PDV ALISON
Recusando me a abrir os olhos, eu me concentro nas vozes que estão próximas a mim, sendo que duas delas eu reconheço como sendo as dos meus pais...
- Ela vai ficar bem Doutor? - eu escuto a minha mãe perguntar, e nesse momento eu me recordo de tudo que aconteceu..
A Emily foi embora, e com ela se foi a minha vontade de viver, e talvez por isso, Deus tenha escutado as minhas preces e tentado me poupar de tanta dor..
Contudo, eu ainda estou aqui, e neste momento, além de um imenso vazio dentro do meu peito, eu sinto uma enorme dor de cabeça..
Eu quero mexer o meu corpo, mas por outro lado a minha vontade de permanecer imóvel é mais forte, pois ainda tou reunindo coragem de encarar os meus pais, que mesmo sem saberem o motivo da minha tristeza, certamente irão detetá-la assim que os seus olhos cruzarem com os meus...
- Ataques epilépticos são uma alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro.. Embora as causas mais comuns sejam o abuso de bebidas, drogas, fortes pancadas na cabeça, ou até mesmo uma infeção viral, eu acredito que no caso da vossa filha, a explicação mais viável seja a de um forte esgotamento emocional...
- Mas tem tratamento? - eu ouço o meu pai perguntar num tom de voz carregado de preocupação.
- Na verdade não... Existem sim medidas de precaução, e por norma nós sempre pedimos aos familiares de quem sofre de epilepsia para que nunca deixe a pessoa sozinha, pois os sintomas por vezes são quase imperceptiveis..
- Como assim imperceptiveis? Se não fosse pelo meu filho, a Alison teria morrido sufocada pela própria lingua! - a minha mãe afirma, e mesmo eu estando com os olhos fechados, consigo desenhar na minha mente, a expressão de pavor que ela deve estar fazendo neste momento...
- As crises de epilepsia podem se manifestar de diversas formas: a mais comum e perigosa é a chamada crise convulsiva, em que a pessoa pode cair ao chão, apresentar contrações musculares em todo o corpo, mordedura da língua, salivação intensa, respiração ofegante e, às vezes, até urinar... Mas também existem as crises do tipo "ausência" mais conhecida por "desligamentos", onde a pessoa fica com o olhar fixo, perde contato com o meio por alguns segundos. Por ser de curtíssima duração, muitas vezes não é percebida pelos familiares, amigos próximos, ou até mesmo pelos professores. Também devo alertar para um tipo de crise que se manifesta como se a pessoa estivesse "alerta" mas não tem controle sobre os seus atos, fazendo movimentos automáticos. Durante esses movimentos automáticos involuntários, a pessoa pode ficar mastigando, falando de modo incompreensível, ou andando sem direção definida. Em geral, a pessoa não se recorda do que aconteceu quando a crise termina. Esta é chamada de crise parcial complexa.
- Meu Deus! Kenneth, isto não pode estar acontecendo com a Alison.. Ela não merece...
- Calma Jéssica.. nós vamos seguir á risca todos os conselhos do Doutor e eu prometo que no que depender de mim, a nossa menina nunca mais terá de passar por uma crise dessas...
- Eu recomendo que ela fique sob observação por mais um dia, e amanhã assinarei a alta médica. Também vou prescrever o medicamento que ela tem de tomar, e que serve pra evitar as descargas elétricas cerebrais anormais, que são a origem das crises epilépticas. É de extrema importância que a paciente tome um comprimido todos os dias ao acordar... Epilepsia é uma doença grave, que pode levar á morte se não for levada a sério...
Eu escuto a minha mãe chorando, e isso faz com que eu decida permanecer com os olhos fechados.. Na verdade, o melhor pra todos seria que eu tivesse morrido, e no fundo, confesso que ainda me sobra um pouco de esperança, de que Deus tenha piedade de mim e me leve pra perto dele....
NO DIA SEGUINTE...
- Ei... Bom dia! - eu escuto uma voz familiar, que reconheço como sendo a da Hanna, e que me faz abrir os olhos de imediato
- Você tá aqui!
- Eu nunca saí daqui desde que você foi internada.. Mas infelizmente só agora permitiram a minha entrada - ela diz fazendo biquinho, sem ao menos imaginar o quanto aquela expressão me conforta...
- Você já sabe?
- Sei do quê?
