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História A Price to Pay - Chapter 6


Escrita por: SweetBaldwin

Notas do Autor


ola olha eu de novo aqui
espero que gostem porque esse capitulo maravilhoso, ele esta tao bom eu quase tive um enquanto eu escrevia/editava espero que gostem.
perguntas, elogios ou criticas deixem nos comentarios *Kisses*
BOA LEITURA

Capítulo 6 - Chapter 6


Charlotte deixou Justin preparando o desjejum na pequena cozinha funcional, e foi fazer compras. Ele que aproveitasse seu dia da melhor maneira... porque ela pretendia gastar o dinheiro dele!

Atitude nada louvável, reconhecia. Mas não se importava, pensou, revoltada, enquanto pagava o táxi que a levara à Oxford Street. Ele disponibilizara dinheiro e a autorizara a gastar, e era isso o que ela faria. Justin a achava feia e, naquela manhã, o espelho lhe dissera que ele tinha razão.

Após dormir mal e vestir o conjunto cinza que normal­mente usava para andar pelo hotel-fazenda quando não es­tava com o avental de chefe de cozinha, não estava propria­mente sensual!

Fizera uma careta diante do espelho e se decidira no mesmo instante. Podia ficar no quarto o dia inteiro, feito mártir, recusando-se a tocar no dinheiro... que seu marido parecia ter em grande quantidade... ou podia deixar o orgulho de lado, acatar a sugestão dele e sair.

Feita a opção, fora à cozinha só para avisar:

- Bom dia. Vou sair. Não sei a que horas volto.

Podia ser à meia-noite, ou mais tarde. Dependia. Podia ir ao cinema, jantar fora: Justin deixara claro que não tinha vontade de lhe fazer companhia, que não a queria por perto. Portanto, ela se ausentaria.

Charlotte nem se lembrava da última vez que saíra para fazer compras sozinha e, com certeza, nunca sem limites de gastos. Tomara uma atitude beligerante, mas logo passou a divertir-se, experimentando roupas que sabia que lhe cai­riam bem, no corpo mais magro. Passou pela seção de cos­méticos da loja de departamentos famosa e percebeu que as vendedoras eram muito solícitas, quando se pedia ajuda. Queria experimentar os produtos de maquiagem novos. Nor­malmente, estava ocupada demais para passar mais do que base no rosto e batom.

Depois do almoço rápido, dedicou-se aos sapatos e lingerie. Às seis horas da tarde, percebeu que não podia ir ao cinema. Não conseguiria ver a tela através da montanha de caixas e sacolas.

Determinada a permanecer fora de casa o máximo de tem­po possível sem ser presa por vadiagem, entrou em um pe­queno restaurante espanhol. Saboreou o pedido baseado em aspargos e batatas fritas com molho picante, seguido de di­versos merengues com castanhas torradas, algumas taças de vinho e café forte o bastante para causar arrepios.

Não percebera que estava com tanta fome e não se lem­brava se tomara três ou quatro doses de vinho, mas não se preocuparia com isso. Sentia-se flutuante ao tomar o táxi de volta para casa. Casa, não, retificou. Sua casa não era o apartamento de Justin. Mas não pensaria nisso naquele mo­mento. Queria um fim de tarde divertido, sozinha, verifican­do suas compras.

Sentiu tontura na viagem de elevador até a cobertura. São sabia se por causa do vinho ou por ter gasto dinheiro a rodo... embora seu marido tivesse liberado os gastos.

Justin estava na sala, junto à mesinha, cercado de papéis, quando Charlotte entrou, carregada de pacotes e sacolas. Ele ergueu o sobrolho.

- Boa noite - cumprimentou ela, concisa, e foi direto para o quarto batendo os saltos baixos no assoalho.

Mas sentia o coração palpitante, a dor que sempre vinha quando ele a fitava com raiva. Mas podia ignorar isso, não podia?

O banho ajudou, a água morna lavou o suor do dia ata­refado. Nem pensaria em experimentar as roupas lindas que comprara toda esbaforida e pegajosa.

Junto ao toucador, abriu o frasco de um perfume de grife. e.passou um pouquinho na pele do pulso, detendo-se nua diante de um dos amplos espelhos.

