História A odisséia de Fran - Prólogo

Ela morava no campo, em uma pequenina casa de madeira. Todos os dias, sua mãe pedia-lhe para buscar água no lado de fora da casa, usando a velha bomba d'água. Não havia vizinhos, estavam sozinhas. Quer dizer, a menina, a qual atendia pelo nome Fran, tinham também um amigo. Eram inseparáveis. Havia uma floresta, era imensa. As árvores eram muito altas, e o local parecia ser escuro e muito quieto. Como tudo que é misterioso e desconhecido causa dúvidas, existiam muitas lendas sobre ele. Até mesmo sua própria mãe adorava inventar histórias sobre o que teria lá, e também as usava para educar a filhinha. Dizia que teriam assassinos e os mais diversos monstros, prontos para devorar qualquer criança que se aproximasse, de jeitos imagináveis, de tão ruins que seriam. Nessas horas, todo mundo tem criatividade. A pequena Fran, que tinha apenas seis anos e meio, apesar de aparentar bem mais por conta de sua inteligência, também pensava nas mais mirabolantes histórias e se empolgava só de tentar imaginar o que haveria lá. Porém, o acesso não era livre. Uma cerca elétrica a separava da fonte de suas dúvidas. Nunca poderia ir lá. Bem, pelo menos era o que pensava.

Lá estava sua mãe. Como sempre, pedindo para a garotinha buscar água. E, como sempre, ela foi, mas não sozinha. Tinha seu amigo. Assim que saiu pela porta, sentiu o ar fresco e ficou instantaneamente relaxada. Não fazia sol, mas o tempo estava razoavelmente bom. Silêncio. Fran gostava da tranquilidade do lugar, apesar de não ter nada além da sua casa e os vastos campos verdes e, é claro, a floresta. Deu alguns passos, a bomba d'água ficava logo ali. Enquanto posicionava o balde logo abaixo de onde saía a água, conversava com seu amiguinho animadamente. Estavam falando sobre sua mãe. Nem sempre ela fora assim, amargurada. Assim como todas as pessoas ruins já foram boas um dia, Linda também já fora atenciosa, carinhosa e amável, mesmo que fosse um pouco rígida e, às vezes, nervosa. Tratava a filha com muito amor, até o fatídico dia em que o pai admitiu que a traía e resolveu sair de casa. Desde então, a mãe não tinha mais paciência como antes. Porém, a filha nunca deixaria de amá-la. Talvez, pensava, fosse só um novo jeito da mãe, então, tentava não se incomodar com as reações e broncas exageradas. Ela amava Fran. Certo?

- FRAN! ONDE DIABOS VOCÊ SE METEU? ONDE ESTÁ A MALDITA ÁGUA?!

Suspirou. É, sua mãe não era fácil, mas a amava. Pediu desculpas a seu amigo, dizendo que teria de deixá-lo sozinho por uns instantes. Odiava precisar separar-se dele, e ele, dela. A conversa estava boa. Muitas vezes, ele era o único com o qual gostava de conversar. A menina nunca teve amigos, nunca foi para a escola, aprendia as coisas em casa. Mas, com ele, isso não tinha importância. Sempre esteve presente, ajudando-a e alegrando-a nos dias tristes. Assim que o amiguinho disse que não havia problema em esperar por alguns minutos, a menina entrou correndo em casa, não queria irritar ainda mais a mulher. Levou uma grande bronca, mesmo que não tivesse feito muito coisa. Queria apenas sair de casa, sentia-se em uma jaula. Também ficou com as bochechas vermelhas, com marcas de mãos. Mamãe tinha a mão pesada. Ficou com um pouco de raiva, mas não falaria nada e isso tudo passaria. Finalmente, saiu pela porta, de novo, para encontrar seu amigo.

Ele tinha desaparecido.

Continua...