- Não se faça de boba Hanna... eu escutei tudo: vim parar aqui por conta de um ataque epiléptico, e de hoje em diante vou me tornar numa garota que precisa ser vigiada a toda a hora.. Até mesmo quando estiver dormindo - eu respondo ao mesmo tempo que permito que algumas lágrimas rolem pela minha face..
- Ali... eu sinto muito..
- Tudo bem - respondo secamente...
A chegada do médico responsável pelo meu internamento interrompe a nossa conversa, e após o mesmo observar os meus sinais vitais, temperatura e tensão arterial, ele permanece em silêncio, enquanto lê os relatórios que a enfermeira-chefe fez a cada mudança de turno..
- Pronto Alison! Vou assinar a sua alta, e como os seus pais ainda estão a caminho, eu vou explicar pra sua amiga os procedimentos a tomar caso você sofra um novo ataque, e esses são:
a) coloque-a deitada de costas, em lugar confortável, retirando de perto objetos com que ela possa se machucar, como pulseiras, relógios, óculos;
b) introduza um pedaço de pano ou um lenço entre os dentes para evitar mordidas na língua;
c) levante o queixo para facilitar a passagem de ar;
d) afrouxe as roupas;
e) caso a pessoa esteja babando, mantenha-a deitada com a cabeça voltada para o lado, evitando que ela se sufoque com a própria saliva;
f) quando a crise passar, deixe-a descansar pelo tempo que for necessário;
g) verifique se existe pulseira, medalha ou outra identificação médica de emergência que possa sugerir a causa da convulsão... essa mesma pulseira será fornecida pelo médico de familia;
h) nunca segure a pessoa (deixe-a debater-se);
i) não dê tapas;
j) não jogue água sobre ela.
Vou andando.. Alison espero não vê-la aqui novamente... As melhoras - o médico diz fazendo um meio sorriso, contudo eu me recuso a sorrir de volta, limitando-me apenas a assentir com a cabeça...
- Quem diria que eu iria ter de trocar a pulseira que a Emily me deu, por uma pulseira que me define como "incapaz de gerir a própria vida" - eu ironizo, assim que fico novamente a sós com a Hanna...
- Não diz isso amiga.. Você não é incapaz, e pelo que eu já pesquisei, você pode levar uma vida normal... Não se martirize mais... Deve ter uma explicação pra tudo isso e quando a Emily voltar...
- Eu espero bem que ela não volte! - a interrompo friamente..
- O quê?
- Se um dia ela voltar, eu estarei mais que preparada.. E nesse dia ela saberá que eu já não sou a mesma Alison inocente de antes... Eu vou esconder o meu coração no canto mais escuro que existe dentro de mim, e por muito que eu não queira admitir, a verdade é que todos nós temos um lado obscuro.. Se a Emily voltar é esse lado obscuro que ela vai encontrar... Eu a amo, mas nunca vou perdoar o fato dela ter brincado comigo..
- Alison...
- Que Deus faça da Emily uma mulher realizada, e a deixe no lugar pra onde ela foi.. No entanto, se algum dia ela se atrever a regressar, eu vou derrotá-la no seu próprio jogo, e fazer com que ela sofra tanto quanto eu estou sofrendo... Só assim eu vou conseguir ser feliz - desabafo entre lágrimas.
- Amiga não.. eu não quero te escutar falando de vingança.. você é uma pessoa maravilhosa, boa, decente e linda.. você tem culpa da Emily ser uma cretina...
- Ter todas essas qualidades não me serviram de nada... Olha bem pra onde estou! Cai na real Hanna! Eu tenho uma doença que irá deixar os meus pais assombrados até quando eu soltar um simples espirro... Esse ataque só se deu, porque a Emily me abandonou, deixando apenas uma simples carta como prémio de consolação.. Querendo ou não, eu e ela temos contas a ajustar...
MESES DEPOIS...
14 DE FEVEREIRO DE 2014
NARRAÇÃO DA AUTORA....
Passaram alguns meses, e a cada dia que passava, a filha dos Marin constatava que a sua amiga se mantinha firme na sua promessa..
Desde que a Emily partiu, que a cidade de Rosewood jamais tornou a ver um sorriso no rosto da Alison, que além de infeliz, também se tornou bastante arrogante e fria, certamente na intenção de se defender, afinal de contas, por norma é essa a reação de todas as pessoas que saem de uma relação com o coração partido..
- Que bom que veio ficar um pouco connosco... nós temos sentido tanto a sua falta Ali - Spencer diz sorrindo pra amiga, pois fazia meses que a loirinha não se juntava a elas, e pouco ou nada conversavam...
