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História A Mulher que ela Ama Odiar - Resgate


Escrita por: QueenShipper

Notas do Autor


Tá aí mais um capítulo pra vocês....
Vamos ver a reação dessas duas depois do último cap kkkkk

Capítulo 5 - Resgate


Fanfic / Fanfiction A Mulher que ela Ama Odiar - Resgate

Regina tentou fingir que o domínio de Emma sobre seu corpo e sua rendição a ela não haviam acontecido. Não funcionou. Também tentou fingir que sequer havia entrado na gôndola com Emma, mas isso também não funcionou. Talvez, em vez disso, ela pudesse tentar desejar ainda estar na gôndola, o que seria muito melhor que o que acabara de acontecer ali.

Um beijo. Apenas um. E acabara em uma sessão de sexo que chegara tão perto da perfeição que a assombraria pelo res­to da vida. Elas haviam feito amor de um modo incandescente, profundamente sensual, uma relação que expôs as almas de ambas.

Ela e Emma Swan.

Regina não olhou para Emma enquanto cambaleava para sair da cama improvisada. Emma a havia apertado nos braços com mais força quando ela começara a se mexer, mas depois a deixara ir. E na única vez em que Regina olhou para trás enquanto se encaminhava na direção do banheiro, Emma estava exatamente onde ela a deixara, com novas rugas marcando sua testa e os olhos fechados.

Ela precisava se limpar. Sentindo-se sórdida e envergonha­da, Regina viu a calcinha úmida e sentiu o cheiro de Emma Swan em seu corpo que tremia de frio e de um prazer indescritível.

O que elas haviam feito? E, mais importante, como pode­riam voltar atrás?

Amnésia seletiva seria uma boa idéia. Negação era outra possibilidade. Ela poderia simplesmente voltar para perto de Emma, vestir o casaco de Killian e fingir que nada de extraordiná­rio havia acontecido.

Regina se limpou com toalhas de papel e, quando finalmente saiu do banheiro, todos os mecanismos de defesa que cultivara ao longo da vida estavam prontos para serem usados.

Emma Swan não significava nada para ela, por isso, não tinha o poder de magoá-la. A ligação entre eles fora apenas um infe­liz incidente. Só isso.

Emma estava parada perto do fogão quando ela voltou, aque­cendo leite em uma panela. Olhou para Regina com uma expres­são cautelosa que disse a ela que sua tentativa de parecer arro­gante estava funcionando.

Regina encontrou e vestiu seu casaco de esqui, grata pela pro­teção que ele garantia. Ela relanceou outro olhar para Emma, e viu o pescoço dela exposto. Logo se lembrou de que a mordera exatamente ali. E Emma gostou. Foi depois disso que Emma per­dera completamente o controle.

— Achei que café poderia ajudar — falou Emma, carrancuda. — Ou chocolate quente. Você aceita?

Regina afastou o olhar do pescoço dela e encarou os olhos verdes que pareciam avisá-la para não comentar nada. Ela fi­caria feliz em obedecer.

Negação.

— Chocolate quente — respondeu Regina, indo até o armário que servia como despensa. — O que vai querer comer? Estou vendo presunto, queijo e o resto de um bolo de cenoura. — Ela também pegou o que sobrara de um pão e quase esbarrou em Emma quando se virou para levar tudo para a mesa. Emma se afas­tou rapidamente, com educação exagerada e, ao que parecia, uma intensa necessidade de ficar bem longe dela.

Oh, Regina conhecia bem a sensação.

Emma voltou ao fogão para fazer café para si mesma e cho­colate quente para ela, enquanto Regina preparava sanduíches e cortava duas fatias generosas de bolo.

Sexo sempre a deixava faminta. E abrir caminho entre as montanhas durante tempestades de neve também. Por outro lado, o nervosismo fazia com que ela perdesse completamente o apetite.   

