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História A Perfeita Imperfeição de Existir - Sexto Ato


Escrita por: redrosess

Capítulo 6 - Sexto Ato


Fanfic / Fanfiction A Perfeita Imperfeição de Existir - Sexto Ato

Na manhã seguinte, Sakura fez seu caminho até a prisão de Sasori. Preparando seus nervos para o que poderia encontrar, ela ordenou a um guarda ANBU para deixá-la na pequena cela que segurava o perigoso prisioneiro. Ficou aliviada ao vê-lo vestindo a camisa que ela havia conseguido-lhe no dia anterior, mas o cobertor estava jogado em uma pilha ao lado. O mais provável era que aquilo fosse com a intenção de aborrecê-la, pensou amargamente. Se o ruivo notou a presença de Sakura (tinha certeza que sim), ele não se mexeu. Franzindo a testa, ela se aproximou.

— Sasori?

Ele lentamente deixou seus olhos abrirem-se. Após uma inspeção mais próxima, a kunoichi viu que o olho direito de Sasori estava seriamente lesionado e impossibilitado de abrir completamente. Um hematoma circulava o dito olho, fazendo-o parecer com o de um guaxinim. Também notou que braço esquerdo dele estava dobrado em um ângulo preocupante. Jurando sob sua respiração, Sakura imediatamente se sentou ao lado do ninja marionetista para avaliar os danos. O braço dele estava quebrado em três lugares e os ossos à beira de rasgar a pele. Um rápido exame do seu organismo revelou que a estrutura óssea em torno do seu olho negro estava fraturada. Mas isso era o que menos preocupava. Sakura se concentrou em examinar o coração do ninja débil. Estava batendo com um ritmo constante, para alívio dela, ainda assim algo estava errado: Sasori seguia sofrendo de hemorragia interna leve, ainda que Sakura tivesse tratado-o um dia antes. Franzindo a testa, ela empurrou chakra no organismo do paciente, o cuidado de sondar mais lentamente do que tinha feito no dia anterior. Se a garota não tivesse estado a olhar tão de perto, teria deixado de notar grânulos minúsculos de areia flutuando em torno das câmaras do coração e da área circundante. O movimento dos grãos estava deixando pequenos arranhões no tecido delicado, liberando quantidades minúsculas de sangue. O problema era, havia centenas deles.

— Há areia em seu sistema. Como isso aconteceu? — perguntou já sabendo a resposta, mas queria ouvir da boca de Sasori para confirmá-la.

— O atual Kazekage é bastante temperamental — disse, com um pequeno sorriso em seus lábios incolores.

Isso era tudo que Sakura precisava ouvir para explicar o feio ferimento e as costelas quebradas que presenciou no dia anterior. Havia detectado pequenos cortes no abdômen de Sasori, mas curou-os sem pensar muito. Agora tudo fazia sentido (Gaara tinha, obviamente, usado uma de suas técnicas no prisioneiro, provavelmente o chamado caixão de areia). Ela rangeu os dentes.

— Ele fez alguma coisa ontem depois que eu saí?

Sasori não respondeu e deixou seus olhos latejantes fecharem-se. Sakura não pressionou, resolvendo focar-se em deixar seu chakra trabalhar lentamente para reunir os minúsculos grãos de areia e trazê-los à superfície. Ela mordeu os lábios, sabendo que poderia causar mais danos antes que pudesse corrigir alguma coisa.

— Eu tenho que remover a areia. Vou fazer uma incisão com o meu chakra e puxar de uma vez todos os corpos estranhos. É provável que seja mais doloroso à medida que a areia suba para mais perto da pele, mas vou curá-lo assim que tudo estiver feito — disse ela mecanicamente.

Assim, a kunoichi  procedeu sem esperar qualquer resposta do seu paciente. Com seu chakra, Sakura podia praticamente ouvir o quase inaudível som de rasgos das centenas de grãos de areia enquanto eram trazidos para mais perto da superfície. A garota fez uma pausa para tirar a camisa de Sasori e logo reiniciou a incisão, dessa vez usando um bisturi de chakra. O ex-Akatsuki manteve-se em silêncio o tempo inteiro. Meticulosamente, a jounin extraiu uma fina corrente de areia com seu chakra. Depois de cerca de vinte minutos do delicado processo envolvendo manipulação de chakra, Sakura extraiu o que esperava ser o último grão de areia. Juntou a matéria, pegajosa devido ao sangue, em uma pequena pilha sobre o chão. Lutou para não sorrir de satisfação e atentou a Sasori. Forçando-se a dar total atenção ao seu trabalho,  começou a curar os pequenos rasgos em torno do coração do prisioneiro e, depois, a incisão no abdômen.

