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História A Outra Hawkins - A Chegada de Will Byers


Escrita por: StrangerTales

Notas do Autor


Olá pessoal! Sejam bem vindos à primeira história de minha autoria que me arrisco a dividir com o mundo!
Uma das melhores coisas em se fazer parte de um fandom é poder especular e criar teorias sobre a trama da obra de referência, não é mesmo? Eu, como amante de um bom mistério, obviamente não poderia ficar fora dessa e o resultado de algumas das minhas ideias e teorias você pode conferir na história a seguir.
Sem mais delongas, boa leitura!

Capítulo 1 - A Chegada de Will Byers


Fanfic / Fanfiction A Outra Hawkins - A Chegada de Will Byers

Foi como uma avassaladora onda de energia destrutiva percorrendo seu corpo, partindo do centro do seu peito e irradiando para todas as extremidades, fazendo seu cérebro enlouquecer enquanto ele perdia o controle de todos os seus músculos, que agora tremiam violentamente. Isso é o mais próximo possível de descrever o que Will Byers sentiu quando avistou a criatura que simplesmente surgiu atrás dele na casa de ferramentas, como num passe de mágica.

Na mesma hora ele compreendeu de uma forma quase instintiva que o rifle que segurava de nada serviria contra aquele ser grotesco. Ele estava completamente indefeso. Completamente desamparado. Somente ele e o desespero puro e genuíno de contemplar a sua morte iminente.

Essa agonia certamente poderia por si só tê-lo sufocado até a morte se tudo não tivesse acontecido de forma tão brusca e confusa. Antes que pudesse sequer cogitar alguma reação, a criatura avançou em cima dele e o imobilizou completamente com suas mãos de garras enormes enquanto o rosto dela literalmente abria-se numa enorme boca que mais parecia uma planta carnívora medonha. Aquilo o segurou tão próximo de si que ele pode naquele momento sentir seu hálito quente e fétido. Um dos cheiros mais pavorosos que sentiu na vida perdendo, talvez, apenas para os peidos do Dustin.

Certamente suas entranhas teriam virado do avesso de nojo e medo se seu corpo tivesse tido o tempo necessário para processar todas essas informações, mas assim que a criatura lhe teve preso em suas garras, o chão ao redor deles pareceu dissolver-se, como se o mundo estivesse lhes tragando enquanto tudo se tornava um borrão, cada vez mais distante na névoa da inconsciência na qual Will mergulhou.

O garoto deve ter permanecido assim uns bons minutos ou quem sabe até algumas horas, já que quando acordou uma das primeiras coisas que percebeu é que se encontrava certamente bem longe de casa, perdido em meio à floresta na escuridão da noite. Aos poucos então ele foi se dando conta do ambiente apavorante a sua volta.

O chão estava recoberto com uma espécie de gosma marrom esverdeada, de aspecto ressecado, a qual começava a grudar na sua roupa e cabelos, fazendo seu estômago contrair-se em repulsa. O ar era denso com pequenos fragmentos em suspensão, como se fossem pequenos pedaços de pétalas brancas dentro de um líquido viscoso, com um cheiro que também não era dos mais agradáveis, parecendo que o mesmo tinha envelhecido como numa casa há muito tempo não ventilada.

Tudo parecia cada vez mais esquisito diante dos seus olhos e a realidade do que havia acabado de acontecer não demorou muito a atingir-lhe com a força de um soco no estômago, fazendo todo o pavor voltar à tona como uma represa transbordando: há não muitos metros dele encontrava-se a criatura, absorta no que parecia ser o cadáver de algum animal, que agora lhe servia de refeição.

Com olhos vidrados de pavor, ele pode contemplar melhor por um momento aquela silhueta. Era um ser enorme, mas não absurdamente gigante também. Apresentava uma forma humanoide e esguia, com mãos assustadoramente desproporcionais. De onde ele estava podia ver a enorme boca se abrindo e fechando num movimento que fez os pelos do seu braço se arrepiarem de tão bizarro.

