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História A Mulher que ela Ama Odiar - Quiosque


Escrita por: QueenShipper

Notas do Autor


E ai gente...
Mais Cap pra vocês, se divirtam kkkkk

Capítulo 3 - Quiosque


Fanfic / Fanfiction A Mulher que ela Ama Odiar - Quiosque

Ela não deveria ter dito aquilo. Estavam a mais de 15 mé­tros de altura, sem ter para onde escapar e Regina sabia que acabara de desafiar uma mulher que, desde a adolescência, tivera e abandonara um sem número de mulheres mesmo ela não sabendo que sou uma era melhor ter ficado de bico calado.

Pelo que se dizia, Emma Swan sabia exatamente como agra­dar uma mulher. E podia se dedicar a isso durante uma noite inteira se estivesse disposta. Por outro lado, ao que parecia, até agora fora impossível manter o interesse de Emma Swan por mais de uma noite por uma única mulher.

Nenhum rumor jamais chegara aos ouvidos de Regina de que Emma tinha alguma preferência por homens, mas pelo modo como o ar se tomara mais denso na gôndola... O modo como os olhos dela haviam cintilado e como seu olhar se fixara em sua boca antes que Emma o desviasse...

O que seria pior?

A fúria de Emma?

Ou sua aquiescência?

Então Emma voltou a olhar para ela e alguma coisa nos olhos verdes inteligentes fez Regina sentir como se o chão estivesse se abrindo sob seus pés.

Ela abaixou os olhos, ajeitou o corpo sobre a caixa e plantou os pés com mais firmeza no chão. E esperou pela resposta dela.

— Sinto muito, garoto — disse Emma rispidamente. — Você não faz o meu tipo, da fruta que gosta eu chupo até o caroço, isso claro se você gostar de mulheres.

Um silêncio pesado caiu sobre elas.

— Tente o rádio novamente — sugeriu Regina. Emma fez o que ela dizia, mas ninguém respondeu.

Emma ficou em silêncio novamente, enfiou as mãos nos bol­os e abaixou os olhos para o chão. Regina se viu livre para exa­minar o rosto da mulher à sua frente. Os traços eram perfeitos, de uma beleza máscula porém não menos feminina, com uma boca absurdamente sensual.

Felizmente ela parara de pressioná-la sobre o conteúdo da caixa e não lhe pedira mais para que tirasse os óculos, mas agora Regina estava começando a pensar que havia coisas na caixa que poderiam ser úteis para eles. Luvas para começar. Algumas muito pequenas para Emma, mas outras à prova d’água, que serviriam. Chás de ervas, de que a mãe dela gostava e algumas comidas sofisticadas como biscoitos de amêndoas e chocolates da marca Godiva.

Além de xampu e condicionador, cremes hidratantes com fragrâncias florais. Escova de cabelo e de dente...

E uma foto de Cora em um porta-retratos.

E também a colcha da cama que a mãe de Regina tanto amava. Regina não perguntara de onde ela viera e Cora também não dissera. Era o bastante que a mãe quisesse mantê-la.

Não havia sido roubada, foi um presente. Do amante de Cora.

Provavelmente o único presente que Cora Mills aceitara, porque ela não era uma prostituta, não importava o que falassem.

Os próximos vinte minutos pareceram horas. O tempo fica­va cada vez pior, com mais neve e mais vento. Se Killian tive­ra problemas mecânicos, havia grande possibilidade de que a gôndola não saísse de onde estava até a manhã seguinte — isso, caso os mecânicos conseguissem subir a montanha.

O resgate teria que esperar até o tempo melhorar. A gôndola era bem protegida e não era provável que caísse, apesar de estar balançando tanto. Na verdade, o maior perigo para eles era o frio.

Regina se sentia ótima, estava usando mais camadas de roupa do que necessitava. Já Emma Swan não podia dizer o mesmo.

Carrancuda, ela saiu de cima da caixa e arrancou a fita ade­siva que a fechava. As luvas estavam por cima e a colcha es­tava no fundo da caixa, protegida por um plástico. Talvez eles acabassem precisando dela...

— Pegue — disse Regina, quando encontrou as luvas — Experi­mente. — Ela as estendeu para Emma.

