– Estou dizendo, os uivos são sempre na lua cheia. – Sirius disse a Remus, James e Pedro, enquanto iam para a aula de Feitiços.
Ele havia ouvido os uivos de Lupin na torre de astronomia e desde então não parava de falar no assunto. Contou que costumava ouvir uivos em algumas noites, embora sempre tivessem parecido ser em lugares distantes de Hogwarts. Agora, estava tentando convencer os amigos de que havia um lobisomem na escola. Remus não podia dizer que ele estava errado.
Pensara em contar a eles várias vezes, mas sempre voltava atrás na última hora. O que eles fariam quando descobrissem? Será que o ignorariam, fingindo que não o conheciam? Ou será que contariam para toda a escola o que ele era? Remus não sabia qual das duas possibilidades o assustava mais.
Ainda havia uma terceira possibilidade, em que eles simplesmente continuariam seus amigos depois que descobrissem, mas era a mais improvável. A maioria das pessoas não lidava muito bem com o fato de ele ser um lobisomem. A não ser Lily.
Remus gostava muito de conversar com ela, era o único momento em que sentia que era ele mesmo. E ele a adorava. Ela o havia ajudado de uma forma que ele nunca imaginou que alguém faria, encontrando uma bondade dentro dele que ele nem sequer sabia que existia. Ele sempre seria grato a ela por isso.
Mas, por mais que Lily o aceitasse do jeito que ele era, não tinha certeza se seus amigos fariam o mesmo.
– Sirius está ficando paranoico. Vocês acham mesmo que Dumbledore deixaria um lobisomem estudar em Hogwarts? E, além do mais, eu nunca ouvi nenhum uivo. – Remus disse, tentando soar o mais convincente possível.
Sirius o encarava, semicerrando os olhos.
– Sabe, agora que eu percebi que você não estava com a gente quando ouvimos esses uivos.
Lupin sentiu suas mãos tremerem, embora ele tentasse se manter calmo.
– Não há nenhum uivo, Sirius. Você provavelmente estava sonhando.
– Não, eu os ouvi também. – James interviu.
– E Sirius está certo, Remus, você não estava lá. – Pedro disse.
– Claro que eu estava!
Os três olharam para ele de forma acusatória, esperando uma explicação. Ele saiu, deixando o grupo para trás e se arrependendo de ter feito isso logo em seguida. Estava agindo de forma muito suspeita, e não podia fazer isso.
***
À noite, estava na sala comunal da Grifinória tentando ler um livro, mas seus pensamentos sempre se voltavam para seus amigos e o que iria acontecer se eles descobrissem a verdade. Todos os seus instintos lhe diziam que eles iriam descobrir, e logo.
– Olá, Remus.
Ele levou um susto tão grande que deixou seu livro cair no chão. Sirius, James e Pedro estavam parados à sua frente, mas não estavam ali há um segundo.
– Vocês não precisam usar a capa de invisibilidade para tudo, sabiam?
Eles ignoraram a sua pergunta e se sentaram ao redor dele, o que deixou Remus muito desconfortável. Sirius estava bem à sua frente, e o olhava de uma forma muito estranha, como se o analisasse.
– Você é um lobisomem.
Ele pensou em negar, mas já estava cansado de mentir. E, além disso, sabia que não chegaria muito longe mentindo para os amigos, porque eles já sabiam a verdade. Remus confirmou, mesmo achando que acabaria se arrependendo disso em algum momento.
– Você poderia ter nos dito, sabia? Tipo, cinco anos atrás. – Sirius disse com um tom de irritação que era estranho comparado ao tom brincalhão usual.
– Eu... Eu não tinha certeza se vocês continuariam meus amigos depois de descobrir a verdade. – ele admitiu.
James franziu as sobrancelhas.
– Nós não nos importamos com isso. – ele disse como se fosse óbvio.
– Mesmo? – Remus sorriu, sendo tomado por uma felicidade tão grande que não parecia real.
– É claro! Nós aguentamos a cara do Sirius, acha mesmo que não conseguiríamos lidar com isso?
Sirius olhou para James e sorriu.
– Com certeza! Eu, particularmente, prefiro um lobisomem a um idiota ocludo e convencido!
Os três riram, mas James havia cruzado os braços fingindo se sentir extremamente ofendido.
– Nós queremos ir com você na próxima vez que você se transformar. – Sirius disse a Remus.
Remus olhou para os rostos entusiasmados dos três e sentiu-se enjoado por um momento. Por que alguém iria querer ver aquilo? Ele sabia a resposta, embora não gostasse dela. Eles o viam apenas como uma aberração, só o que queriam era assistir a sua transformação como se fosse um show. Eles nunca o teriam como um amigo de novo. Ele deveria ter imaginado.
– Não vai acontecer. – Remus disse, com amargura – Se vocês querem um show de horrores, vão ter que pedir a outro lobisomem.
– Do que você está falando? – Pedro perguntou a ele. Ele nunca havia visto uma pessoa se transformar em lobisomem, mas não imaginava que seria algo que alguém iria gostar de ver, e muito menos que alguém arriscaria a vida para ver aquilo. Só havia concordado com a ideia de James depois de ele ter lhe convencido de que não haveria risco algum.
– Acho que eu entendi. – James disse, chegando perto de Remus – Você acha que só estamos interessados no lobisomem, não é? Nós fomos amigos por cinco anos, por que acha que isso iria mudar agora?
– Então por que vocês querem ver a minha transformação?
