História A Perfeita Imperfeição de Existir - Sétimo Ato

Quando Sakura fez seu caminho para o escritório de Gaara naquela noite para entregar seu relatório médico sobre Sasori (e para lhe dar uma bronca sobre o uso das suas violentas técnicas de areia sobre um prisioneiro com uma condição cardíaca instável), foi recebida por um Kazekage com expressão bem sombria, além de alguns dos membros mais proeminentes do Conselho Jounin. Alguma coisa estava acontecendo, a julgar pela insistência dos guardas ANBU para que ela esperasse do lado de fora até ser convocada. O que poderia estar acontecendo?

Sakura acabou esperando sozinha no hall de entrada do escritório do Kazekage por mais de uma hora. Estava começando a ficar realmente irritada; se alguém não saísse para dizer a ela o que diabos estava acontecendo, iria embora, relatório médico que se danasse. De repente, uma porta se abriu e um grupo de velhos ninjas se arrastou para fora, suas vozes abafadas. Sakura não deixou de notar que todos eles tinham um aspecto severo em seus rostos. Escusado seria dizer que nenhum deles lhe prestou qualquer atenção. Após o último dos conselheiros sair da sala, Kankuro enfiou a cabeça para fora e sinalizou à Sakura para entrar. Nossa, o que ela era, afinal? Alguma médica pessoal de plantão? Ela tinha toda a intenção de dar a Gaara e seus irmãos uma advertência pela forma como estava sendo tratada.

— O que de tão importante estavam fazendo para deixarem-me plantada lá fora esperando por quase uma hora? Pensei que o meu relatório tivesse espaço formal na agenda do Kazekage.

Kankuro parecia exausto, e deu-lhe um olhar cansado. Ela o examinou.

— Certo, o que está acontecendo? Tem algo realmente estranho aqui.

—Eu acho que é melhor você se sentar para escutar o que temos a dizer — disse ele, conduzindo-a até uma das cadeiras no escritório de Gaara.

O Kazekage estava sentado atrás de sua grande mesa e Temari estava parado à sua esquerda. Ambos os irmãos da Areia pareciam tão cansados quanto Kankuro, e Sakura agora estava lutando contra o desejo de gritar com eles para dizerem logo a ela o que estava acontecendo. Gaara limpou a garganta.

— Acabei de receber notícias de Konoha. Há novidades sobre o seu ex-companheiro, Sasuke Uchiha.

Sakura sentiu seus olhos se arregalarem como pires. Durante os últimos três anos, tinha ficado em Konoha para aprimorar suas habilidades médicas, enquanto Naruto continuou a treinar incansavelmente com Jiraya. Eles tinham feito uma promessa um ao outro para trabalhar em conjunto para trazer Sasuke de volta. Para fazer isso, Sakura prometeu ficar mais forte. Mas ela não era capaz de lidar com a mesma rotina mais e mais. Naruto ia e vinha entre Konoha e o Monte Myoboku, por isso muitas vezes Sakura sentiu sua falta em Konoha. Kakashi, Sai e Yamato estavam sempre próximos dela, ajudando-a com seu treinamento, porém, não era o mesmo sem Naruto. E, claro, havia aquela constante pressão sobre o coração dela sempre que pensava em Sasuke.

Ir para Suna tinha sido terapêutico para ela; todos os lugares de Konoha traziam-lhe memórias do velho Time Sete, fazendo-a ficar deprimida. No entanto, desde que chegou a Suna, uma tonelada saiu de cima dos seus ombros. Ficou muito animada por ter um novo propósito, por poder ajudar os outros, o que fazia com que ela se sentisse útil. Ainda assim, qualquer notícia sobre Sasuke deixava-a muito ansiosa.

— Quais são as novidades sobre ele?

— Konoha confirmou que Sasuke Uchiha eliminou com sucesso seu irmão, Itachi Uchiha.

Sakura engasgou. Sasuke tinha finalmente chegado à sua vingança? Ela não podia acreditar. Parecia fazer uma eternidade desde que Sasuke revelara em frente ao Time Sete o seu único objetivo na vida, quase oito anos antes. E agora ele realmente fez isso.

— Onde ele está agora?