- Tou sem vontade nenhuma de voltar pra casa, mas confesso que não fazia ideia que vocês estivessem aqui - Alison responde com um certo desdém..
- Se soubesse não teria vindo? - Spencer rebate confusa.
- Eu só quero comer alguma coisa antes de ir pra casa... apenas isso - a loirinha responde em meio a um olhar evasivo, contudo, no instante seguinte, ela percebe que o seu coração entra em sobressalto, por não estar á espera que a Aria fosse entrar no The Brew, completamente furiosa e gritando pelo seu nome..
- Porque você fez isso?
- Fiz o quê?
- Alison você sabe muito bem do que estou falando - Aria responde pra logo em seguida cruzar os braços e encarar a amiga, dando assim a entender que não sairia dali sem uma resposta..
- Se você tá falando do fato de eu ter dito ao Jason pra não te convidar pra sair esta noite, saiba que eu tenho as minhas razões...
- Porque raios você iria dizer ao seu irmão pra não sair comigo no dia de São Valentim? Vem cá, que mal que eu te fiz? - ela pergunta aos gritos..
- Eu vi você e a Spencer se beijando no banheiro do colégio - a loirinha responde com uma frieza, que deixa as amigas estupefatas..
- Ma.. mas.. Ali aquilo foi um deslize... - Spencer tenta justificar, sentindo-se extremamente embaraçada..
- Isso é algo que você tem de explicar pro Toby e não pra mim.. Se você quer fazer o pobre de idiota, o problema é seu.. No entanto com o Jason, no que depender de mim, será diferente..
- Você é uma mal-amada!
- E você é uma piranha! - Alison responde enquanto olha pra Aria dos pés á cabeça deixando bem evidente a sua opinião acerca do comportamento da amiga..
- Você é uma infeliz, e não quer que mais ninguém seja feliz... Agora eu entendo porque a Emily te abandonou - Aria rebate sem pensar, e isso provoca uma onda de ódio que percorre o corpo da Alison, e a faz olhar de imediato pra Hanna..
- Desculpa Ali.. eu não contei por mal.. nós estamos muito preocupadas... você já não é a mesma..
- Pelos vistos eu tomei a decisão certa quando decidi mudar! - a jovem remata num tom de voz calmo, decidindo esconder o quanto as palavras da amiga a afetaram.
- Você não devia ter falado assim com ela - Hanna reclama com a baixinha..
- Desculpa Alison! Eu perdi a cabeça, eu não queria ser tão cretina.. Diz que me perdoa.. - Aria implora, consciente que passou dos limites...
- Escuta Aria, antes de falar da minha vida, olha pra sua, e pensa se o que está fazendo é certo... Eu prefiro ser uma garota mal amada, que ficar passando de mão em mão - Alison afirma de cabeça erguida, levantando da mesa e girando nos calcanhares, decidida a sair dali, e nunca mais falar com nenhuma das três...
Talvez por se ter aborrecido pelo fato da Hanna ter contado algo que ela pediu pra que ficasse em segredo, a mesma sai do The Brew um tanto distraída, no entanto, quando ela está prestes a atravessar a estrada, ela avista uma moça que lhe parece ser igual á Emily, e pensando ser ela, a mesma atravessa a estrada sem olhar, pois não seria um sinal de trânsito que a iria impedir de pedir explicações...
"Se algum dia ela voltar
eu vou derrotá-la no seu próprio jogo
e só assim poderei ser feliz..."
Essas eram as palavras que ecoavam na mente da jovem repetidamente, até que por fim, e após sentir uma forte dor no corpo, ela escuta a voz da Spencer, que está gritando:
- ALISON, ALISON??? ACORDA POR FAVOR!
Ao abrir os olhos, e ver uma multidão de pessoas á sua volta, a loirinha percebe que pelo fato de essas mesmas pessoas estarem em pé e ela deitada, algo muito grave aconteceu...
- EU NÃO TIVE CULPA, ELA ATRAVESSOU A ESTRADA SEM OLHAR.. QUANDO EU PERCEBI JÁ ERA TARDE DEMAIS - a mesma escuta alguém falando, e nesse momento ela percebe, que direta ou indiretamente, mais uma vez, e por culpa da Emily, uma desgraça tinha ocorrido..
- O que está acontecendo? - ela escuta o seu irmão perguntar..
- A Alison... ela atravessou a estrada sem olhar e foi atropelada....
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.