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História A Perfeita Imperfeição de Existir - Trigésimo Oitavo Ato


Escrita por: redrosess

Notas do Autor


Este capítulo demorou muito, mas não foi falta de empenho da minha parte. Vocês sabem como a vida real é exigente...

A partir de agora esta história vai tomar contornos mais dramáticos, embora eu não tenha ideia sobre como seguir 🤔

Quero muito ler a opinião de vocês a respeito, então, por favor, tirem um minutinho para deixar comentários.

Nos vemos logo! Tchau!

Capítulo 38 - Trigésimo Oitavo Ato


Fanfic / Fanfiction A Perfeita Imperfeição de Existir - Trigésimo Oitavo Ato


— Nós dois sabemos que eu sou qualificada em demasia para uma mera missão de escolta ranking C.

— Mas é para uma "mera missão de escolta ranking C" que você está indo.

Matsuri inclinou-se e se apoiou sobre a grande escrivaninha de carvalho no escritório de Gaara. Ela estava lívida. 

— Por que você está me subestimando?

— Não estou subestimando você, longe disso. O fato é que eu não tenho os recursos para cobrir cada pedido de missão que nos chega, e o cliente de que eu falava está pagando três vezes nossa taxa, então eu senti necessidade de enviar um shinobi digno da compensação.

Nisto, a morena mostrou uma expressão impressionada. Gaara olhou para ela com um ar de tédio. Ele a conhecia bem o suficiente para saber exatamente como fazê-la cooperar com a menor quantidade de resistência.

— Três vezes?!

— Isso mesmo, e mais, pediram um dos meus melhores ninjas.

Matsuri olhou para ele, procurando em seu rosto qualquer sinal de insinceridade, o que era quase impossível se tratando do Kazekage. Se ela tinha aprendido alguma coisa sob a tutela introvertida do prodígio da Areia, era que ele só revelava o que queria.

— Não me olhe assim — disse Gaara. — Você sabe que eu decido sobre quais missões meus subordinados devem realizar.

— Sim, sim, eu sei disso, oh grande Kazekage. — Matsuri estava prestes a partir quando uma ideia lhe veio à mente. — Mas quando eu voltar, você tem que sair para jantar comigo.

"Oh Deus, de novo​ não", pensou Gaara.

— Matsuri, você, de todas as pessoas, sabe o quão ocupado eu sou. Não tenho tempo para...

— Você tem que comer em algum momento, por que não comigo?

— Eu não acho...

— Tenho certeza de que Temari-sama adoraria ouvir sobre como você não está comendo corretamente.

— Muito bem, mas não dê uma palavra a Kankuro sobre isso. É uma ordem.

Matsuri sorriu brilhantemente e, em um par de segundos, invadiu a zona de conforto de Gaara para lhe plantar um beijo na bochecha. Quando tinha ficado tão rápida?

Gaara sentiu seu rosto se aquecer de constrangimento. Ele tinha certeza de que era ilegal que tais coisas acontecessem em um escritório do comando máximo da Vila!

— Tchau, Gaara-sama! — ela disse, antes de correr pela porta.

Sete segundos se passaram antes que Gaara se deixasse cair na cadeira e descansasse a cabeça nas mãos. Aquela garota era um punhado. Por que não tinha permanecido como aquela menininha desalinhada que ele havia conhecido? Em vez disso, porém, ela tinha que se transformar em uma  mulher... cheia de segundas intenções em relação a ele. Mas ela era uma boa kunoichi (uma das melhores na Aldeia da Areia).

Talvez fosse hora de pedir a ela que não se dirigisse a ele tão formalmente.

Gaara corou mais forte ao pensar no que Kankuro teria a dizer.

"Apenas volte ao trabalho, idiota", disse a si mesmo.

Ele tentou voltar para a montanha de papéis em sua mesa, mas não passaram cinco minutos antes que a porta se abrisse novamente. Ligeiramente irritado, Gaara se preparou para agarrar quem quer que tivesse decidido que era bom entrar em seu escritório sem nem sequer bater na porta. Ele se cortou quando viu quem era.

— Baki…?

— Kazekage-sama, p-por favor perdoe a intrusão… — o Jounin gaguejou, sem fôlego.