Emma examinou as luvas e perguntou:

— Não tem nada menos rosa aí?

— Não, mas há luvas à prova d’água em algum lugar, aqui.

— Regina voltou a procurar na caixa até conseguir desencavar o que procurava. — Devem esticar.

As luvas comuns eram mesmo pequenas demais para ela. Já as luvas à prova d’água serviram melhor. Regina assentiu, aprovando.

Emma deu um sorriso sem humor.

— O que mais você conseguiu?

— Biscoitos. — Ela tirou a embalagem da caixa. — E chocola­te... Mas acho que estão fora da validade.

— Bom saber. Gostaria que houvesse um bom uísque esco­cês aí dentro. Mesmo que também estivesse fora da validade.

— Não há uísque. — Regina deixara a garrafa na cabana, porque era uma bebida masculina. No entanto, na caixa havia... Champanhe. Uma garrafa do melhor Dom Perignon que provavelmente custara mais de 200 dólares. Ela preferiu deixar o champanhe onde estava e abriu o pacote de biscoitos. Pegou dois e deu o resto para Emma, que pegou o pacote sem comentários e começou a comê-los. Enquanto isso, Regina tentava não prestar atenção na boca da mulher a seu lado, ou no modo como seus cabelos revol­tos davam a impressão de que ela havia acabado de sair da cama de alguém...

Pensar no que Emma seria capaz de fazer com alguém na cama era uma péssima idéia. Parecia melhor desviar o olhar e rezar para que a gôndola voltasse a se mover o mais rápido possível.

— Quer mais? — A voz de Emma era quase um grunhido. Regina se sobressaltou e a encarou com receio. Emma estava lhe oferecen­do os biscoitos.

— Não, obrigado.

— Quando foi à última vez que comeu? — perguntou ele.

 — Na hora do almoço. E quando foi a última vez que você comeu? — Emma atacara os biscoitos com voracidade.

— Ontem.

Que maravilha... Um Emma Swan faminta e furiosa...

— Coma — disse Regina.

Emma fez o que ela dizia. Então foi até a caixa e espiou o conteúdo. Viu artigos de toalete, os chás e mais algumas miu­dezas e não fez comentários. Enquanto isso, ao redor dos dois, o vento uivava, a gôndola balançava e o cabo rangia como se estivesse prestes a se romper.

— Você está com frio? — perguntou Regina.

— Um pouco. E você?

— Não. — Provavelmente porque ela estava com camadas duplas de roupas. Poderia dar um de seus gorros a ela... Deveria fazer isso. Mas ainda não. Regina se sentou no chão do jeito mais masculino possível e checou novamente o celular, dessa vez para saber as horas. Eram 17h18.

Ainda faltava um pouco para escurecer.

Então elas ouviram o barulho de alguma coisa se partindo, cortando o ar, o tipo de som que ninguém na encosta de uma montanha deseja ouvir, que reverbera nos ossos e faz o mundo chacoalhar.

— O que foi isso? — perguntou Regina, em um fiapo de voz, lutando para ficar de pé novamente e tentando desembaçar o vidro da gôndola, para ver do lado de fora. — Está conseguindo ver? — Ela se referia à avalanche, que obviamente fora a causa do barulho.        

— Ainda não — disse Emma, indo para o outro lado da gôndola para tentar ver melhor.

— Talvez tenha sido só uma árvore caindo...

Então a montanha voltou a rugir e a gôndola balançou com mais força ainda, fazendo com que a caixa virasse, espalhando embalagens de chá por todo o lado e deixando a garrafa de champanhe rolar.

Emma praguejou e Regina cambaleou até alcançar a garrafa. Ela levantou a caixa, voltou a guardar o champanhe e fechou as abas. Nesse momento, Emma a segurou pelo braço e puxou-a para junto de si, para que ela visse o pedaço gigantesco da montanha começando a se desprender à direita delas.

— Não estamos no caminho da avalanche — murmurou ela.

— Veja.

Ela estava certa, Mas o medo parecia se recusar a ir em­bora. Regina fechou os olhos e se agarrou ao corrimão, na porta da gôndola. Podia sentir Emma atrás dela, próxima, mas sem tocá-la. Teve vontade de se aconchegar a Emma, só para sentir o contato do corpo de outra pessoa.

