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História A pedra de Lazrok - O que está acontecendo?


Escrita por: LumaRubanov

Notas do Autor


Mais uma vez, não se assuste com o número de palavras. Grandes capítulos é um problema meu. Mas não vão se arrepender. É uma ótima história.

Capítulo 2 - O que está acontecendo?


Acordei nessa bela manhã ensolarada de terça-feira... infelizmente. O dia já começou errado, quando acordei bem mais cedo que o meu alarme e não consegui voltar a dormir. É um daqueles dias que nada funciona, mas como ainda não tinha percebido isso, levantei. Fui comer alguma coisa e não tinha nada para comer. Se me lembro bem, fazia dias que não comprava suprimentos para meu lar.

Há três semanas, flagrei minha ex-namorada dando para o meu ex-melhor amigo. É. A vida é uma merda. E os filhos da puta ainda queriam minha amizade. Pior! A minha bênção para o relacionamento deles. Eu não entendo o que se passa na cabeça deles. Eu fico imaginando se para eles, o que fizeram não foi grande coisa. Não é algo que afetaria nossa amizade. Obviamente mandei os dois tomarem no cu. E como qualquer outro ser de coração partido, que não tenha muitos amigos e more sozinho, eu alcancei o fundo do poço. Mal saio de casa. Agora somos apenas eu e meus jogos eletrônicos.

Só porque não tinha nada para comer meu estômago enlouqueceu. Depois de refletir muito sobre a vida, resolvi deixar meu confortável domicílio para ir à conveniência do posto de gasolina que fica perto da minha casa. Coloquei minha camisa regata que estava jogada em cima da mesa de centro, há... dois? Três dias? Quem sabe? Peguei minha carteira, calcei meu chinelo que sempre deixo perto da porta e a abri. Não posso ficar trancado em casa a minha vida toda, certo?

Errado. Não devia ter saído de casa.

Teve um dia que eu resolvi procurar no dicionário o que é azar. O que significa azar? Quando eu abri no lugar certo estava escrito lá:

 

Azar s.m. Má sorte; sorte adversa; Infelicidade; Ausência

    completa de sorte; A sua existência.

 

Assim que cheguei lá, encontrei o casal ternura, se pegando em frente ao belíssimo carro que estava sendo abastecido. Até tentei fugir, mas fui avistado. O babaca veio até mim, seguido pela vagabunda, e eu só conseguia pensar em “Por que diabos eu resolvi sair de casa?”. Comecei a invocar o nome de todos os santos para me ajudarem nesse momento de necessidade, mas não fui ouvido, para variar. Ele tocou meu ombro e disse:

— E aí, cara? Como você está?

Como pode alguém ser tão sem noção? Eu o conheço há oito anos. E sempre fomos muito amigos. Eu sabia que ele era meio idiota, mas eu não tinha noção do quanto. Parece que ele não tem vergonha ou bom senso.

— Estou fantástico, cara.

Quando ia marchar para longe ouço a voz dela. Uma facada no coração. Foi um ano de namoro. Eu posso ter essa cara de vagabundo babaca, mas eu sou um cara muito legal. Fiz várias coisas românticas por causa dela. Hoje, quando olho para cara dela ou escuto o nome dela, só consigo sentir desgosto.

— Oi, Nick. – Disse a vagabunda enquanto agarrava o braço dele. Porque devia ser muito difícil respeitar meus sentimentos e se afastar dele um pouco, né? Ia morrer com certeza.

— Olha, Nick, a gente já pediu desculpa...

— Pode parar com essa merda de “a gente já pediu desculpa”! Eu não quero saber!

— Nós só queremos consertar as coisas. Você é importante para nós.

Eu ri. Como não rir disso?

— Uau! Eu realmente percebi isso de vocês, quando eu vi vocês dois se comendo! Foi lindo! Obrigado por tanta consideração!

Passei reto indo para a conveniência. Já tinha saído de casa, já tinha me fodido, não ia voltar agora, né?

— Não foi bem assim...