Gaara franziu as sobrancelhas ao ver a aparência de seu subordinado. Ele parecia desprezado, como se tivesse visto um fantasma. Gaara nunca tinha conhecido a versão assustada de Baki e isso o preocupava agora.

— Qual é o problema?

Baki engoliu em seco e fechou a porta atrás dele antes de se aproximar da escrivaninha de Gaara.

 —Kazekage-sama — ele começou —, há notícias de Konoha.

Um sentimento de trepidação rastejou até a espinha de Gaara.

— Continue.

— Eu trouxe a mensagem decodificada assim que eu aprendi o seu conteúdo.  Aqui. — disse ele, entregando a Gaara um fino pergaminho.

Gaara não perdeu tempo em desenrolar o documento e lê-lo. Ele o leu por três vezes antes de olhar para Baki, cujo rosto tinha assumido uma aparência mais sombria.

— Quando isto aconteceu?

— Só um par de dias atrás, no máximo.

 — E o corpo?

Baki deslocou o peso de um pé para o outro. 

— Neste ponto, uma operação de recuperação parece impossível, dadas as circunstâncias.

Gaara se afundou ainda mais na cadeira e passou a mão pelo cabelo, de repente exausto. Ele deveria ter ficado furioso e gritado por medidas preventivas ante qualquer crise que surgisse no horizonte, mas, em vez disso, ele guardou o pergaminho e olhou para Baki.

— Encontre-me Sakura Haruno.

                      
                                     ( … )

 


— Não mesmo!

— Mas como vamos saber se funciona?

— Eu disse não.

— Mas, Haruno-sensei...

Dan olhava-lhe com olhos de filhote de cachorro através de seus óculos grossos de laboratório. Sakura poderia ter jurado que o lábio inferior dele estava tremendo um pouco.

Sakura resistiu ao desejo de suspirar.

 — Dan, você não pode testar em um ser vivo um veneno desenvolvido por Sasori Akasuna.

— Nós temos o antídoto — falou Mihara.

— Esse não é o ponto.

— Eu acho que o que Haruno-sensei está tentando dizer é que pode ser antiético testar, em um humano, um veneno que dissolve o revestimento do estômago e induz à morte por ácidos digestivos — disse Kawabata.

— Sim, obrigado, Kawabata-san — Sakura disse, levantando as mãos.

— Ah, mas temos o antídoto aqui! Eu só quero ter certeza de que o misturamos corretamente. Vocês sabem​ que isso é em nome da ciência — disse Dan, pegando um pequeno frasco e acenando-o com entusiasmo.

— Dan, eu...

Sakura não terminou a frase. A abertura brusca da porta atraiu a atenção de todos. "Estranho", pensou Sakura. Ninguém (que não fosse cientista) entrava nos laboratórios de pesquisa durante uma aula.

— Baki-san? — Sakura disse.

— Sakura Haruno. — o mais velho jounin cumprimentou sombriamente assim que ele, em três longos passos, anulou a distância para Sakura e os demais pesquisadores. — Sua presença é necessária no escritório do Kazekage.

Sakura franziu o cenho. Gaara nunca tinha enviado​ ninguém, exceto seus irmãos, para procurá-la por qualquer motivo.

— Certo, deixe-me limpar aqui e eu estarei lá logo.

— Receio que seja urgente — disse Baki. — Trata-se de notícias terríveis de Konoha.

Sakura sentiu todo o sangue escorrer de seu rosto na menção de sua cidade natal.

— Konoha?!

Naruto e Sai? Ou Sasuke...

— O Kazekage vai explicar tudo, venha comigo.

Sakura não precisava ouvir outro comando.

                     

                               ( … )

 

Sasori olhou pela janela de seu modesto quarto através de uma fenda nas cortinas de estuque. Seus olhos aborrecidos tomaram o mundo além do vidro.

Os especialistas em selamento estavam sentados em um pequeno café ao ar livre. Apenas a visão deles colocava um sabor amargo na boca de Sasori.