Emagrecera muito recentemente, mas não estava tão ma­gra quanto parecia ao usar as roupas folgadas. Os ombros e braços pareciam frágeis, a cintura fina sem um grama de barriga. Mas os seios... embora não tão vistosos quanto as formas sensuais que deixaram Justin louco ao sugá-los havia tanto... continuavam duros e arredondados, os quadris mantinham a proporção, que, como ele dissera, deixava-o fora de si.

Rindo, vestiu o novo robe de cetim. Estava só um pouquinho tomada pelos efeitos do vinho que acompanhara tão bem o prato espanhol. De outra forma, não teria avaliado o pró­prio corpo. Não era de seu feitio, jamais o fizera, desde...

- Charlotte?

Ela saiu do banheiro exalando uma nuvem de perfume e procurou o cinto do robe, a fim de assumir uma aparência decente. Mas devia ter se certificado antes. Não percebera que o marido já entrara no quarto.

Brigou com o cinto, que escorregou. As abas do robe de cetim se abriram, e ela não conseguiu mais se mexer. Sen­tindo mais do que choque, percebeu a mudança de expressão no rosto anguloso de Justin, viu os olhos dele se obscurece­rem ao avaliar cada curva e cavidade de seu corpo exposto.

Charlotte não ouvia nem a própria respiração. Talvez não estivesse respirando. O ar parecia espesso nos pulmões. Mas sentia... sentia a reação do próprio corpo ao escrutínio, o calor tomando conta, os seios se enrijecendo.

Sua resistência deixaria de existir, como sempre, se Justin se aproximasse. Um mínimo movimento da parte dele, e ela se atiraria em seus braços, implorando para que a levasse àquele lugar maravilhoso, abandonado anos atrás.

- Cubra-se - ordenou ele, rude.

Ela obedeceu, o tom áspero arrancando-a da inércia. Justin deu as costas enquanto ela fechava o robe e amarrava o cinto com tanta força que poderia ter se cortado ao meio. Em pos­tura rígida, seu marido caminhara até a porta e só então se voltara, encarando-a friamente.

- Vim saber se gostaria de jantar fora esta noite, ou se prefere pedir algo novamente. - Um músculo saltou no ma­xilar dele. Mantinha os lábios comprimidos.

- Já jantei. - Como soava amuada, pensou. De frus­tração, imaginava, por conta de sua incapacidade de con­trolar as reações do corpo quando estava na presença da­quele homem.

Charlotte jamais se considerara uma pessoa libidinosa. Quando fizeram amor de forma tão arrebatadora, seis anos antes, estava perdidamente apaixonada por ele. Detestava pensar que podia desejar um homem sem amá-lo. Seria de­gradante demais.

- Então, não vai se opor se eu sair. E, caso esteja inte­ressada, seu pai telefonou por volta das seis horas. Jessie queria falar com você, mas eu preenchi a lacuna.

Ele queria fazê-la sentir-se culpada? Além de tudo... magra, perdulária, barata e mentirosa.

Bem, ele falhou. Pelo menos, o choque do incidente a dei­xou completamente sóbria. Viu as horas. Quinze para as oito. O dia seguinte era sábado, não havia escola, e Jessie podia estar acordada ainda.

Foi- à sala, pegou o telefone, teclou rapidamente os núme­ros e pegou Jessie no momento em que ia se recolher.

- Já tomei banho, tomei o leite e rezei com vovô. Estou sendo boazinha. Estou! - contou a menina, quando Amy passou-lhe o telefone.

Ela parecia tão carente que Charlotte sentiu acionar-se o instinto maternal. Não era sua filha serelepe! Podia imagi­nar os grandes olhos cinza, solenes e límpidos, como sempre ficavam quando sua pequena estava preocupada ou insegura sobre algo. Imaginava o beicinho...

- Gostou do chalé? - indagou, para saber se aquele era o problema. Embora a menina já conhecesse a casa, pois já tinham ido lá duas vezes, para abastecer a despensa e pro­videnciar outros itens.