O transe contemplativo, no entanto, não durou por mais que cinco ou sete segundos. Instintivamente, ignorando qualquer pensamento racional que pudesse ocorrer-lhe sobre o potencial perigo, ele levantou cuidadosamente do chão gosmento, tremendo de nervoso, mas tomando todo o cuidado possível para fazer o mínimo de barulho e, lentamente dando um passo atrás do outro, começou a afastar-se do monstro.

Aqueles se pareceram os segundos mais longos da vida de Will. Se a criatura se virasse a qualquer momento e o visse ali, certamente seria o seu fim. No entanto, quando sentiu que tinha ganhado uma distância considerável, suas pernas simplesmente ganharam vida própria e dispararam dali a toda velocidade. Então ele correu. Correu com urgência numa velocidade que nem sabia ser capaz de alcançar. Correu com toda a força que podia porque sabia que aquela era a sua única chance.

Ao longe pode ouvir o som agourento que a criatura emitia, certamente por ter notado a sua falta. Foi a primeira vez que ele reparou naquele som. Era como o som às vezes emitido por cavalos, só que muito mais sinistro. Aquilo viria a ser seu pesadelo de muitas noites, certamente. Aos poucos esses sons foram se misturando ao som de passadas rápidas e pesadas. A criatura estava indo atrás dele. A adrenalina adicional o fez correr com ainda mais vontade. Podia sentir seus músculos queimando e o seu coração a mil, a ponto de senti-lo bater nas têmporas.

Ele se embrenhava cada vez mais na floresta, olhando para todos os lados na expectativa de a qualquer momento a criatura surgir do nada e saltar em cima dele, pondo fim a sua vida ali mesmo. Foi então que avistou ao pé de uma árvore de tronco mais grosso o que lhe pareceu ser uma espécie de fenda entre o tronco e o chão, coberta por folhas mortas e aquela gosma seca.

Ele não pensou duas vezes e correu até lá. Retirou parte das folhas e espremeu-se lá dentro da melhor maneira que pode, cobrindo a abertura que havia feito com as mesmas folhas que antes estavam ali. Então ele esperou.

Espremido numa fenda com o coração e a cabeça a mil, coberto por coisas extremamente asquerosas, ele esperou por um milagre, pelo seu fim ou simplesmente que de alguma forma aquele pesadelo acabasse. Porque sim, só poderia ser isso! Aquilo tudo certamente não passava de um terrível pesadelo e no outro dia ele acordaria em casa, na sua cama com o Jonathan lhe chamando para comer ovos mexidos no café da manhã enquanto Joyce, sua mãe, sai para trabalhar. “Tudo isso não passa de invenção da minha mente” ele pensou. Devia ter passado tanto tempo jogando Dungeons & Dragons com os seus amigos que começou a recriar os monstros e aventuras durante o sono. Tudo ia amanhecer bem no outro dia...

Seria maravilhoso dizer que tudo isso acabou aí e que no dia seguinte as coisas amanheceram da forma costumeira, porém a realidade não consulta as pessoas para saber como manifestar-se diante delas, não é mesmo? As coisas simplesmente são como são, independente do quão se deseje o contrário, e naquele momento Will sentiria na pele como, às vezes, a realidade pode ser bem cruel.

Não dava pra saber quando e principalmente como no estado em que ele antes se encontrava, mas o fato é que Will havia adormecido. Assim que abriu os olhos, mesmo ainda naquele breve estado de entorpecimento em que sua mente ainda está se organizando, ele pode sentir que algo estava errado.

A confusão mental, porém, em questão de segundos extinguiu-se revelando, para seu desespero, que tudo continuava exatamente igual. Ele estava na fenda ao pé de uma árvore, coberto por folhas e aquela estranha gosma seca e agora com terríveis dores no corpo devido à posição em que havia adormecido. A única diferença é que ele acabara de perceber que por dentre as pequenas frestas formadas no bolo nojento que o cobria, entrava uma fraca luz azulada.

