História A Profecia Perdida - Draco Malfoy - Livro 1 - Concluída - Capítulo 10

Sarah passou o resto do dia tentando organizar seus pensamentos. Não havia encontrado com Harry depois do ocorrido, mas sabia que cedo ou tarde aconteceria. A verdade é que tinha medo da reação de Harry. Os dois estavam se aproximando bastante nos últimos tempos e era do conhecimento de todos a rivalidade existente entre ele e Draco.

   Rony e Hermione já haviam saído para sua ronda quando a morena se sentou perto da lareira para ler um pouco. Quando estava terminando de ler mais um capítulo, percebeu uma movimentação perto de si e levantou os olhos do livro.

— Ah... Oi Harry. – Ela disse tentando não parecer sem graça.

— É... Oi. – Respondeu ele olhando para o livro que estava nas mãos da morena — Posso me sentar?

— Claro! – Falou chegando mais para o lado.

   Ficaram em silêncio por apenas alguns instantes, mas que pareceram horas para Sarah. Ela sabia que não havia feito nada errado, mas ainda assim temia a reação que Harry teria.

— Então... Você e Malfoy? – Ele perguntou sério.

— É... – Foi só o que conseguiu dizer.

— Vocês estão namorando? – Indagou a encarando pela primeira vez. Sua voz saindo mais baixa que o usual e ela podia perceber que sua expressão estava rígida.

— Namorando? – Ela questionou — Não. – Respondeu sinceramente — Isso é algo que acontece de vez em quando. Não acho que Draco seja o tipo de cara “namorável”. – Confessou ela com uma das sobrancelhas erguidas.

— Namorável? – Harry perguntou sem entender.

— Ah... É só um termo idiota que eu uso pra... – Ela parou antes concluir.

— Você não vai me deixar curioso, não é? – Harry questionou dando um sorriso. A tensão que parecia estar ali há segundos atrás começava a se dissipar.

— Você vai achar idiota... E mesquinho. – Completou ela.

— Jamais pensaria isso de você! – Ele exclamou rindo.

— Ok. – Concordou se dando por vencida — Eu classifico os meninos que acho bonitos de duas formas: Os “beijáveis” e os “namoráveis”. – Fez uma pausa e riu. Não acreditava que estava contando aquela idiotice para Harry — Os “beijáveis” são os rapazes que acho interessantes, mas que não me vejo apresentando para minha família. Acho que eles não têm as características que eu procuro em alguém.

— Então Malfoy está nessa categoria? – Harry indagou com um olhar um pouco mais alto. Encarava a morena com atenção agora.

— Bem... Sim. – Sarah confessou.

    Ela sabia que Draco era realmente bonito e não conseguia negar que a química entre os dois era incrível, mas sabia que ele era um rapaz complicado. Draco era orgulhoso e egocêntrico demais.  Sem mencionar o fato de ser preconceituoso em demasia. Ela sabia que em breve ele encontraria outra menina para correr atrás e o relacionamento torto que tinham, chegaria ao fim. Ao chegar a essa conclusão, a morena sentiu seu estômago revirar por um instante.

— E o que seria um rapaz “namorável” para você, senhorita Standish? – O moreno perguntou curioso.

— Os “namoráveis” são aqueles que me chamam atenção não só pela beleza, mas pela personalidade. Pra mim, são os que aparentam apresentar qualidade que eu procuro em alguém.

— Adam é namorável? – Perguntou marotamente.

— Não! – Ela exclamou rindo — Quero dizer, ele deve ser namorável para alguém, mas não pra mim. – Ela explicou.

— Então quem está nessa lista tão seleta? – Ele questionou enquanto cutucava o braço da morena tentando provocá-la.

— Não vou dizer! – Exclamou decidida.

— Como assim não vai? – Perguntou incrédulo — Vai me deixar curioso? – Prosseguiu com os cutucões que foram imediatamente para as costelas da morena.

   O toque de Harry fazia cócegas. Por mais que ela tentasse se esquivar, não conseguia, ele era mais rápido que ela. Tentava prender o riso que vinha em sua garganta, mas tudo que conseguia era perder o fôlego.

— Vo-cê é namorável! – Ela exclamou em meio a uma das crises de riso, mas imediatamente se deu conta do que havia dito.