- Gostei - respondeu Jessie, após pausa longa, respiran­do fundo. - Mas seria melhor se estivesse aqui, Quando volta?

- Logo, querida. Estou com muita saudade também. - Ela olhou para Justin parado no meio da sala, as mãos nos bolsos da calça jeans, atento à conversa. - Na verdade, sinto tanta saudade que decidi voltar bem antes do previsto.

E tente me impedir!, avisou ao marido com um olhar ao desligar o telefone. Em voz alta, explicou:

- Jessie está triste. Sente a minha falta. Vou para casa amanhã. De trem, se necessário.

- Jessie está bem - contrariou ele. - Não é tão pequena para não entender que não pode ter o que quer todo o tempo. Está com Jonh e Amy e, além disso, o que pensarão se voltar sozinha amanhã? Que o casamento fracassou antes de co­meçar.

Charlotte levou as mãos aos quadris. Não acreditava no que ouvia!

- Coloca as aparências acima da felicidade de Jessie? Céus, ela é só uma criança! - Enrubesceu, e seus olhos ficaram muito azuis.

Justin lançou-lhe um olhar de frio desdém.

- Eu não colocaria nada acima do bem-estar da nossa filha, como bem sabe. Pegou-a num momento ruim, a cami­nho da cama, provavelmente cansada.

O olhar dela brilhou. Provavelmente, havia alguma razão no argumento. Antes de passar o telefone à menina, Amy contou que ela fora à festa de aniversário de um coleguinha naquela tarde. Havia castelinho e muitos brinquedos. Jessie ficara muito excitada e, depois, emburrada.

- E quanto à paz de espírito de Jonh? - observou Justin. - Se interrompermos nossa lua de mel, ou se você chegar sozinha em casa amanhã, ele vai ficar preocupado com o nosso casamento. Quer isso? A fachada de felicidade era uma das condições, lembra-se?

Justin sabia que ela não queria causar ansiedade ao pai. Aquele era um dos trunfos dele! Charlotte meneou a cabeça. Só concordara com aquele casamento lamentável por causa do bem-estar e felicidade de seu pai e sua filha.

- Então, estamos acertados - concluiu ele. Charlotte não se rebaixaria:

- Acha que me enquadrou nas suas "condições"? Não sou capacho, Justin. Você faz as condições, estabelece as regras. Você tem uma filha, a mãe dessa filha e a sua liberdade. - Pensava na liberdade dele em usar aquele apartamento para encontros extraconjugais. Detestava perder o controle por ciúme, mas não conseguia evitar. - E o que eu ganho? Um marido que me despreza abertamente... um tirano... um ma­rido que provavelmente não piscaria um olho se eu fosse atropelada por um ônibus!

- Fiquei de pagar as suas dívidas - lembrou ele, gélido. - Terá uma casa decente e uma vida de luxo... que é mais do que merece, dada a sua disposição para gastar a rodo. E, já que estamos falando de suas dívidas, as quais, minha querida, já acertei, quero que me esclareça um detalhe.

Disposição para gastar a rodo! Ele falava de suas compras naquele dia? Bem, ele dissera para gastar, não? Seria o tipo de homem que dizia uma coisa e queria outra?

Claro que era. Se sua atitude no passado era uma prova.

- Vou dormir - declarou Charlotte, tensa. O que quer que ele quisesse esclarecer, podia esperar.

Justin a segurou pelo braço.

- Sente-se, Charlotte.

- Não quero falar com você! - Ela tentou se desvenci­lhar. Foi um erro, pois ele a segurou com mais força, puxan­do contra si. A proximidade física lhe causou sofrimento no coração mais uma vez.

Justin ofegava, cerrava os dentes. Queria chacoalhá-la, travando uma batalha interna consigo mesmo. Ao manifes­tar-se, parecia já controlado.

- Charlotte, sei o quanto está magoada comigo, o que sente por mim, mas podemos tentar agir normalmente, como adul­tos, em vez de travar uma guerra verbal? Educação não cus­ta nada e ameniza a convivência.

Justin não imaginava como ela se sentia sobre ele! Como bastava vê-lo para se sentir excitada. Estava ficando louca com o controle que tinha de exercer. Mas ele tinha razão num ponto. Educação não custava nada.