Mas ao longe, à sombra do prédio do governo de Suna, estavam dois de seus guardas da ANBU, suas máscaras escondendo seus rostos enquanto seus mantos se agitavam na brisa leve da tarde. Sasori teria que se mover para a janela oposta para melhor observar os outros dois ANBU. Eles eram tão rítmicos em seus movimentos. Talvez fosse porque não o viam como uma ameaça devido a seu chakra limitado e bom comportamento.

Sasori sentiu alguma medida extra de nojo para com sua cidade natal. Mesmo depois do caos que ele e Deidara causaram quando se infiltraram em Sunagakure e manipularam os mais altos níveis de segurança da vila, nada havia mudado.

Talvez isso fosse bom, no seu caso.

Os dedos longos torciam um dos braceletes de chakra de prata em seu pulso. Eles ainda inflamavam e irritavam a sua pele, mas era muito mais manejável agora que ele tinha acesso à metade de seu chakra. Sakura não tinha tido que o curar quase tantas vezes quanto antes. Sasori invocou o chakra até a ponta dos dedos e os arrastou ao longo da pulseira. Ficou quente, quase desconfortavelmente. Ele parou antes que o objeto começasse a brilhar.

Os olhos se estreitaram, ele se afastou da janela. Estava prestes a entrar na cozinha para comer alguma coisa quando uma batida soou em sua porta. Um sorriso afetou seus lábios. Apenas duas pessoas o visitavam a uma hora dessas e ele sabia que Kankuro estava ocupado.

Olhos verde-claros o observaram fixamente quando ele abriu a porta 

 — Olá — ela disse suavemente.

Sasori não disse nada enquanto se afastava e a deixava passar. Fechando a porta atrás dela e certificando-se de trancá-la como de costume, ele caminhou até a cozinha e se juntou a ela à mesa. Algo estava errado. Ela era geralmente mais alegre ao seu redor, mas a Sakura sentada em sua mesa de jantar agora tinha uma queda em sua postura e estava correndo seus dedos através de seu cabelo, criando emaranhados desnecessários. Era muito estranho vê-la assim. Sem aviso, ele se aproximou dela e agarrou sua mão errante pelo pulso em um aperto indolor, mas firme. Ela piscou e olhou para ele.

— Diga-me o que está te incomodando.

Ela nem sequer tentou negar, se a mistura de emoções em seu rosto era qualquer indicação. Não adiantava mentir para ele.

— Acho melhor você sentar para que eu lhe conte isso.

Sasori sentou-se diretamente em frente a ela na mesa. Seus olhos de mel encheram-se dela enquanto pensava no que poderia ter acontecido para afetá-la tanto. Ele só poderia concluir que devia ter algo a ver com a Aldeia da Folha. Algumas ideias vieram à sua mente.

— Jiraiya está morto — Sakura disse de repente.

Sem entender, Sasori apenas a observou. Ele não esperava isso, com certeza.

 — O Sannin Jiraiya... — ele confirmou.

Orochimaru era um Sannin.

— Quem o matou? — Sasori estava genuinamente curioso.

 Orochimaru tinha sido formidável, e Jiraiya era conhecido por ser tão forte quanto. Ele se perguntou quem tinha tido a habilidade de acabar com o lendário shinobi.

Sakura olhou para ele, um brilho em seus olhos que falava de seu medo interior e apreensão. 

— A Akatsuki… — ela balbuciou. — O líder da Akatsuki o matou em uma missão de infiltração secreta em Amegakure.

Sasori não fez nada para mostrar que ele tinha sido afetado por suas palavras. No interior, no entanto...

Pein tinha matado Jiraiya. Isso era um ato de guerra, sem dúvidas.

— Naruto... Naruto deve estar devastado — Sakura continuou, inconsciente dos pensamentos internos de Sasori. — Oh, Deus, Tsunade-sama...

Este foi um risco calculado. Pein nunca agiria tão precipitadamente, concluiu Sasori. Então isso significava​...

— Sakura — ele disse calmamente —, comece do começo.

Como se acordada abruptamente, Sakura piscou para ele. Estava confusa. 

— O início?

— Há três anos.

Seus olhos se arregalaram.

 — Oh, claro, você não saberia nada sobre o que aconteceu desde... 