— Veja — disse Emma novamente, a voz baixa, em um mur­múrio reverente.

— Não, obrigada.

— Você nunca mais verá uma coisa destas. Não deste ângulo.

— Espero que isto seja uma promessa — comentou-a, as­sustada. Mas a gôndola havia parado de balançar, e Regina olhou pelo vidro. Ela ofegou diante da beleza terrível da terra desli­zando sob eles.

Abalada, Regina se voltou para encarar Swan e viu que a tola estava rindo. Era um riso atraente, convidativo... Um riso do qual ela sabia que deveria se manter o mais distante possível.

Já estava na hora de saírem dali. Mas como? As equipes de manutenção passariam dias checando a montanha, às torres das gôndolas, consertando tudo.

Naquele momento, Regina achou que valia a pena abrir a gar­rafa de champanhe. Ela se ajoelhou e abriu a rolha com sua experiência de anos trabalhando no bar da mãe. Então bebeu direto da garrafa.

— Bem, essa é uma maneira de beber... — comentou Swan, secamente, antes de se agachar no chão ao lado de Regina, pegar a garrafa com a mão grande e levá-la diretamente aos lábios.

— Há outras.

— Deste jeito está funcionando muito bem. — Ao menos es­tava antes de ela tirar a garrafa da mão de Regina. — Se importa de me devolver? — Regina fez sinal para a garrafa. — Você está interrompendo meu momento de pânico.

— Eu sei. — E, pela expressão nos belos olhos verdes, preten­dia continuar a interromper. Emma voltou a levar a garrafa aos lábios, mas não bebeu muito. Regina estava morrendo de sede.

Álcool e hipotermia não combinam — falou Emma, com mais gentileza do que ela o teria imaginado capaz.

— Não estou com hipotermia — resmungou Regina. — Estou em choque. E o álcool é ótimo nesses casos.

— É verdade. — Emma estendeu a garrafa para ela. — Você discute como uma garota. E também bebe como uma garota.

Regina ficou imóvel, dividida entre a vontade de pegar a garrafa da mão dele e confirmar suas suspeitas, ou não pegar e também confirmar as suspeitas. No final ela pegou a garrafa e resolveu mandar para o inferno as suspeitas e desconfianças. Suas prioridades haviam mudado por conta da perspectiva de morte iminente.

— Escute. Não estou dizendo que esta é uma situação ideal, mas por enquanto estamos seguros o bastante — falou Emma, em um tom tranquilizador, inclinando-se para tirar a garrafa da mão dela de novo. — Temos abrigo, comida, até champanhe. E os telefones voltarão a funcionar assim que a nevasca pas­sar. Não estamos longe da estação. Eles logo chegarão até nós. Ei... — falou ela com gentileza.

Os óculos de Regina estavam embaçados... Ou talvez fossem lágrimas.

— Garota. — O tom de Emma era ainda mais gentil. — Porque você é uma garota, isso eu já consegui descobrir. Fique tran­quila. Não entre em pânico. Vai ficar tudo bem.

Regina ficou realmente grata pelas palavras dela.

Então a montanha voltou a se mover e, dessa vez, a gôndola também se mexeu, como se para encontrá-la.

Caindo, caindo, como se em câmera lenta, ainda presa ao cabo, que não os deixara não mão. Mas com certeza alguma outra coisa se rompera... Emma se adiantou e tomou Regina nos braços, pressionando-a contra o que antes fora o chão, en­quanto a gôndola descia em uma velocidade cada vez maior na direção do solo. Elas provavelmente começariam outra avalanche...

— Segure, firme — sussurrou Emma, abraçando-a com mais força e apoiando o queixo de Regina contra seu peito: Ela tinha um cheiro gostoso. Mesmo em meio aquele pânico todo, Emma cheirava bem.

Então a montanha os encontrou e o mundo ficou escuro...

