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História A Outra Chance - Inércia


Escrita por: P_Imperatrix

Notas do Autor


Essa fic se passa três anos após Stars.

Guia para os esquecidos (eu também não sou boa em lembrar):
Kunzite = Sabakuno Kotei
Zoisite = Saitou Izou
Jadeite = Ishino Midori
Nephrite = Sanjouin Masato

Capítulo 10 - Inércia


“O destino parecia puxar as cordas
Eu me virei e você se foi
Enquanto isso, das salas escurecidas,
A caixa de música tocava a
Triste pequena serenata
Canção que meu coração compôs
Eu ainda a ouço, eu a ouvirei para sempre”

 

Henry Mancini – Charade

 

 

Usagi sentiu a cama afundar ao seu lado e a sensação morna dos pelos de Luna roçando em suas pernas semidobradas.

– Usagi-chan, tem algo de errado.

A loira suspirou.

– Eu não sei mais o que fazer, Luna – ela se abraçou, os ombros frágeis tremendo fracamente – as meninas não querem falar comigo direito e eu não sei por que, nem a V-chan está atendendo as minhas ligações direito, e quando o faz me responde com tanta pressa que…! – ela soltou uma exclamação de frustração – Nenhuma delas dizem o que há de errado. Também não me deixam ir até o Mamo-chan por causa do Shitennou, e esse é outro que sabe que tem algo muito errado e não quer falar comigo!

Luna pulou para o colo da princesa, buscando consolá-la.

– Se aquiete, Usagi-chan, eles devem estar tentando não te preocupar.

– Eu sei… Mas me sinto sozinha e deixada de fora, Luna, não gosto disso! Meus amigos estão com problemas e me acham inútil demais para ajudar… AI! LUNA, PORQUE VOCÊ ME ARRANHOU?!

– Porque você estava sendo boba e autodepreciativa.

A loira esfregou o braço com o corte superficial e, ainda com uma expressão de ultraje, voltou–se para a gata.

– O que você acha que eu devo fazer, então?

– O de sempre, vá até o templo ué. Pelo menos a Rei você vai encontrar lá.

oOo

– Então, você também?

Com o pavor estampado em seu rosto Kotei se ergueu pelos cotovelos e viu o dono da voz de pé, apoiado na parede perto da porta, metade de seu corpo oculto pelas trevas e a outra metade banhada pelo luar.

Os longos cabelos rubro-dourados caindo em desalinho, deixando-o com um aspecto ainda mais feminino que o usual e em seu rosto uma expressão profundamente triste.

Kotei se sentou na cama, recobrando o fôlego antes de responder com uma pergunta.

– Eu não gritei enquanto dormia, ou os outros também estariam aqui, como você...?

– Eu não estava no serviço de inteligência e espionagem somente por ser mais inteligente do que todos você juntos, – explicou ele bastante cheio de si, como de costume – mas também por minhas habilidades telepáticas, você sabe disso.

– Mas não temos acesso aos poderes do Golden Crystal – Kotei se sentiu tenso e até desconfiado, uma das famas de Lord Zoisite era tender por caminhos não tão honrosos e depois de lhe terem tomado os poderes não se surpreenderia, embora o decepcionaria terrivelmente, se o mais novo buscasse outras formas de obter poder.

– Não ouse pensar isso de mim! – exclamou corado de raiva e se desencostando da parede numa atitude de completo ultraje – Eu não recebi meus poderes de telepata como um prêmio pela minha posição, eu nasci com eles assim como você nasceu sendo um imbecil paranoico e Midori irritante!

– Sinto muito, eu não devia...

– É bom que sinta mesmo! Porque se você teve o sonho que eu acho que teve, sabe que eu nunca...

– Está bem Izou, se acalme – disse ele com uma expressão cansada enquanto passava a mãos pelos cabelos bagunçados – eu acredito em você.

O outro encarou os olhos sérios de Kotei por alguns segundos antes de decidir que o mesmo realmente dizia a verdade.

