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História A Outra Hawkins - Com Mil Demônios!


Escrita por: StrangerTales

Notas do Autor


Olá, pessoal... Bem vindos de volta! Segue aqui a terceira parte da aterrorizante aventura do menino Will Byers.
Boa leitura!
(Ps: Sugiro para vocês que, se possível, assistam novamente o capítulo 3 da série e prestem atenção na cronologia dos acontecimentos. Talvez vocês consigam pegar uma pista importante aqui... hehehe)

Capítulo 3 - Com Mil Demônios!


Fanfic / Fanfiction A Outra Hawkins - Com Mil Demônios!

Assim como surgiu do nada, o grito foi subitamente interrompido, fazendo o silêncio cair novamente sobre o lugar. Seria o fantasma da floresta? Teria mais alguém ali? As perguntas iam e vinham na mente de Will, que agora começava a despertar do seu anterior estado de embotamento.

Num instante de curiosidade, ele levantou-se do chão e caminhou até uma das janelas do quarto numa tentativa de ver se, de repente, haveria algum outro humano vivo ali. Empurrou um pouco a cortina, somente o suficiente para abrir uma fresta no seu campo de visão e foi nesse exato momento que ele viu, dentre troncos retorcidos e medonhos na floresta mais ao longe, o Demogorgon surgir caminhando nas suas passadas pesadas e agora lentas.

Will quase correu para esconder-se novamente em baixo da sua cama, quando notou algo diferente: A criatura dessa vez trazia uma coisa consigo. Numa olhada mais cuidadosa, ele percebeu que era um ser humano e, de repente, sentiu um peso gelado formar-se no seu estômago. Permaneceu então, de certa forma paralisado, observando aquela cena.

Sendo puxado pelo pé esquerdo pelo Demogorgon, o corpo inerte vestia o que parecia ser uma jaqueta azul marinho e calças beges, agora surradas a aparentemente sujas de sangue, o qual ia formando uma trilha por onde a pessoa, que agora certamente não passava de um cadáver, estava sendo arrastada. Foi só quando observou o cabelo curto que Will se deu conta de quem era: Barb, a amiga da Nancy!

O garoto já a tinha visto algumas vezes pela casa do Mike, mas nunca haviam interagido para além de um simples “olá”. Ainda assim, ele sentiu-se extremamente angustiado ao ver aquela cena. Apesar da pouca interação, sabia que Barb era uma garota legal. Tinha sempre um livro interessante em mãos e ele particularmente achava legal e engraçado o padrão que suas sardas formavam no seu rosto. Ela definitivamente não merecia um fim desses, ele pensou.

Poucos instantes depois, o Demogorgon já havia se embrenhando na floresta novamente, carregando o corpo morto de Barb para o desconhecido. Will então fechou a cortina novamente e foi em direção à sua cama. Deitou-se lá e permaneceu olhando para o teto, absorto em seus pensamentos. Olhando para aqueles tentáculos negros que vinham de todas as direções pelas paredes e enroscavam-se na lâmpada, ele pensava no que havia acabado de acontecer.

Era a primeira vez que contemplava a morte tão de perto. Tudo bem que ele já havia corrido um perigo mortal um punhado de vezes ali, mas era a primeira vez na vida que ele via um corpo morto de verdade e isso o fez sentir-se, inexplicavelmente, frágil e impotente. “A morte é algo presente para todas as pessoas, no entanto quase sempre temos aquela sensação de que é algo alheio a nós, o tipo de coisa que acontece com os outros, não com você... Até que a sua hora chega.”, ele refletia  enquanto um frio repentino o fazia ficar arrepiado e encolher-se sobre o colchão.

Decidiu então pegar um lençol mais grosso na sua cômoda. Pelo visto o móvel havia passado o tempo todo fechado, já que os lençóis lá dentro encontravam-se perfeitamente limpos e sem gosma, o que Will agradeceu aos deuses mentalmente. Voltou para sua cama e lá enroscou-se entre as cobertas à procura de algum refúgio no sono, o qual, para seu azar, não veio. O tempo ia passando e ele não conseguia pregar os olhos. 10:00... 11:00... 12:00... As horas da madrugada iam chegando e nada do sono vir.