Regina acordou sentindo dor e desconforto. Ela foi voltando à consciência lentamente, lembrando-se aos poucos do que acontecera. A gôndola descendo rápido. A avalanche. Emma Swan. Ela estava deitada sob o corpo dela, muito gelada, mas ainda respirando. E, ao redor delas, a gôndola destruída e meio enterrada na neve fofa.

A mulher embaixo de Regina sem dúvida estava respirando e ela se desvencilhou dela lentamente para o bem de ambas. Regina estava com frio, muito frio. E Emma parecia pior. Sem gorro, vestindo apenas um casaco, o rosto muito pálido, a não ser pelo sangue que escorria de um corte em sua testa. Regina esticou a mão para tocar no rosto dela e sentiu o quanto estava gelada.

Ela lutou para tirar os óculos de esqui, arrancou o gorro de pele de carneiro que usava e colocou em Emma. Regina voltou a colocar os óculos e segurou o rosto dela entre as mãos, rezan­do para conseguir aquecê-la.

— Emma acorde. — Ela se mexeu e abriu os olhos, mas seu olhar estava vidrado. — Emma, olhe para mim.

Ela tentou.

— Swan, concentre-se.

— Eu lhe disse que ficaríamos bem — murmurou Emma, co­meçando a deslizar novamente para a escuridão.

— Não. Emma. Ei! Swan, acorde! Temos que ir!

— Ótimo — disse ela. — Vá. — Emma levou a mão à cabeça, que devia estar doendo. — Vou ficar aqui.

— Não. Você morrerá se ficar aqui. Emma, concentre-se. E mexa-se! Não temos abrigo e já está quase escuro. Precisamos ir.

— Ir para onde?

Boa pergunta. Regina ainda não sabia como respondê-la.

— Acho... Bem, acho que temos duas escolhas. Podemos ficar aqui e tentarmos nos abrigar no que restou da gôndola, ou... Se você conseguir subir, podemos tentar voltar para a es­tação de esqui, no alto. O cabo ainda está preso a alguma coisa lá em cima. Veja.

Emma seguiu o olhar de Regina e confirmou o que ela dizia.

— Acho que não deveríamos ficar aqui. Não se você puder se mover — argumentou ela, ansiosa. — O que quer fazer?

— Subir — disse Emma, depois de um tempo. Regina ajudou-a a se levantar e assim eles seguiram um passo lento após o outro, com o cabo como guia.

— Sabe o que eu odeio? — falou ela, em um momento em que Emma caiu e demorou em se levantar. — Pessoas que re­cebem tudo de mão beijada e simplesmente desistem diante do primeiro obstáculo. — Regina sabia o quanto ela estava fraca e também sabia que a raiva ajudaria a manter a determinação de Emma.

— É mesmo?

— Sim. — Ela ficou furiosa com a mão que ela ofereceu para ajudá-lo a se levantar, mas aceitou. — Sabe o que mais eu odeio? — perguntou Regina. — Mulheres que acham que podem ter tudo. Talvez até possam, mas muitas vezes não devem!

— Você guarda muito ódio. Sabe disso, não é?

— Pode ter certeza. Também odeio bêbados desagradáveis, mas quem não odeia?

— Já eu, odeio mulheres carentes e grudentas.

— Eu também — respondeu Regina, enfática. Ela pensou um pouco e acrescentou. — Você realmente deveria tentar uma re­lação com um homem.

— Você também — murmurou ela. — Há algum motivo para que se vista como um garoto? Queria ser um?

— Não — retrucou Regina.

— Então... Por quê? Você tem meia dúzia de irmãos mais velhos e pega as roupas deles emprestadas para trabalhar na montanha?

— Não.

— Então por que o disfarce?

— Força do hábito. — E necessidade também. A conversa parou por aí, enquanto elas se esforçavam para continuar a subir. Regina estava bastante aquecida, mas sabia que Emma não deveria estar.

O cabo agora se erguia acima da cabeça delas, o que era bom porque a estação de esqui devia estar próxima, mas ruim porque agora Emma não tinha mais onde se apoiar. Emma caiu de novo.

— Emma. — Regina se ajoelhou ao lado dela e viu que seu rosto estava pálido, os lábios azulados e os olhos fechados. — Acor­de! Vamos! Estamos quase lá! Fale comigo, diga-me o que você odeia.