– Então, no fim das contas, nunca houve traição... É por isso que as lembranças são tão confusas e poucas... É por isso que acreditar que nós deliberadamente atacamos Endymion parece um disparate tão grande. Estávamos todos mortos, éramos fantoches.

– E na segunda vez... – disse o outro com um suspiro e se sentando na cama, na posta mais afastada de Kotei, agora sendo banhado completamente pelo luar – Prometeu que voltaríamos à vida mesmo se morrêssemos ao lutar por ela, que teríamos nosso mestre e nossas lembranças, nossas identidades.

Ele terminou a frase com um soluço mal contido e Kotei o observou esconder o rosto entre as mãos enquanto seus ombros sacudiam. Fora talvez, a única vez que vira o Shitennou mais jovem chorar.

oOo

– Rei-chan! Rei-chan! – Usagi ignorou o olhar curioso de Phobos e Deimos, largou o guarda-chuva aberto na varanda e correu em direção ao quarto de Rei. Não estranhou o templo tão vazio, aquela hora o movimento era mínimo mesmo se não tivesse caindo aquele temporal.

– Reeeeeeeeei-chaaaaaaaaaaan! – chamou outra vez, mas não obteve resposta, o quero estava vazio e ela não queria entrar pingando de chuva. Deu a volta procurando a entrada principal, também fazia. Com a frustração fazendo seu estômago doer e o vento frio da chuva lhe dando arrepios, já ia dando a volta para ir embora quando ouviu a voz do avô de Rei.

– Usagi-chan! Procurando a Rei-chan?

– Sim! – respondou a loira, o alívio estampado em seu rosto – Onde ela foi? Quase nunca saí do templo ultimamente e nessa chuva… Rei não é a pessoa mais fã de umidade do universo…

Ele riu.

– Sim, ela foi a casa da Kino-san, ela parece que não tem estado muito bem, – como se já não pastasse a chuva, Usagi sentiu como se tivessem jogado um balde de água fria em sua cabeça – você não sabia?

– Não, – ela teve que se controlar para não chorar na frente dele – eu não sabia… Bem, acho que eu vou ser se está tudo bem, o-obrigada.

E deu a volta tropeçando nos próprios pés correndo sem olhar para trás.

– USAGI-CHAN, SEU GUARDA-CHUVA!

Mas ela não parou de correr até estar num boa distância do templo.

oOo

– Eles voltaram a se falar, então?

Midori tomou um gole de seu café e olhou para onde o amigo havia acabado de indicar.

Kotei e Izou que não se falavam desde o incidente na casa de Mamoru conversavam calmamente na varanda.

– O que você acha que aconteceu?

O loiro riu.

– Os dois se aaaamam, não ia durar muito.

– Acha mesmo? Pois eu ouvi o Izou falando em se mudar no telefone.

– O que?!

– Mas acho que agora deve estar tudo certo.

Os dois pararam de falar ao ver os primos entrarem e virem em direção a bancada onde tomavam café.

– Como vocês bem se lembram, Zoicite foi o último a morrer na guerra, – começou Kotei, fazendo Masato e Midori tencionarem ao ouvir o assunto ser mencionado tão repentinamente – Izou se lembrou de umas coisas importantes sobre ela noite passada. Coisas que mudam tudo.

oOo

Ainda estava chovendo, já fazia uma semana. Não era mais aquela chuva pesada dos três primeiros dias, mas uma garoa fina e persistente que fazia uma tarde de agosto como aquela passar por uma de janeiro facilmente. Minako se abraçou tentando se aquecer, não gostava muito de frio. Adorava tempo seco e o sol, não combinava com chuva, o cheiro de água no ar a enjoava e a umidade acabava com seu cabelo.

– Ela parece melhor, – Minako suspirou – essa noite não teve febre também.

– Eu sabia que a volta deles não traria nada de bom!

– Pelo amor de Serenity, Rei, não começa! Você sabe que uma hora ou outra a gente ia ter que se lembrar. Aliás, demorou muito até, temos que estar preparadas para a nova era.

– Pra você é fácil, você não tinha que olhar para a cara do Kunzite quando se lembrou.