Ele tocou meu ombro e eu já virei com o punho fechado. Nunca me senti tão satisfeito em quebrar o nariz de alguém. Ele caiu no chão, tonto. Ele sempre foi um fraco. Eu que o protegia quando éramos menores. Pensar nas coisas que já fiz por esses dois, só aumentou minha decepção. Ela gritou o nome dele em um susto e me encarou. Olhei-a dentro dos olhos e mostrei que não me arrependo nem um pouco, com a expressão mais fria que consegui fazer. Quero que se foda!

— Qual o seu problema, cara? – Disse ele tentando se levantar. – Eu estou tentando fazer as pazes com você. Não era para as coisas terem acontecido do jeito que aconteceram...

Soquei sua cara de novo e já podia ver um pouco de sangue. Ninguém ousou se meter. Agarrei sua camisa e soquei mais duas vezes. Senti-a segurar meu braço, mas para mim ela era quase um inseto. No terceiro soco, eu soltei sua camisa e o deixei cair. Ele se contorceu no chão um tanto desorientado. Achei que ele ia desmaiar. Sua cara estava sangrenta. Ela me empurrou e gritou:

— Por que você fez isso?

Aproximei-me dela. Queria meter um soco naquela cara de choro dela.

— Você sabe muito bem porque eu fiz isso e eu tenho certeza que você já sabia que ia dar nisso se vocês falassem comigo. Não sabia? – Ela apenas se calou. – Eu quero que vocês me deixem em paz, mas parece que vocês preferem ficar me infernizando! Esfregando na minha cara o casalzinho fantástico que vocês são! Eu quero que vocês se fodam! Não percebem que o que fizeram foi imperdoável? Eu nunca vou perdoar vocês. Principalmente você! Ele é um merda. Mas você... Eu queria mesmo poder espancar essa sua cara e tirar toda essa raiva que eu estou sentindo que nem eu fiz com aquele merda ali. Só que eu estou com tanto nojo de você. Olhar para sua cara me dá desgosto... Nunca mais falem comigo.

Segui para a conveniência. Sim, ainda pretendia comprar minhas coisas. Vi que havia um monte de gente observando e comecei a me arrepender de não ter ido embora. Entrei na conveniência com os olhos da atendente vidrados em mim. Ela parecia mais curiosa do que com medo. Quando a encarei, ela puxou o celular para fingir que não sabia de nada. Ela era bem nova, devia estar em seus dezessete anos. Bonitinha até. Ignorando a dor em minha mão, peguei vários salgadinhos e doces e coloquei em cima do balcão.

— Eu acho que ele mereceu. – Sussurrou ela para mim, enquanto fazia bip nos meus salgadinhos. Tem nome para isso? Seu apoio fez-me soltar um pequeno riso.

— Eu também acho.

Dei uma piscada para ela e sai. Eles não estavam mais lá. Amém. Caminhei para longe do posto, mas não fui para casa. Segui para o píer, que não ficava muito longe, onde estava meu lindo barquinho branco, com meus equipamentos de mergulho.

Eu não tenho um emprego fixo. Às vezes, dou aula de mergulho. Outras, eu faço passeios no barco e levo pessoas para fazer mergulho em um lugar bonito que fica nas proximidades. Até faço bico de caçador de tesouros. As pessoas costumam perder muitas coisas por aqui. E quando mergulho eu acho e vendo. Já encontrei um anel que custava quase mil dólares.

O meu barco é bem simples e bonito. Ele tem uma cabine pequena no meio, onde eu guardo meus equipamentos de mergulho, e na parte de trás há uma escada que leva a uma plataforma de madeira que fica rente a água. E ele tem nome. Sim, ele tem nome. Chama-se Roxanne.

O píer estava bem vazio hoje. Havia mais pessoas seguindo mais adiante, onde ficam os barcos dos pescadores. O meu fica um pouco mais afastado. Pulei para dentro, removi meu milkway de dentro da sacola e joguei-a no chão do barco em qualquer lugar. Comecei a conduzir Roxanne, indo em direção a minha parte favorita do recife, enquanto comia meu milkway. Cheguei, baixei a âncora e observei a paisagem. Apesar de tudo de ruim que aconteceu hoje, olhar para o céu azul e sentir o balançar de Roxanne era algo reconfortante...