As dores no corpo, em outra ocasião, teriam o feito pular dali no mesmo minuto para esticar seus membros em busca de algum alívio, porém o peso que se formou em seu peito junto com aquela sensação terrível de algo gelado no estômago o imobilizaram por completo. Uma criatura bisonha estava perambulando em algum lugar lá fora a sua procura e a expectativa de ser pego a qualquer momento se movesse um músculo sequer faziam-no suar frio.

Ele permaneceu por pelo menos uma hora nesse estado de alerta. Nesse meio tempo, pode refletir melhor sobre a situação em que se encontrava. A possibilidade de ser um sonho parecia estar descartada em sua mente. Tudo parecia ser inacreditavelmente real a sua volta, principalmente o medo, esse era assustadoramente real e constante.

“Será que estou enlouquecendo?” como é de se esperar, foi a pergunta que veio logo a seguir na sua cabeça. Não dava pra ter certeza sobre isso, ainda mais no estado bagunçado em que sua mente se encontrava. “Mas dizem que quem está enlouquecendo não percebe que isso está acontecendo, não é mesmo?” ele pensou em seguida.

Com todas as devidas considerações feitas, só restava-lhe uma possibilidade, e talvez essa fosse a mais assustadora de todas: Era tudo real. De alguma forma completamente absurda, ele foi arrastado por uma criatura mais absurda ainda para um lugar totalmente apavorante e nojento. Estava literalmente ferrado.

Não demorou muito pra ele perceber que, se aquilo tudo estivesse realmente acontecendo, ficar enroscado naquela fenda indeterminadamente não seria uma solução. Certamente uma hora alguém o encontraria, possivelmente a criatura ou, na melhor das hipóteses, policiais, a sua mãe ou seus amigos quando ele já tivesse morrido de frio, fome e sede. Além disso, mais cedo ou mais tarde, seu corpo iria implorar para sair daquela posição extremamente desconfortável.

Ele tinha que pensar no que fazer em seguida e sair dali parecia ser a única solução no fim das contas. Precisava fugir para o mais longe possível do território daquele monstro antes que ele o encontrasse e definitivamente precisava voltar para casa. “A mamãe e o Jonathan devem estar extremamente preocupados a essa altura.” ele pensou.

Will ficou uns bons minutos tomando coragem, respirou fundo para livrar-se do peso paralisante do medo e aos poucos foi retirando a camada de folhas grudentas. Primeiramente ele inclinou-se um pouco para fora, apenas o suficiente para observar o ambiente ao seu redor e nessa hora teve que reunir toda a coragem que pode para não desistir de tudo e ficar socado naquela fenda, jogado a sua própria sorte.

Agora no que parecia ser a luz azulada do luar, ele pode vislumbrar melhor o lugar onde estava e as coisas eram, se não mais, tão assustadoras quanto nos momentos anteriores à sua estadia na fenda ao pé da árvore.

Tudo, absolutamente tudo era recoberto por aquela gosma ressecada que a essa altura ele estava começando a detestar. Para todo canto que olhava, só via árvores grotescamente cobertas por aquilo, árvores essas que pareciam terem saído de algum filme de terror, enormes, com troncos onde cascas soltavam-se em grandes lascas e em boa parte desfolhadas, como se estivessem morrendo. O ar continuava aquela coisa densa e estranha de sempre e quando ele olhou para cima, viu que o céu era de um azul-marinho profundo e sem estrelas. Era como tentar olhar no fundo de um gélido e calmo oceano. Aliás, ali era bem frio também. Não chegava a ser insuportável, mas ele conseguia ver um leve vapor se formando no ar em contato com sua respiração quente.

Ele respirou fundo mais uma vez, agora já com um pouco mais de facilidade e lentamente saiu da fenda. Tudo doeu ainda mais no seu corpo, mas foi aquele tipo de dor seguida de alívio. Era, de certa forma, maravilhoso poder se mexer novamente. Ele olhou para todos os lados agora pra ver se a criatura estava em algum canto por perto a sua espreita, caminhou na área ao seu redor e atrás da árvore, mas tudo parecia sombriamente tranquilo. Era a hora de dar o fora dali.