– Nós não queremos ver a sua transformação, nós só queremos estar lá com você.
– Por quê? – ele disse, franzindo as sobrancelhas.
– Bem, só pelas suas cicatrizes já dá pra imaginar que as suas transformações são bem ruins e... nós apenas achamos que talvez você se sinta melhor com alguém do que sozinho.
Ele tocou as cicatrizes no rosto, instintivamente. Um lobisomem sente uma enorme necessidade de morder e arranhar as pessoas, isso faz com que ataque quem apareça na sua frente. Mas, como na maioria das suas transformações, Remus estava sozinho, acabava por arranhar e morder o próprio corpo, não importava o tamanho da dor que sentisse.
– Mas vocês ainda não podem ir. É muito perigoso.
– Nós sabemos. E é por isso que vamos nos tonar animagos. – James disse, orgulhoso de si mesmo.
Remus inclinou a cabeça para frente.
– Me desculpe, o quê?
– Você não ataca animais, certo? Somente pessoas. Não correríamos nenhum risco se fossemos animagos.
A ideia de se tornarem animagos não era ruim, aliás, Remus adoraria que isso acontecesse. Mas era completamente ridícula.
– Como, exatamente, vocês pretendem virar animagos?
– Esse é o pequeno problema no meio do caminho. Mas eu já sei como resolvê-lo. Nós vamos à biblioteca.
– Não vai ter nada na biblioteca, James. Se tivesse, metade dos alunos já seriam animagos.
– E na Seção Reservada? – ele disse, sentindo-se extremamente astuto.
– Ah sim, ótima ideia. Pretende conseguir autorização como?
– Nós não vamos precisar de autorização. – James disse, sorrindo maliciosamente.
***
– Está pisando no meu pé! – Remus disse para Pedro.
– Não fui eu, foi Sirius.
Os quatro garotos estavam sob a capa de invisibilidade de James, que deixara de ter o tamanho suficiente para os quatro há mais de um ano. Eles estavam procurando livros sobre animagos na Seção Reservada da biblioteca enquanto xingavam uns aos outros.
– Mal consigo me mover assim. – disse Sirius, se remexendo e dando uma cotovelada em Pedro.
– Ai!
– Podem calar a boca? É uma capa de invisibilidade, não uma capa a prova de som. – James disse. – Os segredos da transfiguração... – ele disse, pegando um livro na prateleira – Alquimia e transfiguração... Ok, acho que é o suficiente. – ele disse, colocando os dois livros em uma pilha onde já havia outros cinco. Eles pegaram os livros e saíram da biblioteca sem fazer barulho, o que foi uma proeza.
Assim que saíram, viram Filch no final do corredor. Ele ia em direção à biblioteca, com certeza por ter ouvido o barulho deles. Ele passou bem ao lado deles, quase esbarrando na capa. Os garotos prenderam a respiração, tentando se manter imóveis. Ele passou direto por eles e não percebeu nada.
Filch se abaixou, pegando algo no chão. Quando se levantou, tinha um pomo de ouro entre os dedos. Ele começou a andar, murmurando algo sobre como crianças eram os demônios invadindo a terra.
***
Quando James recebeu o chamado de Professora Mcgonagall pela manhã, não se surpreendeu, embora não tenha gostado nada daquilo. Ele sempre achou um grande azar que ela fosse a diretora da Grifnória, Minerva era de longe a mais severa dos professores.
– Filch encontrou isso na biblioteca, ontem à noite – ela disse assim que ele chegou à sua sala, mostrando o pomo de James – É seu, não é?
– Não.
– Não? – ela ergueu as sobrancelhas – De quem seria então?
– Bem, tem outros três apanhadores aqui em Hogwarts. Pode muito bem ter sido algum deles. Não sei por que essa obsessão comigo.
– Os outros apanhadores não tratam o pomo como se fosse um animal de estimação, Potter. Somente você faz isso.
Ela o encarou, esperando que dissesse alguma coisa, mas ele ficou calado. Comprovação de culpa.
– Pode me dizer o que estava fazendo na biblioteca àquela hora?
– Eu estava procurando por livros de transfiguração. – não era mentira – Porque, você sabe, é a minha matéria preferida, e eu quero muito me tornar um dos melhores alunos da minha sala, e eu... – isso era mentira.
– É o suficiente, Potter. – ela o interrompeu – Você vai ficar em detenção. De novo.
– Mas, Minerva, eu tenho treino de quadribol e...
– Não se preocupe, os horários da detenção não coincidem com os dos treinos de quadribol. – ele sorriu. O fato de ela gostar tanto com quadribol o havia favorecido mais vezes do que podia contar – E é Professora Minerva para você, Potter.
– Tudo bem, Minerva. Professora.
Ela deixou transparecer um leve tom de irritação, que se foi tão rápido quanto chegou.
– Havia alguém com você?
– Sim. Pedro, Sirius e Remus.
Eles iriam matá-lo por isso, mas nem por Merlin passaria aquela detenção sozinho.
Minerva mandou Filch chamá-los. Quando chegaram, ela deu um sermão tão grande que os fez querer voltar correndo para o quarto.
Assim que saíram da sala de Mcgonagall, Sirius se aproximou de James e colocou um braço ao redor dos seus ombros.
– É melhor você se cuidar por que eu pretendo te matar enquanto você estiver dormindo.
James sorriu apesar da “ameaça” que acabara de sofrer, e seguiu em direção ao Salão Principal com os amigos, volta e meia recebendo outras ameaças de morte como a de Sirius.
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