— Eu os vi juntos uma vez. — Os olhos dela ainda estavam fechados. — Comprando roupas.

— Quem? — Regina a ajudou a se levantar e passou o braço dela por cima de seus ombros. — Quem você viu?

— Cora e Regina Mills. E meu pai.

— Não, você não viu — retrucou-a, ríspida. — Talvez ele estivesse apenas passando.

— Você já as viu? — perguntou Emma. — Cora Mills e a filha?

— Sim, eu já as vi. — Por que ela estava insistindo nisso?

— Então você sabe.

— Sei o quê? — Regina soltou o braço dela e seguiu na frente, abrindo um caminho na neve para facilitar a caminhada de Emma. — Que são duas vagabundas?

— Que são de tirar o fôlego.

Não era isso o que Regina esperara ouvir daquela mulher.

— Isso não é um crime.

— As duas são arrogantes.

— Bobagem — sussurrou Regina.

— É como se soubessem o que estamos pensando e não ligassem à mínima.

— Talvez seja um mecanismo de defesa.

— É de enfurecer, isso sim.

Regina não se dignou a responder.

— Cora Mills manteve meu pai sob rédea curta por mais de 12 anos. Ela sabia que ele tinha esposa e filhos, responsabi­lidades. Mas nunca se importou.

— Não deveria ter sido ele a se importar?

— Ele se importava — falou Emma.

— Claro... — resmungou Regina. — Só que não o bastante para deixar de ser adúltero. Era mesmo um modelo de perfeição...

— É do meu pai que você está falando.

— Isso mesmo. — Ela se calou e deixou que a raiva a impul­sionasse na subida. Depois de um tempo, a raiva sumiu e o desespero começou a dominá-la. — Não pode estar muito lon­ge, não pode...

Mas estava.

Elas continuaram a andar usando o cabo da gôndola como guia.

Regina seguiu até também cair exausta. Então Emma se abai­xou para encará-la.

— E ainda há a filha — disse ela com a voz rouca.

— O que tem a filha?

— Ela é perfeita — murmurou Emma. — E astuta. Conseguia o que queria do meu pai. Ele conseguiu vários empregos para ela.

— Ele o quê?

— Ela nunca ficava muito tempo em nenhum deles.

— Talvez ela não gostasse de nenhum deles — retrucou Regina.

— Ao que parece, ela se considera uma artista.

— Talvez ela seja uma artista.

— E tem mais. Ele comprou uma casa para ela em Boston.

— Ele o quê?

— Agora você acredita em mim.

Na verdade, ela não acreditava. Emma estava errada.

Regina ficou parada, respirando com dificuldade e tentando esquecer a idiota à sua frente e as besteiras que ela dizia. Precisava se concentrar em chegar à estação de esqui. Aquilo era...?

— Emma, olhe para cima — disse ela.

Mas Emma não a ouviu. Regina segurou o braço dela e apontou.

— Veja! É o telhado da estação de esqui!

Emma se afastou do toque dela e isso trouxe a Regina à lembran­ça da última vez em que a tocara. Deus, fora há anos.

Mas ela se lembrava perfeitamente.

— Não me toque — disse Emma.

Ela dissera a mesma coisa anos atrás. E fizera com que Regina se sentisse suja, sem saber por quê. Ela só começara a enten­der quando voltara para casa, da escola, e Cora tentara lhe explicar que havia se apaixonado pelo marido de outra mulher.

— É o telhado da estação de esqui — repetiu Regina secamente.

Emma parou e olhou para onde ela apontava.

— Para a direita ou para a esquerda? — perguntou ela, já que a rampa à frente era muito íngreme. Se fossem pela direita, aca­bariam na torre de controle. Pela esquerda chegariam ao quios­que. Killian deveria estar na torre de controle, mas pelo silêncio do rádio, ela estava vazia. Os dois lugares provavelmente esta­vam trancados. — E então? Torre de controle ou quiosque?

Regina não sabia o quanto de energia restava a Emma.

— Quiosque — respondeu Emma com dificuldade. As duas voltaram a caminhar pela neve alta e fofa, que já chegava aos joelhos delas. Regina rezava para que não houvesse mais ava­lanches.

