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História A Perfeita Imperfeição de Existir - Quadragésimo Segundo Ato


Escrita por: redrosess

Capítulo 42 - Quadragésimo Segundo Ato


Fanfic / Fanfiction A Perfeita Imperfeição de Existir - Quadragésimo Segundo Ato

A noite caiu e Sakura encontrava-se confinada em uma barraca intensamente vigiada. Ela sentou em um canto com os joelhos espremidos para perto de seu queixo, tremendo um pouco pelo ar frio da noite penetrando as finas paredes de pano.

Sem outra escolha, Sakura acabou examinando Danzou. Era como se o braço dele fosse uma entidade viva e com sua própria energia. As células do Primeiro Hokage estavam invadindo o verdadeiro corpo de Danzou como um vírus insidioso. Era apenas questão de tempo até isso consumi-lo e ele perder o controle de si mesmo. É verdade que havia pouca coisa que Sakura podia fazer por Danzou quando ela não tinha detalhes sobre a operação original feita por Orochimaru.

Era a situação médica mais desconfortável em que ela já havia estado. Mesmo reviver Sasori não lhe fora tão enjoativo quanto isso. Afinal o ex-Akatsuki era um criminoso a ser interrogado, enquanto Danzo deveria ser o líder de Konoha, o protetor de seu povo. E, no entanto, o ancião claramente não teve dúvidas para trabalhar com um traidor como Orochimaru e contaminar as pessoas que deveria manter a salvo. Ao contrário de Sasori, Danzou não tinha justificativa. O que ele havia feito era ilegal e muito perigoso. Quem sabia quais eram as implicações?

Mas não tinha nada que Sakura pudesse fazer. Danzou estava sendo o Hokage, e Sakura era apenas uma ninja médica sem autoridade fora de um ambiente hospitalar. Ninguém acreditaria nas reivindicações dela, mesmo que estivessem por perto para ouvi-las.

— Sakura.

A rosada ergueu os olhos para a voz familiar. Sai então entrou na barraca tão silenciosamente como um fantasma e se sentou ao lado de Sakura, que logo lhe mostrou os dentes e rapidamente se levantou.

— Como você se atreve! Você deveria ser meu amigo. Eu confiei em você...

Sai também se levantou e colocou uma mão firme no ombro de Sakura enquanto posicionava sua outra sobre a boca dela, cortando sua voz completamente. Os olhos de Sakura se estreitaram quando sua fúria se intensificou.

— Fique quieta. Não há muito tempo e eu tenho que te tirar daqui — Sai sussurrou.

Com isso, Sakura fez uma pausa. Sai sentiu que ela iria parar de esquivar, então ele lentamente baixou as mãos.

— Diga-me que você não sabia sobre o braço de Danzou — falou ela, embora já soubesse que era inevitável.

— Não posso falar sobre isso.

Sai franziu a testa e, após um momento de hesitação, abriu a boca e estendeu a língua.

Sakura só podia olhar com confusão para o padrão preto não natural na parte de trás da língua de Sai.

— O que é isso?

— Isso me impede de dizer certas coisas.

— Um selo... — Sakura disse, finalmente entendendo.

Claro. Com segredos como esse braço repleto de Sharingans, Danzo não se arriscaria com seus subordinados.

— Ouça, Naruto está sendo fortemente protegido pela ANBU e é muito arriscado chegar até ele. Eu acho que ele ficará bem agora, mas você precisa sair daqui. Eu fui enviado para te matar esta noite porque você sabe demais e já não é mais útil.

— Você não pode estar falando sério…! — Sakura disse, ofegante.

— Danzou-sama queria que eu fizesse isso para provar minha lealdade. Não há tempo, apenas me siga.

Sai agarrou a mão de sua amiga e forçou-a a segui-lo para fora da tenda. Os dois ANBU Raiz que tinham sido designados para vigiar Sakura estavam estirados em uma pilha sangrenta atrás da barraca. Sakura ficou chocada por não ter ouvido Sai fazer isso. Não era um tópico em que a Equipe Kakashi gostava de se aprofundar, mas Sakura foi lembrada aqui e agora que Sai tinha sido treinado como um assassino e espião de elite. Ele era um dos melhores.

— Sai... — ela sussurrou, não sabendo o que dizer para ele.

Sai se virou para olhar para ela através da escuridão enquanto se agachavam para escapar da prisão de tendas. Sakura percebeu que ele tinha aquele habitual sorriso falso no rosto quando notou que ela havia visto os corpos.