Agora, aqui estou eu me arrumando para um bom mergulho, depois de terminar com um dos meus salgadinhos e metade de uma barra de chocolate. Tiro minha camisa, pego minha máscara, coloco o tanque nas costas e sem pé de pato nem nada demais pulo na água. Eu só quero um pouco de paz.

A água gelada é algo que não me afeta mais. Ainda mais nesse calor. Vou nadando para o fundo, sem muita pressa. Aqui tem aproximadamente doze metros de profundidade. A água é bem clara e consigo ver vários peixes diferentes nadando próximos ao recife. Quando chego à metade, viro-me de barriga para cima e observo a superfície da água. Um pouco de música seria bom... Inconscientemente, acabo lembrando-me do que aconteceu mais cedo. Minha mão está doendo um pouco, mas não consigo deixar de me sentir satisfeito. Mesmo que não tenha sido suficiente, sinto-me satisfeito. Tento não pensar em nada, concentrando-me nas sensações de estar flutuando dentro d’água.

Não passou nem cinco minutos e acabou o oxigênio do meu tanque. Então reparei que peguei o tanque errado. Que maravilha! Nado para a superfície e deixo-o em cima da plataforma de madeira. Não pretendo pegar o outro por agora. Muito trabalhoso e tenho um fôlego suficientemente bom. Deito de bruços na superfície e observo o fundo. Vejo uma tartaruga aparecer e penso “que sorte!”. Quando vou nadar até ela, vejo um brilho forte surgir a minha frente. Não consigo ver direito. Sinto que sou puxado, antes que eu pudesse me afastar. Então eu...

Caio no chão?

Acertei o chão com força batendo a lateral do meu corpo e fico um pouco sem fôlego. Tento me apoiar para tirar minha máscara, ainda um tanto desorientado. Está escuro aqui.

Eu estava no meio do mar. Eu tenho certeza que eu estava no meio do mar! De onde surgiu esse chão?

Olho para o lado e vejo...

 Que merda é essa?

Eu grito no susto e eles gritam também.

O que está acontecendo aqui? Primeiro eu estava no meio do mar. Agora eu estou no chão em algum lugar escuro com dois alienígenas coloridos, um branco e um vermelho, me encarando como se EU fosse o alienígena aqui! Não. Não. Isso não pode está acontecendo! Eu tenho certeza de que isso não é um sonho.

— Hadrian, fudeu! – Escuto a alienígena que julgo ser a fêmea pela aparência e voz. – Fudeu, fudeu, fudeu. – Ela se joga no chão. – Isso não pode estar acontecendo comigo! Eu sou a pessoa mais azarada do mundo!

Acabo soltando um riso e os dois me encaram assustados. A pessoa mais azarada do mundo. O fato de eles se assemelharem a adolescentes faz com que tudo fique menos assustador. Se meu cérebro queria fazer disso um pesadelo, ele falhou.

— Ele riu? – Pergunta o alienígena macho.

Levanto-me para sentar. Meu corpo ainda dói muito. Isso não é um sonho? Vejo que o pouco de iluminação que tem no cômodo vem de umas pedras com uns símbolos, posicionadas numa parede formando um círculo. Que satanagem é essa? Um portal mágico? Ai. Meu. Deus! Isso não é um sonho!

Vejo que a fêmea se sentou e está me olhando vidrada, que nem aquela atendente da conveniência. São alienígenas! Eu estou de frente para alienígenas! Como? Não é hora para pânico. Já que eles aparentemente falam a mesma língua que eu, acho que vou perguntar.

— Então... – Começo e eles parecem assustados. São apenas dois adolescentes. – Vocês parecem entender o que está acontecendo aqui, já que aquela ali sabe que fudeu. Então eu queria saber... O que está acontecendo?

Eles me encaram por um tempo. Parecem admirados.

— Ele fala! – Comenta o macho.

Argh!

Eu só consigo apoiar a minha mão no rosto. Isso não pode estar acontecendo! Eu acho que o macho é um pouco idiota.