— Você realmente tem um talento enorme.

Sakura piscou, momentaneamente distraída de suas ministrações.

— Hã?

— Não estou surpreso que você tenha conseguido reviver meu corpo humano.

Sakura sentiu um leve rubor aquecer as suas bochechas diante do repentino elogio.

— Pensei que estivesse irritado com isso.

— Isso não significa que eu deva depreciar um grande talento.

Sakura não sabia o que dizer em resposta, então decidiu apenas ignorar e volta a focar-se em trabalhar. Tentou lembrar-se que odiava Sasori. Assim que terminou a parte do processo que envolvia o coração, a jounin decidiu passar para o olho machucado, figurando que este estava provocando mais desconforto que o braço quebrado.

"Por que eu me importaria se ele está com desconforto ou não?", pensou

Sasori se encolheu assim que seu olho machucado foi tocado pela médica. Sakura percebeu seu deslize.

— Oh, perdão, eu deveria ter avisado. Eu vou tratar do seu olho agora.

Ele observou-a através do seu olho saudável e assentiu imperceptivelmente. Sakura voltou a encostar gentilmente uma de suas pequenas mãos no olho machucado do prisioneiro e começou a deixar seu chakra fluir através dele. Para sua grande surpresa, ouviu Sasori suspirar suavemente, como se de alívio. Talvez ele não estivesse totalmente alheio a sensações físicas, pensou com uma pitada inexplicável de satisfação. O olho levou um tempo para curar, uma vez que um fragmento ósseo minúsculo tinha perfurado vários vasos sanguíneos, causando sangramento. A kunoichi  empenhava-se em curar o órgão delicado.

— Então, você já decidiu responder às perguntas dos interrogadores?

"Sério, Sakura? Que conversa fiada..."

— Obviamente não.

— Qual é o problema? Quero dizer, você mesmo disse que de qualquer forma será executado. Então por que não falar?

— Não poderia me importar menos com os interesses de Suna.

— Será que é porque sua lealdade à Akatsuki ficaria comprometida?

— Não tenho nenhuma lealdade à Akatsuki.

Sakura piscou para ele, confusa.

— Sério?

— Eu não gosto de ter que repetir.

Suspirando, a garota removeu sua mão do olho de Sasori e observou-o piscar experimentalmente. Não havia qualquer traço de lesão. Fitou de forma curiosa a kunoichi em sua frente. Por um segundo, Sakura pensou que o ninja renegado não parecia um vilão, afinal. Seu aspecto de garoto desarmou a ruiva, o que logo a fez figurar que talvez aquilo ajudasse o enganar as suas vítimas. Ela revirou os olhos e voltou sua atenção para o braço mutilado.

— Você está irritada.

— Não, só um pouco confusa.

Ela cutucou experimentalmente no órgão disforme. Suas ministrações lhe renderam um silvo do ruivo.

— Não seja um bebê — disse ela automaticamente.

Sakura imediatamente mordeu o lábio assim que percebeu seu deslize. Maldita atitude. Estava tão acostumada a pacientes como Kankuro, Naruto e Kakashi, os quais sempre se queixavam de tratamentos médicos, que esses tipos de reações dela estavam se tornando uma segunda natureza. Encontrou um pouco timidamente os olhos de Sasori, direcionados para ela. Obviamente, ele não gostou de suas palavras.

— Hábito. A maioria dos meus pacientes são realmente muito imaturos sobre a coisa toda de hospitais.

Ele não respondeu, mas continuou a apunhalá-la com os olhos. As íris cor de esmeralda da garota fitavam Sasori timidamente.

— Olha, desculpe-me, está bem? Foi apenas um deslize. Você não é... um bebê.

Espere um minuto, a curva que se formou nos lábios dele foi um sorriso? Estava rindo de Sakura?

— Isso me lembra de uma coisa. —  disse, estreitando os olhos para ele. — Por que você não aparenta a idade que deveria ter, afinal?

Sasori não respondeu de imediato, e Sakura concluiu que não iria chegar a lugar algum se o pressionasse. Em vez disso, concentrou-se no braço quebrado, primeiro tentando reduzir o grande inchaço.

— É um efeito colateral do jutsu usado para preservar o meu corpo humano.

Sakura virou sua face para olhar para Sasori, que estava focado em algum outro ponto aleatório da cela. Preocupada que falar algo pudesse fazê-lo parar, a jovem segurou a língua.

