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História A Outra Hawkins - O Valor da Vida


Escrita por: StrangerTales

Notas do Autor


Olá pessoal! Segue aqui a quarta parte da nossa pequena aventura... O capítulo está caprichado no drama. Espero que gostem.
Boa leitura!

Capítulo 4 - O Valor da Vida


Fanfic / Fanfiction A Outra Hawkins - O Valor da Vida

O desespero avolumava-se dentro de Will a cada minuto. Conviver com a tensão e o medo constante de ser capturado pela criatura a qualquer momento já era por si só apavorante, mas temer pelas pessoas que ele amava sem poder fazer absolutamente nada para protegê-las atingia um nível maior de angústia no seu coração.

Dentro daquele pequeno e escuro compartimento na parede, a terrífica incerteza do que poderia ter se sucedido à sua mãe e talvez até mesmo ao seu irmão era como um pequeno monstro dilacerando suas entranhas, acabando com o garoto de dentro para fora enquanto ele soluçava, impotente, em agonia. Sentia como se estivesse prestes a surtar completamente ou desmaiar ali mesmo e, no fim, só restava uma coisa à qual ele podia agarrar-se em busca de algum alívio:

Should I stay or should I go now?

Should I stay or should I go now?

If I go there will be trouble

An' if I stay it will be double

So come on and let me know…

A melodia saía da sua boca entrecortada pelos soluços e lágrimas enquanto ele abraçava as próprias pernas, quase em posição fetal...

This indecision's bugging me

If you don't want me, set me free

Exactly whom I'm supposed to be

Don't you know which clothes even fit me?

Come on and let me know

Should I cool it or should I blow?

A dor que ele sentia pareceu crescer ainda mais a princípio, mas logo em seguida o alívio começou a vir lentamente. As lágrimas foram tornando-se cada vez menos intensas e o desespero sendo substituído por um coração partido até que tudo o que sobrou foi um grande vazio sentimental.

Depois de longos minutos cantando, ele simplesmente não pensava ou sentia mais nada. Sua única necessidade era cantar incessantemente e assim ele permaneceu, entoando fracamente as palavras no decorrer das horas até que, sem perceber, o sono se fez presente, capturando-o nos seus braços enormes e reconfortantes.

Will então se viu em meio à floresta novamente, rodeado pelas árvores fantasmagóricas em todas as direções.  O ambiente ao seu redor estava silencioso e anormalmente frio, fazendo-o ficar arrepiado, em parte por conta da própria temperatura e em parte por conta do calafrio que percorreu sua espinha. Sentia-se perdido.

A gélida calmaria, no entanto, não durou muito. Aos poucos o silêncio absoluto foi sendo substituído pelo som das velhas passadas pesadas e agora lentas, fazendo o coração do garoto disparar de pronto enquanto ele olhava em todas as direções à procura do Demogorgon, que não se demorou a aparecer. Will logo avistou a criatura surgindo ao longe em meio às árvores, arrastando um corpo consigo outra vez, o qual ele logo imaginou ser da falecida Barb. Porém, à medida que o monstro caminhava, o corpo tornava-se mais nítido no seu campo de visão e, tomado de súbito desespero, o garoto percebeu que ali encontrava-se sua mãe morta, fazendo-o gritar em agonia.

O Demogorgon se viu surpreendido pelo grito repentino e, sem demora, largou o corpo inerte na trilha que o mesmo vinha formando e avançou a toda velocidade pra cima de Will que tentou correr e viu-se estranhamente paralisado. Seu coração disparava devido ao desespero e adrenalina crescente de contemplar a morte cada vez mais perto.

Ao chegar a uma distância adequada, a criatura saltou em cima dele enquanto abria a enorme boca, fazendo-o não ter outra alternativa além de contemplar, paralisado, o seu fim. Sua hora havia chegado...

O garoto então gritou, fazendo o som da sua voz ecoar na escuridão, percebendo logo depois que ainda estava no compartimento na parede de casa. Ele havia tido um pesadelo, daqueles que fazem a pessoa acordar suando frio enquanto o coração bate loucamente dentro do peito.