— Ok. – Diz a fêmea respirando fundo. – Estou mais calma...

Então a luz das pedras na parede se apaga e ficamos numa escuridão completa, com exceção de alguma coisa brilhando em vermelho mais ao longe e outro pequeno brilho no teto ainda mais longe. Eu admito. Estou muito assustado! MUITO assustado!

— O que faremos agora? – Escuto o macho dizer. – Você não pode usar magia. – Magia?

Ignah! – Escuto a alienígena profetizar e uma luz aparece. Ela está segurando um fogo branco.

Ela está... segurando um fogo branco!

É uma alienígena branca das feitiçarias! Cara, o assustado que eu estava há poucos segundos atrás nem se compara ao que eu estou agora.

— Ficou maluca? Você vai acabar se matando! – Grita o macho.

— Tem uma ideia melhor? É melhor sairmos daqui logo. Como portal sugou quase toda a minha energia, o fogo pode acabar logo.

O que?

Vejo eles se levantarem prontos para “sair daqui”. Ela tem um pouco mais de dificuldade, então ele a ajuda.

— Você quer que eu te carregue? – Diz o macho todo atencioso.

— Não, eu estou bem. – Era só o que me faltava mesmo. Romance alienígena.

Eles me encaram a espera de eu me levantar. Por mais que eu não saiba se esses dois são malignos ou não. Eu não tenho muitas opções no momento. Então pego minha máscara e levanto. Eles me olham do pé a cabeça e então começam a andar. Vou os seguindo. Durante o percurso, vejo muitas mesas bagunçadas com papéis, coisas eletrônicas e coisas de laboratório de cientista maluco. O medo que eu estava antes mais uma vez nem se compara com o que eu estou agora.

— Que lugar é esse? – Pergunto.

— É o laboratório do meu pai.

Alienígena branco das feitiçarias, filha de um cientista maluco. Só está ficando melhor.

Olho para o lado e vejo uma bola de carne em formato de ovo, dentro de um cubo de vidro em cima de um pedestal. Esse era o brilho vermelho. Começo a temer por minha vida. Não sei se quero saber o que é aquilo. Noto que mais a frente, no teto, o pequeno brilho branco é a tal saída. O lugar é enorme. Ela disse que era um laboratório, certo? Então cada mesa dessas deve ser um projeto ou experiência. Pelo que eu pude ver até agora, já passamos por mais de trinta.

Noto que o fogo dela está ficando mais fraco. Ela parece realmente cansada. Acredito que esteja ficando sem mana, que deve ser a tal da energia que ela comentou. O macho às vezes olha para ela, disfarçadamente. Deve estar preocupado. Ele é maior que ela... E maior que eu também, infelizmente. Tenho quase certeza de que ele é só um adolescente, apesar de sua grande estrutura.

Chegamos a uma escada de formato espiral. Eles começaram a subir e eu faço o mesmo. Quando olho para o laboratório, só vejo o escuro assustador. Evito olhar. Chegando ao topo, o fogo da mão dela se apaga e vejo que ela se jogou no chão. Estamos em um escritório. Bem normal, para falar a verdade. Fico até um pouco decepcionado. Esperava algo mais parecido com a Batcaverna. Que pena. Encaro-a jogada no chão. Parece bem acabada. O macho se ajoelha perto dela, preocupado. Ela se senta arrumando o cabelo e me encara...

Que linda!

Antes no escuro não deu para reparar, mas agora que estamos na luz, vejo que ela é linda. É o tipo de personagem de RPG que você se apaixonaria. Sua pele é branca. Um branco bem puro. Suas mãos são num tom de azul muito bonito e segue até metade do antebraço. Seu rosto tem sardas azuis. Suas orelhas são pontudas como as de um elfo, só que pequenas, com um azulado nas pontas. Seu cabelo é curto na altura do pescoço, bem liso e totalmente branco, em um sidecut. Na parte raspada há alguns símbolos tatuados. Seus olhos são um azul perfeito, no mesmo tom que o das mãos. Então uma ideia idiota me vem à mente: Os mamilos dela são azuis ou brancos? Eu definitivamente não presto.