— O líder da Akatsuki utilizou uma técnica especial para preservar o meu corpo. Você deve ter notado quando estava me curando que a técnica deixou chakra residual no meu organismo. Essa energia retardou meus processos biológicos, quase os parando. Como resultado, meu corpo envelheceu mais devagar.

Sakura deu total atenção a cada palavra da nova informação. Nas suas experiências, ela já tinha deduzido muito do que tinha acabo de ouvir, mas presenciar tais informações saindo diretamente da boca de Sasori dava muito mais peso à verdade de suas teorias. Que tipo de shinobi poderia ser capaz de tal técnica?

— O líder da Akatsuki deve ser muito poderoso para ter esse tipo de habilidade.

— Sim. Foi a primeira razão pela qual eu decidi juntar-me a eles.

Sakura sentiu sua respiração acelerar. Sasori tinha acabado de revelar uma importante peça de informação para ela como se estivesse falando sobre o clima! Agora completamente intrigada, se perguntou o que mais poderia ser capaz de tirar dele.

— Você se juntou à Akatsuki para colocar seu corpo em coma?

O mestre marionetista  soltou um suspiro sem humor. Sakura suspeitou que ele estivesse se lembrando de algo bem no passado.

— Foi a única maneira de adquirir o receptáculo perfeito.

O receptáculo perfeito? A ninja de Konoha esquentou seu cérebro tentando desvendar o que seu interlocutor estava querendo dizer. O que ela sabia sobre Sasori? Ele era shinobi mestre de bonecos. Deixou Suna com a idade de quinze anos e se juntou à Akatsuki algum tempo depois disso. A última vez que ela o viu, há quatro anos, ele revelou ser um fantoche vivo, cuja única parte humana era o coração (ou algo semelhante a isso). Sakura arregalou os olhos em compreensão. Tinha que ser isso.

— Quer dizer, o corpo de uma marionete?

— Sim.

Certo, Sasori era um tanto fanático, definitivamente. Quem na Terra estaria disposta a descartar o corpo humano por um artificial?

— Você correu um enorme risco. Dividir seu coração seria fatal em circunstâncias normais. Como você fez isso? — decidiu manter as perguntas com sutileza, para que seu interlocutor não se fechasse novamente. Infelizmente, a expressão escura que voltou a enfeitar as feições de Sasori, frustrou as esperanças dela.

— Eu tinha um médico muito habilidoso sob minhas ordens.

Kabuto Yakushi.

Ela se lembrou que Sasori falou-lhe anteriormente a respeito de Kabuto ser seu espião, mas quando a equipe de Sakura foi interceptá-lo na Ponte do Céu e da Terra, descobriu que ele estava, na verdade, trabalhando para Orochimaru. Sasori foi traído. O ex-Akatsuki não disse nem uma palavra, fazendo com que Sakura temesse ter arruinado o momento. Desesperada para ouvir mais, ela tentou outra vez:

— Então, quando você perdeu seu corpo artificial, não havia por perto médicos capazes de lhe acordar?

— Correto.

— Mas se não gosta do seu corpo humano, por que o preservou?

— Não havia escolha.

— O que você quer dizer?

— Você faz muitas perguntas.

Ele estava obviamente evitando a pergunta, pensou, levemente frustrada. Perguntou-se se deveria tentar obter mais respostas. Por que não? Se o ninja renegado se recusasse a falar, seria executado no dia seguinte à noite. O pensamento a fez franzir as sobrancelhas. Se ela não conseguisse mais alguma informação dele já, então não o faria nunca.

— Eu gostaria que você cooperasse com o interrogatório.

Sakura tentou ocupar-se com a reposição do osso, sem perceber que estava usando seu chakra para anestesiar a dor, tanto quanto possível. Já era um hábito, realmente.

— Por que você se importa quando nem sequer é de Suna? — Ele fez uma pausa. — Por que você está aqui?

Sakura não achava que iria prejudicar-se ao responder algumas das perguntas dele. Talvez isso pudesse fazer com que Sasori se abrisse um pouco mais.

— Na verdade, estou aqui em uma missão de longo prazo para trabalhar com ninjas médicos de Suna. Eles não têm um programa médico tão desenvolvido como Konoha, por isso estou ajudando-os. É parte da nossa aliança.

— Deve ser embaraçoso para os superiores daqui admitirem esse tipo de fraqueza.

— Bem, se eles não engolirem esse orgulho, nunca resolverão o problema. Além disso, eu realmente não me importo. Estou aprendendo muito, também.

— Seu otimismo é irritante.

Sakura piscou, sem saber se tinha ouvido direito. Será que ele realmente tinha acabado de chamá-la irritante? Ela se irou com o velho insulto que escutava quando criança.