Sua primeira reação foi apalpar o chão em busca da sua mochila e, assim que pôs as mãos na mesma, abriu-a e pegou a pequena lanterna, iluminando o cubículo à sua volta. Tudo estava okay. Abriu então as pequenas portas e saiu para a sala, iluminando-a. Tudo absolutamente igual por ali também.

Só então ele se deu conta de que seu corpo estava dolorido pela posição desconfortável em que havia adormecido e permitiu-se algum alívio, recostando-se na parede enquanto inspirava grandes lufadas de ar para recompor-se. E foi então que ele percebeu, com um aperto no coração e um terrível nó formando-se na garganta, que talvez o pesadelo não estivesse tão longe da realidade assim.

Foi aos poucos escorregando pela parede para sentar-se no chão. Olhou o relógio de pulso e percebeu que o mesmo marcava quase 9:30 da manhã, porém ele não sentia a mínima vontade de comer. Estava devastado. A possibilidade da criatura ter capturado sua família ou até mesmo a matado ainda doía como uma faca cravada no seu peito, fazendo Will sentir-se deprimido e ao mesmo tempo impotente.

Lembrava-se tristemente da voz da sua mãe ecoando no ambiente enquanto, de alguma forma, ela entrava em contato com ele e a angústia o torturava ao pensar que aquela poderia ter sido a última vez que teriam se comunicado. Tudo o que ele desejava naquele momento era um sinal. Qualquer dica que fosse de que eles ainda estavam vivos e a salvo, só assim ele sentiria um pouco de paz.

Num ato desesperado, o garoto levantou, caminhou até o sofá, ficando em pé em cima dele, e começou a falar em voz alta:

– Mãe? Olá? Você está aí? Por favor, responda! Eu estou aqui! – E nesse momento começou a tocar nas letras da parede, formando a frase “estou aqui” – Por favor, eu preciso saber se você está aí, se está tudo bem. Por favor! – Agora ele começava a gritar enquanto esmurrava a parede em pontos aleatórios – Eu preciso saber se você e o Jonathan estão bem, preciso de um sinal, qualquer um que seja... Por favor, mamãe, eu preciso de vocês! Por favor...

Nesse momento as lágrimas vieram mais uma vez e, já sentindo a desesperança tomar conta, ele escorregou até estar sentado no sofá e permitiu-se chorar. Pôr tudo para fora era a única maneira de lidar com aquela agonia sem sucumbir completamente ao desespero. Então ele chorou. Chorou com vontade enquanto soluçava e gemia em profunda melancolia. Colocou tudo aquilo para fora até não poder mais, até sentir os olhos inchados e não haver mais lágrimas possíveis para serem derramadas. Até sobrar apenas o vazio dentro dele.

Os minutos se passavam enquanto ele permanecia deitado no sofá, olhando para o nada na sala escura. Lentamente, no entanto, algum resquício de raciocínio foi retornando à sua mente. Will então pensou na sua própria situação e imaginou que se ele conseguiu sobreviver esse tempo todo ao Demogorgon, talvez sua família ainda tivesse alguma chance. Não se sentia exatamente reconfortado já que a dúvida era constante e implacável em tirar a sua paz, porém qualquer ponta de esperança era melhor do que nada no caos completo em que ele encontrava-se interna e externamente e ele se agarraria a isso com todas as forças.

Pensou também que os gritos da última hora poderiam ter chamado a atenção do monstro lá fora, o que fez seu coração gelar e perceber que precisava dar um jeito de controlar-se e recompor-se. Poderia lamentar o quanto fosse possível por sua família se o pior tivesse acontecido quando já estivesse fora dali, se é que este dia chegaria, mas no momento manter-se a salvo ainda era a prioridade.

Apesar do terrível desamparo e da melancolia, o garoto decidiu tentar ser um pouco racional. Ele então levantou e passou as mãos no rosto para livrar-se da sensação esquisita de lágrimas secas nas suas bochechas. Nesse momento se deu conta de algo que, por incrível que pareça, não havia sequer passado por sua mente nesse tempo todo em que esteve ali: Ele já não tomava banho há dias.