Nenhum deles viu a necessidade de esclarecer desde quando.

— O que aconteceu entre as Aldeias Ocultas e a Akatsuki?

Sakura engoliu em seco, preparando-se.

— Vários Akatsuki foram eliminados — ela começou. — Hidan e Kakuzu assassinaram Asuma Sarutobi, mas sua equipe se vingou de ambos.

A Dupla Zumbi, Sasori pensou sem humor. Era um apelido asinino legado por Kisame. Eles tinham sido fortes, especialmente Kakuzu. Pensar que eles estavam mortos...

— Meu antigo colega de equipe, Sasuke Uchiha… —  Sakura continuou. Sasori percebeu como o rosto dela se contorcia, como se estivesse sofrendo de dor física, com a menção daquela pessoa. Sasori lembrou que Sasuke Uchiha era o irmão mais novo de Itachi e um dos únicos Uchiha ainda vivos. — Ele matou Orochimaru e saiu para perseguir sua vingança — a voz de Sakura cortou seus pensamentos. — Ele conseguiu, quero dizer, ele matou Itachi na época em que eu revivi você. — Parando, ela olhou para as mãos antes de acrescentar: — Ele matou Deidara no processo.

Sasori estava genuinamente espantado.

Orochimaru, Itachi, Deidara...

Todos mortos.

Todos mortos pelas mãos de um garoto.

— Compreendo.

— Eu sinto muito — Sakura disse um pouco mais suavemente.

Sasori poderia ter rido da preocupação de Sakura por seus sentimentos. Verdadeiramente, ele nunca entenderia aquela forma de ser que ela carregava. Mesmo que Sasori não tivesse intenções de agir contra ela nesse momento — não que ele pudesse na sua situação atual — ele ainda era um assassino. E ela ainda era a assassina dele.

— Você me confunde — ele esclareceu. — Eu não estou incomodado com isso. — Ele fez uma pausa, pensando brevemente em seu tempo trabalhando com Orochimaru e Deidara, bem como em tudo que ele sabia de Itachi (o que não era pouca coisa). — Eles eram ninjas de elite, e me surpreende que eles tenham sido todos derrotados.

Ela assentiu com a cabeça.

— Eu sei.

Sim, ela sabia melhor do que a maioria, pensou para si mesmo.

— O que mais?

— Sasuke está desaparecido atualmente, não sabemos onde ele está.

Sasori estreitou os olhos. Com Itachi morto, Sasuke seria o único outro Uchiha vivo conhecido pelo mundo.

Não poderia ser...

Mas ele permaneceu em silêncio, decidindo não apaziguar os medos de Sakura sobre a morte potencial de seu companheiro de equipe. Levaria a muitas perguntas, e ele não estava pronto para respondê-las.

"Isso deixa apenas Zetsu, Kisame, Pein, Konan... e Madara​".

Como num teatro de bonecos, Madara controlava tudo por trás das cortinas, um jogo das sombras que Sasori sempre odiou, mas ao qual havia fingido submissão por seus próprios motivos egocêntricos. No entanto, com tantos Akatsuki mortos, certamente o propósito oculto (seja qual fosse ele) de Madara seria  abalado. Eis uma reviravolta que Sasori não esperava, e Madara não era o tipo de gênio que sucumbia para o inesperado.

— Até onde sabemos, a Akatsuki já conseguiu reunir sete dos nove Bijuu.

"Sete dos nove? Já?"

Quando Sasori ainda fazia parte da organização, eles haviam acumulado menos da metade das bestas. Este novo ato hostil contra Konoha, combinado com a incompletude da coleção Bijuu e um número cada vez menor de sócios, poderia significar apenas uma coisa na mente de Sasori: Madara não iria adiar suas verdadeiras intenções. Não havia dúvida, ele estava pronto para iniciar uma guerra.

Pela conjuntura que estava se apresentando, os alunos de Sasori logo iriam vivenciar a arte da guerra. Mas isso significava morte quase certa para todos. 