— Quanto tempo você acha que vai demorar até que apareça alguém aqui? — O relógio na parede marcava 3h15.

— Talvez uns dois dias — disse Emma. — Mais cedo se alguém der por falta de nós dois.

— Minha mãe sabia que eu estava aqui — comentou Regina, animada. — Talvez já tenha dado por minha falta, já que fi­quei de aparecer no bar dela para tomar um drinque, na noite passada.

— Talvez o homem com quem você ia se encontrar tenha achado que apenas lhe deu um bolo. — O tom de Emma era áci­do. — Você é o tipo de mulher que vem fácil e vai fácil.

— Apenas no seu caso. Para seu governo, eu ia tomar um drinque com a minha mãe. E com qualquer pessoa que qui­sesse fazer um brinde à memória do homem que ela amara sem questionar por anos. Vamos — falou ela, satisfeita consigo mesma —, me pergunte quem era ele.

— Vagabunda. — Emma Swan tinha o pavio curto.

— Você me provocou. — Regina a encarou com raiva. — Nós conviveríamos muito melhor se não fizesse isso.

— Talvez — murmurou Emma.

As duas começaram a comer com voracidade.

— Um beijo — disse Regina, olhando Emma com uma expressão som­bria. — Foi o que disse. Um.

— E foi só um beijo — retorquiu Emma, ríspida.

— E o resto?

— Aquilo foi... Uma insensatez — murmurou Emma, com olhar se detendo por um instante na boca de Regina, antes de se afastar rapidamente.

Regina examinou as mãos de Emma quando ela levou o leite quente até o balcão e começou a preparar as bebidas. Eram duas palmas macias, de dedos longos. E Emma sabia usar aque­las mãos... Lentamente, com segurança... Mas o modo como ela a saboreara não era assim tão incomum, certo? Emma não era a única mulher que sabia como venerar o corpo de uma mulher e atender plenamente suas necessidades. Havia muitas mulheres por aí que saberiam satisfazê-la como Emma fizera. Muitos.

Ela só não as encontrara ainda...

— Açúcar? — perguntou Emma.

— O quê? — perguntou ela, ainda imersa em pensamentos. — Oh, sim. Uma colher, obrigada.

Emma entregou a xícara a ela, e Regina deu um gole no choco­late quente. Elas continuaram a comer os sanduíches em si­lêncio. Regina, sabendo que estava segura, aquecida e que não havia mais nada a fazer a não ser esperar a nevasca passar, começou a sentir os olhos pesados. Seu dia não fora fácil. E ela nem podia imaginar como fora o de Emma, que começara com um funeral.

— Você deveria dormir um pouco — disse Emma, friamente. — Parece cansada.

— E quanto a você, o que vai fazer?

— Ficarei de pé por mais algum tempo. Tentarei contatar Killian, ou a base. Qualquer um. Quero avisá-los de onde esta­mos para que não comecem a nos procurar nas rampas.

Regina olhou para a cama improvisada com uma enorme von­tade de se aconchegar nas cobertas quentes. A única coisa que desejava mais era ter a possibilidade de tomar um banho bem quente para tirar o cheiro de Emma Swan de sua pele e de sua lembrança.

— Vá — resmungou Emma. — Aqueça-se e descanse um pouco.

— Mas e se você ficar cansada? E se sua cabeça piorar? — Regina ergueu uma sobrancelha e esperou pela resposta dela.

— Se eu precisar me deitar, acordarei você — falou Emma fi­nalmente. — Então podemos trocar de lugar ou arrumar a cama de outro modo para que não...

— Isso mesmo — disse Regina com a voz rouca. Não era preci­so explicar mais nada. — Assim está bem.

Ela lançou um último olhar na direção de Emma, enquanto começava a se acomodar entre as cobertas.