— Aqueles que quebram as regras são lixo, mas os que traem seus amigos são piores do que lixo, certo?

Sakura sentiu lágrimas nos seus olhos. Ela nunca deveria ter duvidado dele.

— Obrigada, Sai.

— Pegue isso. Os suprimentos vão durar alguns dias — disse ele, entregando-lhe um pequeno pacote — Vamos nos mexer agora.

Sai virou-se e puxou-a junto com ele, não esperando para deixá-la verificar o conteúdo da bolsa. Eles desviaram pelo campo improvisado com tendas de todos os tamanhos. Somente a luz das estrelas e da "meia lua" servia para iluminar o caminho.

— Vocês aí! Identifiquem-se! — uma voz chamou.

Droga!

A alguns metros de distância, uma silhueta escura estava caminhando em direção aos dois.

— Saia daqui. Vou lidar com ele — Sai sussurrou.

Sakura sentiu seu coração apertando-se com medo e presságio.

— E você?

— Eu sou da Raiz, vou ficar bem. Apenas fique o mais longe possível daqui e não olhe para trás.

Sakura piscou. Aonde ela poderia ir?

— Sai…

— Não morra, Sakura — ele falou, segurando a katana presa em suas costas.

Sakura não precisava ouvir novamente o comando de seu amigo. Não havia nada mais que ela pudesse fazer aqui, e ela só atrapalharia por seu estado enfraquecido. Ignorando a sensação de arranhões em seu peito por estar deixando Sai à mercê de Danzou e seus subordinados, Sakura se virou e correu o mais rápido possível. Depois de um momento, ela pensou ter ouvido os estalos reveladores de objetos de aço se encontrando em algum lugar atrás dela. Sakura temia por Sai e o que poderia estar guardado para ele uma vez que Danzou descobrisse sobre sua traição, mas não haveria muito para ela fazer se fosse capturada. Então ela correu e correu até chegar à floresta. Ela teve que passar por alguns shinobis ao longo do caminho, alguns dos quais gritaram para ela, que nem sequer olhava para trás. Parar agora significaria o fim da linha para ela.

Depois de um tempo, Sakura estava no fundo das florestas frondosas do País do Fogo e não havia nenhum som de perseguição. Ela decidiu dar uma pequena pausa para recuperar o fôlego. Abrindo a mochila que Sai lhe dera, ela tirou um recipiente com água e bebeu alguns goles. Estava morta de cansaço e com fome, mas não havia espaço para morosidade quando poderia ser apreendida a qualquer momento. Mesmo que não houvesse sinais de perseguição, Sakura não podia dar sopa para o azar.

Naruto...

Sai havia dito a ela que seu colega loiro estava sendo confinado, mas ele parecia despreocupado com a segurança de Naruto. Isso fora um bom sinal, pelo menos. Naruto era considerado um herói agora, então as mãos de Danzou provavelmente estavam amarradas quando se tratava dele. Mas Sasuke...

— Oh Sasuke... — ela sussurrou, olhando para o céu noturno. — O que é que você fez?

Sakura não queria acreditar no que Danzou havia dito sobre Sasuke se unindo à Akatsuki e encurralando o Hachibi. Mas por que o velho mentiria? Sakura sacudiu a cabeça quando as lágrimas ameaçaram cair. Ela ficou muito aliviada ao saber que seu antigo amigo estava vivo, mas se essa nova mudança de eventos fosse verdadeira, ela também temia ainda mais pelo futuro. Parecia que tudo só piorava a cada dia.

"Não posso voltar para Konoha assim", ela pensou.

Suna seria a melhor opção. Sakura não sabia como Gaara reagiria ao abrigo de outro ninja fugitivo, mas ela tinha certeza que ele era um homem razoável e que a considerava uma amiga. Se ela explicasse a situação em Konoha, a aquisição de Danzou e a tentativa de assassinato contra ela, talvez Gaara a ajudasse. Seria uma jornada difícil, mas não tinha melhor opção.

Resolvido tudo, Sakura empacotou suas coisas novamente e partiu a alta velocidade para o leste.