Ele começou a andar a passos lentos e cuidadosos, observando cada pequeno movimento do ambiente. Podia sentir todos os seus músculos completamente tensos, prontos para assumirem o controle e fazerem-lhe disparar correndo dali ao menor sinal da criatura ou, quem sabe, lhe paralisarem de vez.

Aos poucos, ele foi acelerando o ritmo ao passo que conseguia até respirar um pouco mais tranquilamente. O perigo ainda era o mesmo, mas em situações extremas assim, você é guiado quase totalmente por instintos e os de Will pareciam dizer que naquele momento agilidade e destreza deviam sobrepor-se ao medo. Avaliar o perigo real da coisa toda é tarefa para quando tudo já acabou e você se vê em segurança novamente. Ele não podia permitir-se a entrar em pânico agora.

Devia ter caminhado por pelo menos algumas poucas horas quando notou as árvores tornando-se cada vez mais espaçadas. Pelo visto estava no caminho certo. Caminhou por mais alguns minutos até que chegou numa estrada. Como era de se imaginar, a estrada também era recoberta pela tal gosma ressecada, só que agora não mais em uma cobertura uniforme, mas sim como grandes tentáculos negros que esticavam-se em todas as direções.

Agora em campo aberto, ele pode ver melhor aquele céu sobre sua cabeça. A lua estava lá, mas era apenas uma ínfima e opaca bolinha esbranquiçada que conferia aquela luz azulada ao ambiente.

Nesse momento, Will olhou seu relógio de pulso e percebeu que este marcava 10:15 da manhã. Sentiu-se frustrado ao pensar que, além de perdido naquele lugar, ficaria também perdido no tempo, já que seu relógio, pelo visto, havia parado de funcionar há muitas horas sem que ele percebesse, porém numa segunda olhada ele percebeu que no mostrador dos segundos os números contavam normalmente, o que o fez achar tudo aquilo muito estranho. “Ou esse lugar bagunçou os circuitos do meu relógio ou, aparentemente, a noite aqui dura mais que o normal, quem sabe para sempre” ele pensou, sentindo de repente um frio absurdo no estômago. No fim das contas, não importava.

A essa altura ele já estava começando a desistir de fazer especulações sobre o que diabos seria aquilo tudo e, de qualquer forma, esses pensamentos foram de súbito interrompidos por algo um tanto quanto animador: Ele começou a perceber que aquele lugar onde estava lhe era familiar. Uma observação mais cuidadosa e a ficha caiu. Aquela era a estrada que todos os dias ele pegava para ir para casa! Uma versão distorcida de tudo, mas sim, só podia ser ela. Por Deus, ele estava na Floresta das Trevas o tempo todo! Não era exatamente algo reconfortante já que tudo ainda era muito sinistro e inexplicável diante dos seus olhos, mas sentiu um pouco de alívio por não estar mais perdido de certa forma.

Nesse momento, Will esqueceu-se completamente do perigo que vinha correndo esse tempo todo e disparou em direção a sua casa. Só queria encontrar sua mãe e o Jonathan. Eles poderiam explicar-lhe o que diabos estava acontecendo ou, mesmo que não soubessem, certamente fariam o possível para se protegerem daquilo tudo e da criatura, quer eles já soubessem dela ou não.

Agora que o mundo parecia estar acabando, tudo que ele mais queria era estar com sua família, então ele correu com a mesma urgência com a qual havia corrido da criatura anteriormente e só parou quando avistou a casa ao longe, pois assim que a viu, um mau pressentimento tomou conta dele, como se mãos geladas estivessem apertando cruelmente o seu coração dentro do peito. Ele sentiu as palmas das suas mãos começarem a suar. Algo estava errado, terrivelmente errado.