— Só quero esclarecer mais uma coisa entre nós — murmurou ela, enquanto procurava a posição mais confortável. — Minha mãe nunca aceitou dinheiro de seu pai. Nem jóias, ou roupas, ou casas. Nem favores. Ela comprou o bar com o dinheiro que her­dou depois que a mãe dela morreu. Minha mãe vem de uma fa­mília abastada, sabe. Não que qualquer um por aqui fosse acre­ditar nisso. Sua mãe e as amiguinhas dela se certificaram disso.

Emma Swan a encarou com raiva. Regina devolveu o olhar com a mesma intensidade. Contudo ela ainda não terminara. Havia mais. Anos e anos mais. E ela vivera cada minuto daqueles muitos anos.

— Minha mãe é uma excelente mulher de negócios. O bar rende um bom lucro. Seu pai não tem nada a ver com isso. Quanto a mim, trabalho como artista gráfica em um estúdio de efeitos especiais para o cinema, em Boston. Até onde eu sei, consegui o emprego por meus próprios méritos. Vivo em um apartamento de quarto e sala, alugado, que mal consigo pagar. Ainda estou pagando meu crédito estudantil da faculda­de. E, com toda certeza, não sou proprietária de casa alguma.

— Terminou? — disse Emma, educada e fria.

— Não. Vivi na sombra do caso de amor de seu pai com mi­nha mãe desde que tinha 12 anos. Jamais desejei nada de mal ao Sr.Gold... Mas, agora que ele se foi, espero que a sombra que ele projetou sobre nossa vida também se vá, porque eu a odiava.

Emma não disse nada.

— Por isso, vou repetir, caso você não tenha entendido. Eu não recebi nada do seu pai, e pode ter certeza de que não quero nada agora que ele se foi. Não presuma que conhece a mim ou a minha mãe, porque você não conhece. Não ouse nos julgar sem olhar para os erros de sua família primeiro.

— Agora você terminou? — perguntou Emma em uma voz baixa e letal que fez Regina engolir em seco e desejar não ter ido tão longe.

— Sim.

— Ótimo. Agora vá dormir Morena. Não posso falar por mi­nha irmã ou pela minha mãe, mas fique tranqüila porque, caso você e eu algum dia consigamos sair desta montanha, se even­tualmente nos esbarrarmos na rua, serei educada. E não tenha a menor dúvida de que sentirei prazer em deixá-la em paz.

Regina dormiu pelo resto da noite. Emma a acordou às 10h da manhã seguinte, e ela logo sentiu o cheiro de bacon e ovos. Emma parecia exausta, mas seu olhar estava claro.

— Como está se sentindo? — perguntou Emma, de seu posto de cozinheira.

— Como se eu houvesse despencado da encosta de uma montanha, lutado para andar em meio a uma nevasca e dor­mido no chão. — Regina afastou os cabelos do rosto e descobriu novos pontos doloridos por todo o corpo. — Tem certeza de que ninguém me deu uma surra enquanto eu dormia?

— Engraçadinha. — Mas Emma observava o rosto dela com preocupação. O machucado de Emma está feio.

Provavelmente a aparência está pior que a dor. E como está sua cabeça?

— Meio zonza, mas deve ser por causa dos analgésicos que encontrei na caixa de primeiros socorros. Não consigo me lembrar nem da metade do que aconteceu até chegarmos aqui. E não me lembro de ser despida.

— Ótimo — disse Regina, levantando-se e procurando suas bo­tas de neve. — Não foi nada memorável.

Mentira.

— Lembro-me de ter lhe prometido um mínimo de cortesia — disse Emma, e fez uma pausa longa o bastante para que Regina conseguisse listar mentalmente todos os eventos que haviam acontecido entre Emma ficar nua e a promessa ríspida de agir com cortesia quando a encontrasse eventualmente. Ela se de­teve antes de começar a relembrar o lamentável deslize no campo da intensa satisfação sexual mútua. Regina ainda não conseguia encontrar uma razão boa o bastante para o que elas haviam feito. — Como gosta do bacon e dos ovos? — per­guntou Emma.