                           [ … ]

Gaara do Deserto não sabia o que fazer. Como o mais decisivo de seus irmãos, ele geralmente era confiante em sua capacidade de resolver argumentos e avançar. Este problema, no entanto, parecia não ter uma solução viável. Ele suspirou e passou uma mão por seus espessos cabelos vermelhos. Sakura tinha retornado a Suna e ele estava genuinamente aliviado por ela não ter sido morta no ataque a Konoha. Com a aldeia em ruínas e a resistência dos ninjas locais em permitir que os estrangeiros se inserissem no que restava, estava difícil para Gaara saber detalhes sobre o atual estado desgraçado do seu aliado ocidental. Agora que Sakura estava de volta, ele tinha uma boa ideia do que havia acontecido. Era pior do que ele imaginava.

— Então Danzou se chamou a agir como Hokage — disse Gaara. — E Tsunade-sama está em coma.

Sakura assentiu. Ela parecia destroçada. Obviamente, ela não vinha passando por um tempo fácil. Mas esta atualização era crucial, e Gaara estava feliz por ela ter tido o sentido de renunciar a qualquer conforto pessoal e vir diretamente para Suna.

— Se o que você diz é realmente verdade, que Danzo assassinou membros do clã Uchiha e roubou os seus olhos, então é um ato de traição — disse Temari, os braços cruzados e o rosto cinza. — Esta é uma situação muito delicada. Nosso próximo passo ditará o futuro da nossa aliança.

— Estou feliz que você tenha saído de lá viva — disse Kankuro. — Esses Akatsuki... Está ficando completamente fora de controle. Se um único membro deles tem o poder de derrubar toda uma Aldeia Oculta, o que podemos esperar de suas demais cartadas?

Sakura fechou os olhos, esgotada e emocionalmente sobrecarregada. Ela estava se fazendo perguntas semelhantes quando fugira como uma refugiada. Esse detalhe em particular não tinha a atingido até que ela atravessasse os portões de Suna: ela não tinha mais uma casa para voltar.

— Danzou não sabe que você está aqui — Gaara declarou mais do que perguntou.

Sakura olhou para cima, seus olhos verdes cansados. Gaara não perdeu o brilho de medo e apreensão neles antes de a garota confirmar com a cabeça.

— Se eu lhe der o asilo e Danzou descobrir, então ele terá uma desculpa para cortar a nossa aliança.

A resposta teria sido fácil em circunstâncias normais. A vida e a segurança de uma pessoa nunca iriam superar a força de algo tão politicamente significativo como uma aliança shinobi. Mas Sakura não era uma criminosa; ela era a ex-aprendiz da legítima Hokage e uma das melhores médicas do mundo. Ela, sozinha, havia liderado grandes avanços ao programa médico da Aldeia da Areia. E Danzou... enquanto ele era um membro do Conselho dos Anciãos de Konoha e atuava como Hokage, tinha uma reputação de militância. Isso não deveria fazer diferença, mas toda a situação parecia ter funcionado muito bem para o velho.

— Eu deveria devolver você a Konoha sem questionar — disse Gaara.

Sakura pareceu ter sido perfurada no estômago, e Kankuro se levantou de sua cadeira em estado de choque. Gaara colocou uma mão para silenciar preventivamente qualquer comentário.

— Mas, analisando o que você me disse, é óbvio que Danzou tem motivos ocultos. Estou preocupado com o fato de ele ter sido capaz de avançar tão perfeitamente em um momento tão caótico.

Temari ergueu uma sobrancelha para o irmão caçula.

— Você não está sugerindo seriamente que Danzou tenha alguma relação com esse ataque... está?

Gaara inclinou-se para a frente em sua mesa e apoiou o queixo em suas mãos, conectadas.

— Só digo que é uma coincidência bastante inacreditável. E não gosto que ele tenha confinado Naruto depois que o mesmo salvou a aldeia inteira. Ele deveria festejá-lo em vez de colocá-lo em uma gaiola. É suspeito, no mínimo…

— Se você me enviar de volta, ele vai me matar. Sai quase não conseguiu me tirar de lá — disse Sakura.

— Eu nunca faria tal coisa. — Gaara deixou seus olhar suavizar um pouco. — Você fez mais por esta aldeia do que muitos dos meus próprios subordinados. Esta é a sua casa enquanto você precisar.

Sakura ficou sensivelmente relaxada e Kankuro soltou um suspiro que estava segurando.

— Obrigada, Gaara — disse Sakura, sua voz agitada enquanto tentava não chorar.

— Mas esta questão com Sasuke Uchiha é muito perturbadora — disse Gaara, mudando de marcha.

— Se já não bastasse o fantasma de Madara Uchiha de volta para nos assombrar… As ações de Sasuke poderiam dar à Aldeia da Nuvem a desculpa perfeita para ir à guerra, e isso significaria realmente o fim de Konoha em seu estado atual. Como aliado de Konoha, seríamos obrigados a participar também...

