não chamou! E pelo que parece os dois não vão ao baile. Essa foi a única coisa que eu fiquei sabendo. 

 - Como assim? O Paulo é um idiota mesmo. Eu tenho que dar um jeito nisso! 

Cirilo ficou me encarando com uma expressão espantada de quem não estava entendendo nada. Mas de verdade, eu estava torcendo muito pelos dois, queria que Paulo recuperasse o tempo que perdeu comigo sendo feliz com alguém que ele realmente gostasse, e eu sabia que a Alícia era certa pra isso. 

 - Cirilo, você tem o telefone da casa da Alícia, não tem? - ele assentiu - Então me passa que eu vou ligar lá agora, preciso fazer com que ela esteja presente no baile. 

Em questão de segundos ele pegou o número e me deu. Digitei no meu celular e após chamar algumas vezes, alguém atendeu. 

 ~ Ligação On ~ 
 Eu: Alô? É da casa da Alícia? 
 Viviane: Sim, aqui é a mãe dela. Com quem eu falo? 
 Eu: Dona Viviane!!! Eu sou Maria Joaquina, uma colega da sua filha e... Bem, isso não vem ao caso agora. Eu só queria saber se a Alícia vai ao baile essa noite? 
 Viviane: Não, querida. Eu insisti para que ela fosse, mas parece que realmente não está afim. Eu já ia até ligar para o ateliê onde aluguei um vestido pra ela e cancelar o aluguel. 
 Eu: Não faça isso! Eu quero muito que a Alícia vá ao baile, e se a senhora me ajudar, talvez eu convença ela a comparecer. 
 Viviane: E o que você pretende fazer? 
 Eu: Primeiro preciso que a senhora me passe o endereço do ateliê, eu mesma vou até lá buscar o vestido da Alícia. E espero que isso fique só entre nós, não conte a ela que estou fazendo isso, e deixe o resto comigo. 
 Viviane: Claro! Pode contar comigo. Bem, vou passar o endereço...

 ~ Ligação Off ~ 

 A ligação foi encerrada e em questão de segundos eu já estava do lado de fora da casa do Cirilo. 

 (Cirilo) - Majo? Aonde vai? 

 - Eu preciso resolver uma coisa, Cirilinho. Me desculpa por não poder passar o dia com você, mas você sabe que ainda teremos muito tempo pra isso. 

(Cirilo) - Tá, tudo bem. Mas cuidado viu. Boa sorte! 

- Estarei te esperando na minha casa às oito. - então demos um selinho e eu parti. 

Cheguei no ateliê e consegui pegar o vestido da Alícia, pois a mãe dela havia ligado a minutos atrás dizendo que eu tinha permissão para pega-lo. Feito isso, pedi que meu motorista me levasse rapidamente até a casa do Paulo, pois antes de qualquer coisa eu tinha que falar com ele. 

Assim que cheguei, fui logo para seu quarto e praticamente invadi o lugar. 

 (Paulo) - O que você ta fazendo aqui? Ficou louca? 

 - Não tenho muito tempo para ficar me explicando, então me diga logo... Você tem um terno em boas condições? 

(Paulo) - Óbvio, você sabe que terno é a única coisa que meu pai me dá. Inclusive tenho um novo que nunca usei. Por que? Vai me dizer que quer emprestado? - ele riu. 

 - Me poupe. Eu só vim avisar que o baile é às nove da noite e é sua obrigação estar lá. 

(Paulo) - Me poupe você! Eu já disse pra todo mundo que não vou. 

 - Paulo, eu não estou pedindo, estou mandando você ir. Se for preciso eu falo até com seu pai... 

(Paulo) - Deixa meu pai fora disso. Ta, eu vou. Só que isso tem que valer a pena, caso contrário, eu apronto alguma com você. 

 Apenas concordei, me despedi e fui embora. A parte mais difícil vinha agora. 

Cheguei na casa da Alícia, com a companhia daquele vestido enorme que até agora eu não tinha visto como era. Conversei com sua mãe antes e ela me explicou que eu teria que ser paciente, pois a Gusman estava totalmente estressada com essa coisa de baile. Fui até seu quarto e bati na porta algumas vezes, até ela gritar um "entra". Entrei e pude ver sua expressão totalmente surpresa com a minha visita. 

(Alícia) - Maria Joaquina? O que faz aqui? E o que é essa coisa que está segurando? 

- É a sua vestimenta para ir ao baile. - ela me olhou com uma cara feia - E calma, escuta primeiro o que eu tenho pra dizer. Sei que você não quer ir ao baile, e o maior motivo disso é o fato de você não ter um par... Mas veja bem Alícia, você nunca precisou de homem para fazer nada, certo? Sem contar que esse é nosso último ano, finalmente vamos nos despedir da escola e porque não fazer isso se divertindo nesta noite? E outra, se você realmente fizer questão de ir ao baile acompanhada, não custa nada você mesmo tomar a iniciativa e chamar alguém pra ir com você. 

 (Alícia) - Quem mandou você fazer isso? Minha mãe? 

- Não. Eu mesma! Queria retribuir de alguma forma o que você fez por mim no dia em que eu terminei com o Paulo. 

Ela pareceu pensar por alguns minutos e eu já estava ficando preocupada com todo aquele silêncio. Quando finalmente ela saiu de seus pensamentos, imaginei que fosse gritar comigo e dizer o quão intrometida e inconveniente eu era, mas ao invés disso ela apenas falou...

 (Alícia) - Me dá aqui esse vestido. Nos vemos no baile!