Após longas horas de trabalho, finalmente o expediente havia chegado ao fim. Arrumei minha mesa para o dia seguinte, peguei minha bolsa e caminhei em direção do elevador que não ficava muito longe de onde eu sentava. Apertei o botão para o térreo e quando a porta ia se fechando, uma mão a impediu de se fechar. Era ele.
Ele estava ali. Do meu lado. O que fazer? Como agir? Nada vinha a minha cabeça para sequer começar algum assunto. Ele era tão lindo que não pude deixar de olhar o formato do rosto, os olhos perfeitamente azuis, lábios carnudos, e... e....
Fui descoberta.
Um oceano invadiu a minha alma de uma forma maravilhosa. Aqueles olhos me olhavam com ternura, com carinho. Tudo bem que eu tinha o Neal, mas, ele não me olhava da mesma forma. Ele prendeu seus olhos aos meus e um sorriso surgiu em seus lábios. Uma onda de sentimentos surgiu dentro de mim que era praticamente inexplicável. O que estava acontecendo comigo?
- Emma? – sua doce voz dizia. – Está tudo bem?
Saí do transe sem saber o que dizer.
- Desculpe, o que?
Ele fez aquela cara de quem não está entendendo nada e quem não estava entendendo nada era eu.
- Você ficou ai parada sem piscar, só perguntei se está tudo bem!
- Ah, claro! É que ... É que estou animada porque irei encontrar meu filho no Starbucks. E é impossível ser infeliz com aquele garotinho. – eu disse sorrindo e tentando distorcer a conversa.
- Você tem um filho? Quantos anos tem? – ele me perguntou.
- Tenho 25. E qual o problema ter um filho? É a maior dádiva que Deus pode nos dar nessa vida. Claro, que criei ele sozinha, o pai quase não era presente, e meus pais me abandonaram quando eu era um bebê, então...
- Espera, você foi mãe aos 17 anos, o pai da criança quase não vê o filho... Emma, você é uma guerreira. Nunca havia ouvido uma história parecida.
Eu sorri. Sorri como nunca havia feito antes. A porta do elevador se abre, e fico sem jeito que a minha corrida até a porta principal do edifício foi em questão de segundos. Cheguei o mais rápido que pude em frente ao Starbucks e Henry já estava a minha espera. E não estava sozinho.
- Ei, você por aqui? O que houve? Ta sempre ocupado no trabalho! – eu o cumprimentei lhe dando um beijo.
- Hoje meu chefe decidiu dar um pouco de descanso para os funcionários e então, Henry me disse que vocês viriam para cá, e aqui estou!
Neal era meu namorado. Pai de Henry. Quando o garoto nasceu, ele simplesmente sumiu no mundo e dizia que não ia assumir a criança. Claro que nunca havíamos contado isso para Henry por ele ser muito novo e ser um assunto inapropriado para uma criança da idade dele. Mas, depois que ele arrumou um emprego em uma empreiteira e administra as obras da empresa.
Pedimos o velho chocolate quente com chantilly e canela. Riamos de uma piada que Henry havia ouvido na escola, quando fomos surpreendidos por uma figura que eu conhecia muito bem.
- Dr. Jones? A que devo a honra? – eu perguntei e percebi que ele olhava de Henry para Neal e de Neal para mim.
- Como vai, Emma? – ele perguntou.
- Bem, obrigada!
Seus olhos foram para Henry, que sorria.
- Esse deve ser o...?
- Henry! –meu filho disse com sua voz alegre
- Toca aqui, campeão! – Dr. Jones levantou a mão e Henry correspondeu ao toque.
Eu e Henry sorríamos com sua alegria diante do Dr. Jones. Até Neal acabar com a brincadeira.
- Emma? – ele sussurrou.
Eu, Dr. Jones e Henry riamos das piadas que meu filho nos contava, mas logo em seguida, foi a cena mais vergonhosa que já passei em toda a minha vida.
- EMMA! – Neal gritou quebrando um copo no chão.
Eu fiquei sem reação e sem entender o porque daquilo tudo. Olhei para Henry e o mesmo estava assustado com a atitude do pai.
- Neal, o que é isso? – perguntei incrédula. Aí eu pensei. Não, não, não. Crise de ciúme nessa altura do campeonato, não!
- VOCÊ NÃO ME DÁ ATENÇÃO. SÓ FICA AÍ RINDO COM SEU CHEFINHO E COM O MEU FILHO! – ele gritava tanto que o restaurante parou para nos olhar. Meu rosto queimava de vergonha.
- Ei, não fala com ela assim. Ela só esta se divertindo com as piadas que o seu filho esta contando para mim! Se está com raiva, fala comigo.
- Dr. Jones, não se preocupe. Já estávamos de saída, não é? – eu disse olhando com raiva para Neal.
Ele não me ouvia. Seus olhos. O ódio transbordava em seus olhos de um jeito que eu nunca tinha visto. Henry chorava desesperado e me abraçava forte.
- Calma, querido. Eu estou aqui! – eu tentava acalmá-lo.
Eu levei Henry para a porta do restaurante onde não dava para ouvir a confusão do lado de dentro. Ele estava com medo. Olhei novamente para o restaurante e pude ver Neal dar um soco extremamente forte em seu adversário.
- Fica longe da minha namorada, seu miserável! – Neal dizia.