— Por outro lado, cortar a aliança nos deixaria vulneráveis. Está fora de questão — disse Temari.

O silêncio caiu quando Gaara tentou pensar sobre qual seria o curso de ação mais apropriado. Algo tinha que ser feito, e se ele tomasse uma decisão errada, isso poderia significar uma guerra internacional total. E pensar que ele havia convocado os Cinco Kage para um debate sobre o que fazer contra um inimigo comum... No entanto, agora uma guerra entre as Aldeias Ocultas poderia estourar a qualquer momento... Que lastimável reviravolta…

— Por enquanto, vamos manter essa informação para nós mesmos. Eu não quero envolver o Conselho Jounin até que eu tenha uma ideia de onde ir daqui. A última coisa que eu quero é incitar eu mesmo o pandemônio — disse Gaara. —Sakura, eu preciso que você mantenha um perfil discreto. Eu vou apertar a segurança para que ninguém entre ou saia da aldeia sem minha licença, pois se Danzou souber que você está aqui, isso poderia significar problema. Fique dentro da aldeia.

— Claro — disse Sakura.

— Temari, veja o que você pode conseguir através dos rastreadores. Eu quero ver se podemos obter qualquer informação para apoiar a história de Sakura.

— Conte comigo, Gaara — disse Temari.

— Kankuro, eu quero que você avalie a opinião geral entre os Jounins. Veja o que eles sabem sobre o que aconteceu. Eu não quero ser pego despreparado por quaisquer tumultos sobre uma guerra com a Akatsuki, a Nuvem ou seja lá quem for.

— Certo — disse Kankuro. — Vamos, Sakura. Vou levá-la à sua casa.

— Obrigada — disse ela.

— Descanse, Sakura, vamos nos reunir de novo amanhã quando você se sentir melhor — disse Gaara.

Sakura e Kankuro deixaram o escritório de Gaara juntos, mas não antes da rosada enrolar uma capa em torno de si para manter o sigilo. Então Kankuro envolveu um braço reconfortante em torno dos ombros de sua amiga.

— Você nos deixou assustados, Sakura — ele disse uma vez que estavam do lado de fora. — Todos tememos o pior.

— Eu sei — disse ela. — Foi horrível. Se Naruto não tivesse aparecido…

Kankuro riu sem humor.

— Esse cara é um predestinado.

Sakura mordeu o lábio antes de falar novamente:

— Kankuro, como ele está?

Kankuro virou-se para olhar para ela e sorriu um pouco.

— Mais ranzinza do que o habitual e também preocupado com você. —Os olhos de Sakura se arregalaram.

— Eu acho que você deveria ir vê-lo depois — acrescentou Kankuro, sua expressão ilegível.

Sakura abriu a boca para falar, mas fechou-a novamente. Ela deveria ter ficado preocupada que a palavra de seu relacionamento com Sasori saísse ao vento, mas de alguma forma sentia-se catártica por saber que seu segredo estava seguro com uma pessoa que era tão próxima a Sasori. Sakura não sabia o que dizer para seu amigo.

— Chegamos — disse Kankuro, parando-os. — Eu tenho que trabalhar para falar com o Jounins.

Kankuro destrancou a porta do antigo apartamento de Sakura e entregou-lhe a chave. Quando ele virou-se para encará-la, ela abraçou-o, o que ele retribuiu instantaneamente.

— É bom ter você de volta — ele sussurrou.

                          [ … ]

Sasori viu a lua através das cortinas de estuque. Estava em sua fase crescente. Logo não haveria lua para iluminar as ruas desta cidade abandonada. O tempo para agir estava cada vez mais próximo, e Sasori ressentiu o fato de que precisava esperar mais. Mas ele sabia a importância do planejamento cuidadoso para conseguir uma execução impecável. Por isso, ele sempre teve toda a paciência do mundo nesses momentos.

Uma batida na porta chamou a atenção dele. A esta hora, ninguém deveria estar perturbando-o. Kankuro tinha o visitado antes, principalmente para falar sobre tópicos mundanos para distraí-los das duvidas pesadas sobre suas cabeças. Então deveria ser um dos guardas da ANBU. Sasori estreitou os olhos, aproximando-se da porta e abrindo-a rapidamente.