O cara é semelhante. É o personagem de RPG do tipo tank, porque ele é muito bombado. – A esse ponto não da mais para esconder meu lado nerd, não é mesmo? – Bem diferente dela, sua pele é da cor de sangue com as mãos brancas. Seus olhos também são brancos e suas orelhas pontudas. Seu cabelo é curto da mesma cor da pele. A lateral da cabeça dele não é raspada com símbolos tatuados, que nem os dela. Julgando que o normal deles seja ter duas cores e orelhas pontudas, eles devem estar me achando muito estranho.

— O que é você? – Pergunta a fêmea. Sento no chão e o vermelhinho faz o mesmo.

— Sou um humano. E você seria?

— Lúperu.

Ela me olha admirada, que nem uma criança no zoológico vendo um rinoceronte. Começo a me sentir constrangido. Ela chega mais perto, olhando para a minha barba, e então a toca. Definitivamente me sinto um animal. Mas isso não é o pior. O pior é ela ser linda.

— Você está molhado.

— Eu estava mergulhando.

— O que seria isso?

— Mergulhar é mergulhar, ué. Mergulhar no oceano, nadar...

— No OCEANO? – Ela se espanta e limpa seus dedos que me tocaram. Eu meio que fico sem entender o que eu disse de tão alarmante.

— É. No oceano. O que há de errado com o oceano de vocês?

— Não é algo que a gente possa interagir com. Ele sempre foi tóxico e com muitos monstros vivendo lá.

— Lamentável. Eu sou realmente apaixonado pelo oceano. Aquele azul maravilhoso. Cheio de criaturas diferentes.

— Deve ser incrível. O nosso tem uma cor bem mais escura que um simples azul. E o que é isso? – Ela aponta para minha máscara.

— Isso é para você ver embaixo d’água com mais nitidez. Mergulhar sem máscara é quase impossível para mim. Os meus olhos ardem muito com o sal.

— Que sal?

— O sal do oceano. O nosso oceano é composto de água salgada.

— Legal... Vocês devem então ter muito sal em seu mundo.

— Temos.

— Todos da sua espécie têm cabelo no rosto? Você também tem cabelo nas pernas! – Ela toca minhas pernas. – E nos braços! – Ela toca meus braços.

Rio. Ela está invadindo totalmente o meu espaço pessoal.

— Tenho aqui também. – E mostro minhas axilas.

Ela se assusta chegando para trás e diz:

— Que coisa mais esquisita! Tem um pouco no peito também.

— Apenas os homens da minha espécie costumam ter muitos pelos. As mulheres nem tanto. Elas não possuem pelo no rosto do jeito que eu tenho. Mas isso varia bastante. Eu, por exemplo, tenho até pouco pelo. Tem cara que tem o peito e as costas todos peludos.

— Que estranho.

— Outros não possuem pelo no rosto... Já que você está invadindo totalmente o meu espaço pessoal, eu vou invadir o seu também.

Por um momento, sinto-me um tarado, mas minhas intenções são puras... Talvez. Mas sei que se flertar com ela, o vermelhinho ali vai me espancar. Faz um tempo que ele está me encarando com ódio.

— Vá em frente. – Diz ela me dando abertura para investiga-la.

Eu me pergunto se nesse mundo há homens como os da Terra, porque parece que ela está pouco preocupada de um estranho, como eu, tocá-la. Será que eles fazem sexo? Como eles se reproduzem? Estico meu braço e toco a coisa que mais me chama atenção: As orelhas pontudas.

— Que coisa estranha. – Comento. Já vi vários cosplays de elfos com as orelhas de silicone com maquiagem. Mas tocar na orelha dela era bem diferente. É realmente uma orelha pontuda.

— Vocês não têm orelhas? – Rio e tiro meu cabelo de cima das orelhas. – Nossa! Elas são redondas! – Como esperado ela toca minhas orelhas. – É tão diferente. Você é todo misturado. Seu cabelo é dourado, seus olhos são castanhos, sua pele é um bronze claro. E ela nem tem duas cores!