Já devia ser 1:00 da manhã ou mais quando Will ouviu passos do lado de fora, dessa vez passos leves e na mesma hora ele pulou da cama para espiar pela janela, só para conferir o que já imaginava: O fantasma da floresta estava perambulando pelos arredores da sua casa. Andava lentamente a pouco mais de uns dois metros de sua janela, com a mesma expressão curiosa e apavorada no olhar enquanto observava o ambiente. Trajava o mesmo moletom azul e calças acinzentadas de antes.

Will afastou mais as cortinas, permitindo que seu rosto aparecesse completamente e, com o punho cerrado, deu três batidinhas na janela, assim como as pessoas fazem quando batem à porta de alguém. Na mesma hora a pessoa se virou para encará-lo. Will estava cada vez mais convencido de que seria uma garota, estranhamente com os cabelos raspados, mas devia ser uma garota. Os traços eram muito delicados e até mesmo bonitos para serem masculinos, pensou ele, mas de qualquer forma isso não importava muito. Seus olhos se fitaram por alguns segundos e Will até arriscou um aceno, mas no momento seguinte a pessoa já tinha se tornado névoa acinzentada novamente, dispersando-se na noite logo em seguida.

Nada mais restava ao garoto agora a não ser voltar para cama e assim ele o fez, enroscando-se novamente entre as cobertas e, apesar de ainda sentir-se um pouco mal pela cena grotesca de horas antes, conseguiu adormecer dessa vez, caindo num sono profundo.

Quando acordou, instintivamente olhou seu relógio de pulso, que agora marcava 11:00 da manhã. Sentou na beirada da cama e espreguiçou-se por um momento, observando a escuridão a sua frente. Ainda achava muito estranho essa coisa de ser sempre noite, sempre frio e assustador, mas de certa forma já estava acostumando-se. Era sua casa e, apesar dos pesares, ele se virava bem ali.

Nessa hora sua barriga roncou. Percebendo que estava com fome e sede, ele rumou para a sala, em busca da sua mochila com suas pequenas provisões, fazendo antes uma pausa no banheiro para fazer suas necessidades. Ao chegar à sala, devorou meio pacote de biscoito, e o que havia sobrado do primeiro pacotinho de nozes, tudo intercalado com pequenos goles da água lamacenta, enquanto folheava seu livro de história que havia ficado ali no sofá.

Por sorte, no seu quarto havia vários livros com os quais podia matar o tempo, ele pensou, e então ficou a refletir por quanto tempo ele ficaria preso ali. Sabia que sua família estava à sua procura, mas onde estavam eles? E se não chegassem a tempo? Nesse momento medo, ansiedade e saudade misturaram-se, criando uma espécie de aperto por dentro dele, que levemente ameaçaram-no por tudo que tinha acabado de comer para fora.

Decidiu então fazer algo que agora ele percebia com certa estranheza que não havia pensado em fazer antes: Explorar os quartos ali abandonados da mãe e do irmão. Poderiam, de repente, conter alguma pista dos seus paradeiros ou, na pior das hipóteses, seus pertences ainda estariam lá para fazer Will lembrar-se deles.

Foi primeiro para o quarto do Jonathan. Abriu a porta e contemplou a versão abandonada e coberta com os tentáculos de gosma seca do lugar onde passara tantos bons momentos brincando e escutando música com o irmão. Os pôsteres do David Bowie e do “Uma Noite Alucinante” continuavam lá nas paredes da cor de terra. A cama de casal permanecia com o lençol amarrotado, como ele sempre deixava, logo abaixo do estranho tapete com retângulos beges e laranjas, contornados de preto. Do outro lado, a vitrola permanecia com os fones brancos inertes em cima e vários discos logo ao lado. Will andou até lá para olhá-los.