   Harry parou de lhe fazer cócegas e se endireitou no sofá. Ajeitou os óculos e manteve seu olhar na lareira.

— Quero dizer... – Retomou tentando não dar atenção para a quentura que sentia em seu rosto — Você é mais quieto e não fica se exibindo para as garotas, como o Draco faz. – Ela concluiu se voltando para ele com um sorriso tímido.

   Ele agitou os cabelos rapidamente e sorriu em retorno.

— Isso quer dizer que o que me torna namorável é o fato de não saber falar com as garotas? – Ele perguntou, mantinha um sorriso bobo nos lábios.

— Não seja bobo! – Ela disse sem conter a risada — Tenho certeza que você consegue se virar.

— Oh sim, foi exatamente por isso que só consegui dar meu primeiro beijo há dois meses.

— Mas não foi com uma menina qualquer. – Ela disse simplesmente — A Cho é muito bonita, até eu gostaria de sair com ela. – Completou divertida, mas sem conseguir entender o pequeno desconforto que sentiu naquele momento.

— Você também é bonita. – Ele disse em um rompante — Qualquer um que consiga sair com você, é um cara de sorte.

— Não deixe a Cho ouvir isso. – Aconselhou a morena — Ouvi dizer que ela é um pouco ciumenta. Eu não quero apanhar. – Ela concluiu fazendo o amigo rir abertamente.

(...)

   O dia 14 de fevereiro amanheceu frio e aconchegante, o que acabara sendo perfeito para o clima do dia dos namorados. A maioria dos alunos de Hogwarts passeava pelas ruas de Hogsmeade vestidos em casacos pesados, gorros e cachecóis.

   Sarah andava ao lado de Adam e alguns alunos na Lufa-Lufa e ao mesmo tempo em que conversava animadamente com o amigo, comia mais uma varinha de alcaçuz. Resolveram então se sentar em alguns banquinhos para descansar um pouco.

— Oh-oh... – Adam disse em um muxoxo.

— O que foi Adam? – Sarah perguntou sem entender — Ah... – Ela disse em meio a um suspiro.

— Walsh, você deveria ensinar a sua amiga como ter modos. – Draco disse com os braços cruzados.

— Está se referindo a mim? – Sarah perguntou com os olhos semicerrados.

— Não saio com Alícia Walker desde o início do ano passado. – O loiro comentou apontando discretamente para a lufana loira e sardenta que conversava animadamente com o grupo — Então só pode ser você.

Sarah encarou o sonserino com raiva. Ao ouvir Draco dizer bem na sua frente que havia saído com Alícia, sentiu seu estômago dar um leve solavanco.

— Você nem ao menos me deixou responder se aceitava. – A morena disse secamente. Ainda estava digerindo Draco Malfoy e Alícia Walker juntos — Simplesmente me beijou e foi embora! – Ela exclamou diminuindo um pouco o tom de voz.

— Draco Malfoy te chamou pra sair, existe outra resposta além de sim? – Ele perguntou displicente em meio a uma risadinha.

— Talvez você devesse ir, Sarah... – Adam se manifestou chamando a atenção de ambos. O olhar que a amiga lhe lançou parecia ser capaz de soltar raios — É só uma pequena sugestão. – Ele concluiu em voz baixa, quase sem conseguir conter a risada.

— Não poderia concordar mais com o Walsh. – Draco afirmou — Vamos indo então.

— Seu pequeno traidor. – Sarah rosnou para Adam antes de se afastar do grupo ao lado de Draco.

   Andavam lado a lado atraindo pequenos olhares dos estudantes a sua volta, fato que fazia com que Sarah começasse a fitar o chão. Depois de alguns minutos, finalmente chegaram ao lugar escolhido por Draco.

   “A Toca do Pelúcio” era um pequeno restaurante de Hogsmeade. Seu maior diferencial era o fato do estabelecimento ser totalmente subterrâneo. Desceram pelo alçapão que levava ao restaurante, e, ao passarem pela porta redonda, já estavam em um ambiente  bem acolhedor. As luzes mais baixas traziam um tom intimista ao local que era todo construído em madeira.

— Deixe-me ajudar com o casaco. – Draco disse em voz baixa se aproximando de Sarah.

Ele retirou a peça lentamente. Quando já estava com o casaco em suas mãos, ele se aproximou ainda mais.