— O bacon crocante e os ovos dourados. Obrigada — disse ela, também disposta a ser educada. — Você conseguiu contatar alguém pelo rádio?

Emma assentiu.

— Há vinte minutos. A equipe da base agora sabe que esta­mos aqui. Estão avisando sua mãe. E a minha.

— Oh, isso é bom — disse Regina.

— Sim — murmurou ela, enquanto servia só ovos para ela em uma travessa e começava a fritar o bacon. — Ninguém conse­guiu contatar Killian, ainda. Vão mandar um helicóptero assim que o tempo permitir, o que estão prevendo que aconteça em poucas horas.

Regina assentiu. Com certeza, elas conseguiriam conviver por mais algumas horas pacificamente, certo? Desde que ela man­tivesse a boca fechada e guardasse suas opiniões para si... E se Emma fizesse o mesmo.

— Killian já deveria ter dado notícias — falou ela, baixinho.

— Eu sei.

— Acha que deveríamos procurar por ele? Não na encosta da montanha, mas poderíamos checar a torre de controle, e ver se o veículo de neve ainda está lá. Talvez consigamos até chegar à cabana de Killian.

— Não — respondeu Emma. — Acho que devemos deixar que a equipe de resgate procure por Killian. Eles logo estarão por aqui, e virão preparados.

— Mas...

— Regina, não temos roupas nem equipamentos adequados. E acho que deveríamos aproveitar este momento para decidir­mos o que vamos dizer às pessoas quando perguntarem o que aconteceu. Qual é a sua sugestão? — perguntou Emma, arrumando a comida em dois pratos e colocando um na frente dela.

-Nós lutamos para encontrar um lugar seguro para nos abrigarmos — disse ela. — Acho que poderíamos parar por aí.

— Concordo. Não acho que ninguém irá querer saber deta­lhes mais íntimos...

Regina apenas estreitou os olhos e continuou a comer.

— Eu te machuquei? — Emma manteve o olhar concentrado no prato e as mãos ocupadas com o garfo, mas suas palavras foram claras o bastante e ficaram pairando no ar.

— Não — respondeu Regina, friamente.

— Não costumo ser tão..... descuidada.

— Não se preocupe

— OK. — Dessa vez, os olhos verdes cintilantes dela encontraram os de Regina, cheios de frustração. — Qualquer coisa me avise.

— Emma não é como se você pudesse me engravidar.

— Eu só estava.......

— Emma, agradeço sua preocupação, de verdade. Mas estou bem. Portanto, vamos simplesmente seguir em frente com as nossas vidas, mantendo-as bem separadas.

— Não vai ser assim tão fácil quanto você pensa — resmun­gou Emma — esquecer o que aconteceu aqui.

— Não disse que achava que iria ser fácil. É apenas necessário.

— É mesmo? — disse Emma, por fim, e alguma coisa no olhar dela fez Regina se sentir tensa e trêmula. — Talvez eu possa lhe pagar um drinque um dia desses.

— Emma, não faça isso.

— Por que não?       

— Você sabe por que não. O que está sugerindo? O mesmo tipo de arranjo que seu pai tinha com minha mãe? A resposta é não.

— Não é isso o que estou sugerindo — disse Emma, com a ex­pressão aborrecida.

— O que sugere, então? O que é comum para você? Uma noi­te? Já não tivemos isso?

Os olhos de Emma cintilaram em um aviso que Regina esco­lheu ignorar.

— Aqui vai uma coisinha para você pensar — murmurou ela na defensiva e sem querer, nem pensar na possibilidade de per­mitir que Emma Swan chegasse perto o bastante para magoá-la. De Emma querer chegar perto o bastante para magoá-la. — Por que não champanhe e rosas e um companheiro amoroso para Regina Mills? Alguém que sinta orgulho dela, a apóie e não de a mí­nima para o que as outras pessoas pensam ou dizem sobre ela?