Pegou a pequena pilha e foi olhando um por um na luz azulada que vinha da janela logo atrás da vitrola. Bowie, Zeppelin, The Clash, Ramones, The Smiths... “Jonathan entende das coisas” o garoto pensou, já de coração apertado. Logo em seguida ele deu alguns passos e sentou-se na cama, perto do criado-mudo que havia do lado esquerdo dela. Em cima dele havia uma luminária que não funcionava e um pequeno retrato. As mãos do garoto foram direto ao encontro desse último, trazendo-o para perto de si para observar a pequena foto que exibia uma versão mais jovem do irmão ao lado da mãe, que segurava Will no colo ainda bebê. Ele então percorreu seus dedos lentamente pelos contornos das pessoas naquela foto, como que para senti-los de alguma forma.

O transe contemplativo durou por pouco tempo. Logo Will levantou-se e decidiu rumar para o quarto da mãe, levando o retrato junto com ele. Saiu então do quarto do Jonathan, fechando a porta atrás de si, caminhou pelo corredor e adentrou o quarto da Joyce. Nele havia outra cama de casal, esta com a cabeceira em forma de grade e os lençóis esticados por baixo da gosma seca, diferentemente da de Jonathan. As paredes eram lisas e pintadas de bege, pontuadas com um criado-mudo de madeira ao lado da cama, uma cômoda perto da janela e o guarda-roupa na parede da esquerda, na direção dos pés da cama.

Will sentou-se no colchão, sentindo as costuras do lençol com as palmas das mãos, que dali migraram para o travesseiro, afastando um fino tentáculo de gosma que passava por ele para poder sentir o tecido da fronha. Logo depois ele levantou-se e caminhou em direção à cômoda, tateando os poucos objetos que havia ali em cima, prestando atenção especial numa pequena caixinha onde a mãe guardava alguns pares de brincos que raramente usava. Ele abriu-a e demorou-se contemplando os pequenos itens dourados lá dentro.

Já estava saindo do quarto quando notou algo na porta do guarda-roupa: Preso para fora entre as portas fechadas, havia um pedaço de tecido marrom. Will então caminhou até lá, girou a pequena chave que mantinha as portas trancadas e puxou a ambas pelas minúsculas maçanetas, exibindo algumas peças de roupa da sua mãe guardadas lá dentro.

A peça em questão que havia ficado presa era um dos casacos da Joyce, que agora ele já tomava em suas pequenas mãos e, instintivamente, levava para perto de si. Pode então perceber que o perfume dela estava ali, agora bem suave, mas perfeitamente sensível ao seu olfato, fazendo seu coração doer ainda mais e um nó formar-se na sua garganta. “Deve ter sido conservado pelo tempo guardado aí dentro” ele pensou.

Sem demora, Will trancou novamente o guarda-roupa, mantendo consigo o casaco marrom e o retrato do quarto do irmão e saiu dali em direção ao corredor. Caminhou lentamente de volta ao seu próprio quarto e sentou-se aos pés da sua cama. Nesse momento, ele abraçou os dois itens e as lágrimas vieram quentes e incontroláveis. A saudade já era quase como uma entidade que o acompanhava constantemente, vez por outra, como agora, enfiando a mão através do seu peito para apertar seu coração enquanto exibia um sorriso cruel nos lábios.

– Onde estão vocês? – Perguntou ele para o vazio.

Foi então que, sem dar nenhum aviso da sua presença ali, o Demogorgon emitiu seu som bizarro do lado de fora da casa, fazendo Will tomar um susto tão grande que o deixou paralisado por completo. Sua teoria da criatura noturna aparentemente tinha ido por água abaixo. Logo em seguida tudo ficou extremamente silencioso por um momento, o que fazia o peito do garoto explodir em ansiedade e antecipação enquanto ele olhava fixamente para a janela do quarto.

O suspense logo foi interrompido de súbito quando a parede ao lado da janela, mais uma vez, começou a transformar-se naquela espécie de tecido vivo no qual ele pode ver, horrorizado, a mão da criatura desaparecendo por alguns segundos, antes de ser puxada de volta pelo monstro, fazendo o tecido vivo virar parede novamente e o silêncio pairar no lugar mais uma vez.