Suas roupas estavam começando a cheirar mal e seus cabelos começavam a ficar oleosos, fazendo a franja lisa cair em mechas desorganizadas em sua testa. Daria uma das suas preciosas edições dos X-Men de bom grado agora por uma ducha quente e roupas limpas, mas higiene definitivamente era um luxo naquelas condições e, no fim das contas, cheirar mal era o último dos seus problemas, logo ele resolveu deixar o assunto pra lá. A consciência de si mesmo o fez também perceber, logo em seguida, que sua bexiga estava cheia, fazendo o garoto dar uma passada no banheiro para esvaziá-la.

O que ele sentiu que precisava agora era de algo que distraísse sua mente daquele inferno todo, portanto decidiu dar uma olhada no quarto em busca de algum passatempo. Saiu então da sala, andou pelo corredor e logo estava dentro dos seus sombrios aposentos explorando sua estante.

Remexia sua pilha de livros do D&D quando, dentre os dois livros mais abaixo, encontrou seu velho álbum de fotos. Demorou-se então por um momento a contemplar o caderno de capa azul com detalhes dourados nas beiradas, já sentindo a saudade e a angústia despertando em seu interior. Ele até tentou resistir ao ímpeto de olhar as páginas ali em suas mãos, mas era mais forte do que ele. Esses artefatos eram a única forma dele sentir-se um pouco mais próximo do seu lar, por mais que isso doesse.

Sem muitos rodeios então, o garoto sentou em uma beirada da cama iluminada pela luz azulada vinda de fora através de uma das janelas e abriu o álbum. Percorria as páginas lentamente, sentindo cada folha deslizando entre seus dedos enquanto observava a coleção de momentos ali registrados.

Vários dos acontecimentos importantes de sua vida estavam ali: Suas fotos ainda bebê, seu primeiro dia de escola, o dia em que perdeu um dente pela primeira vez, as fotos das feiras de ciências com seus amigos, natais, aniversários... Um pequeno recorte da sua vida estava agora em suas mãos e ele se perguntava, de coração apertado, se voltaria um dia a ver todas essas pessoas amadas ali presentes nos retratos.

Conforme avançava nas páginas, as fotos iam tornando-se mais recentes e sua família, exceto pelo seu pai, cada vez mais presentes nos instantâneos tirados, em boa parte, pelo seu irmão Jonathan depois que ele ganhou a primeira câmera. A dor da possível perda da mãe e do irmão voltava a latejar dentro dele enquanto as lágrimas ameaçavam voltar, o que o fez decidir que era a hora de parar com as recordações e retornar à busca de passatempos.

Fechou o álbum e o depositou na pilha de onde o havia retirado. Levou mais alguns minutos procurando algo que o interessasse, até que finalmente encontrou atrás de alguns livros escolares o seu volume de “As Crônicas Marcianas” do Ray Bradbury. Era um dos seus livros de ficção científica favoritos. Aproveitou também para pegar alguns papéis nos quais pudesse desenhar. Agora tinha tranquilamente o que fazer pelas horas seguintes.

Rumou em direção à sala, pegou sua mochila no compartimento da parede, deixou os papéis para desenho em cima da mesa de centro e instalou-se num canto do sofá, onde iluminou o livro com sua lanterna e começou a lê-lo. Já conhecia toda a história futurística dos seres humanos que iam para Marte, tentando colonizar o planeta ao passo que entravam em conflito com os marcianos, mas mesmo assim a leitura sempre era interessante.

Fazia-lhe imaginar um mundo completamente novo, habitado por pequenas criaturas verdes, além de fazer-lhe refletir nos paralelos que os contos do livro traçavam com o que ele estudava sobre História na escola. Achava isso tudo fascinante, apesar de um pouco triste em certos trechos, afinal a história não é feita apenas de bons momentos, não é mesmo?

Chegou num certo ponto em que ele se viu traçando um paralelo com sua própria situação, na qual, assim como no livro, uma criatura completamente estranha à sua realidade surgiu invadindo o seu espaço, pondo sua vida em perigo, o que ele achou interessante tanto quanto achou assustador. Logo tratou de espantar esses pensamentos, afinal ficar apavorado definitivamente não era o que ele buscava nos seus passatempos.