— Esse é o problema. Uma equipe de Konoha, conduzida por seu antigo líder de equipe, Kakashi Hatake, estava seguindo Itachi na esperança de encontrar Sasuke. Aparentemente, eles tiveram um encontro com um membro da Akatsuki desconhecido que usava uma máscara laranja. Eles não foram capazes de identificá-lo.  Quando finalmente conseguiram passar por esse tal membro misterioso, Sasuke já tinha sumido, juntamente com o corpo de Itachi. Seu paradeiro é atualmente desconhecido, mas parece que a teoria dominante é que ele foi sequestrado pelo membro desconhecido da Akatsuki.

A mente de Sakura vacilou. Este foi certamente um desenvolvimento altamente perturbador. Por um lado, a jovem kunoichi sempre teve a esperança de que Sasuke voltaria a Konoha depois de matar seu irmão. Mas, por outro, ela se lembrava muito bem do quão insensível ele estava na última vez que o viu. Na verdade, isso poderia ter sido o eufemismo do século, dado que a última vez que viu Sasuke, este tentou matá-la. Após esse encontro, Sakura teve que colocar uma rolha em seus supostos sentimentos para o último Uchiha, afinal não era saudável iludir-se com visões de amor para um Nukenin que tinha deixado claro que não dava nenhuma importância para a vida dela. Mas ainda assim, Sakura era um otimista por natureza, de modo que nunca poderia desistir da esperança nele. O fato de que Sasuke, possivelmente, tinha passado para a posse da Akatsuki apresentava, escusado dizer, uma perspectiva assustadora. Ela temia por sua segurança, para sua consternação.

— Meu Deus. Eu preciso voltar para Konoha imediatamente!

— Eu tenho medo. Eu não posso permitir isso.

Sakura piscou para Gaara, cujo olhar endureceu no dela. 

— E por que não?

— Suas habilidades serão melhor utilizadas por aqui.

— Perdão, mas talvez você não tenha me ouvido direito. Eu preciso voltar para Konoha. Sasuke pode ser um monte de coisas, mas ele ainda é meu companheiro de equipe. Eu deveria estar ajudando Naruto e Kakashi a localizá-lo, especialmente agora que nós não sabemos se ele ainda está vivo — ela disse, sua voz assumindo uma ponta de pânico.

— Escute-me, Sakura. Estes novos desenvolvimentos são muito perturbadores, e garanto-a que eu simpatizo com a sua postura. 

— Sim, claro. Você odeia o Sasuke.

— Meus sentimentos pessoais são irrelevantes. Foi a própria Tsunade-sama quem pediu sua permanência aqui conosco.

— Você não pode estar falando sério. — Ela foi além da raiva neste momento.

— Veja por si mesma.

Gaara empurrou um pequeno pergaminho para ela do outro lado da mesa. Sakura agarrou-o e abriu-o, com os olhos captou o seu conteúdo rapidamente. Quanto mais lia, mais pálida ficava. Isso era ultrajante! Como Tsunade poderia fazer isso com ela?

— Isso é loucura! —  Se ela não tivesse cuidado, perderia a paciência com o Kazekage.

Uma mão apertou seu ombro, e Sakura olhou para cima para ver Kankuro dando-lhe um olhar suplicante.

— Sakura, dá para você ouvir o que Gaara tem a dizer?

Ela olhou para o shinobi moreno. Se Kankuro estava tão sério, então deveria haver mais a ser revelado.

— O que está acontecendo realmente? Por que Tsunade-sama quer que eu fique aqui?

— Houve uma ligeira mudança de planos em relação a Sasori Akasuna. Agora que a Akatsuki perdeu mais um membro, Tsunade-sama pensa que pode estar planejando algo para compensar. É melhor assumir o pior cenário possível desde já. Não sabemos o porquê deles sequestrarem Sasuke, se é que isso realmente aconteceu. Pelo que sabemos, Sasuke não tem conexão com a Akatsuki, logo não teria nenhuma razão para associar-se com eles. 

— Obviamente. O único objetivo dele era se vingar de Itachi — Sakura interrompeu bruscamente.

— O que Gaara está tentando dizer— falou Temari — é que é importante que trabalhemos juntos para tentar derrubar a Akatsuki antes de tudo o que pode estar planejando se concretizar. Precisamos usar todas as vantagens que temos contra eles.

Os olhos de Sakura estreitaram-se em compreensão. 

— Você está falando de Sasori. É por isso que eu tenho que ficar. Isso significa que você decidiu não executá-lo?

— Não, ele será executado. Só não agora. Neste momento, mais do que nunca, precisamos de suas informações.