Amadurecera muito após o nascimento de Jessie. Apren­dera a lidar com a angústia da traição de Justin, do casa­mento falso, do fardo da responsabilidade de administrar o hotel e o restaurante. Conseguira até enfrentar o trauma de dois meses antes com dignidade e determinação, minimizan­do o dano que a traição de Phillip e Helena poderia ter lhes causado.

Reencontrar Justin, concordar com aquele casamento a transformara em criança petulante outra vez. De um jeito ou de outro, ele sempre exercia um efeito catastrófico nela. Tinha de se libertar!

- Do que se trata? - Ela lhe mostraria que podia ser sensata também, adulta, como ele dissera.

- Vamos nos sentar.

Racionalmente, ela não fazia objeção. Mantendo a compos­tura da melhor forma possível, permitiu que ele a conduzisse ao sofá de couro diante da mesinha coberta de papéis.

Felizmente, ele soltou seu braço, e ela pôde respirar com mais facilidade. Sentou-se na ponta do móvel e juntou as abas do robe de cetim sobre os joelhos. Justin acomodou-se no centro. Ele inclinou-se para reunir alguns papéis, a malha da camiseta se retesando contra os músculos bem torneados das costas, e ela engoliu em seco, com um nó na garganta.

Charlotte cruzou os dedos no colo para não se estender e tocá-lo involuntariamente. Justin endireitou-se e passou-lhe alguns papéis, uma folha de cada vez.

Eram extratos de conta bancária, constatou ela, ao se es­tender. Só esperava que o robe não se abrisse.

- Aproxime-se - convidou ele. - Eu não mordo.

Charlotte surpreendeu-se com o leve tom de divertimento. Se ele começasse a ser gentil assim com ela, estaria perdida. Seu coração estúpido parecia interpretar qualquer sinal de amabilidade como uma possibilidade de que tudo podia vol­tar a ser como antes entre ambos.

Adultos, seres humanos racionais, resmungou consigo mesma, como um mantra. Aproximou-se o bastante para verem os documentos juntos.

Justin marcara nos extratos os valores referentes à hipoteca vultosa que ela e Phillip haviam contraído para redecorar o hotel e para construir uma sala de música em estilo eduardiano. Nenhum dos projetos se materializara.

Semanas depois, a soma total fora transferida. Justin marcara a operação também. E várias outras somas vultosas foram sacadas nas semanas seguintes, bem acima do limite normal.

Charlotte estava trêmula. Sentia-se nauseada, tão assus­tada quanto no dia em que o gerente do banco a chamara.

- O que aconteceu com o dinheiro? O que fez com ele?

A voz parecia distante. Charlotte não conseguia responder. Sentia-se enjoada de vergonha. Meneou a cabeça, mas ele insistiu.

- Eu paguei ao banco e acertei as dívidas. Não acha que tenho o direito de saber?

Claro que tinha. E por que tinha de ser tão sensato? Se ele gritasse, ela responderia da mesma forma e o mandaria passear.

Piscou devido às lágrimas que brotavam.

- É... é uma longa história - tartamudeou, rouca. - Temos a noite toda - retrucou Justin, impassível.

- Você não ia sair? - Ela agarrou-se à tábua de salvação.

Ele não jantara ainda. Devia estar com fome. - Mudei de idéia.

Charlotte engoliu em seco e esfregou os olhos para controlar as lágrimas. Teria de reviver a experiência novamente e, com isso, o desespero. Sentiu que Justin se levantara e ouviu o tilintar de copos.

- Beba isso. Deve ajudar.

Conhaque. Ela reconheceu o aroma quando ele lhe passou a taça bojuda, forçando-a a tomar um gole grande.

Justin bebeu também e sentou-se, ajustando-se no canto do sofá, as pernas longas estendidas, o olhar firme. O mesmo olhar que usara ao pedir que falasse de si mesma, anos an­tes, sem jamais falar de sua própria origem... de onde viera, o que pretendia fazer da vida. O detalhe não parecera im­portante à adolescente ofuscada, então. Imaginava que não importava naquele momento também... a necessidade dele de dissecá-la, de obrigá-la a desnudar a alma.