Minako soltou um riso sem humor, Rei não tinha ideia do quanto estava errada, mas não a iria corrigir, não era da conta de Rei o que acontecera tanto tempo atrás.

Elas ouviram a campainha tocar e Makoto começou a acordar.

– Eu atendo, – anunciou Rei, Mina agradeceu mentalmente, por mais que amasse a morena tinha momentos em que tudo que queria era sair de perto dela e seu ar pretencioso.

– Usagi! No que estava pensando ao andar por aí toda molhada?!

– Cadê a Mako?!

Mina deixou o leito de Makoto às pressas.

– Rei, vai olhar a Mako, – mandou um olhar firme para outra até que ela cedeu deixando as duas loiras à sós – Usagi-chan, o que aconteceu? Andando toda molhada assim na chuva! Tem algo errado? Mamoru-san está bem?

Usagi tremia dos pés a cabeça, incapaz de dizer o que fosse.

– Usagi-chan?

A mais nova abriu a boca pra preguntar de Makoto outra vez, mas tudo que saiu foi um soluço, os olhos de Minako se arregalaram em terror quando Usagi começou a chorar.

– O que aconteceu?! Usagi-chan, está me deixando preocupada! – ela esfregou as palmas das mãos nos braços de Usagi numa débil tentativa de aquecer a amiga, – Vem, Usagi, vamos pro banheiro secar você, está fazendo uma poça no chão da Mako.

Usagi deixou Minako a despir e a enrolar numa toalha em silêncio, depois a líder das senshi fez um gesto para que a mais nova se sentasse na tampa do vaso sanitário enquanto a própria se sentou na borda da banheira, esperando pacientemente que a outra começasse a falar.

– Como está a Mako? – perguntou Usagi numa voz pequenininha.

– Ela se lembrou da morte dela uns dias atrás, continua sonhando toda noite com isso, passou muito mal noite passada. Eu estava na Rei quando ela ligou, nós viemos ficar com ela, mas ela vai ficar boa logo, não precisa se preocupar.

– Ah… Porque você não me ligou?

– Não queria te preocupar.

– E a Ami-chan?

– Eu avisei a ela mais cedo, ela passou aqui antes de ir para a faculdade e disse que a Makoto não tinha nada demais.

– Todas vocês sabiam então? E ninguém se importou de me avisar que uma das minhas melhores amigas não estava bem?

– Usagi-chan… Não é assim também…

– Então como é, V-chan? Faz semanas que eu não vejo vocês, quando ligo sempre cortam a conversa no meio, não posso nem ir no Mamo-chan porque vocês não querem que eu veja os outros meninos sozinha. Porque vocês pararam de gostar de mim? – ela soluçou, ameaçando a começar a chorar novamente – O que eu fiz de errado?

Minako se sentiu como se alguém lhe tivesse dado um tapa, na confusão que os últimos dias tinham sido, não parou pra pensar nos sentimentos de Usagi ao ver a cratera entre seus antigos e novos amigos de formar em volta dela, a deixando sozinha.

– Não, Usagi-chan, não pense uma coisa dessas, você não fez nada de errado, – ela se levantou e abraçou a amiga – nos desculpe por não ter incluído você, mas é que é difícil falar da guerra, das lembranças… Ainda mais sabendo que tudo que você queria era que nós fossemos amigas do Shitennou de novo…

– Então vocês não me odeiam?

Minako sorriu, a inocência da outra sobrevivia apesar de tudo que passaram.

– Jamais!

Usagi a abraçou forte.

–Estava com saudades de você!

– Eu também, – respondeu abraçando-a de volta – me desculpe, Usagi-chan, de verdade, e acho que você deveria ir até o Mamoru-san. Não acho que o Shitennou vá tentar qualquer coisa, ainda na frente dele…

– Sério?!

– Sério.

– Eu te amo, V-chan!

– Eu também te amo, agora vamos arrumar uma roupa da Mako pra você vestir enquanto as suas secam, depois você pode me ajudar a animá-la um pouco, você sabe o como ela fica chateada quando é a que precisa de cuidados. Rei-chan é ótima em coisa práticas, mas é tão animadora quanto um velório e Mako precisa de distrações felizes.