Will caminhou em direção a uma versão de sua casa completamente medonha e totalmente coberta pelos malditos tentáculos negros de gosma seca. Elas não pareciam ir embora nunca. Agora quanto mais ele se aproximava, mais seu coração acelerava.

Chegou então à varanda e caminhou até a porta. Sem muita dificuldade, percebeu que esta estava destrancada. Era só girar a maçaneta e empurrar, mas por incrível que pareça, por alguns segundos, algo lhe impediu de fazê-lo. Uma sutil sensação aterradora de antecipação que o fez, de repente, não querer ver o que ele sentia que havia lá, ou melhor, que não havia. Ele então respirou fundo, girou a maçaneta e pode confirmar o seu terrível pressentimento: Não havia ninguém ali.

Will entrou caminhando lentamente, de certa forma assimilando o vazio ao seu redor e fechou a porta atrás de si. Tudo estava extremamente silencioso e sombrio. A gosma cobria as coisas ali com seus tentáculos sinistros, mas ainda era possível ver bem por baixo dela. Nas paredes o forro estava gasto e rasgado em muitos pontos. O ambiente era fracamente iluminado pela luz vinda de fora através de janelas nas quais os tentáculos negros haviam se fixado, irradiando em todas as direções, criando um efeito bisonho por detrás de cortinas imundas. A mobília também estava toda velha e gasta. Era como se ninguém morasse ali havia anos, ou até mesmo décadas.

– Mamãe? Jonathan? – Ele gritou com uma ínfima ponta de esperança, obtendo como resposta apenas o silêncio absoluto.

Continuou caminhando e passou pela cozinha, que se encontrava exatamente no mesmo estado soturno, estranho e abandonado da sala de estar. Ele então entrou no corredor e em seguida deu uma olhada em cada quarto apenas para confirmar o óbvio: tudo exatamente igual ao resto da casa. Voltou até a sala de estar, deu mais uma olhada ao seu redor e, nesse momento, sentiu a ficha cair.

Foi como se o vazio daquele lugar tivesse se transformado numa entidade, uma segunda criatura que sem grandes dificuldades começou a lhe engolir. Will sentiu uma solidão implacável apossar-se dele de dentro para fora, fazendo todos os seus músculos ficarem paralisados, não de tensão, mas sim como se ele tivesse sido anestesiado ou congelado por completo. Aquilo foi tomando conta até não caber mais dentro dele e transbordar em forma de lágrimas. Sua garganta, até então travada, também deu passagem para a solidão extravasar na forma de um gemido de lamento.

Ele então caiu sentado no sofá da sala e deixou as lágrimas virem à vontade. Onde estariam sua mãe Joyce e o seu irmão justo agora que ele precisava tanto deles? Teriam lhe abandonado em meio aquele inferno assustador e gelado que a cidade aparentemente virou? Ele não tinha como saber... A única certeza que tinha é que estava completamente sozinho ali naquela casa.

Em meio aos velhos tentáculos gosmentos que cobriam o sofá, suas lágrimas e essa sensação terrível de desamparo, Will adormeceu novamente. Quando acordou, olhou no relógio e viu que o mostrador marcava 4:00 da tarde. Tudo permanecia exatamente igual lá fora, a mesma escuridão noturna de sempre e nessa hora Will começou a acreditar que o tempo ali realmente era uma grande noite sem fim.

Sentia as lágrimas secas nas suas bochechas e os olhos anormalmente inchados. Naquele momento, ele respirou fundo e, ainda que de coração apertado, decidiu que se estava sozinho ali, teria que aprender a se virar. Seu corpo apoiou essa decisão com um terrível ronco no estômago. Ele estava com fome, e muita.

O dia (ou noite?!) tinha sido uma montanha-russa de emoções tão loucas que ele havia esquecido que o corpo humano tem outras necessidades para além de simplesmente tentar ficar vivo em meio a um ambiente hostil. Pensou então que se aquilo era de alguma forma a sua casa, poderia haver algo ali que ainda fosse comestível, apesar de, devido a toda a aparência horrível do lugar, ele achar a ideia um pouco improvável. Mesmo assim, ele levantou e foi dar uma olhada na cozinha.