A travessia era lenta. Quando não era Emma que caía, era Regina. O frio e a exaustão começavam a dominá-las.

— Chocolate quente — disse Regina em determinado momento, quando ambas haviam caído.

— É algo que você odeia? — perguntou Emma, lutando para se levantar.

— É algo que eu quero — murmurou ela. — Um chocolate quente bem cremoso descendo por minha garganta e a xícara aquecendo minhas mãos. Nem consigo mais sentir os meus lábios.

— Bem, com certeza eles ainda estão se movendo — comen­tou Emma, olhando fixamente para os lábios dela e os deixando mais quentes no mesmo instante.

Emma Swan, o antídoto natural contra o frio.

È então, finalmente, depois do que pareceram horas, as duas se viram paradas no deque do quiosque. Regina se agarrava ao corrimão, as lágrimas queimando seus olhos. Como entra­riam? Ela não conseguia nem pensar...

Aporta estava trancada e havia grades nas janelas.

— A janela do banheiro — disse Emma. As duas foram até ela e confirmaram que realmente não havia grades ali. Mas a jane­la ficava muito no alto e não era grande. Também não estava Aberta.

Regina ficou parada, a mente vazia e o corpo lutando contra o cansaço extremo. Emma tirou o casaco, enrolou-o no pulso e quebrou o vidro da janela.

— Venha — falou ela sentando-se no chão e apoiando as cos­tas na parede do quiosque. — Suba nos meus ombros.

— Para isso terei que tocá-la. E você não quer isso.

— Não tem problema, Morena. — Os olhos dela estavam fe­chados e os lábios azulados. — Não consigo sentir mais nada mesmo.

Regina subiu. Rápido. Então entrou pela janela do banheiro e deixou o corpo cair no chão, do outro lado.

— Emma — disse ela —, dê a volta até a porta da cozinha.

Regina cambaleou pela cozinha do quiosque o mais rápido que seu corpo quase congelado permitia. Ela se demorou até conseguir abrir a tranca e descobriu que Emma não estava ali.

Ela permanecia onde Regina o deixara quase inconsciente.

— Venha, moça — incentivou ela. Então a ajudou a ficar de pé, mais uma vez.

Regina praticamente arrastou Emma até a cozinha e deixou-a apoiada contra uma parede, enquanto tirava os óculos de esqui e o gorro. Quando viu que Emma ameaçava cair, ela correu e apoiou o ombro contra o peito dela para sustentá-la. O terninho  elegante de Emma estava ensopado, assim como a ca­misa sob ele. E a pele dela estava muito, muito fria.

— Tire a roupa — mandou ela. Emma até tentou, mas suas mãos acabaram caindo ao lado do corpo, sem forças. Os olhos continuaram fechados.

— Primeiro me pague um drinque — sussurrou ela, com um leve sorriso nos lábios.

— Vá sonhando — resmungou ela, e começou a despi-la ela mesmo. O corpo da mulher tinha uns músculos que em qualquer outro momento, Regina teria aproveitado para admirá-la melhor. Mas Emma parecia muito gelada e ela estava preocupada demais. Regina despiu o casaco de Killian, que usava, e fez com que Emma o vestisse. Ela tremia muito. — Está melhor?

— Melhor.

Emma ainda estava usando o gorro e calçava botas impermeá­veis, o que a salvou de ter os dedos gangrenados pelo frio. Mas era preciso despir a calça dela e por isso teria que descalçar as botas. Regina conseguiu fazer tudo isso com dificuldade e Emma protestou quando sentiu as mãos dela. Enfiou as mãos nos cabelos dela e puxou a cabeça de Regina para trás.

— Se está se sentindo constrangida... — começou a dizer ela, então levantou os olhos e encontrou o olhar dela. Emma não parecia chocada, apenas exausta.

— Eu sabia que era você — murmurou ela. — No momento em que agarrou meu braço daquele jeito, eu soube que era você.

— Bem... Estou tocando-o de novo...

Emma praguejou violentamente, afastou as mãos de Regina e tentou despir a calça sem sucesso.