Emma não disse nada.

— Sim, foi o que pensei — falou Regina em tom de voz sem expressão. — Sinto muito, Emma, mas você e eu... O que aconte­ceu aqui na escuridão, quando ninguém estava olhando... Não posso fazer isso em público com você. Mesmo que o que você me fez sentir tenha sido... Intenso. Simplesmente não posso. E você também não deveria.

Emma passou às duas horas seguintes andando de um lado para o outro. Estava inquieta. Ainda não conseguira sinal para o telefone. Não tinha vontade de comer. O que queria mesmo era uma mulher que não a desafiasse o tempo todo, que aceitasse tomar um drinque com ela e a entediasse em pouco tempo.

Só que Regina não aceitara o drinque e ainda não a entediara.

Ela a atacava, a provocava, a desafiava... Mas não a entediava.

Regina achara um jornal antigo e estava se distraindo com as palavras cruzadas. A mulher tinha a mania de ficar ba­tendo com a ponta da caneta de leve nos lábios. E ela, Emma, tinha o péssimo hábito de ficar excitada cada vez que ela fazia isso.

Pareceu que uma eternidade havia se passado antes que o rádio voltasse à vida e a equipe da base informasse que esta­vam a caminho de helicóptero.

— Eles estão vindo? — perguntou Regina quando Emma desligou. Ela assentiu. Estava na hora de se vestirem novamente com as roupas ainda úmidas.

Talvez Regina conseguisse dar um jeito de parecer que não aca­bara de sair dos braços de Emma. Talvez as duas conseguissem con­vencer as pessoas de que nada inapropriado acontecera.

O problema era que algo muito inapropriado acontecera en­tre elas e, gostasse ou não, Emma queria que acontecesse nova­mente. Dessa vez, em uma cama decente e com todo o tempo do mundo para explorar o que surgiria quando toda a antipatia e o constrangimento que sentiam uma com a outra se transfor­massem em outra coisa completamente diferente.

Devia estar louca para sequer considerar isso, pensou Emma.

Não iria seguir a máxima “tal pai, tal filha”.

Ela, Emma, sabia o que suas ações poderiam custar para as pessoas que o cercavam. Agora estava na hora de esquecer tudo sobre olhos castanhos avelã carentes, a pele de oliva e a língua afiada como uma lâmina.

Emma pegou suas roupas e começou a vesti-las.

O helicóptero trazendo quatro pessoas da equipe de resgate chegou logo. Dois socorristas seguiram para a torre de contro­le, enquanto outros dois iam para o quiosque.

Emma e Regina os encontraram no meio do caminho e, entre sorrisos e apresentações, todos os quatro se encaminharam para o helicóptero.

As hélices ainda estavam paradas, mas o piloto já mexia no controlador e falava no rádio.

— Como está o lugar da avalanche? — perguntou Emma ao mais velho dos dois homens, que se apresentara como Artur.

— A neve não atingiu a base e o estacionamento da estação de esqui por muito pouco. Essas são as boas notícias — disse o homem. — As más são que perdemos duas torres de gôndola, três gôndolas e vários outros equipamentos.

— Nossa, que modo sutil de dar más notícias... — murmurou Regina, e recebeu olhares irritados dos dois socorristas e um sor­riso disfarçado de Emma.

— Como você machucou a cabeça? — perguntou Artur a Emma.

— Estávamos em uma das gôndolas que caíram.

— O quê? — Artur encarou Emma, incrédulo. — Você disse que es­tavam no quiosque. Achei que haviam passado toda a nevasca lá.

— Não. Mas estamos bem. Há mais alguém desaparecido na montanha?

— Apenas Killian — disse Artur.

— Ele estava na sala de controle quando pegamos a gôndola — disse Regina, preocupada.