Will, que agora já começava a tremer, girou lentamente sua cabeça, olhando o ambiente ao seu redor, sem ter, para seu desespero, a mínima ideia do que a criatura faria em seguida. O silêncio então se desfez mais uma vez com o som de alguma coisa metálica sendo arrastada na sala, fazendo o garoto levantar num pulo, largando o casaco marrom e o retrato jogados na cama.

Ele caminhou até a porta do quarto, atravessou o corredor e, assim que avistou a sala, deu de cara com o trinco da porta sendo lentamente puxado e pendendo inerte, fazendo o medo e a adrenalina tomarem conta dele. O Demogorgon estava entrando para capturá-lo.

Will disparou a toda velocidade de volta para o quarto, abriu a janela e, num salto, viu-se do lado de fora, correndo desenfreadamente para a floresta à sua frente. As lágrimas secavam nas suas bochechas em contato com o ar gelado enquanto ele disparava sem rumo para o mais longe possível da criatura. Depois de correr por longos minutos, ele se deu conta de que tinha vindo para um lado completamente diferente da floresta desta vez, portanto não havia a fenda ao pé da árvore para ele se esconder, o que só o fez sentir-se mais desesperado e perdido.

Ele correu até não poder mais à procura de um novo esconderijo, correu até sentir seus músculos e pulmões pegando fogo enquanto respirava ofegante. Quando sentiu que não aguentaria mais, avistou duas pedras enormes e imediatamente socou-se na fenda entre elas, puxando as folhas mortas e gosma seca no chão ao redor para cobrir-se na medida do possível. Não era um esconderijo decente, mas tinha conseguido camuflar-se um pouco com o ambiente.

As horas seguintes foram do costumeiro estado de alerta apavorado. Will permanecia com olhos vidrados fitando todas as direções, com o coração dando saltos absurdos toda vez que ele ouvia qualquer ínfimo barulho na floresta. Desta vez, porém, além do medo já familiar, ele começava a sentir outra coisa: Raiva.

Por um momento ele sentiu-se extremamente irritado por estar passando por aquilo tudo. Sentia raiva da vida e de um deus que ele nem sabia se acreditava, mas que se fosse real, provavelmente seria responsável por permitir que toda aquela desgraça estivesse acontecendo com ele. Sentia vontade de gritar, mas sabia que se assim o fizesse, a criatura poderia ouvi-lo e localizá-lo, portanto ele se conteve como pode e esperou até sentir que era necessário voltar para casa. Apesar de o Demogorgon ter estado lá, ele imaginava que o mesmo habitava a floresta e, portanto, a casa seria mais segura do que ficar ali no fim das contas.

Lentamente então ele despiu-se do manto de folhas mortas e gosma, saiu do seu esconderijo, conferiu a área ao redor e pôs-se a caminhar, fazendo o mínimo de barulho possível. Enquanto caminhava, o garoto observava mais uma vez como as árvores naquele lugar eram anormalmente assustadoras. As partículas em suspensão no ar por vezes chocavam-se conta seu rosto e em um dado momento ele capturou uma com a ponta dos dedos, percebendo que estas eram uma espécie de frágeis casquinhas brancas.

A caminhada já durava algum tempo quando ele fez uma pausa ao pé duma árvore para conferir o horário e viu que já eram 4:15 da tarde. Já ia dando continuidade aos seus passos quando olhou para sua direita e viu, perto demais, aquilo que fez um choque de adrenalina e medo percorrer seu corpo numa fração de segundos: Enroscado ao pé de uma árvore qualquer, encontrava-se o Demogorgon.

Will por muito pouco não entrou em pânico e saiu correndo dali sem pensar. Somente no último resquício de raciocínio lógico, ele percebeu que a criatura estava anormalmente imóvel para quem tem sua presa tão próxima como ele estava. Foi então que, pela posição enroscada em que o monstro se encontrava, ele pensou que o mesmo poderia estar dormindo ou em algum estado de relaxamento parecido.

