Ela era tão pequena, tão pura.
"Mamãe! Mamãe!"
Ela gritava enquanto corria com seu lindo vestidinho rosa em direção à mulher.
"Eu pareço com uma princesa?"
A mulher sorria gentilmente. A pequenina era seu maior tesouro, nunca ousaria ferir os sonhos tão puros e infantis que ela cultivava.
"A princesa mais linda que eu já vi. Venha cá, irei trançar seu cabelo."
Em poucos segundos a menina se aninhava no colo da mãe, conseguia sentir as mãos calejadas da mulher deslisando por seus cachos. Essas mesmas mãos eram ágeis e delicadas, cuidando ao máximo para não puxar aqueles cabelos negros.
"Você não a mima demais?"
"Ela já não está na época de ser um pouco mais realista?"
"Sim, como querer ser veterinária ou professora. Princesa é uma coisa boba"
"Ela já está mais mocinha não acha?"
Antes que a pobre mulher percebesse, sua pequena fora sendo corrompida pelos comentários fúteis vindo das pessoas que deveriam protegê-la. Logo, a doce menina que se aninhava em seu colo já não existia mais, em seu lugar estava uma estranha.
"Mãe..."
A voz sem ânimo a chamava, sentiu seu coração doer. Aquela não podia ser sua princesa.
Sua princesa tinha lindos cachos negros, ela tinha um cabelos bagunçados que cobriam o rosto.
Sua princesa emanava pureza e felicidade, ela emanava somente tristeza.
Sua princesa usava vestidinhos doces e rosas, ela usava roupas largas e negras.
Ela nunca poderia ser sua princesa.
"Eu não te conheço, sinto muito."
"Pai..."
A mesma voz chamava com relutância.
"O que você quer? Estou ocupado."
"Tia..."
"Você já não está grandinha o suficiente para se virar sozinha?"
"Irmão..."
"Não fale comigo. Eu te odeio, seu lixo."
O pequeno corvo sentia suas penas serem arrancadas cada vez que chamava por ajuda.
"Vovô, vovó, primo, tio..."
Ninguém lhe estendia uma mão. Cada vez mais o pequeno corvo foi ficando sem meios de se libertar.
"Alguém?"
Sua voz estava horrível, perdida entre soluços e lágrimas. Via por sua gaiola outros pássaros livres.
Ah, como os invejava.
Por que ela precisava estar ali? Ela não era um corvo.
"Eu sou uma princesa."
O pequeno corvo andava por sua gaiola.
"Eu não sou um corvo."
Suas mãos seguravam firmemente a janela.
"Eu sou uma princesa, mãe!"
Ela sorria, era a primeira vez que sorria em muito tempo.
Suas mãos soltaram a janela. O pequeno corvo se tornava uma princesa enquanto caía, mas não tinha asas.
Não havia um modo de livrar-se do fim que via diante de seus olhos. Aquele era seu final feliz. Aquele chão que a esperava era seu príncipe encantado.
"Eu sou uma princesa, não sou?"
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