Mais algum tempo se passou antes que os outros dois socorristas voltassem e alcançassem o helicóptero. Por um mo­mento, ninguém disse nada. Emma olhou para Regina e viu que ela abraçava o próprio corpo com força, e mantinha os olhos fixos em um dos homens.

— Ele está lá — disse o socorrista em voz baixa, relanceando o olhar para Regina, mas se dirigindo a Artur. — Está morto.

O forte impacto que a notícia teve sobre Regina foi visível. Emma não sabia o que Killian representara para ela, mas viu quan­do Regina fechou os olhos e ficou parada, muito quieta, sem di­zer uma palavra.

— Como? — perguntou Emma, com a voz rouca, porque uma parte qualquer de seu cérebro ainda funcionava como deveria funcionar a mente de um dono de uma estação de esqui.

— As roupas dele estavam secas — continuou o socorrista que vira Killian. — Não deve ter sido hipotermia. Meu palpite é que ele sofreu um ataque cardíaco.

Emma assentiu.

— Obrigado. — Ela sabia que a polícia e os parentes mais próximos de Killian deveriam ser informados.

— É melhor levarmos vocês a um hospital — disse Artur, o primeiro a quebrar o silêncio pesado.

— Nada de hospital — disse Emma.

— Você bateu a cabeça com força, moça — disse Artur, preocu­pado. — Vocês duas despencaram de uma gôndola, abriram ca­minho em meio a uma nevasca e posso garantir que, se eram es­sas roupas que estavam usando, devem ter sofrido algum grau de hipotermia ao longo do caminho. Você não tem escolha.

Não — disse Regina ao médico pela enésima vez. — Não há necessidade de eu me despir. Não há nada quebrado, nenhum machucado, nada congelado. Vou continuar vestida. — Regina não costumava ser agressiva, mas não estava com a menor disposição para fazer um exame físico completo. — Você já checou meus dedos dos pés e das mãos, tirou a minha tempe­ratura, e não tenho uma contusão. Só me diga onde tenho que assinar para que eu possa sair daqui.

— Você estará liberada assim que se deitar na maca e me dei­xar checar seu abdômen e sua coluna. Através de suas roupas, já que insiste.

— Insisto.

— Senhorita, agressividade é um dos primeiros sinais de hipo­termia — disse o médico com tranquilidade, enquanto ela se deitava.

— Agressividade é um estado natural, no caso de Regina — dis­se uma voz profunda. Emma estava parada na porta da sala de exames, com a mãe de Regina a seu lado.

Regina se jogou nos braços da mãe. A relação entre as duas era complexa, pois elas só tinham uma à outra há muito tem­po, já que o pai de Regina morrera quando a filha ainda era um bebê. Cora abraçou Regina com força, então a afastou para examiná-la, preocupada.

— Você está bem, meu amor?

— Estou ótima — disse Regina, quase engasgando de emoção.

— Eu gostaria de acreditar nela — disse o médico. — Deite-ali e deixe-me examiná-la. Prometo não demorar.

Cora se afastou e Regina deixou o médico do pronto-socorro fazer seu trabalho, enquanto Emma a observava da porta. Ela tinha um curativo novo na testa e um novo casaco. Provavel­mente estava seco.

Emma parecia cansada, abatida. E atraente demais para seu próprio bem... Ou para o bem de Regina.

— Por que está aqui? — perguntou ela, olhando para Emma com uma expressão antipática.

— Juro que tentei ensinar um mínimo de boas maneiras a ela — disse Cora, franzindo o cenho para a filha.

— Acho que ela não aprendeu — murmurou Emma. — Estou indo embora e queria me certificar de que você estava bem. Apenas um gesto básico de cortesia, Regina.

Como fora requisitado.

Ela não conseguiu sustentar o olhar de Emma. As palavras não ditas pairavam no ar, enquanto o médico terminava o exame e liberava Regina.