Sasori olhou fixamente para Sakura, bem em seus olhos cor de esmeralda. Ela não sabia no que estava se metendo. E a possibilidade de ela se tornar uma vítima da guerra da Akatsuki causou em Sasori uma sensação que não corria pelo corpo dele desde de seus tempos de criança, durante sua interminável espera pelo retorno de seus pais. Era absolutamente estranho estar sentindo isso de novo. Ser humano era uma absoluta desgraça... 

— Claro, o verdadeiro propósito da Akatsuki ainda não está claro para nós — Sakura continuou. — Mas ao menos sabemos que sua sede está na  Vila da Chuva. Agora, eu não acho que haja alguém capaz de prever o que vai acontecer.

Sasori sabia o que ela estava fazendo. Queria respostas dele. Queria alguém que pudesse logicamente a guiar a respeito desse assunto. 

Eis a razão pela qual ele ainda estava vivo... 

De repente, uma raiva repentina e poderosa o dominou.

— Você quer que eu lhe dê informações sobre Akatsuki — ele disse, sem rodeios. — É disso que se trata.

— Agora mais do que nunca — Sakura confirmou, estendendo a mão para segurar a de Sasori. — Se você sabe alguma coisa sobre o que eles podem estar planejando daqui para frente, precisa me dizer, muitas vidas inocentes dependem disso.

Por um instante Sasori quis com toda a sua força puxar sua mão do contato de Sakura, mas seu lado lógico o impediu. Seu lado lógico (ou talvez não) lhe dizia para impedir que Sakura se envolvesse nessa situação.

— Não faça isso, Sakura — ele disse, um evidente tom de ameaça em sua voz. — Você está prestes a cometer um grande erro.

Algo estalou na cabeça de Sakura naquele momento. Agora estava com tanta raiva como ele.

 — Não faça o quê? Não peça para você ter algo de dignidade e usar seus conhecimento para ajudar as pessoas que me importam?

Sasori estava muito, muito irritado. Talvez estivesse tão furioso como estivera quando ela tinha salvado sua vida pela primeira vez. Ele se levantou e arrancou a mão da dela. 

— Você não tem o direito de fazer isso — ele sibilou. —Você planejou isso desde o início?! 

Bem, então era isso. Ela havia o manipulado esse tempo todo. Não que ele não esperasse por isso. Mas, por um momento… por um único momento… ele chegou a acreditar que havia algo de verdade naquilo que ele tinha vivido nas últimas semanas. 

O calor dessa garota em sua frente, a camaradagem de Kankuro, o respeito e admiração dos jovens da brigada… pelo que parecia, tudo não tinha passado de uma encenação, como fora toda a vida de Sasori. E mais uma vez ele havia se deixado manipular. Assim tinha sido décadas atrás, quando ele escolhera confiar nas palavras de sua avó, ignorando sua jovem mas já perspicaz razão, que já lhe permitia entender a impiedosa lógica do mundo ninja. E assim também fora quando ele resolvera bancar a marionete de Madara, na Akatsuki. E agora… bem, agora isso tinha se repetido. E aquilo estava lhe doendo. Era uma sensação diferente de tudo que ele já tinha vivido. Não era como ter que se conformar desde de muito jovem com a ausência de sua família, e também não era como enterrar o orgulho e viver como um parasita oportunista sob as sombras da Akatsuki. Não, isso era completamente diferente. Mas também era igual, um capítulo a mais do teatro de bonecos que era sua existência.

Talvez seu fascínio pelas marionetes não estivesse tanto na durabilidade delas, mas no fato de que nelas poderia confiar. Pois nunca iriam lhe mentir, nem o trair.

A raiva deu lugar a um pouco de confusão quando Sakura indagou:

 — Plano? O que você está falando?

Sasori cerrou os punhos. Ele não queria acreditar. Ele não queria pensar que todo esse tempo, todos aqueles momentos compartilhados... O jeito que ela sorria para ele... e os beijos, e as carícias, e a faísca de esperança que chegou a se acender nele…

"Ela não​ faria isso comigo", uma voz suplicava em seu consciente. Mas Sasori tinha sido perfurado desde o dia em que conseguira caminhar para sufocar aquela voz. Não havia espaço para simpatia, amor ou felicidade no mundo das elites shinobi. Ele tinha sido um tolo de esquecer isso por um segundo... um perfeito e belo segundo...