Revistou tudo no lugar dentro do que a fraquíssima luz do ambiente lhe permitia. Olhou na geladeira que obviamente não funcionava, conferiu os armários... Todos os alimentos, desde vegetais a pães e massas, estavam estragados.  Já estava perdendo as esperanças quando, no compartimento ao lado do fogão, coberto pela típica gosma, ele encontrou, para sua surpresa, três pacotinhos de biscoitos fechados.

“Não quero nem imaginar a quanto tempo isso está aqui...” ele pensou, mas as embalagens dos biscoitos pareciam intactas, impedindo qualquer contato com o ambiente externo. Talvez ainda fossem comestíveis e de qualquer forma a sua fome era tamanha que ele definitivamente não pensou muito sobre a possibilidade de aquilo lhe fazer mal. Sendo os únicos alimentos de que agora ele dispunha, valia a tentativa no fim das contas.

Ele então pegou os pacotinhos e levou-os para a sala de estar, sentou-se no sofá e devorou um deles em questão de poucos minutos. Os biscoitos eram extremamente secos e por isso difíceis de engolir, além de possuírem um gosto não muito apetitoso de trigo envelhecido, mas definitivamente não estavam estragados, o que já era ótimo naquelas condições.

Ele já estava partindo para o segundo pacote quando lhe ocorreu que não sabia por quanto tempo iria ficar ali sozinho, e nessa hora ele sentiu o vazio avolumar-se um pouco dentro de si novamente. Decidiu então guardar os outros dois pacotinhos para possíveis futuras refeições. Não estava exatamente saciado com o que havia comido, mas havia sido o suficiente para aplacar a fúria no seu estômago.

Foi nessa hora que ele deu por falta da sua mochila, a qual estava usando no momento em que a criatura o sequestrou na casa de ferramentas. Na confusão mortal das horas seguintes ele nem se lembrou dela e muito menos tinha ideia de onde a mesma tinha ido parar. Ela teria sido de grande serventia agora para guardar suas pequenas provisões, mas na sua falta, decidiu guardar os pacotinhos nos bolsos das calças mesmo.

Os minutos então foram passando e algo até então novo naquelas condições começou a tomar conta de Will: A solidão constante começou a se misturar com uma ponta de tédio. Não dava para ficar numa casa escura e silenciosa simplesmente olhando para o teto esperando as horas passarem. Então após alguns minutos jogado no sofá, ele decidiu ir para o seu quarto a procura de algo que o distraísse dos seus pensamentos. Se aquele era de fato o seu quarto, os seus pertences ainda deviam estar por lá jogados em algum canto.

Ele então se levantou e nesse momento sentiu uma vontade enorme de fazer xixi. Rumou pelo corredor em direção ao quarto, mas no caminho fez uma parada no banheiro. Este encontrava-se em um estado deplorável, mas ainda era o mesmo de sempre por baixo dos tentáculos de gosma, então Will procurou ignorar a existência deles por um momento enquanto fazia suas necessidades.

Após tentar dar descarga e perceber que a mesma não funcionava, ele retomou seu trajeto. Seu quarto era uma coisa abandonada de aspecto deprimente, mas pelo visto tudo estava no lugar: por baixo da gosma ainda estavam o pôster de “Tubarão” do Spielberg na parede ao lado do closet, o pequeno mural com as suas anotações do lado da janela à sua frente, o seu rádio em cima da cômoda, a estante com seus livros, o papel de parede, agora bem gasto, com pequenos desenhos de navios e trens na parede da direita, até mesmo o lençol na cama era o mesmo.