O garoto então ficou completamente imóvel pensando no que iria fazer em seguida para escapar dali ileso. Sentia seus músculos completamente tensos agora, o que o fez arriscar a única saída viável: Pouco a pouco, ele foi dando passos lentos e silenciosos, tomando todo o cuidado para não pisar em nenhum galho ou pedaço de gosma que pudesse fazer algum barulho que acordasse a criatura, exatamente como ele tinha feito da primeira vez que fugiu assim que foi levado para aquele lugar. Os segundos pareciam arrastar-se naquele clima de tensão e só depois do que pareceram eras, Will sentiu que tinha atingido uma distância segura para correr, e assim ele o fez.

Correu desabalado até chegar à sua casa, entrando desesperadamente, trancando a porta logo em seguida. Foi até a cozinha e pegou uma das cadeiras, arrastando-a para a sala, onde a usou como uma espécie de trava atrás da porta, na tentativa de dificultar a entrada do monstro, caso ele voltasse. Em seguida conferiu todas as janelas e a porta dos fundos, pegando outra cadeira para usar como trava nesta também. Só então sentiu um pouco de segurança. Contudo, ele ainda achava que era possível o Demogorgon resolver fazer-lhe mais uma visitinha nas horas seguintes. Tinha que providenciar um esconderijo dentro da casa.

Ele lamentou a falta de um porão ali enquanto procurava um lugar decente para esconder-se em algum dos cômodos. Olhou pelos quartos e cozinha, mas nada parecia realmente seguro. Estava de volta à sala quando se lembrou que na mesma havia uma espécie de compartimento na parede à esquerda do sofá, que ficava escondido por uma pequena estante e estava quase sempre vazio.

Correu até a tal parede, empurrou a pequena estante para o lado com algum esforço, agachou-se e abriu o compartimento que, para sua alegria, estava vazio como ele previra. Will então pegou sua mochila que ainda encontrava-se ali no sofá da sala, voltou ao compartimento e encolheu-se lá dentro, fechando as pequenas portas do seu lado.

Agora silêncio e escuridão apenas. Ele poderia ter pego um livro para ler com sua lanterna enquanto passava as horas seguintes ali até ter certeza de que a criatura não voltaria, mas além de achar que a luz poderia chamar atenção através da fresta de abertura do armário, ele não tinha disposição para leitura nesse momento. Tudo que queria era acalmar-se um pouco do pânico das últimas horas e, agora com o sentimento de solidão voltando para fazer-lhe companhia, a sua mãe. Principalmente ela.

Permaneceu ali pensando nela, imaginando onde Joyce estaria e desejando que de alguma forma ela o encontrasse. Desejava com todas as forças um abraço da sua mãe nesse momento, dizendo que tudo aquilo iria passar. Foi então que, de repente, uma voz ecoou, fazendo o garoto assustar-se:

– Will... Você está aqui?

Era ela! De alguma forma completamente obscura, a voz de sua mãe ecoava como algo distante, porém perfeitamente audível ali no pequeno gabinete, fazendo o coração de Will explodir em contentamento.

– Sim mamãe... Estou aqui!

– Certo. Bom, bom, bom, bom... Pisque uma vez para sim e duas para não. Pode fazer isso para mim, querido? Você pode fazer...

Piscar?! Will ficou confuso por um momento, mas nem sequer ousou recusar o pedido da mãe. Lembrou do código que ela disse, uma vez para sim e duas para não, concentrou-se e piscou uma única vez.

– Oh, bom garoto, bom garoto... – Dizia a voz dela com carinho, o que fez o coração dele se aquecer – Meu bem, eu preciso saber... Você está vivo?

Novamente ele concentrou-se e piscou uma única vez.

– Você está seguro?

Agora ele engoliu em seco e, desta vez, piscou duas vezes.

– Oh... – Ele ouviu-a gemer em lamento – Preciso saber onde encontrar você. Onde você está? Pode me dizer onde você está? Você pode... Por favor, querido... – A voz dela começava a ficar embargada – Preciso encontrá-lo... Me diga o que fazer! Por favor...

– Eu estou aqui mamãe! Bem aqui em casa! Onde está...

– Will... – A voz dela ecoava chamando-o, como se não mais o ouvisse.

– Não mamãe, não vá! Fica mais um pouco, fica... – Mas tudo era apenas silêncio novamente.