Dr. Jones caiu no chão e me olhou. Ele podia ver o desespero em meus olhos e nos de Henry. Aquilo tinha que acabar.
- Você quer brincar? Então vamos brincar! – disse Dr. Jones enquanto se recuperava do soco que levara.
Ele levantou a mão para aplicar o golpe em Neal quando segurei o seu braço.
- PAREM! VOCÊS NÃO ESTÃO VENDO QUE O MEU FILHO ESTÁ ASSUSTADO? - eu gritei. Ambos olharam para Henry que se escondia atras de mim assustado e com o rosto molhado de tanto chorar. Lágrimas também escorriam pelo meu rosto. - Neal, vamos para casa. AGORA!
Ele não se movia. Eu já estava cansada daquele tumulto, de ver meu filho naquele estado. Quando percebi que ele não iria reagir, peguei a mão de Henry e minha bolsa e deixei o local. O ouvi chamar meu nome, mas não olhei para trás.
Chegando em meu apartamento, vi que Henry parara de chorar. Ele me olhava com os olhos inchados e tristes. Ele me abraçou forte.
- Oh, filho. Eu não queria que você presenciasse aquela cena! - eu disse tentando acalma-lo.
- Mamãe, eu...eu não quero mais que o papai venha aqui em casa. Nunca mais quero falar com ele. - sua voz falhava enquanto ele falava enquanto chorava novamente.
- Mas, Henry, ele é seu pai!
- Mamãe, um pai não faz o que ele fez. Um pai leva o filho no parque, joga bola, se diverte. Ele nunca fez isso! Ele nem me quis quando nasci e...
- Eu sei, filho. Não fala assim, ele pode melhorar. Tenho esperança!
- Não mamãe, o papai não tem mais salvação. Eu odeio ele! - ele disse enquanto se virava e corria para o quarto.
Eu era forte o suficiente para guentar qualquer coisa, mas ver meu filho naquele estado, realmente não tinha o que perdoar. Eu precisava ter uma conversa muito séria com Neal.
Passados uns quinze minutos, ele passa pela porta e logo me vê sentada no sofá de braços cruzados.
- Emma, me descul...
Não esperei ele terminar de falar.
- Precisamos conversar!
Ele me olhou de forma assustada.
- Emma, por favor, me perdoe! Eu nao queria causar confusão, foi aquele seu chefe que me tirou do sério.
- NÃO QUERIA CAUSAR CONFUSÃO? - gritei,mas logo lembrei que Henry estava no quarto e poderia ouvir a discussão.
- Eu realmente não queria causar confusão, Emma. Por favor, me perdoe!
Eu fiquei em silêncio apenas observando. Uma voz invadiu o ambiente nos deixando surpresos.
- Não é para ela que você tem que pedir perdão. É pra mim. E de mim, você nunca terá o perdão. Você transformou minha noite de sonhos em um pesadelo. - Henry dizia e chorava ao mesmo tempo.
- Henry, eu nao queria!
- Queria sim. É só isso que você sabe fazer. Arrumar confusão!
- Filho, perdoa o papai? - Neal fazia um olhar de arrependimento muito suspeito. Henry era de um gênio forte igual a mim, ele não ia engolir essa história.
- Vai embora. - ele sussurrou.
Meus olhos o olharam surpresos.
- O que? - Neal perguntou.
- Você ouviu, Neal, vai embora. Ele está assustado! - eu disse com a voz quase falhando.
- Tudo bem. Amanhã eu volto para te ver, tá?
Henry balançou a cabeça negando.
- Eu não quero mais você aqui na minha casa. Nunca mais quero te ver! - ele se virou e correu para o quarto chorando.
- Neal, eu também não te quero mais aqui!
Seu olhar de raiva atingiu meu rosto.
- O que está dizendo, Emma?
Eu estava decidida. Eu tinha a firmeza na voz.
- Acabou! - eu disse.
Neal ficou sem reação. Eu já esperava que Henry fosse agir assim. Ele nunca foi um pai presente, e até hoje não entendi porque decidiu voltar. Ele me olhou e saiu. Tranquei a porta e fui para o quarto de Henry.
- Henry?
Ele estava em sua cabana no canto oposto do quarto escondido.
- Ele já foi, mamãe? - ele me perguntou. Pude sentir o medo e a trizteza em sua voz.
- Já sim, meu anjo! Ele nunca mais vai atormentar a gente, tá bom? - tentei manter a calma na voz, mas eu estava tão assustada quanto ele. - Vem, está na hora de você dormir!
Ele deitou na cama e coloquei a coberta por cima de seu pequeno corpo. Me levantei, fechei a janela e acendi o abajur. Henry tinha medo do escuro.
- Mamãe?
O olhei e fui até ele.
- Sim, meu amor?
- Fica aqui até eu dormir? Tenho medo de ter pesadelos.
Sorri e deitei com ele na cama. Ele adormeceu rapidamente. Seu rosto ainda transbordava o medo mas depois de um tempo, ficou terno novamente. Depositei um beijo em sua testa e sai de seu quarto fechando a porta.
Chegando na sala, ouvi uma batida na porta. Porque ele voltou? O que ele queria? Abri a porta com vontade, esperando uma nova deculpa, mas no momento em que o vi, meu coração parou.
- Emma?
- Dr. Jones? O que faz aqui?
Ele sorriu para mim e eu continuava sem entender.
- Quer conversar?
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