— Eu não posso fazer nada quanto à sua opinião, quanto à maneira como você se sente. Na verdade, a única coisa que sei é que, querendo ou não, você está preso a mim por enquanto — disse ela secamente.

— Você está desperdiçando seu tempo ensinando quando deveria estar aperfeiçoando suas próprias habilidades.

Sakura estreitou os olhos para Sasori. Ela tinha finalmente acabado de cura braço quebrado dele, então concentrou toda a sua atenção no paciente.

— Ensinar aos outros o que você sabe é uma honra, não um desperdício de tempo. Na verdade, você aprende mais sobre si mesmo no processo. É uma experiência de aprendizagem para ambos aluno e professor.

— Um professor deve ser um mestre de sua habilidade antes de ser tão arrogante para sentir-se apto para pregar aos outros.

Sakura agora estava muito zangada. Quem ele pensava que era, afinal?

— E o que você sabe sobre ensinar aos outros?

— Nada. Eu não ajudo os outros. Mas também não tento fingir o contrário.

— Se eu não tivesse certificado-me pessoalmente de que você tem um coração funcionando, estaria tentada a dizer que seu peito é vazio.

— Seus insultos mesquinhos não têm efeito sobre mim.

A garota realmente queria dar um soco em Sasori. Mas o olhar de total resignação nos olhos dele a deixou mais frustrada do que com raiva. Qual era o problema desse cara, afinal? Era como se ele tivesse a sua própria pequena nuvem de tempestade seguindo-o, constantemente fazendo chover no seu humor.

— É deprimente conversar com você — ela disse.

— Então vá embora.

Ótimo. Sakura tinha que ir mesmo. Que razões ela teria para conversar com um prisioneiro? Terminaria de curá-lo, então tomaria seu caminho. Mas, ainda assim, estava incomodada por deixar as coisas assim. Droga de sensibilidade estúpida é essa minha, pensou.

— Sabe, Chiyo-baa-sama comentou que você permitiu-se ser acertado pelo ataque final dela. Sempre me perguntei sobre o porquê disso. Nunca consegui figurar uma resposta concreta para essa dúvida, apenas teorias. — Sakura pausou, certificando-se de que seu interlocutor estava escutando — A principal delas é que talvez você tenha sido sobrecarregado pelos seus erros e, então, arrependido-se.

Sasori fitou a kunoichi, recusando-se a responder. De alguma forma, o fato de que as palavras de Sakura pareciam afetá-lo deu a ela um sentido mórbido de satisfação.

— Não importa o quanto você tente fingir, ou até onde você foi para descartar sua humanidade, há sempre algo aqui — falou, apontando para o próprio peito —, não é? Você não pode escapar de ser humano, afinal de contas.

Sasori parecia realmente irritado por ouvir aquelas palavras. Antes que Sakura pudesse reagir, ele a prendeu no chão da cela, com o corpo inclinado sobre o dela.

— Você não sabe o que você está falando — disse venenosamente.

— Então diga, explique isso! — desafiou. — Por que você deixou-se ser morto?

— Haruno-sensei! — A voz de um ANBU soou do outro lado da sala.

Sakura ouviu o arrastar de pés e o clique da porta da cela sendo aberta pelos guardas ANBU.

— Por quê você se importa?

A ruiva tentou não ficar amedrontada quando sentiu as mãos de Sasori apertarem dolorosamente em cada um dos seus pulsos. Os guardas ANBU estavam abrindo a porta da cela e certamente estariam sobre o prisioneiro a qualquer segundo.

— Eu... Não sei.

Sasori estreitou os olhos para Sakura, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, foi arrancado de cima dela por um ANBU e jogado contra a parede oposta. A kunoichi sentou-se e viu que as pulseiras de prata nos pulsos de Sasori brilhavam num tom de vermelho muito forte. O ninja renegado estava respirando com dificuldade. Um ANBU observou-o, pronto para atacar se fosse necessário, enquanto o outro estendeu a mão para ajudar a médica a levantar. Sakura olhou Sasori com cautela, tentando ler a expressão dele, só que o ruivo estava mirando o chão, um semblante  de resignação de volta em seu rosto. Realmente odiava isso sobre ele.

— Você está bem, Haruno-sensei?

— Sim, estou. Não foi nada.

Sem esperar por uma resposta, Sakura virou-se para deixar a cela. Parou antes de sair e deu uma última olhada para um Sasori encoberto pelas sombras.

— Estarei de volta para verificar você amanhã de manhã, uma última vez.

Sem outra palavra, ela foi embora.



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