Will mais uma vez não pode conter as lágrimas. Ela parecia estar tão perto e mesmo assim não conseguia alcançá-la. Ouvir sua voz por este breve instante só fez a saudade aumentar de uma forma cruel no seu coração.

Soluçava baixinho quando começou a ouvir um barulho estranho vindo de fora. Era um barulho áspero e bem baixo, como algo sendo lixado suavemente. Ele então pegou sua pequena lanterna na bolsa e lentamente saiu do compartimento para vistoriar o lugar. Tudo parecia absolutamente igual até ele iluminar a parede acima do sofá e levar um tremendo susto:

– Com mil demônios! – Ele exclamou estupefato.

 A surpresa, no entanto, logo foi sendo substituída por curiosidade já que ali, bem na frente dele, rabiscos negros começavam a surgir no papel de parede bege. Aos poucos ele foi percebendo que os rabiscos formavam letras. Um alfabeto, na verdade, e foi então que compreendeu: Era sua mãe... De alguma forma ela estava criando uma maneira deles se comunicarem para além do básico “sim ou não” e isto fez Will dar pulinhos de animação enquanto as lágrimas secavam na sua pele.

Enquanto as letras magicamente desenhavam-se na parede à sua frente, ele teve tempo de comer mais alguns biscoitos, ir ao banheiro fazer suas necessidades e refletir sobre o que estava acontecendo.

Ocorreu-lhe então que, de alguma forma, sua mãe estava ali na casa também, mas como? Ele simplesmente não conseguia compreender. Podia sentir a presença dela algumas vezes e eles até conseguiam se comunicar, mas ele simplesmente não a via ou podia tocá-la. Algo de muito estranho estava acontecendo ali. Um verdadeiro e angustiante mistério que só o fazia ficar intrigado enquanto ansiava desesperadamente pela mãe.

Sentado no chão da sala, ele via as letras sendo finalizadas na parede. Terminado o “Z”, a voz de Joyce voltou a ecoar:

– Certo. Certo querido... Fale comigo, fale comigo. Onde você está?

E nessa hora Will compreendeu o que tinha que fazer. Levantou-se, correu em direção ao sofá, ficou em pé em cima dele e começou a tocar, letra por letra enquanto a voz de sua mãe ecoava pela sala:

– “E”. Bom! Bom! Bom! Muito bom, vamos... “S”, “T”, “O”, “U”, “A”, “Q”, “U”, “I”. “Estou aqui”... Estou aqui? Eu... Eu não sei o que isso significa. – Ela dizia parecendo estar confusa – Eu preciso que me diga o que fazer... O que eu devo fazer? Como chego até você? Como eu o encontro? O que devo fazer?

De repente, os temores de Will de momentos mais cedo se confirmaram. Agora, vindo em passadas rápidas e pesadas enquanto emitia seu som bizarro, o Demogorgon aproximava-se cada vez mais da casa.

Subitamente, um clarão de compreensão sobre onde estava sua mãe veio à mente do garoto. Realmente ela estava o tempo todo ali, mas num outro ali. Uma realidade paralela. Só podia ser isso! A constatação, no entanto, não foi nem um pouco alegre já que ele imediatamente lembrou-se das aberturas em tecido vivo nas paredes e percebeu que o Demogorgon poderia passar para o outro lado. Para o lado de Joyce!

Num último ato de comunicação desesperado, ele mandou o aviso:

“C”, “O”, “R”, “R”, “A”.

Assim que tocou a última letra, ele viu a parede do lado oposto da sala começar a transformar-se em tecido vivo. Instintivamente, Will correu para dentro do gabinete e trancou-se lá dentro no escuro. As lágrimas vieram novamente e suas mãos, agora geladas, começaram a tremer. Sentia como se seu coração fosse despedaçar-se dentro do peito. Desta vez, ele temia não por ele, mas sim por sua mãe. A criatura estava indo ao encontro dela.


Notas Finais


Ficamos aqui por enquanto. Espero que tenham gostado da leitura e sintam-se livres para, se quiserem, deixar aquela opinião nos comentários... Até a próxima!


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