O conhaque, após tanto vinho, poderia deixá-la grogue novamente. Mas ela precisava do estimulante. Ajudou-a a recompor-se, mas só um pouco.

- Depois que me casei com Phillip... após o primeiro ataque cardíaco de meu pai, ele... meu pai, quero dizer... colocou a propriedade, o negócio, tudo em meu nome. Achou que era o mais sensato a fazer. - Charlotte franziu o cenho. Não fora sensato... considerando o que acontecera, fora a ideia mais estúpida que Jonh podia ter tido.

Sorveu mais um gole de conhaque. Os dentes bateram no copo, evidenciando seu nervosismo.

- E daí? - incentivou Justin. - Deve ter sido há anos. Pelo que descobri, pelos registros, o negócio ia muito bem.

- Sim, ia muito bem. - Uma onda de amargura tornou mais fácil para Charlotte desabafar. - Helena e Phillip cuida­ram disso! E eu ajudei, claro, boba que era! Todos trabalha­mos muito. O faturamento aumentou, o negócio cresceu. Não percebi que tudo estava sendo feito sem recursos próprios. Estava tão ocupada trabalhando, tentando me dar bem com Phillip, cuidando de Jessie, evitando levar preocupações a meu pai. Então, ele sofreu outro ataque cardíaco e fiquei ainda mais alheia ao que se passava.

Charlotte se culpava pelo que acontecera. Se estivesse aler­ta, Phillip e Helena nunca teriam dado um golpe tão grande. E ela não estaria naquela posição naquele momento, refém de um homem que a desprezava.

- O que estava acontecendo? - Justin pousara um braço no encosto do sofá.

Se ela se recostasse, ele a tocaria, pensou frenética, sen­tindo-se acuada e, de algum modo, aliviada por tirar o fardo dos ombros, aceitando sua culpa.

- Após nosso casamento... Phillip decidiu fechar o escritó­rio de contabilidade. Ele trabalhava sozinho, mas parecia estar indo bem.

- Eu me lembro de você ter me dito: "alguém com um emprego adequado e dinheiro no banco" - citou Justin, e Charlotte lançou-lhe um olhar severo.

Ele nunca fora apaixonado por ela, e só suas perspectivas, através dela, foram frustradas. Por que recordar agora algo que ela dissera? Não questionou. Era mais seguro não abrir mais uma frente de problemas.

- Ele se ofereceu para tomar o lugar de meu pai nos negócios... cuidar da parte financeira. Phillip era o contador de meu pai havia anos. Essa foi outra idéia que achei brilhante na época. Isso permitiria que meu pai descansasse e me livraria para cuidar de Jessie e do lado doméstico do negócio. Helena fazia o papel de secretária de Phillip, entre outras coisas...

Charlotte não esperou que ele indagasse que outras coisas. Revelou:

- Eram amantes havia anos, e bem inescrupulosos. Por que se importariam com o fato de se casarem com outras pessoas? Era só fazerem questão de quartos separados, o que lhes permitiria se encontrarem sempre que quisessem, além de desfalcar o hotel. Demitiram metade dos funcioná­rios, deixando trabalho em dobro para os que ficaram, de­gradando a qualidade dos serviços. Nada era substituído... roupas de cama, porcelana, esse tipo de coisa. A propriedade precisava de investimento, e por isso fizemos a hipoteca. Ele até disfarçou, simulando vários cenários detalhados. Conse­guimos o empréstimo, e eles se prepararam para o golpe fatal.

Charlotte suspirou:

- Desviaram o dinheiro, deixando pilhas de contas, sem mencionar a hipoteca vultosa, que eu não tinha como pagar. Quem sabe onde colocaram o dinheiro... em alguma conta numerada em paraíso fiscal, provavelmente. Estavam fugin­do juntos quando morreram no acidente. Só descobrimos so­bre o caso amoroso de longa data quando meu pai estava arrumando os pertences de Helena, após o enterro. E eu não sabia sobre o rombo financeiro, até que o gerente do banco me chamou. - Torceu as mãos em angústia. – Roubaram tudo e nos deixaram quase na falência e eu não percebi nada, burra que fui!