Finalmente iria para casa, onde um banho quente a espera­va e onde não haveria um médico para descobrir pelo cheiro de suas roupas e pelo estado de sua roupa de baixo que Regina Mills havia feito sexo recentemente. Ninguém precisava saber daquilo.

— Acompanharei você e sua mãe até o carro.

— Não há necessidade disso.

Emma encarou-a com intensidade.

— Faça minha vontade.

Regina fez a vontade dela, mas Emma pôde ver que ela queria que ela fosse embora. Para longe das vistas dela, para lon­ge de sua vida. Logo a atenderia. Assim que passassem pela aglomeração de jornalistas que as esperava do lado de fora do hospital. Ela não mencionara esse detalhe a Regina.

Cora também não comentara nada sobre os jornalistas, embora provavelmente também os tivesse visto quando entrara.

Regina estacou ao vê-los e parecia prestes a fugir. Mas não havia como escapar quando a imprensa queria um pedaço de alguém. Emma sabia disso por experiência própria.

— É melhor seguir em frente e terminar logo com isto — murmurou Emma, e por um breve instante viu o terror nos olhos de Regina. Era um medo que contrastava fortemente com a cora­gem que ela demonstrara na montanha.

— Não há outra saída? — perguntou Regina.

— Eles a encontrariam de qualquer modo. — Emma pousou a mão nas costas dela e incentivou a seguir em frente. Ela percebeu quando Regina estremeceu e sabia que não era de desejo. — Nós já treinamos o que dizer, lembra? Não vou falar nada além daquilo, se é o que está pensando.

— Sinceramente, acho que não consigo falar com eles. — Ha­via terror nos olhos dela, e uma desconfiança que a atingiu profundamente.

— Sinto muito, Morena. Você não tem escolha. — Emma relanceou o olhar para Cora Mills. A mãe de Regina devol­veu o olhar, com uma expressão muito segura e levemente sardônica. Mas segurou a mão da filha com determinação.

— Pronta?

Então as três saíram do hospital e a loucura teve início.

— Srta. Swan, pode nos contar sobre os prejuízos na montanha?

— Srta. Swan, há alguma notícia sobre o paradeiro de Killian Jones?

— Srta. Swan, pode nos dizer por que deixou o funeral de seu pai para se encontrar com Regina Mills?

— Srta. Mills, pode nos falar sobre a natureza de seu rela­cionamento com Emma Swan?

— Façam perguntas relevantes, ou é melhor que não fa­çam pergunta alguma — disse Emma, dirigindo-se ao repórter corpulento que barrava o caminho de Regina. — Se me per­mitem. Os danos que a avalanche causou são extensos. A Srta. Mills e eu fomos pegos durante o desli­zamento, mas conseguimos escapar com ferimentos leves. Obrigado pela preocupação de todos. Meu gerente, Killian Jones, estava no comando da gôndola, na torre de controle, na hora em que a nevasca começou. Até agora, seu paradeiro é desconhecido.

— Srta. Swan, pode nos dar uma estimativa de quanto de­vem custar os reparos aos danos na estação de esqui?

— Ainda não.

— Srta. Swan, sua irmã declarou que a senhorita já está à frente do grupo Swan há algum tempo, e que a morte de seu pai não acarretará grandes mudanças na rotina da Swan Holdings.

— É verdade.

— Ela também declarou que não vê motivo algum pelo qual a senhorita e a Srta. Mills marcariam um encontro na montanha no dia do funeral de seu pai.

— Isso também é verdade.

— Mas o senhor tem uma cabana na montanha. — O repórter moreno dirigiu um olhar insinuante na direção de Cora, que apenas ergueu a sobrancelha em resposta. Regina tremia violen­tamente. — Uma cabana que seu pai costumava usar regular­mente para conduzir... Negócios.

— Isso mesmo.

— Então o que o senhor e a Srta. Mills estavam fazendo lá?