As horas iam transcorrendo sem que Will sequer notasse. Já tinha devorado aproximadamente 100 páginas do livro quando gritos agonizantes misturados com o som sinistro emitido pelo Demogorgon rasgaram o silêncio, fazendo o garoto tomar um susto tão grande que quase o fez jogar o livro pelos ares. Seu coração acelerou ao dar-se conta do perigo.

Por alguns momentos, como aquele da leitura, ele até conseguia esquecer-se da ameaça constante exercida pela criatura existente lá fora e o choque da realidade que vinha logo em seguida sempre o fazia sentir-se um pouco mal. Para sua sorte, desta vez ele não era o alvo. Os sons agonizantes indicavam que o monstro havia feito outra vítima, porém em nada isso confortava o seu coração, já que aquele som de morte sempre o deixava horrorizado.

Assim como surgiu, os gritos cessaram e o silêncio fez-se presente mais uma vez. Só então Will deu-se conta de que estava ofegante, tratando logo de respirar fundo para acalmar os nervos. Ele então olhou no relógio de pulso e constatou que o mesmo indicava 2:00 da tarde. Ainda tinha longas horas a encarar pela frente antes de buscar algum alívio no sono.

Tentou prosseguir com sua leitura, mas como já parecia ser de costume, sua mente ficava mais alerta que o normal ao menor sinal de vida do Demogorgon, logo ele viu-se impossibilitado de concentrar-se na história do livro. Era hora de partir pros desenhos. Ao menos essa era uma atividade que exigia um pouco mais de atenção e esforço dele, portanto devia ser suficiente para servir como uma nova distração, ele pensou.

Como precisava das duas mãos para executar os desenhos, ele ficaria impossibilitado de iluminar a folha com sua lanterna, logo o garoto arrastou a pequena poltrona que havia perto do sofá até uma área iluminada por uma das janelas, pegou seu estojo escolar, uma folha de papel e o livro e acomodou-se na sua nova instalação, dando início aos pequenos desenhos.

Ele era incrivelmente habilidoso com os traços para uma criança da idade dele. Sem muito esforço, fazia brotar castelos e pequenos guerreiros de armadura, comandados por um rei que os observava do alto de sua torre com sua magnífica coroa dourada. No céu um dragão enorme voava, cuspindo fogo num pequeno bosque ao longe. De repente, todo um mundo medieval ia sendo construído no papel pelas pequenas e delicadas mãos de Will Byers.

Assim ele viu-se envolvido na sua atividade pela hora seguinte, desenhando as mais diversas situações quixotescas, até que, mais uma vez, sua concentração foi pelos ares num susto. O silêncio tinha se desfeito novamente, porém desta vez não por gritos ou o som medonho da criatura, mas sim, para enorme surpresa do garoto, pelo som de Should I Stay or Should I Go reverberando no ambiente.

A princípio o garoto ficou extremamente confuso e assustado. Teria ficado paralisado na poltrona se o que aconteceu em seguida não tivesse deixado-lhe completamente eufórico e extremamente agitado, como se uma descarga elétrica tivesse percorrido todo o seu corpo:

– Vamos... Vamos! Fale comigo! Eu sei que você está aqui! – Exclamava a voz de sua mãe, fazendo Will pular da poltrona com o coração acelerado, olhando para todos os cantos.

– Mãe? Mãe? Aqui! Eu estou aqui! Cadê você? – Ele dizia quase gritando, experimentando uma euforia nunca antes sentida.

O som dessa vez não era apenas um eco, mas parecia vir de algum lugar ali na casa. Ele então entrou pelo corredor e olhou nos quartos, voltou e olhou na cozinha e nada de achar de onde vinha a música. O barulho era mais forte na sala, mas ainda assim ele não via de onde pudesse estar vindo dali. Foi então que lhe ocorreu que, de repente, o som poderia estar vindo de fora da casa.

Will nem mesmo pensou no perigo que poderia correr expondo-se do lado de fora. Seu cérebro estava extasiado demais para isso. Sem nem pensar duas vezes, removeu a cadeira que havia usado como trava na maçaneta, abriu a porta e contemplou a escuridão sinistra dentre as árvores mais à frente. Ali da varanda, podia ouvir a música mais nitidamente, indicando que estava no caminho certo.