— Na verdade, a minha verdadeira cor de pele é um bege. Mas como eu tomo muito sol, minha pele se tornou bronzeada.

— Vocês podem mudar de cor? Que interessante.

— Mas não muito. Há pessoas da minha espécie que tem vários tons de marrom. Algumas têm um marrom tão forte que chegam perto do preto. Mas as únicas cores de pele são variações de marrom e bege.

— Que legal! Mas ainda acho estranho o fato de vocês não terem duas cores.

— Há pessoas que tem duas cores. Mas isso é uma doença e elas são tratadas como estranhas.

— Tadinhas. Aqui elas seriam apenas mais um.

— Todos na sua espécie têm duas cores?

— Com certeza. – Fala como se fosse esquisito ser de uma cor só.

Pego seu braço. É mais macio do que eu imaginava, sem nenhum pelo sequer. Observo o azul. É um pouco escuro e bem intenso. Suas unhas não são compridas, mas também têm uma tonalidade azul. Onde o azul se mistura com o branco há vários pontinhos, como sardinhas. Ela parece que foi feita a mão.

— Muito bonito isso. No meu mundo, só dá para ter algo assim se pintar com tinta. – Ela me olha aparentemente envergonhada. Que fofa. Rola um silêncio.

— Então. Vão ficar ai se tocando ou vamos pensar numa solução. – Diz o vermelhinho fazendo-me rir. Com certeza, eles têm algo parecido com sexo, para ele ficar com ciúme. Acho que essa garota é que é estranha mesmo. – Está rindo do que?

— Nada.

Acho que de olhar para a minha expressão, ele já percebeu que seu ciúme está muito evidente. Por mais que sejamos de mundos diferentes, com culturas diferentes, raças diferentes, o convívio social continua o mesmo. Adolescentes continuam sendo adolescentes. Ele provavelmente não foi com a minha cara. Mas devo acentuar que eu sou inocente. Ela que veio me tocar primeiro.

— Primeiro de tudo. Meu nome é Niklaus. – Apresento-me.

— Ayah.

— Hadrian.

— Vocês têm nomes legais.

— O que faremos agora? – Diz ele para ela ignorando meu elogio. – Talvez se a gente procurar nos papéis, achamos algo para reverter, antes que alguém descubra. – Ambos fazem expressões preocupadas.

— Reverter o que?

— Eu meio que acionei um portal, quando li umas palavras de um papel sem querer e trouxe você de onde quer que fique o seu mundo. – Diz Ayah.

Estou me sentindo protagonista de filme de ficção científica. Apesar de eu não ter entrado em pânico com toda essa situação.

— Você fez aquele seu fogo lá com magia?

— Sim. Por quê?

— Foi algo que nunca vi antes. Não tem magia no meu mundo. Magia é tipo algo fictício. Coisa que só existe em histórias. Quando uma pessoa se considera um feiticeiro ou bruxo e diz que faz magia, essa pessoa é doida... Muito doida.

— Bruxos e feiticeiros? Esses são os usuários de magia?

— Como vocês chamam aqui?

— Cientistas. O meu pai é um. É o meu sonho ser uma cientista. – Ela diz isso com um brilho nos olhos, que a deixa muito fofa.

— Cheguei às minhas conclusões finais. Vocês idiotas entraram sem permissão no laboratório e eu tenho quase certeza de que foi tudo ideia dela, que persuadiu você para o meio disso. Quando chegaram lá, admirados com a variedade de coisas, começaram a mexer onde não devia. Então acharam um papel com algumas palavras e ela, estupidamente, fez a cagada de ler em voz alta, ativando o tal portal das pedras brilhantes lá, que sugou toda a sua energia, que é o que você usa para fazer magia. Então eu surgi e vocês espertos não sabem me mandar de volta. Vocês estão ferrados.

— Exatamente. – Diz Hadrian.

— Todo mundo sabe que você não deve ler palavras estranhas em voz alta. É regra. Sempre dá errado.

— Eu nunca vou poder ter a Licença. Meu pai vai me assassinar. Socorro, Hadrian! – Ela segura ele pela camisa e ele continua imóvel. Ela não deve nem suspeitar que ele goste dela. Típico friendzone.