Mas o tempo não prendia o fôlego para ninguém.

— O Kazekage a colocou nisso? — O modo como o rosto de Sakura se torceu fez o ruivo sorrir amargamente. Primeiro veio choque, depois compreensão, depois a ferida dolorosa que se fundiu em raiva infernal quando ela se levantou e o encarou com fogo em seus olhos.

— Como você ousa?! Você realmente acha que eu seria capaz de uma encenação tão baixa, tão desprezíveis?

— Minha utilidade se resume ao que sei sobre a Akatsuki. É a única razão pela qual ainda estou vivo…

— Isso não é justo… — Sakura já estava chorando. — Era diferente naquela época.

— Claro, suas razões mudaram, e você sempre fala a verdade — Sasori disse, seu tom gelado. — Eu sou o sem coração aqui, não você. Não vamos esquecer isso.

Sakura engasgou.

 — Isso não é sobre você, ou sobre mim, ou sobre nós… é sobre ajudar as pessoas, Sasori.

 Sakura furiosamente tentou enxugar as lágrimas de seus olhos.

— Você esquece, Sakura, eu não ajudo os outros, não me importo, nunca vou — Sasori disse, a escuridão de seus dias de Akatsuki, há muito suprimida, borbulhando para a superfície e afogando qualquer voz que lhe pedisse para parar essa tortura e correr para os braços daquela garota de aparência frágil, mas forte como mil touros; tão simples e impetuosa, mas hábil o suficiente para acordar alguém praticamente morto.

Apesar dos esforços de Sakura, as lágrimas ainda escorriam de seus brilhantes olhos verdes.

 — O que há de errado com você? O que uma vida humana significa para você?

Suas palavras de três anos atrás o fizeram parar e sentir-se indeciso. Naquela época, ele não tinha realmente se preocupado com o desgosto dela, mas agora...

— Eu já lhe disse isso, mas vou repetir... A vida humana é finita e imperfeita, não tendo nenhum significado para alguém como eu.

Sakura gaguejou silenciosamente. Não poderia ter esperado outra coisa dele.

Mas por que Sasori se importaria com pessoas que ele nem conhecia? Essa gente preferia vê-lo executado o mais cedo possível, então por que ele deveria ajudá-las?

Todos não passavam de parasitas mentirosos e traidores. Exatamente esse mal caratismo das pessoas criava seus monstros que depois vinham as perseguir.  Eis o motivo da existência de Sasori Akasuna, um monstro que fora criado pela sujidade que era o mundo ninja. No fim, Sasori não era nem um vilão, nem uma vítima, mas um "julgador" que deveria compensar a impunidade que impregnava o jogo de poder entre os humanos. Ele então virou as costas para Sakura e lentamente caminhou até uma de suas janelas

— O que minha vida significa para você? — Sakura perguntou, com fúria.

— Sua vida…? — repetiu Sasori.

— Sim, minha vida, Sasori. Eu realmente pensei que você poderia se importar com isso.

— Sua vida não é a vida humana genérica — disse ele. — Ela tem significado para mim.

— Não é genérica... — Sakura testou as palavras em sua língua. De repente, seus olhos verdes miraram Sasori com uma intensidade que ele não tinha visto nela desde aquele dia na caverna — Como você pode dizer uma coisa dessas? Eu me importo com essas pessoas, e você as condenaria à morte sem pensar duas vezes! 

Sakura levantou uma mão para seu rosto e cobriu seus olhos para esconder as lágrimas.

Ela já não acreditava que poderia fazer com que ele viesse a lhe revelar algo.

Mas se ele falasse, e se ela soubesse a verdade desse mundo miserável…  se soubesse que horrores estavam reservados para todos eles assim que o plano da Akatsuki fosse realizado...

— Chega — Sasori demandou friamente. — Se você quer morrer por algum ideal oco, eu não vou impedi-la. 

Não havia razão para continuar discutindo. Nada mais lhe importava. As pessoas não lhe importavam, e tampouco a Akatsuki. E Sakura… bem, ela também não deveria lhe importar. Estava mais do que na hora de derrubar esse teatro de bonecos... Sasori até tentara fazer isso uma vez, mas essa mesma garota tinha o impedido. E agora ela estava tentando fazer o mesmo, confundindo mais e mais a cabeça dele. Estava na hora de parar de perder tempo. 