— Mas eu pensei que ele não estivesse cooperando com os interrogatórios?

— Sakura, estou preparado para colocar as maiores necessidades desta vila em primeiro lugar, mesmo que isso signifique abrigar um traidor por mais algum tempo.

— O que você está tentando dizer?

— Precisamos encontrar uma maneira de fazê-lo falar.

Sakura cruzou os braços. 

— Eu pensei que os seus engenhosos métodos de tortura fossem o suposto "fazê-lo falar".

— Irmãozinho, eu acho que é hora de tentar chegar a uma estratégia que realmente funcione — disse Kankuro.

Todos os olhos se voltaram para ele.

— Tem que haver uma maneira melhor de fazer isso.

— Kankuro está certo. Sasori não se preocupa com Suna e parece que tampouco com a Akatsuki. Nem sequer se preocupa com sua própria vida. Não estou surpresa que ele não tenha cooperado.

— Por que você diz que Sasori não se preocupa com a Akatsuki? — perguntou Temari.

— Isso é o que ele me disse.

A tensão na sala de repente atingiu o pico, e Sakura engoliu em seco.

— Ele falou com você? — Kankuro perguntou, espantado.

— O que ele disse? — Gaara exigiu.

Sakura piscou, surpresa. 

— Esperem um minuto, por favor. Não estou querendo dizer que ele derramou seus segredos mais obscuros ou coisa do tipo. É só... —  ela procurou uma explicação que não levasse-a da frigideira para o fogo. — Foi só uma conversa aleatória. Curar pessoas em absoluto silêncio é um pouco estranho para mim.

Gaara não estava convencido;  Kankuro provocou-o. 

— Bem, Gaara, quaisquer que sejam os métodos de Sakura, parece que são muito mais eficazes do que os que seus interrogadores estão usando.

— O que você está sugerindo?

Kankuro olhou pensativo. 

—  Não tenho certeza, mas estou pensando numa ideia que pode funcionar. Você vai me dar uma chance?

A sala ficou em silêncio enquanto todos se viraram para se concentrar em Gaara. Depois de um momento, o Kazekage suspirou em resignação. 

— Isso depende do que você sugere que eu faça. Eu vou dar a você vinte e quatro horas. Se vir até aqui com um plano plausível, então eu vou dar-lhe o benefício da dúvida.

Kankuro soltou um suspiro que estava segurando e assentiu. 

— Eu vou figurar tudo até lá. Basta manter uma mente aberta, está bem?

Gaara não respondeu a isso, mas assentiu tristemente. Sakura observou enquanto Temari apertava o ombro de seu irmãozinho, na tentativa de tranquilizá-lo. A kunoichi de Konoha não estava muito feliz no momento com a notícia sobre a atitude linha dura de Sasuke ou Gaara, todavia percebeu que o jovem Kazekage estava sob uma imensa quantidade de estresse. Era bem provável que o Conselho Jounin tivesse dado-lhe uma bronca sobre a situação de Sasuke e a Akatsuki, o que só poderia agravar os problemas em torno de Sasori. Sakura lamentou ter chegado a irritar-se com ele e levou uma mão para o jovem líder.

— Ei, eu sinto muito sobre o meu comportamento anterior. Eu não deveria ter deixado minhas emoções governarem o meu pensamento. Não foi uma atitude muito profissional de mim.

Gaara olhou para sua mão estendida, e Temari empurrou-o com força, fazendo-o franzir o cenho. Mas lentamente tomou a mão de Sakura na sua e apertou-a confortavelmente.

— Sabe de uma coisa. Por que não permite que Kankuro acompanhe-me amanhã de manhã, na hora de verificar Sasori?

— Eu concordo com Sakura. Talvez eu possa aproximar-me um pouco dele.

Gaara suspirou resignado.

— Por que não? Não é como se eu pudesse impedi-lo, de qualquer maneira.

Sakura e Kankuro trocaram um olhar. A ruiva sentiu que Kankuro provavelmente compartilhava sua determinação no momento. Se havia alguma chance de conseguir fazer Sasori falar, poderia significar a diferença entre a vida e a morte para Sasuke. Mais do que nunca, Sakura queria descobrir o que Sasori poderia saber.

— Então nós vamos fazer isso amanhã de manhã — disse Kankuro, seus olhos brilhando com uma recém-descoberta determinação. — Nós vamos chegar até ele de alguma forma. Temos que fazer isso!