— Eu avisei que era uma má ideia e você ainda me carregou com você.

— O que? Você que disse que éramos parceiros e que ia sempre ficar ao meu lado!

— Hum. Ele disse foi? – Digo com um sorriso malicioso.

— Você. Calado. – Ele aponta para mim. Rio.

— Não é só porque você está com medo do meu pai que você tem que ser agressivo com o alienígena.

— É. – Concordo. – Você não precisa ser agressivo com o alienígena.

— E se eu ler as palavras ao contrário? – Sugere Ayah. – Talvez o portal o mande de volta?

— Talvez ele exploda e todos nós morreremos. – Comento.

— Nossa. No seu mundo não há otimismo?

— Eu gosto de avaliar todas as opções. Eu sei que vocês seriam castigados e tudo mais, mas não seria melhor chamar um profissional? Tipo o seu pai?

— Você é maluco? Minha vida acaba assim que ele descobrir! No seu mundo não tem magia, certo? No nosso mundo, apenas cientistas podem usar magia. Eu vou presa se descobrirem! E meu pai vai ficar muito desapontado comigo. Não posso.

— Espera. Não estou acompanhando. Acho que temos definições diferentes de magia. Qualquer pessoa que usa magia não seria um cientista?

— O que? Não. Olha, magia é um tipo de energia corporal que cada pessoa tem, que se direcionada a algo através de palavras específicas pode causar uma ação. Dependendo da palavra e da quantidade de energia que você gaste a ação muda. Mas nem todos podem usá-la. Uma pessoa capaz de usar magia pode ter a chance de entrar para a universidade de magia e se tornar um cientista, que são aqueles que podem usar magia.

— Entendi. Nas histórias do meu mundo, uma pessoa capaz de usar magia já é naturalmente considerada uma feiticeira. Ela não precisa se formar não.

— Então isso o que você chama de feiticeiro é na verdade um Regente. Em uma época bem antiga, pessoas com habilidade de utilizar magia, eram chamadas de Regentes. Foi uma época onde o uso da magia era livre. Qualquer um poderia usar como bem entender. Uma vila chamada Lazrok ficou cada vez mais conhecida por conter apenas cidadãos Regentes. Ela foi crescendo e logo se tornou uma capital. O líder de Lazrok era um Regente extremamente perigoso. Ele foi ficando tomado pelo poder que a magia possuía. A ambição de se tornar ainda mais poderoso, fez com que ele começasse a construir um exército de Regentes poderosos. Ele os recrutava e através da magia os fazia o obedecer cegamente. Um exército fiel que morreria por ele sem hesitar. O plano dele era dominar todas as outras regiões e matar todos aqueles que não eram Regentes. – Estou começando a achar que cada mundo tem seu Hitler. Apesar de esse ser o meu segundo mundo. – Então aconteceu a Guerra de Kemestri, que era Lazrok contra o resto do mundo. Foi uma catástrofe gigantesca onde morreram milhares de pessoas. Até que um dia um grupo de Regentes anciões composto por cinco integrantes, lutou contra o exército de Lazrok e venceu. Esse grupo destruiu a Lazrok e formou a sociedade de Naatika. Então o uso de magia à vontade foi proibido. Aqueles que queriam usar magia teriam que estuda-la em Naatika e conseguir o título de cientista. E com um tempo as regras foram se adaptando a sociedade até se tornar o que é hoje.

Hadrian e eu ficamos em silêncio por um tempo.

— Nossa! Você realmente presta atenção na aula. – Comentou Hadrian.

— Que história mais clichê de filme de ficção. Mas realmente daria um bom RPG. Eu jogaria esse jogo, mesmo sendo clichê. – Comento.

— Seus comentários são estranhos. Não entendo nada do que você fala. – Diz Ayah e eu rio. Será que eles não têm jogos nesse mundo?

— A única coisa que você precisa saber é que eu já entendi que você é uma criminosa.

— Idiota.

— Apenas verdadeiro.