Depois desse dia, ele provavelmente morreria, e Sakura também não teria vida longa... 

"Nada mais importa".

Sakura riu através de suas lágrimas.

— Sou tão tola — disse ela —, por pensar que você pudesse se importar com quem não seja Sasori Akasuna.

Sasori sentiu suas palavras como uma punhalada no estômago. 

— Talvez eu tenha sido o tolo por fazer de você uma exceção.

Sakura olhou para ele e deixou sua mão cair. Seus olhos, largos, olharam para ele, brilhando com lágrimas não derramadas. Sasori não gostava de ver ela assim.

 — Sasori…

O ruivo voltou a olhar através da janela. E sem mais encarar Sakura, ele falou:

— A Akatsuki é comanda por Madara Uchiha, cujas causas são um mistério para os próprios membros da organização. Ele está por trás de tudo e creio que também tenha relação com o sumiço de Sasuke Uchiha.

Por um breve momento, Sakura ficou sem entender o que tinha se passado, o que Sasori havia acabado de fazer. Ele tinha lhe revelado algo…

— Madara Uchiha… — ela sussurrou.

De onde tinha ouvido esse nome?

— Analisando seus últimos movimentos, creio que ele esteja prestes a agir drasticamente, lançando uma nova guerra mundial. 

— Quê?! — Sakura exclamou, gelada.

Ela simplesmente não conseguia crer nos seus ouvidos. Uma nova guerra mundial?! As informações eram tantas, as reviravoltas estavam tão frequentes que já não conseguia acreditar que sua vida era real. Talvez tivesse sido capturada por algum tipo de Genjutsu poderoso demais para dar qualquer chance de escape às suas vítimas. 

— Isso é tudo que sei. E agora, já que lhe dei o que você tanto buscou, vá embora…

— Sasori…

— Vá! — ele praticamente gritou, não se importando mais se alguém pudesse ouvir. Nada mais lhe importava. — Meu uso acabou, você não tem mais motivos para cuidar de mim, para seguir com essa encenação.

— Eu já disse, isso nunca foi uma encenação!

— Chega de mentiras. — Sasori se virou e a frieza em seu olhar fez Sakura começar a temer por si mesma. Era exatamente o olhar do monstro de quatro anos atrás. Era impossível... — Está assustada, não está? Mas não se preocupe, eu não estou em condições de fazer nada contra você, e também não quero. Apenas vá embora. 

Perplexa, Sakura nem conseguia mover os lábios. Quando pareceu ganhar alguma força para falar, Sasori a interrompeu:

— Não perca mais tempo comigo, afinal eu sou um monstro. Vá e use as informações que eu lhe dei para salvar as inúmeras vidas mundo afora, elas valem muito mais do que a minha, não é mesmo? 

Terminou sua fala de forma irônica, atípico dele, sempre tão objetivo. Sakura já não tinha mais o que dizer. Não conseguia chorar, nem falar, nem sequer pensar direito. Mas fez um esforço e em sua mente veio a imagem de Jiraiya e seus demais conterrâneos; lhe veio o rosto de Naruto, e o de Sasuke… Havia acabado de descobrir algo que poderia salvar a vida de ambos, de todos, e por isso não poderia dar-se o luxo de perder tempo. Tinha que agir!

Então, sem qualquer outra palavra, ela se virou e correu para a porta.

Sasori a observou ir e tentou ignorar a sensação de algo arranhando desesperadamente seu coração. Queria segui-la, impedir que ela fosse para o olho do furacão, mas não havia mais nada a fazer. 

Ele nunca tinha gostado de estar sozinho, mas parecia que a solidão o caçaria até o dia que ele viesse a dar seu último suspiro. Se a solidão era qualquer coisa, era fiel. 

Pela última vez ele tinha se deixado acreditar na existência de algo verdadeiro no mundo. Se até mesmo a Eternidade era falsa, então o que mais esperar sobre a vida? 

"Nada mais importa".

 

 

 



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