Foi então caminhando pelo pequeno trecho de área coberta, observando em todas as direções em busca da fonte do som. Só depois de caminhar de um lado para outro, ele pode perceber que, para sua surpresa, o som parecia vir da parede da própria casa! Sem demora, o garoto colou os ouvidos na parede bege e foi caminhando em busca da fonte sonora, encontrando-a exatamente no local onde, na ocasião anterior, o Demogorgon tinha transformado tijolos e cimento no tal tecido vivo, atravessando para o outro lado onde Will acreditava estar sua família.

O garoto então cerrou os punhos e começou a dar tombos na parede, na tentativa de chamar a atenção da sua mãe, onde quer que ela estivesse.

– Mãe! Por favor, responda! – Ele falava, enquanto torcia loucamente para obter alguma resposta. Ansiava mais do que tudo entrar em contato com sua mãe e na sua mente isso era tudo o que importava naquele momento. Desejava falar com ela com todas as suas forças.

De repente, algo bizarro começou a acontecer bem na frente dele: A parede começou a transformar-se mais uma vez no tecido vivo, fazendo Will assustar-se enquanto sentia uma energia percorrer seu corpo, fazendo os pelos de sua nuca arrepiarem-se.

A última vez em que sentiu algo assim, ele lembrou, foi naquela cabana improvisada no porão da casa dos Wheeler e, subitamente, isso o fez lembrar-se do fantasma da floresta. Era como se tivesse sentido a presença dele mais uma vez, o que Will achou muito sinistro, mas em questão de segundos ignorou. Na sua mente, seu único foco era sua mãe.

Will continuava esmurrando a parede quando, de repente, a música cessou.

– Mãe? – Ele prosseguiu.

– Will? – A voz de Joyce veio esganiçada do outro lado.

– Mãe? Mãe?

– Will? – Ela continuava.

– Por favor... – O garoto implorava

– Will! Will... Will! – Joyce agora gritava por ele, fazendo Will ficar ainda mais ansioso e aflito.

– Mãe! – Ele gritou, chamando por ela.

– Will! Estou aqui! Estou aqui! Oh, meu Deus!

– Mãe? Olá? Mãe? – Ele insistia.

– Querido... – Joyce choramingou e, de repente, Will a viu do outro lado através do tecido vivo rasgando o papel de parede da sala.

– Mãe! – Ele exclamou surpreso, debruçando-se na parede, sentindo a felicidade explodir no seu peito.

– Oh, meu Deus! Will! – Joyce dizia emocionada do outro lado, também se debruçando na parede. Suas mãos agora estavam espalmadas de encontro às pequenas mãos do seu filho, separadas apenas pelo tecido vivo.

– Mãe... – Ele disse enquanto sentia lágrimas de alegria querendo brotar nos seus olhos. Ela estava viva! Separada dele por aquela coisa, mas viva! Bem ali na sua frente!

– Oh, graças a Deus! Querido... Will... – Joyce já se encontrava aos prantos do outro lado a essa altura.

Nesse momento então Will viu toda a sua alegria automaticamente ser convertida em medo quando o som bizarro do Demogorgon ecoou no ambiente vindo da floresta logo atrás dele, seguido pelas passadas pesadas e rápidas. Não demoraria a alcançá-lo.

– Mãe... Mãe, ele está vindo! – Ele gritou já entrando em desespero.

– Me diga onde você está! Como eu chego até você?

– É como em casa, mas é tão escuro, tão escuro e vazio! E é frio! – Will gritava apavorado – Mamãe!

– Me escute! Eu juro que vou chegar até você, está certo? Mas por enquanto, eu preciso que você se esconda! – Agora, de repente, o tecido vivo começou a transformar-se em parede novamente.

– Mãe, por favor! – ele chamava por ela. Já não aguentava mais esse pesadelo.

– Não, não, escute! Escute! Eu... Eu vou encontrar você, mas você tem que correr agora! Corra! Corra! – A abertura então se fechou, separando-os completamente mais uma vez.