Justin praguejou baixinho, e Charlotte franziu o cenho. Ela achou que merecia a reprimenda, e simplesmente aceitou. Seu marido já a desprezava, considerando-a feia, incapaz de fisgar um homem rico, se aparecesse. Assim, que importava se ele acrescentasse estupidez a sua lista de defeitos?

- Não foi burra. Apenas confiou demais.

Lá estava. Palavras inesperadas e imerecidas de conforto, e Charlotte desabou. O cálice balançou na mão trêmula, e gotas de conhaque mancharam o lindo robe novo. Justin to­mou-lhe o copo dela antes que ela o largasse para cobrir os olhos. Mas isso não impediu as lágrimas torrenciais.

- Não deve se culpar, Charlotte.

O tom suave aplacava sua miséria e o sentimento de logro que a assombrava desde que soubera de toda a verdade. O tom doce de Justin ao pronunciar seu nome, provavelmente inconsciente, era um tipo diferente de tortura.

- Devo, sim! - choramingou ela, e esfregou os olhos na tentativa de estancar as lágrimas. - Permiti que roubassem tudo o que meu pai construiu. Estava envolvida demais no trabalho para sequer pensar em pedir para ver a contabili­dade e questionar por que não estávamos pagando as contas. Nunca perguntei por que ele estava desfalcando tanto o pes­soal... sempre prometendo substituir, mas nunca cumprindo. Ele estava só aparando as arestas, poupando nos salários, recusando-se a pagar as contas e, dessa forma, mantendo o caixa abastecido para poder roubar mais! Foi minha culpa termos perdido tudo!

Ela mordiscou o lábio para controlar o choro. Nunca ima­ginaria, nem em um milhão de anos, o toque gentil dele ao afastar-lhe as mãos do rosto, a convicção na voz ao exigir:

- Olhe para mim, Charlotte.

Ela obedeceu, com relutância. Ainda estava trêmula de emoção e, a qualquer instante, seu queixo começaria a tre­mer novamente. Justin parecia maravilhoso, os olhos cinza cheios de determinação e compaixão, sentimento que se es­tendia à boca sensual. E, se ele já a achava feia antes, após o choro, ela devia estar um milhão de vezes pior. Odiava-o por vê-la daquele jeito... abatida e histérica!

Era insuportável! Soluçou forte. Um prelúdio de outra sessão de lágrimas... sabia! Como se sentisse seu desespero, Justin fez o impensável... e abraçou-a.

Charlotte sentiu o coração falhar e, então, retomar as ba­tidas. Tremia descontroladamente. Ele tinha idéia do que estava fazendo? Importava-se? Impossível. Afagava-lhe as costas de forma contida, como se fazia com um cachorro es­tranho na primeira vez, mas pelo menos não a aconselhava friamente a se recompor.

- Parece-me que carregou um fardo pesado demais. Afi­nal, era uma adolescente quando teve Jessie.

Com a cabeça recostada ao tórax viril, ela ouvia as batidas fortes do coração dele, sentia o calor de seu corpo. Reagia estranhamente, ficava com vontade de aninhar-se mais, de levar as mãos à nuca dele e trazê-lo para um beijo.

Mas ele odiaria, lembrou-se, triste e, para desviar os pen­samentos, respondeu, um tanto rude:

- Cresci rápido.

- Acho que teve de crescer rápido. - Seria admiração na voz dele? Oh, claro que não! Estava fora de si em ima­ginar tal coisa.

Devia ter em mente, sempre... mesmo quando ele deixava de lado momentaneamente o desprezo que sentia por ela para lhe oferecer conforto... que Justin não a respeitava nem admirava. Tudo o que ele queria era uma esposa que sou­besse qual era seu lugar.

- Charlotte, ouça... Você estava sobrecarregada, seu ma­rido assumiu a parte financeira do negócio e, aparentemen­te, era bem qualificado para a função. Por que se introme­teria no trabalho dele, quando já tinha tantas tarefas? Por que não confiaria nele? Sendo um patife trapaceiro, ele teria sido esperto o bastante para encobrir tudo, portanto, não há motivo para se culpar. E não tem com que se preocupar agora. - Justin continuava abraçando-a, mas de forma ten­sa. Relaxou um pouco ao aproximá-la mais. - Seu lar está a salvo e seu pai não precisará saber nunca quão perto esteve de perder tudo.