Como esperado, a presença de Usagi fez tudo parecer mais simples, e quando a noite caiu e Ami veio visitar Makoto, encontrou as amigas rindo juntas, sentadas segurando xícaras de chocolate quente fumegante e uma pilha de biscoitos perfeitos e recém-saídos do forno, que pareciam uma delícia, ao contrário as pilha de farinha queimada e sem gosto que haviam sido os que Makoto havia feito nos últimos dias. Ela recebeu um abraço caloroso de Usagi e se juntou a conversa com facilidade.

Minako notou que a chuva lá fora havia cessado, havia brilho nos olhos de Makoto e até mesmo Ami e Rei estavam sorrindo. A lua ganhava passagem por entre as nuvens e o dia seguinte seria bonito.

Estava tudo certo, como costumava ser, Mina pensou, mas sem conseguir ignorar a consciência de que não era mais e que ela não podia fazer nada para evitar. A líder notou o olhar de Rei sob si e sorriu triste. As coisas não poderiam mais ficar assim, Ami se escondendo no templo ou na faculdade, Makoto com aquela apatia assustadora, Rei com aquela mágoa, ela tão assustada e Usagi sozinha e triste. Eram guerreiras e estava na hora de voltarem a se comportar como tal. Estava na hora de parar de se esconder.

oOo

Mamoru largou das chaves e a maleta displicentemente em cima da poltrona, o dia tinha sido cheio e ele estava exausto. Caminhava distraidamente para o quarto quando notou a figura sentada em seu sofá, iluminada somente pelo tímido luar que a noite meio encoberta permitia passar pelas janelas da sala.

– Usako?

– Você chegou, Mamo-chan… – disse ela com um ar etéreo, ainda perdida em pensamentos.

Ele sorriu, talvez o primeiro sorriso real naquela semana e caminhou até ela, tomando–lhe a caneca vazia de chá das mãos e sentando–se ao seu lado.

Estava sentada sobre uma das penas dobradas, o corpo todo voltado para ele Mamoru notou que ela havia se banhado não fazia muito tempo, a pele ainda estava úmida sob uma das camisas dos pijamas dele, sentiu uma onda de desejo lhe atravessar o corpo ao vê-la assim, ainda mais depois dos dias de ausência. Ela deitou a cabeça no encosto do sofá, lhe sorrindo, mas parecia triste.

Ele afastou uma mecha dos cabelos, que estavam soltos, dos olhos.

– Fugiu de casa ou eu posso esperar alguma senshi pulando das sombras?

Ela riu fracamente.

– V-chan falou que estava tudo bem eu vir sozinha se tiver só você.

Ele fez uma expressão exagerada de falsa surpresa.

– Nossa! Faz até parecer que ela confia em mim!

Ela tentou sorrir de novo e o acertar bem-humoradamente com uma almofada, mas o sorriso se transformou numa careta e ela o errou mesmo ele estando a sua frente, e mira era um dois pouquíssimos talentos que Usagi se orgulhava em ter, ainda mais quando se tratava do noivo.

– Algo de errado? – ele perguntou.

Ela suspirou, fechou os olhos e o abraçou.

– Senti sua falta…

Ele se afastou para olhá-la sem desfazer o abraço.

– Está tudo bem?

– Eu já não sei bem… – respondeu o abraçando de volta, com força – Eu só queria que todos eles fossem felizes… – Mamoru sentiu o coração apertar ao perceber que ela estava chorando – não deveria ser tão difícil, nós dois conseguimos, não conseguimos?

– Oh Usa… É complicado, eles são diferentes de nós. Nem todo mundo perdoa tão fácil quanto você.

Ela se afastou dele limpando rosto com as costas das mãos e o olhou com o cenho franzido.

– Mamo-chan, você não tem que, – ele não a deixou terminar, impedindo o resto das frases e sufocando a exclamação de surpresa com um beijo. Usagi demorou alguns segundo para corresponder, envolvendo o pescoço do moreno com os braços e o deixando a levar para o quarto.

 



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