Por alguns segundos, Sasori ficou parado, incapaz de se mover, falar ou mesmo respirar quando ele tomou a vista ante sua figura. Aqueles conhecidos olhos cor de esmeralda encontraram os dele. Ela torcia as mãos (um hábito nervoso).

— Posso entrar? — ela perguntou.

Sasori piscou, o devaneio se quebrando. Ele lentamente se afastou para deixá-la passar, trancando a porta atrás deles.

— Sasori…

"Ela está viva", Sasori pensou.

Ele virou-se para encará-la e deu-lhe um olhar cauteloso. Procurou por qualquer sinal de lesão ou deficiência, mas nada encontrou. Sakura parecia saudável, seu longo cabelo rosa solto e vibrante, como se ela tivesse acabado de tomar banho. Mas sua aparência parecia mais pálida do que o que ele lembrava e a maior parte da cor desapareceu de seus lábios.

— Sakura.

Depois de como eles haviam se separado, Sasori estava preparado para o pior. Era o tipo de luta que poderia empurrar alguém para a borda, mesmo uma pessoa tão compassiva quanto Sakura. Ele não esqueceu seus motivos para mandá-la embora. Ele a tinha mandado embora...

Sasori apertou os punhos ao se lembrar de quando ela lhe perguntara sobre a proporção do valor que ele dava à vida humana, à vida dela.

— Eu percebi algo enquanto eu estava ausente — Sakura disse, olhando para a parede. Então, ela soltou uma risada sem humor e sacudiu a cabeça. — Me desculpe, eu sei que você não gosta de arrastar as coisas, então eu vou ser mais objetiva.

Sasori analisou Sakura. Este não era o tipo de reencontro que ele esperava. Esperava gritos, talvez choro e outros tipos de reações pouco racionais. Parecia até que uma Sakura mais velha estava na frente dele agora. Os olhos da jovem da Folha procuraram os de Sasori e isso fez ele se sentir triste, fraco, quase estremecendo pela tristeza que emanavam.

— Eu deveria estar morta agora. Eu deveria ter morrido muitas vezes, na verdade. Compreendo agora que sou apenas uma humana e porque isso é repulsivo para alguém como você. Para você, eu sempre fui assim. Eu sou imperfeita e não intemporal. Nunca vou ser bonita para você pois sou escrava deste corpo mortal.

Os olhos de Sasori se arregalaram pela confusa admissão da garota. A maneira como ela havia dito isso soava tão condenável, tão horrível. Ele abriu a boca para dizer alguma coisa, mas Sakura levantou a mão.

— Por favor, pelo menos me deixe terminar. Você me deve isso.

Sasori cumpriu o que lhe fora pedido, mas ficou mais chocado com o comportamento incomum do que com qualquer tipo de senso de obrigação para com ela.

— Você estabeleceu padrões impossíveis para este mundo e ninguém pode se aproximar de conhecê-los e a eles equiparar-se. E mesmo assim eu meio que lhe prometi o que obviamente não conseguiria dar-lhe. Então eu assumo que toda essa situação é minha culpa. Ninguém pode realmente lhe dar o que você quer. Eu nunca soube mesmo por onde começar.

"Não diga isso..."

— Sakura…

— Mas eu tenho pensado muito sobre o porquê disso. Por que não posso ser eterna e perfeita? Por que não posso ser linda aos seus olhos?

Sasori, honestamente, não sabia o que dizer a ela. Sakura estava certa em todos os aspectos. Ele havia lhe dito que ela que nunca entenderia seus ideais e agora ela tinha aceitado. Isso era o que Sasori estava tentando provar a ela todo esse tempo, mas agora que ela tinha entendido, ele deseja que o tempo retornasse para quando ela não o fazia. Onde estava aquela chama em seu olhar? Cadê a beleza que ele havia aprendido a apreciar?

— E então veio para mim. É tão simples que eu não posso acreditar que não percebi mais cedo. —Sakura caminhou até ele, mas não o tocou. Ela apenas direcionou a ele, finalmente, aqueles olhos verdes brilhantes tão cheios de luz e vida que capturaram sua atenção anos atrás. — Todo esse tempo eu estive tão concentrada em tentar ver as coisas do seu jeito que nem pensei no que isso significava para mim. Mas quase perdi tudo, e agora eu sei.

Sakura estendeu a mão e tocou a bochecha de Sasori. Ele a deixou, desconcertado pelo quão maravilhoso era senti-la depois de tanto tempo. Sakura sorriu, e o peito de Sasori doeu.

— Eu me sinto segura para dizer que te amo — ela confessou.