Charlotte sentia a cabeça girar, a respiração difícil. Os seios apertados contra o tórax másculo enrijeciam-se num convite velado. Aquele homem a dominava! E ela não tinha como controlar as reações do próprio corpo!

Apoiou as mãos nos ombros musculosos.

- Eu sei - replicou, a voz rouca. - Justin, estou grata pelo que fez. Acho que não demonstrei muito, mas estou muito... muito grata. - Deixou a mão deslizar pelo tórax dele, até o ponto em que se encostava em seus seios. Ansiava para que o marido os tocasse, que lhe sugasse os mamilos. Ficava alucinada só de recordar as sensações.

Movimentou os quadris, achegando-se, e percebeu que a pulsação dele se acelerou. Sentia as batidas do coração forte na ponta dos dedos. Ele se lembrava também? Lembrava-se de como fora um dia entre eles? A pura magia, o êxtase, o mistério de tanto prazer?

- Não tem de se sentir grata. Eu também saí ganhando, lembra-se? - A voz dele era grave, como se também respirasse com dificuldade. Baixou o rosto até ficar bem próximo do dela e passou a massagear-lhe o corpo, da nuca aos quadris, e então refazendo o caminho de volta, provocando-a através do cetim. - Fui muito severo com você a esse respeito. Não sabiá por que o negócio estava tão mau. - As palavras saíam devagar, e não era por causa do conhaque... ele mal tocara na bebida. - Eles lhe aplicaram um golpe e tanto... aquele seu marido patife e aquela Helena desclassificada.

Ouvir o nome de Helena devia despertá-la. Mas não. Nada a traria à realidade daquele instante. O desejo era tão grande como da primeira vez.

Bastava mover a cabeça um pouco para seus lábios se unirem e, então, tudo voltaria a ser como antes... os beijos exigentes, o puro êxtase das carícias exploratórias, o desejo que nunca era saciado, não importava quantas vezes se unis- sem na dança selvagem do amor, a qual só se aprimorava a cada execução... A tentação era grande demais... Entrea­briu os lábios.

Justin afastou-a, rude e impessoal. Levantou-se desajei­tado, foi ao bar, serviu-se de outro conhaque e tomou-o num gole só.

Charlotte não sabia onde estava. Via tudo de cabeça para baixo. Observou o marido de costas e sentiu o calor do desejo se esvair.

Estremeceu de frio. Tinha tanta certeza de que ele sentira o desejo também. Toda a velha magia. Por um momento, pensara que tudo voltara. Mas como recuperar algo que nun­ca existira de fato? Não para Justin.

Fizera papel de idiota e ainda tremia quando ele se voltou, uma dose nova de conhaque no cálice. Claro, ele não se per­turbara. Talvez sentisse um leve remorso, porque sua voz voltou ao normal, contida como sempre:

- Acho que tem razão. Se Jessie sente a sua falta, deve­mos voltar. Amanhã. Pensarei em algo para justificar a mu­dança de planos. Vou sair logo cedo, enquanto você arruma as malas, e comprarei um presente para ela. - Baixou o olhar sob o escrutínio dela. Pela primeira vez na vida, ela o via em... desvantagem?

Constrangido? Constrangido com o que sentira ao tocá-la? Ele só quisera ser gentil, só quisera reconfortá-la, e ela pra­ticamente crepitara de desejo. Assim, ele recuara. Não podia culpá-lo.

Sentia-se ridícula. Humilhara-se.

- Por que não vai dormir? Temos uma longa viagem amanhã.

Ela se levantou, ajeitou o robe e desejou estar vestindo algo além daquela peça sedutora. Devia se desculpar por seu comportamento, atribuindo-o à emoção de reviver os aconte­cimentos dolorosos? Mordiscou o lábio, e Justin ordenou, mais severo:

- Céus, Charlotte. Vá dormir.



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