— No que me diz respeito, estava me despedindo de meu pai — respondeu Emma, em um tom severo. — Peguei a última gôndola para descer a montanha, assim como a Srta. Mills. Então a avalanche nos atingiu, a gôndola caiu e fiquei incons­ciente. Quando voltei a mim, não conseguia distinguir o céu da neve. A Srta. Mills me ajudou a subir novamente a mon­tanha em segurança. E fez isso em uma temperatura abaixo de zero, no meio de uma nevasca, se arrastando e, muitas vezes, me arrastando também, através de um cenário de pesadelo.

Devo minha vida a ela. E lhe devo um agradecimento. Apro­veito para declarar minha sincera admiração por sua determi­nação, sua rapidez de raciocínio e seu talento como montanhista. Fui clara?

Não havia material para escândalo em nada daquilo, e o repórter que fizera a pergunta sabia muito bem disso.

— Srta. Mills tem algum outro comentário a fazer?

— Não — disse Regina, e se a palavra saiu trêmula foi pelo sim­ples fato de que não tinha mais defesas. Nem contra a massa de pessoas encarando-a com avidez, nem contra Emma.

Ela a ouvira. Todas aquelas coisas terríveis que ela dissera a Emma e sobre o modo como as ações do pai dela haviam marcado sua vida. Emma a ouvira.

E acabara de dizer que a admirava — um Swan elogiara uma Mills em alto e bom tom, em público.

— A senhorita deve ter algum comentário a fazer — conti­nuou o repórter persistente, como se fosse impensável não ter nada a dizer.

— Estou feliz por estar viva — falou ela. — Estou feliz por Emma estar viva. E também estou absolutamente exausta e só quero ir para casa. Estes são meus comentários.

Emma encarou o repórter, que devolveu o olhar.

— Afaste-se — disse Emma com a voz baixa. Então elas pas­saram pela multidão, e Emma acompanhou as duas até o carro de Cora.

— Você se saiu bem — comentou Emma, com um olhar preocu­pado, enquanto Cora se sentava no lugar do motorista.

Regina assentiu e desviou o olhar.

— Eu não teria exposto você, Regina — falou Emma. — Esse não é meu estilo.

Ela apenas deu de ombros.

— Agora sei disso.

— Você não confia com facilidade, não é?

— Não. — Nunca tivera motivos para isso. — Não sabia o que me esperava quando voltássemos — falou Regina, baixinho.

— Mas, sem dúvida, não esperava por aquilo, pelo seu apoio. Nem por seus agradecimentos. Eu... Fico muito grata.

— Tentarei não fazer disso um hábito, se a abala tanto.

— Faça isso.

Emma balançou a cabeça com um sorriso em que se via uma mistura curiosa de admiração e arrependimento. Então ela se virou e partiu.

— Foi gentil da parte dela — comentou Cora com a voz tran­qüila. Regina se esforçava para não ficar olhando para Emma, enquanto ela se encaminhava para um táxi parado próximo. Onde estava a família dela? Será que eram tão inflexíveis em relação a não serem vistos junto com uma Mills que nem sequer haviam ido pegá-la no hospital? Que tipo de família era aquela?

— O que fez com ela? — perguntou Cora, ao perceber o silêncio da filha.

— Achei... — começou Regina, mas se deteve enquanto Cora manobrava o carro para fora da vaga. — Emma foi incrível. Ela não desiste. Nunca. Sempre se levanta.

Mas nem todos haviam conseguido seguir em frente na montanha. Nem todos sobreviveram. Regina estremeceu.

— Killian está morto. Parece que teve um ataque cardíaco. Ele me pediu... — Regina tentou afastar as lágrimas, mas não conse­guiu. — Ele me pediu para lhe dar os pêsames. Queria que eu não me esquecesse de lhe dizer isso.

Dessa vez, quando as lágrimas vieram, Regina não fez nada para detê-las.


Notas Finais


Tadinho do Killian!!!!!


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