Ficamos em silêncio mais uma vez. O fato de ela estar fazendo algo ilegal nos deixa quase sem opções. Sei que se eles ficarem tentando algo, sem nenhum pingo de certeza, eu vou acabar morrendo. Ou pior, ficando deformado de alguma forma. Ou pior ainda, posso perder minha linda barba. Mas se contatarmos alguém que entende – O pai dela, pessoa que até agora parece ser um cientista maluco – as consequências poderiam ser piores, como ele tentar me dissecar.

— Eu estava pensando aqui. Já que eu não tenho como voltar para o meu mundo tão cedo... Quais são as chances do seu pai tentar me dissecar? – Pergunto. Perguntar não dói, né?

Ela começa a rir. Seu sorriso é lindo. E sinto-me cada vez mais nerd ao pensar assim.

— Acho que são uns setenta e seis por cento de chances.

— Então, vamos brincar no portal lá. – Finjo que vou levantar e a ouço rir. Um comediante em dois mundos. Gosto disso.

Olho para o lado e vejo um sorriso no rosto de Hadrian. Acho que o seduzi com meu lado humorístico. Progresso!

— Pelo menos, temos quatro dias até meu pai chegar, para te mandar embora.

— Ou mais algumas horas, até sua mãe voltar. Não sabemos. – Comenta Hadrian.

— Obrigada pelo pessimismo, Hadrian. Eu confio na minha mãe. Ela é uma grande artista. Vai conseguir. Veja. – Ela fala para mim. – Esses aqui são os quadros da minha mãe.

Olho em volta e vejo maravilhosas paisagens pintadas em grandes quadros com uma moldura dourada muito bem feita. Alguns são simples paisagens do campo, mas há um bem atrás da cadeira de poderoso chefão que representa uma belíssima nebulosa num tom de azul e branco em um fundo preto. Entre esses maravilhosos quadros, há umas pinturas infantis muito mal feitas, onde você não consegue entender o que está acontecendo. Tenho quase certeza de que são feitas pela Ayah. Decido ignorar.

— Sua mãe é incrível. Mas temos que confiar nela para...?

— Ela foi fechar negócio com uma empresa. Acho que vai fazer o designer de algo. Se ela não conseguir fechar negócio ela volta ainda hoje. Mas se ela conseguir vai passar o resto da semana lá.

— Então temos que torcer por sua mãe conseguir para ela não descobrir que vocês idiotas trouxeram um alienígena para casa.

— Chega de nos chamar de idiotas. – Diz Hadrian.

— Já que vocês espertos não conseguem pensar em nenhuma solução, vou sugerir algo para agora. Primeiro: Você tem que recuperar sua mana... Energia. Quando você estiver melhor, será mais fácil, caso precisemos de seus poderes mágicos. Segundo: Vamos me alimentar, porque eu estou com fome. – Levanto. – Onde fica a cozinha?

— Você é um pouco mal educado, né? – Diz Hadrian

.

— Olha, cara, eu enfrentei um obstáculo muito pé no saco, que estragou meu dia, para comprar um monte de coisas gostosas para eu comer pacificamente no meu mundinho de merda, até ser arrastado para cá por duas crianças idiotas que estavam explorando as coisas do papai e ferraram com tudo! Educado é a última coisa que eu estou afim de ser neste momento.

— Esse obstáculo tem a ver com essa sua mão machucada? – Ayah aponta para minha mão. Quando eu me levantei, minha mão ficou bem na frente de seu rosto. Não respondo e ela se levanta. – Olha. Eu sinto muito mesmo, Niklaus, por ter te causado problemas. Eu vou me esforçar para te ajudar a voltar para o seu mundo.

— Não é como se eu estivesse louco para voltar. Desculpa ter gritado com você. E com você também, vermelhinho. – Ele apenas se levanta e me olha de cara feia. Esse cara é realmente grande. – Podem me chamar de Nick. Estava tão acostumado com esse apelido que é estranho ouvir meu nome todo. Quero comida. Alimente-me.

— Parece um animal de estimação que fala. – Ela comenta sorrindo.


Notas Finais


Prefiro Niklaus narrando. haha


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