— A essa altura, eu já as teria tirado — murmurou ela, susten­tando o olhar dele e juntando as mãos às dela. As duas acaba­ram conseguindo despir a calça e Emma continuou encarando-a. Regina conseguiu evitar roçar a intimidade dela, já ouvira muitas histórias a respeito...

— Afaste-se, Morena — sussurrou ela.

Regina recuou rapidamente, as mãos erguidas, o rosto muito quente. Emma se afastou também e ela ouviu quando ela esbarrou na parede e ficou encostado onde estava antes, ainda mais pálida.

— Só preciso de um minuto — murmurou Emma. — Estou... — Ela fechou os olhos.

— Oh, não, você não vai fazer isso. Vamos, Swan, abra os olhos. — Regina se postou na frente dela, bem perto. — Pense em todas as liberdades que eu poderia tomar com seu corpo se você desmaiasse agora. Acabaria fazendo uma orgia de com­pras com seu cartão de crédito no instante em que voltássemos a ter acesso à internet.

— Aproveite para me comprar calças secas.

— Vou roubar seu telefone e tirar fotos da nova dona do im­pério Swan seminua no chão da cozinha. Todos os seus contatos vão achar que estava bêbada.

— Não seria a primeira vez. Pense da seguinte forma, Morena — murmurou ela. — Se eu estiver inconsciente, ao menos me comportarei.

Então Emma desmaiou.

Regina se jogou no chão, para tentar evitar que ela se machu­casse mais. O que ele quisera dizer com aquela bobagem de se comportar? Emma não gostara quando ela a tocara... Ou gostara?

O que deveria fazer com alguém que estava sofrendo de hi­potermia e provavelmente tinha uma concussão? De que modo deveria aquecê-la, agora que havia calor, comida e roupas se­cas à disposição? Ela já fizera um curso de primeiros socorros, mas não se lembrava de quase nada.

Regina cerrou os dentes que batiam de frio. Então tirou as meias dela e se preparou para despir a cueca feminina. Emma não ficaria nada feliz quando acordasse...

Se ela acordasse.

— Acredite em mim, não me impressiono com facilidade.

— Ela começou a despir a cueca dela, fazendo o possível para não olhar mais do que o necessário. As pernas eram musculo­sas como a de uma esquiador profissional.

Muito bem, talvez ela estivesse um pouco impressionada. Mas Regina continuou determinada a não olhar para tudo, por­que sabia que olhar era o primeiro passo para desejar e isso era tudo o que ela não queria no que se referia àquela mulher em particular.

— Sabe o que vão fazer comigo se você morrer? — resmun­gou ela, enquanto procurava por cobertores térmicos e mantas, que também descobriu um velho saco de dormir — Acorde, Emma. Preciso que você assuma pelo menos parte da culpa por esta situação.

Ela arrumou uma cama ao lado dela com uma mistura de diversos cobertores e o saco de dormir por cima. Então despiu Emma do casaco de Killian que ele usava porque a parte externa muda estava molhada. A mulher agora estava nua e, dessa vez, Regina não conseguiu resistir a olhar mais detidamente. Emma era mesmo uma obra de arte. Impressionante. Mesmo com aquele frio.

Ela a enrolou em várias camadas de cobertores, com o saco de dormir por cima e mais cobertores térmicos. E agora?

— Agora vou limpar o ferimento de sua testa. Enquanto isso, seu corpo vai se aquecer e você vai acordar e me agradecer gentilmente por meus esforços. Não quero casa. Nem diaman­tes. Um simples obrigado já servirá. Então voltaremos para Storybrook e todos vão lhe perguntar como foi ficar presa na montanha comigo. Você vai dizer para todos, incluindo sua família e seus amigos esnobes que apesar de não ter se sentido muito confortável em minha companhia, eu salvei sua vida e mereço seus agradecimentos. É pedir muito? Que uma vez na vida, você, sua irmã e sua mãe parem de me odiar por algo que nunca foi culpa minha?

— Regina — sussurrou Emma, e Regina se inclinou para ouvi-la melhor. Os olhos dela ainda estavam fechados e ela estava muito quieta, mas ao menos recobrara a consciência.

— O que foi?

— Você fala demais.


Notas Finais


O que acharam??


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