Will logo disparou a correr, deu meia volta na casa e embrenhou-se na floresta logo atrás dela. Seu coração estava a mil e sua mente tomada pelo pavor como sempre acontecia nos momentos de fuga, porém desta vez era diferente. Havia algo a mais. No fundo, no fundo, apesar de todo o desespero, ele sentia seu coração batendo eufórico. Acontecesse o que acontecesse agora, ele sabia que sua mãe, e talvez o seu irmão também, estavam bem e isso já lhe bastava.

Logo ele perceberia, no entanto, que havia uma segunda coisa diferente na ocasião: Ele sentia-se cada vez mais cansado. Uma exaustão anormal ia tomando conta do seu corpo, como se toda a sua energia estivesse sendo sugada e isso era ruim, muito ruim. Aos poucos ele foi perdendo fôlego e velocidade e nesse ritmo o Demogorgon logo lhe alcançaria. Ele tinha que pensar em alguma outra estratégia urgentemente.

Pegou então uma pedra de tamanho considerável e forçou-se a correr até que encontrou uma árvore de tronco mais grosso, atrás da qual se escondeu e, sentindo-se cada vez mais debilitado, ele esperou, em silêncio, a criatura aproximar-se.

Dentro de pouco tempo as passadas pesadas tornaram-se cada vez mais e mais próximas até que lá estava o monstro logo atrás dele, rondando a área ao redor. Curiosamente o Demogorgon andava agora bem devagar, como se soubesse que o garoto estava por perto e quisesse farejar sua localização. Era o momento de agir.

Will lentamente virou-se e espiou por trás do tronco para ver onde exatamente a criatura se encontrava, nesse caso, alguns passos atrás da árvore e rumando para a esquerda. Estrategicamente então, ele jogou a pedra com toda a força para a direita. O barulho chamou a atenção da criatura, que logo disparou a correr na direção do som, sumindo dentre as árvores daquela área.

Havia funcionado! Tudo o que Will tinha que fazer agora era, cuidadosamente, ir na direção contrária e achar algum esconderijo rapidamente. E assim ele fez. Foi em frente, curvou para a esquerda e seguiu caminhando lentamente a partir dali. Não conseguiria correr nem se quisesse, pois já se sentia fraco demais para isso. Se tentasse era capaz de cair duro ali mesmo. Então ele respirou fundo e, pacientemente, foi vistoriando a área ao redor atrás de algum lugar no qual pudesse abrigar-se.

Depois de alguns minutos e já quase sem forças ele avistou logo à frente algo que o fez dar um suspiro de satisfação: Ali dentre as árvores fantasmagóricas, coberto pela gosma ressecada, encontrava-se o Castle Byers! O pequeno forte que o próprio Will, outrora, havia construído com a ajuda do irmão.

Era uma versão sinistra dele, obviamente, mas por baixo de toda gosma ainda estava a construção feita de galhos, a qual mais parecia um dique de castores por fora, com sua bandeira dos Estados Unidos fixada em cima de um lado e a plaquinha com o dizer “Todos os amigos são bem vindos” do outro e, logo acima da porta, o letreiro de madeira onde podia-se ler “Castle Byers” escrito em enormes letras amarelas. Ele sempre estivera ao seu alcance nos momentos em que mais precisou esconder-se do mundo e desta vez não seria diferente.

Will então rumou já cambaleante em direção à porta improvisada com um lençol branco, empurrou o mesmo com as mãos e entrou no pequeno forte, soltando o tecido logo atrás de si enquanto caía de joelhos no edredom azul, que cumpria o papel de colchão, logo à sua frente. Nesse momento ele percebeu algo morno e úmido escorrendo do seu nariz. Levou a mão direita até a região logo abaixo das narinas e, na luz azulada que penetrava pelos galhos das paredes, ele pode ver o líquido vital na ponta dos seus dedos. “Bela hora para ter uma hemorragia nasal...” foi a última coisa que ele pensou antes de cair de vez desmaiado no edredom.


Notas Finais


That's all, folks! Coisas muito estranhas aconteceram e é justamente aqui que eu me despeço de vocês por enquanto... rs
Se quiserem saber o que vai acontecer em seguida, fiquem ligados que semana que vem tem capítulo novo.
Beijos e até a próxima!


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