— Já disse a você que seu perfume me enlouquece? – Draco perguntou com os lábios encostados no ouvido de Sarah, o que lhe causou um pequeno arrepio. A morena se afastou por um momento e seguiu por entre as mesas do restaurante.

   Sentaram-se em uma mesa mais ao fundo. O lugar não estava muito cheio, mas ainda contava com a presença de alguns alunos que olhavam com curiosidade para o casal. O primeiro impulso de Sarah foi de se esconder atrás do pequeno cardápio, mas então se deu conta de que o estrago já estava feito, haviam sido vistos por pessoas o suficiente para que a fofoca se espalhasse rapidamente.

— Boa tarde, gostariam de fazer o pedido de vocês? – O garçom perguntou.

— No momento queremos duas cervejas amanteigadas. – Draco respondeu sem retirar os olhos do cardápio.

— Draco Malfoy bebendo uma simples cerveja amanteigada? – Indagou sem acreditar no que ouvia — Pensei que só bebesse whisky de fogo ou algo assim.

— Como já disse antes, você não me conhece, Standish. – Ele disse a encarando.

— Fala como se você me conhecesse. – Disse com descaso enquanto cruzava os braços.

— Eu sei que você gosta de varinhas de alcaçuz. – Afirmou cheio de si — E de cerveja amanteigada.

— Quer uma medalha? – Ela perguntou erguendo a sobrancelha e logo em seguida dando um grande gole em sua bebida.

— Um beijo seria mais interessante. – Insinuou se aproximando um pouco mais. Não conseguiu realizar seu desejo, Sarah o impediu pondo a mão sobre seus lábios.

— Faça por merecer o beijo. – Ela disse em voz baixa — Por enquanto prefiro te conhecer melhor, afinal, já estamos nessa... – Ela fez uma breve pausa tentando encontrar a palavra certa — coisa esquisita há mais de um mês.

— Nunca tentei conhecer melhor as bocas que beijei. – Disse friamente.

— Você é tão sem sentimentos quanto aparenta ser, Malfoy? – Indagou sem conseguir esconder a leve irritação que sentiu ao ouvir as palavras do rapaz.

— Sentimentos nos enfraquecem.

— Pensei que você fosse mais inteligente. – A morena vomitou sem pensar. Por algum motivo ela queria estar certa em suas suspeitas sobre Draco. Queria acreditar que ele era mais do que um rapaz mesquinho e egocêntrico — E menos idiota. – Completou rolando os olhos.

— Acredita que sou assim tão desprezível? – Ele perguntou tentando provocá-la.

— Não tenho como mudar minha opinião se você não me provar o contrário. – Afirmou sem desviar o olhar do dele.

— E quem disse que eu quero mudar sua opinião? – Questionou indiferente — O que faz você pensar que é tão especial assim, Standish? – Ele perguntou segurando o queixo da menina.

— Eu não preciso responder sua pergunta, Malfoy.

O rosto de ambos estava assustadoramente perto um do outro e, por mais que ela se sentisse inebriada pelo perfume que ele exalava, sabia que quando se tratava de Draco demonstrar nervosismo não ajudaria.

— Gostaria de saber o que eu faço pra te deixar tão nervosa assim. – Disse com seu usual sorriso torto.

— Quem disse a você que estou nervosa?

— Toda vez que você fica nervosa, você começa a cutucar suas unhas. – Ele respondeu prontamente — E é exatamente isso que você está fazendo agora.

Sarah o encarou sem saber o que dizer. Nunca pensou que alguém reparasse nessa mania que possuía.

— Você repara nas manias esquisitas de todas as bocas que beija, Draco? – Disse presunçosa.

— Só nas bocas que me intrigam.

— Então talvez eu possa me dar ao luxo de pensar que sou especial. – Afirmou ela com um sorriso vitorioso nos lábios.

—Por que quer ser especial para alguém que considera desprezível?

— Porque eu tenho coragem o suficiente pra assumir que talvez eu não te ache tão desprezível assim. – Confessou, fingindo se aproximar ainda mais para beijá-lo, mas se afastando no último segundo — Garçom! – Ela exclamou chamando o rapaz que os atendera antes — Acho que estamos prontos pra fazer nosso pedido.

  Precisaria de muito mais que uma cerveja amanteigada para começar a entender o enigma que tinha a sua frente, seria uma longa tarde.