Aquele era de fato o seu quarto, ou pelo menos a versão sombria dele, então ele sabia exatamente o que fazer. Rumou para a estante a sua frente e pegou algumas de suas revistas em quadrinhos que, como ele supôs, estavam empilhadas num canto acima de um livro de história americana. Em seguida, com um pouco de esforço, arrancou os enormes tentáculos que cobriam sua cama e jogou-se em cima dela, posicionou as revistinhas num lugar iluminado pela luz azulada que vinha do lado de fora através de uma das janelas e pôs-se a folhear os quadrinhos.

Dentro em pouco ele viu-se absorto nas aventuras vividas pelo Super Homem, Batman e claro, seus favoritos, pelos X-Men. Chegou até mesmo a esquecer-se de tudo a sua volta e divertir-se genuinamente por algum tempo.

Suas leituras e aventuras duraram até o momento em que ele olhou no relógio e constatou que já eram 8:30 da noite, decidindo fazer uma pausa para beliscar mais alguns dos biscoitos. Desta vez ele preferiu comer apenas meio pacotinho já que não estava mais tão faminto como da primeira vez.

Terminada sua pequena refeição, ele levantou e foi novamente ao banheiro fazer xixi. Na saída olhou para os dois lados do corredor e, subitamente, foi tomado por uma necessidade de checar se tudo estava no lugar na sala de estar, afinal ele tinha conseguido esquecer a realidade dos fatos por um momento, mas no fim das contas, lembrou-se com uma ponta de medo desconfortante que não estava completamente sozinho naquele ambiente.

Chegando lá, ele deu uma olhada minuciosa nas coisas e, para seu alívio, tudo estava como antes. Sua atenção estava novamente se voltando para o corredor quando ele olhou para o telefone que havia na parede e, de repente, uma ideia lhe ocorreu. Não sabia se funcionaria, mas na situação em que se encontrava, qualquer ponta de esperança já era um lucro.

Ele então caminhou em direção ao telefone enquanto sentia seu coração acelerar devido à ansiedade crescente, retirou o mesmo do gancho e discou o número do trabalho da mãe. A princípio houve apenas silêncio e Will, por um momento, pensou em deixar para lá e voltar para sua cama, mas a esperança ainda era forte demais para desistir na primeira tentativa.

Ele então discou o número mais uma vez enquanto sentia cada fibra do seu corpo desejando que alguém atendesse. Pensava na sua mãe e nesse momento ele sentiu a saudade dela atingir-lhe em cheio como uma onda no mar, fazendo com que ele se concentrasse naquele telefone e desejasse que alguém do outro lado atendesse com ainda mais força. Foi então que o silêncio do outro lado da linha foi se transformando em ruídos, a princípio quase inaudíveis e depois cada vez mais altos, crescendo assim como crescia a esperança dentro de Will. Então, de repente, ele ouviu:

– Alô? – Sua mãe disse do outro lado da linha.

O coração de Will teria vibrado de alegria se, naquele exato momento, ele não tivesse avistado a silhueta no fim do corredor. Toda a euforia por ouvir a voz da sua mãe subitamente transformou-se num pavor sufocante, que fez sua respiração ficar ofegante imediatamente.

– Alô? Lonnie? Hopper? Quem é? – Ela continuava e Will teria gritado a plenos pulmões pela sua mãe se sua garganta não tivesse travado devido ao pânico que crescia à medida que a criatura se aproximava cada vez mais.

– Will? WILL? – Foram as ultimas palavras que ele conseguiu ouvir antes do desespero fazê-lo esquecer tudo ao seu redor.

Ali na sua frente, já mortalmente próxima, encontrava-se a enorme e grotesca criatura, pronta para dar o bote.


Notas Finais


Por hora é só, pessoal! E então, será que Will vai conseguir escapar ileso das garras do Demogorgon? Se quiserem descobrir, fiquem atentos aos próximos capítulos!
Se gostaram dessa primeira leitura (ou não né... todas as críticas são bem vindas), por favor, deixem aquele feedback nos comentários para que eu possa saber como a minha história está sendo recebida por vocês.
No mais eu me despeço aqui. Beijos e até a próxima!


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