Todo o tempo e o movimento pararam na sequência das palavras da garota, pois ela se tornou o único ponto em que Sasori poderia se concentrar. Ele sabia disso o tempo todo, sabia que isso aconteceria porque ela era Sakura, tudo o que ele nunca poderia ser. Ela era a única coisa que o impedia de perder a cabeça nesse mundo insano.

— Mesmo quando eu envelhecer e ficar feia, meu amor por você permanecerá jovem e bonito para sempre. Não diminuirá por grandes distâncias ou lapsos de tempo, e você não poderá apagá-lo com palavras ou armas. Não importa onde você vá ou quem você se torne, neste mundo ou no próximo, o que sinto permanecerá sempre com você. Você nunca estará sozinho.

Sakura estava sorrindo suavemente para ele, mesmo que as lágrimas escurecessem seus olhos verdes e estivessem escorrendo por suas bochechas.

— Você disse que queria tudo — ela prosseguiu. — Isto é tudo o que tenho para te dar.

Sasori sempre fora uma pessoa decisiva, um homem de ação… isso até encontrar essa garota. Ela havia conseguido ser tão influente sobre ele como havia sido a morte de seus pais. Agora ele hesitava, errava, temia, se entristecia e... amava. A armadura que Sasori tinha erguido para o colocar na elite absoluta e o manter vivo todo esse tempo se enferrujou e começou a cair aos pedaços. Sua humanidade, definitivamente, estava de volta em sua plenitude.

Assim como a súplica de Kankuro tinha acertado Sasori na prisão há tantos meses, ele sentiu que as palavras de Sakura moveram os pilares de sua fortaleza e chegaram ao fundo, onde ninguém havia ousado ir. Sasori se sentiu enxergando pela primeira vez.

Então era isso...

Sasori estendeu a mão e acariciou os dedos de Sakura, e depois os seus cabelos macios cor de rosa. Ela estava morna e viva. Mesmo contra todas as probabilidades, ela tinha voltado para ele. Definitivamente, ela era o que ele tinha buscado durante sua vida inteira. Eis agora em sua frente o ser mais próximo do ideal de beleza que ele tinha perseguido ao longo de praticamente toda a sua vida.

Apesar de todas as dúvidas, acusações e palavras que eles desejavam nunca ter dito, ela estava aqui. Ela era dele e ele não estava sozinho... A solidão não era mais sua fiel companheira.

"A vida agora tem significado para mim".

— Sakura, há muito eu consigo ver sua real beleza — ele disse enquanto deixava seus dedos enrolarem os cabelos dela. — Você é linda, o único ser capaz de tirar meu equilíbrio.

Lágrimas seguiam correndo as bochechas de Sakura enquanto seus olhos se arregalaram. De repente, Sasori a puxou e a beijou como se fosse a última coisa que ele faria. Braços delgados se lançaram ao redor do pescoço de Sasori, que não desperdiçou tempo para protegê-la e caminhar até a cama.

— Eu amo você — disse ela contra os lábios dele.

Suas palavras inflamaram alguma coisa em Sasori, pedindo-lhe que pressionasse até que nada restasse senão os dois. As palavras sozinhas nunca haviam sido suficientes para ele, mas agora não podia se imaginar duvidando delas. Era arrebatador e aterrador o quão fácil era para ele confiar naquelas palavras. Por que ele não tinha se deixado aceitar isso antes?

As roupas caíram no chão, esquecidas. Mãos exploravam a pele nua um do outro enquanto o quarto crescia e eles ganhavam vida juntos. Nunca na sua trajetória Sasori havia pensado que uma existência mortal poderia fazê-lo sentir como se ele fosse verdadeiramente infinito. Ele deixou uma mão vagar enquanto a outra se enredava firmemente nos cabelos de sua amada.

— Diga isso de novo — ele pediu.

Sakura sorriu para ele e tocou ligeiramente os seus lábios com a ponta dos dedos.

— Eu te amo.

Sasori deixou sua testa descansar contra a dela e seu cheiro o encheu.

— E eu acredito em você.

Eles teriam que falar sobre o que tinha acontecido em Konoha. Havia tantas adversidades em torno deles e Sasori sabia que não poderiam permanecer nesse universo particular para sempre. Mas, pela primeira vez, ele não ficou incomodado. Pois esses sentimentos e as memórias que deles florescessem sempre estariam com ele, preservados para a eternidade, em um lugar em que ninguém mais poderia interferir.



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